NCeHu
162/07
Império vs Democracia
Porque está Nemesis à nossa
porta?
A História diz-nos que uma das mais
insustentáveis combinações políticas, é um país – como são hoje os Estados
Unidos – tentar ser internamente uma democracia e externamente um império.
A razão porque isto é assim, pode ser bastante abstracta. Talvez a melhor
forma de exprimir o meu pensamento seja dizer algumas palavras sobre meu
novo livro, Nemesis e explicar porque lhe dei o subtítulo: "Os últimos
dias da república americana". Nemesis é o terceiro livro que
resultou da minha pesquisa realizada ao longo dos últimos oito anos. Nunca
tive a intenção de escrever uma trilogia sobre a nossa democracia, cada
vez mais posta em perigo, mas como me tenho deparado continuamente com
evidencias de um legado resultante da pressão imperialista que exercemos
sobre muitos países, assim como sobre a Natureza e com a dimensão do nosso
império militar, foi surgindo um livro após o outro.
Profissionalmente, sou especialista em história e política de Ásia
Oriental. No ano 2000, publiquei Blowback: The Costs and Consequences of American
Empire , porque as minhas pesquisas na China, no Japão, e nas
duas Coreias, persuadiram-me de que as políticas por nós desenvolvidas
naquela região teriam sérias consequências no futuro. O livro foi notado
na ocasião, mas só depois do 11 de Setembro é que o expressão da CIA que
adaptei como título – "blowback" [1] – se tornou uma palavra corrente, e
o meu livro um "best-seller".
A minha intenção foi exactamente
explicar a razão que levou o nosso governo a ser tão odiado por todo o
mundo. O termo da gíria da CIA, "blowback", não significa apenas
retaliação por coisas que o nosso governo tenha feito para, ou em, países
estrangeiros. Diz respeito especificamente a retaliação devida a operações
ilegais efectuadas no estrangeiro que foram mantidas totalmente
secretas para o público americano. Estas operações incluíram o derrube
clandestino de governos que não eram do agrado da administração
norte-americana, o treino de exércitos estrangeiros em técnicas de
terrorismo estatal, a burla de eleições em países estrangeiros, a
interferência com a viabilidade económica de países que pareciam ameaçar
os interesses das corporações norte-americanas influentes, assim como a
tortura ou assassínio selectivo de estrangeiros. O facto de estas acções
serem, pelo menos originalmente, secretas, significa que quando surge uma
reacção de retaliação – como, espectacularmente, aconteceu no dia 11 de
Setembro de 2001 – o público americano é incapaz de avaliar estes
acontecimento dentro do contexto. Não surpreende então que os americanos
tendam a apoiar actos imediatos de vingança com a pretensão de punir os
verdadeiros, ou suspeitos, autores. Obviamente que estas reacções
violentas apenas preparam o terreno para iniciar um novo ciclo de
"blowback".
Um mundo de bases militares
Na
continuação de minha odisseia analítica, comecei então por pesquisar a
rede das 737 bases do exército americano que mantemos por todo o mundo (de
acordo com o próprio inventário oficial do Pentágono de 2005). Não
considerando os conflitos do Iraque e do Afeganistão, temos hoje em dia
para cima de meio milhão de tropas norte-americanas, espiões, contratados,
dependentes, e outros, em bases militares localizadas em mais de 130
países, muitos deles presididos por regimes ditatoriais que não deram voz
aos seus cidadãos na decisão de nos permitir a instalação das nossas
bases.
Vejamos um exemplo notável de uma política de base
imperial: Durante os últimos 61 anos, o exército norte-americano ocupou
militarmente a pequena ilha japonesa de Okinawa com 37 bases. Mais pequena
do que a ilha havaiana Kauai, Okinawa tem 1,3 milhão de habitantes que
coexistem com 17 mil militares da 3ª Divisão Naval e com a maior
instalação militar norte-americana na Ásia Oriental – a base aérea de
Kadena. Registaram-se muitos protestos em Okinawa devidos a estupros,
crimes, acidentes, e poluição causados por este tipo de concentração de
tropas e armamento americano, no entanto, no máximo o exército
norte-americano – com a conivência do governo japonês – ignorou-os. O
resultado da minha pesquisa está exposto em The Sorrows Of Empire: Militarism, Secrecy, And
The End Of The Republic escrito no decurso da invasão de Iraque.
Na
medida em que as nossas actividades no Afeganistão e no Iraque se iam
transformando em enormes fiascos, desacreditando a nossa liderança
militar, arruinando as nossas finanças públicas, e trazendo a morte e a
destruição a centenas de milhares de civis nesses países, eu ia
reflectindo sobre este assunto do império. Durante estes últimos anos,
tornou-se já claro que o George W. Bush, Dick Cheney, e os seus
partidários reivindicavam, e assumiam activamente, poderes especificamente
negados pela nossa constituição a qualquer presidente. Tornou-se
igualmente claro que o Congresso abdicou, quase por completo, das suas
responsabilidades de equilibrar o poder do governo. Apesar da contundente
vitória do Partido Democrata nas eleições de 2006, está por ver se estas
tendências podem, a longo prazo, ser controladas — sem falar em
reverte-las.
Até às eleições presidenciais de 2004, qualquer
cidadão norte-americano poderia afirmar que, pelo menos a nossa política
externa, incluindo a nossa invasão ilegal do Iraque, resultava das
decisões da administração de George Bush que não tinha sido eleito por
nós. Afinal de contas, em 2000, Bush perdeu o escrutínio popular, mas foi
designado presidente graças a uma decisão do Tribunal Supremo baseada numa
votação de 5-4. No entanto, em Novembro de 2004, não obstante as
reclamações de fraude eleitoral, Bush ganhou na verdade o escrutínio
popular por mais de 3,5 milhões de votantes, tornando nosso o seu regime e
as suas guerras.
Acontece que actualmente, quer tenha ou não sido
intenção dos americanos, somos vistos por todo o mundo como aqueles que
aprovam a tortura dos prisioneiros em Abu Ghraib no Iraque, na base aérea
de Bagram em Kabul, na baía de Guantanamo em Cuba, e numa rede global de
prisões secretas da CIA, assim como somos vistos por termos aprovado as
alegações de Bush que, como comandante supremo em "tempo de guerra", o
coloca acima de todos os constrangimentos da Constituição ou da lei
internacional. Actualmente estamos envolvidos com uma economia fraudulenta
que tem por base défices comerciais e fiscais recordes, com o governo mais
secreto e intrusivo de que há memória no nosso país, e com a continuação
de uma guerra "preventiva" como base da nossa política externa. Também não
nos devemos esquecer da potencial epidemia que pode ser a proliferação
nuclear, que resulta da tentativa das outras nações se ajustarem e se
defenderem das guerras preventivas de Bush, enquanto o nosso já
surpreendente arsenal nuclear se vai expandindo para a primazia do
primeiro ataque, e vamos despendendo somas incalculáveis em ideias
futuristas de guerras espaciais.
A escolha pela frente
Quando escrevia Nemesis, já não duvidava que, para
manter o nosso império no estrangeiro, seriam exigidos recursos e
compromissos que inevitavelmente estavam diminuídos, ou eram simplesmente
marginais, em resultado da nossa democracia, que poderia em última
instancia vir a criar uma ditadura militar ou – muito mais provavelmente –
o seu equivalente civil. A combinação de grande quantidade de forças
militares permanentes, de guerras quase contínuas, de uma sempre crescente
dependência económica do complexo industrial-militar e do fabrico de
armamento, e de despesas militares ruinosas, assim como de um orçamento de
"defesa" vasto e engordado, para não falar da criação de um completo
segundo Departamento de Defesa (conhecido por Department of Homeland
Security), tem destruído a nossa estrutura republicana de governo, em
favor de uma presidência imperial. Por estrutura republicana de governo,
obviamente, entendo separação de poderes e elaborados controlos e
equilíbrios que os fundadores de nosso país consignaram na Constituição
como os principais bastiões contra a ditadura e a tirania que muito
temiam.
Estamos à beira de perder a nossa democracia em virtude de
querermos manter o nosso império. Uma vez que uma nação tome este caminho,
a dinâmica aplicada a todos os anteriores impérios entra em acção – o
isolamento, o forçar demasiado as situações, a união das forças locais e
globais que se opõem ao imperialismo, e no final, a falência.
A
História é bastante esclarecedora acerca deste dilema. Se escolhermos
manter o nosso império, como fez a república romana, perderemos certamente
a nossa democracia e esperaremos o eventual "blowback" gerado pelo
imperialismo. Existe no entanto uma alternativa. Podemos, tal como fez o
império britânico depois da II Guerra Mundial, manter a nossa democracia
deixando o nosso império. Os britânicos não fizeram um trabalho
particularmente brilhante de liquidação do seu império, registando-se
situações concretas de os imperialistas britânicos, para continuarem a
usufruir dos privilégios no estrangeiro, chegarem a pôr em causa o
compromisso da nação para com a democracia. A guerra contra os Kikuyus no
Quénia nos anos cinquenta e a invasão anglo-franco-israelense do Egipto,
em 1956, são exemplos particularmente selvagens disso mesmo. Mas o
conjunto de acontecimentos da história britânica pós-guerra, em termos
globais, é muito claro: as pessoas das Ilhas Britânicas escolheram a
democracia em lugar do imperialismo.
No livro da filósofa política
Hannah Arendt, The Origins of Totalitarianism, pode-se ler o
seguinte resumo acerca do imperialismo britânico e do seu destino:
"De um modo geral foi um fracasso em
virtude da dicotomia existente entre os princípios legais do
estado-nação e os métodos necessários para oprimir de modo permanente os
outros povos. Este fracasso não foi nem necessário nem devido a
ignorância ou a incompetência. Os imperialistas britânicos sabiam
perfeitamente que os "massacres administrativos" poderiam manter a Índia
na escravidão, mas também sabiam que a opinião pública inglesa não
apoiaria tais medidas. O imperialismo poderia ter sido um sucesso se o
estado-nação se dispusesse a pagar o preço de suicidar-se e
transformar-se numa tirania. O facto de se ter preferido acabar com o
império, representa uma das glórias de Europa, mas muito especialmente
da Grã Bretanha".
Concordo com este julgamento. Quando se
observa o desnecessário e fútil apoio do primeiro-ministro Tony Blair à
invasão de Bush e à ocupação do Iraque, só se pode concluir que esse apoio
não foi mais do que uma resposta atávica, representando um desejo
britânico para reviver as glórias – e as crueldades – de um passado que
deveria pertencer a uma história já antiga.
O imperialismo, como
uma forma de governo, não procura nem requer o consentimento dos
governados. É uma forma pura de tirania. A tentativa americana de combinar
democracia interna com o controlo tirânico sobre povos estrangeiros, é
desesperadamente contraditória e hipócrita. Um país pode ser democrático
ou imperialista, mas não pode ser ambas as coisas.
O caminho
para a falência imperial
O regime político americano não
impediu que esta combinação se desenvolvesse – e agora pode já não ser
capaz de corrigir esta situação. Existem fortes evidências de que, em
presença da presidência imperial, as vias legislativas e judiciais de
nosso governo tornaram-se tão servis que perderam, em grande parte, a
capacidade de responder com princípios e com independência. Inclusivamente
com o actual momento de animo que se vive no Congresso, parece haver ali
um profundo sentido de desamparo. Vários congressistas já tentaram
explicar que apesar do evidente poder que detêm – para cortar fundos
destinados a programas desastrosos – não estão actualmente preparados para
o usar.
Assim a pergunta que se coloca é a de saber se o povo é,
por ele próprio, capaz de restabelecer o governo constitucional, uma vez
que não se pode contar com o Congresso para esse efeito. Um movimento de
base para abolição do governo secreto, trazer a CIA e outras operações
ilegais de espionagem e exércitos privados para fora do armário do poder
imperial e expô-lo à luz do dia, romper as ligações com o complexo
industrial-militar, e estabelecer um financiamento público genuíno dos
processos eleitorais, pode ser pelo menos teoricamente concebível. Mas
dado o controlo exercido pelo conglomerado dos nossos meios de comunicação
de massas, e as dificuldades de mobilizar a nossa grande e diversificada
população, como seja para se optar por uma democracia popular, tal como
foi feito no passado, parece bastante improvável vir a acontecer tal
movimento.
É possível que, em algum momento futuro, o exército
norte-americano possa realmente assumir o governo e declarar uma ditadura
(ainda que os seus comandantes encontrassem uma designação mais suave,
mais amigável para isso). Afinal de contas, foi assim que a Republica
Romana terminou – transformando-se num general populista, Júlio César
acabou por ser declarado ditador vitalício. Depois do seu assassinato e de
um curto interregno, foi o seu sobrinho-neto Otávio que o sucedeu
tornando-se no primeiro imperador romano, Augusto César. Não é provável
que o exército americano vá por esse caminho. Mas não se pode ignorar o
facto de os oficiais militares profissionais terem tido uma
responsabilidade preponderante na liberdade de acção adquirida pelo seu
chefe-supremo civil, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld. Os novos
directores da CIA, dos seus principais departamentos, da Agência de
Segurança Nacional, e de muitos outros órgãos fundamentais da "instituição
de defesa", são presentemente, oficiais militares (ou ex-militares), o que
sugere que o exército não precisa de assumir o governo para controlar a
situação. Por outro lado, os militares voluntários emergem como se fossem
uma instituição cada vez mais separada da nossa sociedade, com um perfil
cada vez menos de acordo com a população em geral.
No entanto,
golpes militares, mesmo decorosos, não fazem parte da tradição americana
nem do corpo de oficiais, que deveria ficar bastante preocupado com a
reacção colectiva dos cidadãos a um movimento que tendesse para uma
ditadura militar aberta. Além disso, as acusações a militares que
exerceram torturas de baixo nível na prisão de Abu Ghraib, e o assassínio
de civis no Iraque, mostraram às tropas que obedecer a ordens ilegais pode
resultar numa penalidade pesada, não atingindo os de elevada patente.
Ninguém sabe se o soldado comum, considerando mesmo que já não possui o
normal sentido de um exército de cidadãos, deveria obedecer sem hesitação
a ordens para desalojar um governo eleito, ou se o corpo de oficiais teria
já suficiente confiança para emitir tais ordens. Além disso, o presente
sistema já oferece bastante ao alto comando militar – em fundos,
prestígio, e emprego futuro pela afamada "porta rotativa" do complexo
industrial-militar – e uma transição perigosa para qualquer coisa
equivalente a um envolvimento militar directo, teria pouco sentido em
condições razoavelmente normais.
Independentemente dos
desenvolvimentos que se venham a registar, a minha forte convicção é de
que os EUA vão continuar a manter um governo constitucional de fachada,
até serem surpreendidos pela falência financeira. Claro que a falência não
significará o fim literal dos EUA tal como não foi para a Alemanha em
1923, para a China em 1948, ou para a Argentina em 2001/2002. Na
realidade, poderia abrir o caminho para uma inesperada restauração do
sistema americano – ou das leis militares, ou para a revolução, ou
simplesmente para algum novo desenvolvimento que ainda não conseguimos
vislumbrar.
Certamente, uma tal bancarrota significaria a redução
drástica do nosso padrão de vida, a perda do controlo nos assuntos
internacionais, uma necessidade súbita de se ajustar à ascensão
protagonismo de outras potências, incluindo a China e a Índia, e um maior
descrédito da noção de que, em comparação com outros países, os EUA são de
algum modo excepcional. Teremos de aprender o que significa ser um país
extremamente pobre – assim como as atitudes e modos gerados por essa
situação. Como observou Anatol Lieven , autor de
America Right or Wrong: An Anatomy of American Nationalism:
"O poder global norte-americano, como é
presentemente concebido pela maioria opressora da elite no poder, é
insustentável... O império já não pode aumentar, para um nível que lhe
seja suficiente, nem os impostos nem o número de soldados, está
crescentemente endividado, e os estados vassalos chave já não são
confiáveis... O resultado disto é que o império já não pode pagar o
suficiente às tropas profissionais que necessita para cumprir as suas
auto-assumidas tarefas imperiais".
Em Fevereiro de 2006, a administração Bush
submeteu ao Congresso um orçamento de defesa de 439 mil milhões de dólares
para o ano fiscal de 2007. Assim que o país entrou em 2007, a
administração apresentou de novo ao Congresso um pedido suplementar de
quase 100 mil milhões de dólares só para as guerras do Iraque e do
Afeganistão. Enquanto isso, o défice de transacções correntes do país – o
desequilíbrio no comércio de bens e serviços, assim como nas receitas do
estrangeiro de juros de aplicação de capitais, e a dividendos e lucros
devidos a rendimentos – sofreu já a sua mais rápida deterioração
trimestral de sempre. Para 2005, o défice de transacções correntes era 805
mil milhões de dólares, 6,4% do PIB nacional. Em 2005, o défice do
comércio norte-americano, o maior componente do défice de transacções
correntes, disparou para o défice mais elevado de sempre, 725,8 mil
milhões de dólares, o quarto ano consecutivo em que a dívida comercial dos
EUA bateu recordes. Só com a China, o défice comercial atingiu 201,6 mil
milhões de dólares, o valor mais elevado alguma vez registado com um país
estrangeiro. Entretanto, desde meados de 2000, o país perdeu quase três
milhões de postos de trabalho na indústria.
Para tentar conter
estes desequilíbrios, em 16 de Março de 2006 o Congresso elevou o limite
de dívida interna de 8.200 para 8.960 mil milhões de dólares. Desde que o
George W. Bush entrou em funções, foi já a quarta vez que este limite teve
de ser elevado. A dívida pública é o total em dívida da responsabilidade
do governo e não deve ser confundida com o défice do orçamento federal,
isto é, o montante líquido anual pelo qual as despesas federais excedem as
receitas. Se o Congresso não tivesse elevado o limite, o governo
norte-americano não poderia pedir emprestado mais dinheiro, tornando-se
incapaz de fazer face ao pagamento das suas enormes dívidas.
Os
dois maiores credores que financiam estas somas sem precedentes são os
bancos centrais da China (com 853,7 mil milhões de dólares em reservas) e
do Japão (com 831,58 mil milhões de dólares em reservas), que são os
administradores dos enormes excedentes comerciais com os Estados Unidos.
Isto ajuda a entender porque o nosso fardo da dívida ainda não despoletou
o que a teoria económica padrão determinaria: um declínio agudo do valor
do dólar norte-americano seguido por uma severa contracção da economia
americana quando descobrirmos que não podemos mais dispor dos bens
estrangeiros de que tanto gostamos. Até agora, tanto o governo chinês como
o japonês continuam dispostos a serem pagos em dólares a fim de sustentar
as compras americanas das suas exportações.
A bem do seu próprio
nível de emprego interno, ambos os países emprestam enormes quantias ao
Tesouro americano, mas não existe qualquer garantia de por quanto tempo
mais eles quererão, ou poderão, continuar a fazê-lo. Marshall Auerback, um
estratego financeiro internacional, diz que nos tornámos numa "economia
Blanche de Dubois" (assim nomeada pelo estilo de liderança da peça de
Tennessee Williams: Uma rua chamada desejo, A Streetcar Named Desire
) fortemente dependente da "bondade de estranhos". Infelizmente, no
nosso caso, como no de Blanche, há cada vez menos estranhos dispostos a
suportar as nossas ilusões.
Assim a minha esperança é de que – se
o povo americano não encontrar uma forma de optar pela democracia ao invés
do império – ao menos a nossa aventura imperial não termine com uma
explosão nuclear e sim com um desastre financeiro. Deste ponto de vista,
para qualquer presidente (ou Congresso) de qualquer dos partidos, é
certamente um tremendo desafio iniciar a tarefa de desmantelar o complexo
industrial-militar, terminar com a mortalha do segredo da "segurança
nacional" e dos "orçamentos negros" que fazem omissão pública daquilo que
nos parece impossível que o nosso governo possa fazer, e trazer o exército
secreto do presidente, a CIA, para debaixo do controlo democrático. É
evidente que Nemesis – em mitologia grega, a deusa da vingança, a
castigadora do orgulho e da arrogância – é já uma visitante do nosso país,
simplesmente a aguardar o momento para tornar conhecida a sua presença.
[*] Professor
jubilado de Estudos Asiáticos da Universidade de Califórnia, San Diego. De
1968 a 1972, serviu como consultor do Office of National Estimates da
Central Intelligence Agency. Nemesis: The Last Days of the
American Republic , o
último volume da Trilogia da sua Blowback Trilogy, foi
publicado em Fevereiro de 2007. Em 2006 participou no documentário
premiado Why We Fight.
[1] Blowback:
literalmente, explosão para trás. Também poderia ser traduzido por "tiro
pela culatra".
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Este artigo encontra-se em http://www.commondreams.org/views07/0131-27.htm Tradução de MJS.
Fuente: www.resisitir.info
, 21 de febrero de
2007. |