Asunto: | [LEA-Venezuela] Chuva de críticas ao supergasoduto no Brasil | Fecha: | Lunes, 29 de Mayo, 2006 23:09:55 (-0400) | Autor: | AMIGRANSA <amigrans @........ve>
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Chuva de críticas ao supergasoduto no
Brasil http://tierramerica.net/portugues/2006/0527/particulo.shtml
Por
Mario Osava*
Cresce o rechaço ao gigantesco projeto que transportaria
cerca de 150 milhões de metros cúbicos de combustível através da
Amazônia.
RIO DE JANEIRO, 29 de maio (Terramérica).- O projeto do
supergasoduto sul-americano, que transportaria combustível através da Amazônia e
outros ecossistemas, recebe uma chuva de críticas no Brasil, onde vários setores
o dão como morto após a nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia. O
gasoduto “nasceu semimorto”, sem nenhuma viabilidade econômica, segundo Wagner
Victer, secretário de Energia do Estado do Rio de Janeiro. O projeto “é uma
loucura”, completou o ambientalista Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da
Terra/Amazônia Brasileira.
A nacionalização da indústria do petróleo e do
gás na Bolívia, decretada em 1º de maio, pode ser o tiro de graça para o
gasoduto, afirmam analistas. A medida, que afeta sobretudo a Petrobras, deixou
tensas as relações com o Brasil e reavivou a polêmica sobre a dependência
brasileira do gás boliviano. O ambicioso gasoduto, a maior obra de
infra-estrutura física da América do Sul, é impulsionado pelos presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor Kirchner, da
Argentina.
Teria, pelo menos, sete mil quilômetros que podem ser
ampliados para mais de dez mil, dependendo da rota escolhida, segundo
especialistas. O gasoduto transportaria 150 milhões de metros cúbicos diários e
sua construção poderia custar US$ 25 bilhões. O projeto “não tem coerência
econômica”, cruza muitos rios e florestas tornando impossível precisar seus
custos, e, ainda, encareceria demais o gás venezuelano entregue na Argentina, se
não for subsidiado pelo Brasil, disse Victer. “O gasoduto quintuplicaria a atual
dependência brasileira em relação à Bolívia”, ressaltou.
Após o anúncio
da nacionalização boliviana, o governo Lula se apressou em definir planos com a
Petrobras para a autosuficiência nacional em matéria de gás natural, acelerando
a produção interna, e medidas para importar gás natural liqüefeito. Apesar do
novo cenário, não se abandonou a idéia do gasoduto. No dia 7 de junho, uma
reunião de ministros e outras autoridades vai avaliar, em Caracas, o andamento
do projeto, confirmou o ministro venezuelano de Energia, Rafael Ramírez. Há sete
grupos de trabalho estudando os aspectos econômicos, ambientais, de engenharia,
traçado de rota, financiamento e regulamentações que afetam o projeto. Assim,
vai sendo cumprido o roteiro definido por Lula, Chávez e Kirchner em São Paulo,
no dia 26 de abril. A meta é que o projeto do gasoduto esteja pronto para ser
apresentado aos demais governos sul-americanos em setembro.
Entretanto,
aumentam as críticas de ambientalistas e especialistas em energia. Segundo
Adriano Pires, diretor da consultoria Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, o
projeto enfrenta riscos ambientais, econômicos, políticos, financeiros e
tecnológicos que o inviabilizam. A proposta de “tarifa postal”, que divide em
partes iguais os custos do transporte do gás, significa subsidiar para
consumidores mais distantes (argentinos e brasileiros do sul), em detrimento das
regiões mais pobres do norte e nordeste do Brasil, lembrou Pires.
No
aspecto político, os governos que usam a energia como instrumento estratégico,
violando contratos e estabelecendo preços de acordo com seus interesses
políticos, promovem a “desintegração energética”, afirmou o especialista. A
Bolívia, por exemplo, deverá sofrer “uma redução das reservas de gás diante da
falta de investimentos”, depois da nacionalização, afetando sua capacidade
exportadora, acrescentou Pires, lembrando que também há problemas tecnológicos
inerentes a um projeto tão gigantesco, agravados porque o gás venezuelano é
associado ao petróleo. Diante de tantas incertezas, “que banco financiaria – e
como – uma obra de US$ 25 bilhões?”, perguntou.
A Venezuela possui as
maiores reservas sul-americanas de gás natural (cerca de 4,2 bilhões de metros
cúbicos), mas “90% delas estão associadas ao petróleo e para extraí-las é
preciso produzir mais petróleo”, confirmou ao Terramérica Elie Habalián,
ex-representante venezuelano junto à Organização de Países Exportadores de
Petróleo (Opep). Os planos de investimentos da estatal Petróleos da Venezuela
(PDVSA), de mais de US$ 6 bilhões até 2012, asseguram gás suficiente para o
gasoduto, segundo o ministro Ramírez. A produção atual, de 176 milhões de metros
cúbicos, quase dobrará em seis anos, contando com jazidas em terra firme e em
águas do Atlântico e do Caribe.
A integração e a necessária
diversificação da matriz energética são argumentos daqueles que defendem o
gasoduto. É um projeto de longo prazo que “exige mais estudos, com
transparência”, mas seria importante para uma integração sul-americana positiva,
afirmou Luiz Pinguelli, ex-presidente da Eletrobrás, que controla a geração e
transmissão de energia no Brasil. O gás natural liqüefeito, alternativa
defendida por Pires e Victer como mais viável e barata do que o gasoduto, também
está sujeito a turbulências internacionais e seu preço tende a aumentar diante
da forte demanda dos países industrializados e dos conflitos mundiais,
argumentou Pinguelli, coordenador de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Porém, não é apenas a situação criada pela
nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia que conspira contra o gasoduto
sul-americano. Este é “inviável por seu impacto socioambiental”, disse ao
Terramérica Adilson Vieira, coordenador do Grupo de Trabalho Amazônico, rede de
600 organizações e movimento sociais. O gasoduto teria “efeitos sociais
violentos”, atravessando muitas áreas indígenas no Brasil e na Venezuela e
exigindo desvios ou compensações “incalculáveis”, afirmou.
“Obter
licenças ambientais para atravessar a Amazônia seria uma façanha. Se tudo
corresse bem, sem entraves judiciais, demoraria, no mínimo, de cinco a seis
anos”, segundo Smeraldi, da Amigos da Terra. Além disso, enfrentaria disputas
agrárias, especialmente no norte e centro do país. É “dificílimo que se construa
o gasoduto”, porém deve continuar sendo discutido porque “outras loucuras” já se
tornaram realidade no subcontinente, alertou.
A resistência ambientalista
também é intensa na Venezuela. A organização Amigos da Grande Savana
(Amigransa), que defende um belo parque no sudeste fronteiriço com o Brasil,
advertiu que o projeto seria “o passo definitivo para a destruição da Amazônia,
da Guiana venezuelana e de diversos ecossistemas da costa caribenha e
atlântica”. María Eugenia Bustamante, porta-voz da entidade, disse ao
Terramérica que “só a sugestão deste faraônico projeto, por demais impensado,
viola convênios sobre direitos econômicos, sociais e culturais”.
Em
resposta à nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia, a Petrobras anunciou
que instalará no Brasil duas unidades de regaseificação, para importar gás
natural liqüefeito, com capacidade para processar entre 18 milhões e 20 milhões
de metros cúbicos diários. As plantas serão instaladas em embarcações alugadas,
maneira mais rápida e barata de criar condições para o uso dessa alternativa.
Além disso, decidiu acelerar a produção nacional de gás natural em três bacias
marítimas no sudeste, acrescentando, até o final de 2008, 24,2 milhões de metros
cúbicos diários à oferta atual. A Petrobras pretende manter o contrato que prevê
importar 30 milhões de metros cúbicos diários de gás boliviano até 2009, e
descartou a duplicação anteriormente prevista desse volume.
* O autor é
correspondente da IPS. Com a colaboração de Humberto Márquez
(Venezuela). |
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