NCeHu
94/08
Ref.:
90/08.
"Fora Exército!"
Fuente: Causa Operária online ( 19/6/08).
Rio de
Janeiro
A população não aceita desculpas dos
assassinos do povo
Governo Lula, o
ministério da Justiça e o Exército pediram desculpa pelo assassinato de três
jovens no Rio. No entanto, toda a encenação faz parte do plano para tentar
manter as tropas do Exército nas favelas
19 de junho de 2008
A nova tática do governo Lula para
conter as manifestações da população que apedrejou o exército no morro da
Providência no Rio é pedir desculpas, mas não retroceder em nenhum momento sobre
a permanência do Exército no morro da Providência.
Manifestações populares começaram neste
fim-de-semana, depois que David Wilson Florêncio da Silva, de 24 anos, e que
Wellington Gonzaga Costa, de 19 anos, e Marcos Paulo da Silva, de 17 anos, foram
abordados em uma quadra onde jovens jogavam bola e foram seqüestrados por
militares.
Os militares depois alegaram que estes haviam sido
presos por desacato à autoridade, mesmo não tendo o Exército o poder policial
para prender. Em seguida estes foram entregues aos traficantes do morro da
Mineira controlado por uma facção do tráfico rival e, no dia seguinte, os corpos
estavam no lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (Grande Rio).
A reação do exército que está na favela para
supostamente proteger obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), depois
da revolta popular, foi aumentar ainda mais a repressão o que intensificou os
protestos, fazendo com que em manifestação os soldados fossem acuados pelos
próprios moradores.
Em seguida ao ato, declarações feitas
por comandantes mostravam que a deliberação de Lula era de que o Exército fosse
transformado em verdadeiro grupo policial, e que reagisse com prisões. A
presença do Exército no pacote do PAC fica ainda mais claro como um pretexto
para reprimir o povo.
"O Exército não pode conviver com o ilícito. O
militar pode e deve deter alguém que esteja em flagrante delito (...) O
incidente é um fato isolado", defendeu o chefe de Comunicação Social do Comando
Militar do Leste, Carlos Alberto Neiva Barcellos, justificando o assassinato dos
três jovens (O Estado de S. Paulo, 18/6/2008).
Desculpas e... mais repressão contra o
povo
O próprio Lula teve que fazer as primeiras
declarações de desculpa, dizendo que estava completamente contra o ocorrido. "O
que aconteceu foi uma coisa abominável não está na cabeça de pessoa normal o que
aconteceu. Não é possível que três jovens inocentes sejam vitimados de um ato
que eu diria insano, de uma pessoa que estava lá para colocar ordem"
(Agência Estado, 18/6/2008).
Outro representante do governo, o
general Mauro César Lorena Cid, comandante da 9.ª Brigada de Infantaria,
entregou um pedido formal de desculpas aos parentes dos mortos.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, em visita ao
morro da Providência, na tarde da terça-feira, sofreu um protesto dos moradores,
que gritaram ao final de seu discurso “Fora o Exército”.
O ministro concluiu que iria ver alguma maneira de
manter o “convício pacífico” entre moradores e o Exército e apelou em encontros
com os militares, para que estes não reajam à revolta
popular.
Na realidade, está criado o campo
inclusive para um massacre de moradores.
O povo não perdoa Lula e seus
assassinos
A população se recusou a receber as
desculpas de autoridades diretamente responsáveis pelo caso. O ministro Nelson
Jobim se retirou do morro da Providência sob as vaias da população que gritava
“Fora Exército!”
As mães dos três jovens protocolaram uma denúncia
contra a União sob a acusação de triplo homicídio qualificado, ou seja,
responsabilizaram o governo diretamente pela chacina.
A população organizou um
abaixo-assinado no morro pedindo que os militares saiam imediatamente e se
juntaram aos operários da operação Cimento Social, parte do projeto do PAC das
favelas. Os operários, recém contratados pelo governo, muitos deles moradores da
própria Providência e favelas vizinhas realizam uma greve até a saída do
Exército.
A crescente tensão entre a população e o Exército é
uma reação que já vem se desenvolvendo há muito tempo.
A criação de novas tropas para que o governo tente
controlar a revolta popular, como a Força Nacional de Segurança e o Bope,
acumulam um ódio graças às operações monstruosas para assassinar trabalhadores
como a ocorrida no morro do Alemão, onde no final do ano passado, onde mais de
50 moradores foram assassinados a sangue frio pela PM.
A desmoralização da tentativa de Lula de reeditar o
Exército como polícia vem também desde o assassinato de um menor de idade em
2006, quando o Exército ocupou mais de dez favelas nas regiões do centro a da
zona norte do Rio de Janeiro, incluindo a maior favela brasileira, a Rocinha,
quando as Forças Armadas justificavam as ocupações como uma reação ao roubo de
10 fuzis e uma pistola de um quartel em São Cristovão.
Os governos burgueses, à medida que
procuram aprimorar os órgãos de repressão contra o povo, recebem na mesma medida
a rejeição popular a tais medidas, o que demonstra uma falência das políticas da
direita típica da ditadura militar.
”Fora Exército!”
Ministro sai de morro da Providência sob protesto dos
moradores
19 de junho de
2008
O ministro da Defesa, Nelson Jobim visitou o morro
da Providência na última terça-feira para supostamente defender as famílias das
vítimas.
O ministro fez discurso aos moradores do morro na
última terça-feira para conter a crise do governo Lula pedindo desculpa às
famílias dos mortos e apareceu em capas de jornais abraçado com a mãe de uma das
vítimas.
Este, no entanto, compareceu ao encontro para
defender a permanência do Exército.
"Vamos arranjar uma forma de convivência possível
[entre os militares e os moradores]", disse ao terminar o discurso (O Estado
de S. Paulo, 18/6/2008).
Neste momento foi vaiado e recebeu em troca
gritos de protestos da população que diziam. “Fora Exército!”.
Minutos antes Jobim fazia um discurso no quartel
do Exército no centro da cidade para uma tropa de 250 homens que estão atuando
na operação.
"Há uma manifestação que vai atingir vocês, e vocês
precisam entender que essas pessoas estão extravasando seu ódio, sua raiva, sua
angústia. Mas são provocações que não podem ensejar nenhum tipo de reação. Há
que ter tolerância e compreensão (...) Mas tenho confiança de que vocês vão
honrar a farda do Exército", disse o ministro.
Nem mesmo no encontro produzido para ser uma
grande encenação em favor do governo, o ministro da Defesa e sua equipe,
apoiados por assessores do governo especializados em montar cenas nas favelas
como vimos na campanha do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) feitas para
discursos de Lula, conseguiram esconder o espírito de revolta da população.
Os moradores, até a tarde da terça-feira, haviam
realizado um abaixo assinado com 500 assinaturas dos moradores para pedir a
saída do Exército.
O descontentamento popular contra o Exército é
imenso e resultado direto do descontentamento popular com o governo federal e
não apenas um caso isolado como o quer tratar o Exército, já que a população
protesta amplamente contra esta situação, sem oferecer qualquer crédito a Lula e
seus ministros.
Ao contrário, crescem as manifestações as
manifestações espontâneas da população mais pobre contra o braço armado do
governo.
Esta é também uma crise profunda do regime
político burguês que mede sua força na capacidade de controlar pacificamente a
oposição
Rio de Janeiro
Crime mostra o acordo entra a polícia, o exército e
traficantes
Polícia impede perícia de
assassinatos de jovens no Rio
19 de junho de
2008
Quaisquer investigações sobre o assassinato de jovens do
Morro da Providência no Rio, que foi realizado em conjunto entre exército e
traficantes do morro vizinho, o da Mineira, estão sendo impedidas pelas polícias
militar e civil, que até o momento sequer realizaram perícia no local e nem têm
previsão para fazê-lo.
Um inspetor da 4ª DP confirmou que “não houvera ação na
favela nem havia previsão” (Folha de S. Paulo,
18/6/2008).
A polícia, que age para assassinar a população atirando
a esmo contra jovens, especialmente negros nas favelas em suas operações
assassinas, sequer acusaram os traficantes do Morro da Mineira ou realizaram
qualquer ação naquele morro. Quando esta massacra a população usa como argumento
a perseguição ao tráfico.
Estes dados comprovam que o crime organizado e as policias
agem conjuntamente com o crime organizado e o tráfico.
A população das favelas está sujeita à repressão tanto de
um lado e que o Estado é quem sustenta o tráfico além das milícias paramilitares
que mantém ligação com o mesmo.
Somente estes fatos já mostram que a polícia sustenta um
acordo com o crime organizado e só comprova que suas operações são realizadas
como uma fachada de combate ao crime.
A
investida contra os direitos da população
19 de junho de
2008
No Brasil, a burguesia, que está perdendo o
controle da situação de verdadeira ditadura contra a população disfarçada de
democracia, está sendo obrigada a retirar cada vez mais esse disfarce,
endurecendo leis, retirando direitos e fortalecendo o aparelho repressivo do
Estado.
O cerceamento à liberdade de imprensa é nesse
sentido um dos fatores que mais chama a atenção, sendo o Brasil “recordista” em
processos contra profissionais de imprensa. O mais preocupante, no entanto, é o
reforço do policiamento e do aparato repressivo, tais como a criação da Força
Nacional de Segurança, por Lula, a ação do exército nas favelas cariocas e o
recente projeto de criação de uma tropa de elite da FSN.
Além desse, também chama a atenção a ofensiva
contra os direitos da população, encabeçada pela direita e pela Igreja Católica
e endossada por Lula. É o caso da aprovação do chamado “pacote antiimpunidade”,
que acaba com uma série de garantias democráticas do cidadão diante do
Estado.
Nestes casos, ressalta-se o caso recente da prisão
de um sargento após ter revelado ser homossexual. O Exército inventou um
pretexto para prendê-lo, numa evidente discriminação do militar, chegando ao
absurdo de cercar a emissora de televisão na qual o sargento dava uma
entrevista.
Tal fato é um cerceamento dos seus direitos que
contraria a própria Constituição, à qual, embora não queiram, estão sujeitos, em
teoria, também os militares.
Um segundo fato foi a multa em dezenas milhares
de reais contra Marta Suplicy, pré-candidata do PT à prefeitura de São Paulo e à
revista Veja e o jornal Folha de S. Paulo, que publicaram uma
entrevista com a ex-ministra.
A tentativa de cercear a liberdade de expressão e
até mesmo de informação, inclusive em pleno processo eleitoral, quando caberia
conceder todos os recursos possíveis para o debate livre de idéias, é igualmente
inconstitucional e ainda mais grave é o fato de ter sido um simples tribunal, o
Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo a ter contrariado a Constituição e
aplicado a multa, sem qualquer controle do governo ou do
Congresso.
Os tribunais estão inclusive se aproveitando da
compreensível falta de prestígio de que gozam os políticos no país, para
restringir à vontade o direito dos cidadãos, não o dos políticos burgueses. O
curioso é que a medida só vai beneficiar de fato os partidos e políticos mais
ricos e que são justamente os mais repudiados pela população.
O hábito que estão procurando consolidar no Brasil,
de realizar as eleições praticamente às escondidas da população, sem tempo de
campanha eleitoral, tanto na TV, quanto a proibição de dar entrevistas, ter
outdoors, faixas, cartazes, carros de som etc., nem é preciso dizer, é
completamente antidemocrático.
Justamente precisa ser feita dessa maneira para não
dar espaço para se desenvolverem políticas alternativas à da burguesia, já
completamente esgotada e atualmente sem perspectiva de
regeneração.
Tal hábito, vale ressaltar, é inclusive
servilmente imitado pela “esquerda” pequeno-burguesa, que no âmbito em que atua;
sindicatos, grêmios, centros acadêmicos etc. realizam eleições relâmpago e com
baixíssima votação, pois, estando em conformidade com o regime político sofrem
ainda mais rapidamente, pois são mais frágeis, a mesma decadência que o regime
de conjunto.