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Asunto: | Re: NoticiasdelCeHu 344/06Gramsci e a sociedade civil (Carlos Nelson Coutinho | Fecha: | Viernes, 5 de Mayo, 2006 01:03:25 (-0300) | Autor: | Vicente Di Cione <geobaire @............ar>
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En respuesta a: | Mensaje 7278 (escrito por Centro Humboldt) |
¿Fortalecer la sociedad civil? (En Apuntes dispersos de geografía y
ciencias sociales)
Un lugar bastante común: la insistencia en los
ambientes de la politicología sobre cierta ventaja (sin explicitar para quienes
y para qué es la ventaja) del fortalecimiento de la sociedad civil. Por
contraposición se afirma la ventaja
de debilitar la sociedad política y su condensación institucional: el estado.
Sus implicancias inmediatas: fortalecer aún más lo fortificado, es decir, el
poder de capital, el poder de los que ya tienen el poder.
La proposición implica el reconocimiento de una ruptura o,
al menos, de cierta relación de exterioridad entre la sociedad civil, la
sociedad política y el estado. Es admisible esta hipótesis? En absoluto. Los
tres momentos son “internamente interdependientes y contradictorios”. De ahí que
la propuesta de “fortalecer la sociedad civil” sea, al mismo tiempo, una
propuesta de fortalecimiento de las relaciones de poder constitutivas y
constituyentes de la sociedad política y del estado.
Desde otro lugar la proposición debería insistirse en
“debilitar la sociedad civil” mediante una reconfiguración de la cultura en
general y de la política en particular. Esto involucra la necesidad de alterar
el corazón de la actual sociedad civil: el debilitamiento de las relaciones de
producción dominantes y de su “packaging” [embalaje] ideológico liberal o
neoliberal.
La gran incógnita: ¿quién es el sujeto – movimiento
social, sistema de partidos, etc. – que asumiento la crítica de la actual
sociedad civil pueda rediseñar su arquitectura, conjuntamente con el rediseño de
una sociedad politica y un estado acorde con dicha arquitectura?
[V. Di Cione, Reflexiones a partir de una disertación de PL
en UNTREF el 25/11/2.000]. http://www.geobaires.geoamerica.org/vdicione/apuntes.html
----- Original Message -----
Sent: Wednesday, May 03, 2006 9:33
PM
Subject: NoticiasdelCeHu 344/06Gramsci e
a sociedade civil (Carlos Nelson Coutinho
NCeHu 344/06
Brasil y
Argentina, una misma geografía
Gramsci e a sociedade civil
Carlos Nelson Coutinho
Curioso destino teve o conceito de "sociedade
civil" no Brasil. Seu uso entre nós, tanto na Universidade quanto no
jornalismo político, data da segunda metade dos anos 70, quando se acentuam os
processos de corrosão da ditadura militar, causados em grande parte pela
irrupção de novos movimentos sociais, entre os quais se destaca o novo
sindicalismo do ABC. Não é casual que tenha sido nesse mesmo momento que
Antonio Gramsci se transformou num dos mais importantes interlocutores do
pensamento social brasileiro. Compreende-se assim que o termo "sociedade
civil", que então entrava em moda, terminasse por ser identificado - em muitos
casos equivocadamente - com o conceito análogo de Gramsci, conceito que ocupa
uma posição central na filosofia política do pensador marxista italiano.
No contexto da luta contra a ditadura, "sociedade
civil" tornou-se sinônimo de tudo aquilo que se contrapunha ao Estado
ditatorial, o que era facilitado pelo fato de "civil" significar também, no
Brasil, o contrário de "militar". Disso resultou uma primeira leitura
problemática do conceito: o par conceitual sociedade civil / Estado, que forma
em Gramsci uma unidade na diversidade, assumiu os traços de uma dicotomia
radical, marcada ademais por uma ênfase maniqueísta. Nessa nova leitura, ao
contrário do que é dito por Gramsci, tudo o que provinha da "sociedade civil"
era visto de modo positivo, enquanto tudo o que dizia respeito ao Estado
aparecia marcado com sinal fortemente negativo.
Esse deslizamento conceitual, muitas vezes
apresentado como a verdadeira teoria gramsciana, não provocou, no momento da
transição, maiores estragos, embora tenha contribuído para obscurecer o
caráter contraditório das forças sociais que formavam a sociedade civil
brasileira, as quais, apesar dessa contraditoriedade, convergiam objetivamente
na comum oposição à ditadura; esse obscurecimento, decerto, facilitou a
hegemonia das forças liberais no processo de transição, que Florestan
Fernandes não hesitou em chamar de "transação conservadora". Mas as coisas se
complicaram decisivamente quando, a partir de final dos anos 80, a ideologia
neoliberal em ascensão apropriou-se daquela dicotomia maniqueísta para
demonizar de vez tudo o que provém do Estado (mesmo que se trate agora de um
Estado de direito) e para fazer a apologia acrítica de uma "sociedade civil"
despolitizada, ou seja, convertida num mítico "terceiro setor" falsamente
situado para além do Estado e do mercado.
Embora o belo livro que o leitor tem em mãos não
assuma essa problemática como tema central, ela constitui certamente o pano de
fundo e o motivo inspirador da instigante pesquisa que nele desenvolve
Giovanni
Semeraro [Gramsci e a sociedade
civil. Petrópolis, Vozes, 1999]. O objetivo central deste livro consiste
precisamente no resgate do verdadeiro conceito gramsciano de "sociedade
civil", revelado aqui em toda a sua densidade política. Com efeito, na visão
de Gramsci, "sociedade civil" é uma arena privilegiada da luta de classe, uma
esfera do ser social onde se dá uma intensa luta pela hegemonia; e,
precisamente por isso, ela não é o "outro" do Estado, mas - juntamente com a
"sociedade política" ou o "Estado-coerção" - um dos seus inelimináveis
momentos constitutivos. Para Gramsci, como Semeraro nos mostra muito bem, nem
tudo o que faz parte da sociedade civil é "bom" (ela pode, por exemplo, ser
hegemonizada pela direita) e nem tudo o que provém do Estado é "mau" (ele pode
expressar demandas universalistas que se originam nas lutas das classes
subalternas). Somente uma concreta análise histórica da correlação de forças
presente em cada momento pode definir, do ângulo das classes subalternas, a
função e as potencialidades positivas ou negativas tanto da sociedade civil
como do Estado.
Para promover esse resgate do verdadeiro conceito
gramsciano de "sociedade civil", Semeraro empreende não apenas uma leitura
atenta e cuidadosa dos Cadernos do cárcere, através da qual reconstrói
com rigor filológico e acuidade teórica a rica e complexa trama categorial
elaborada pelo pensador italiano, mas busca também investigar a obra de dois
importantíssimos interlocutores de Gramsci, Hegel e Croce. Semeraro nos
mostra, por exemplo, que, sem levar em conta esse diálogo com Croce e,
sobretudo, com Hegel, não se pode compreender adequadamente o específico
conceito gramsciano de "sociedade civil"; mas nos mostra também, ao mesmo
tempo, que Gramsci é Gramsci precisamente porque supera dialeticamente os
conceitos de seus interlocutores e constrói uma originalíssima noção de
"sociedade civil", que aparece como eixo articulador de uma nova teoria
política marxista. Por outro lado, para demonstrar como essa originalidade nem
sempre foi devidamente percebida pelos intérpretes, mesmo quando tais
intérpretes são brilhantes e honestos pensadores, Semeraro nos propõe ainda
uma análise da interlocução de Norberto Bobbio com Gramsci, tanto mais
importante quando se sabe que, no Brasil, Bobbio foi e continua a ser uma das
principais vias de acesso à leitura do autor dos Cadernos do cárcere.
Portanto, Gramsci e a sociedade civil não é
apenas uma brilhante tese acadêmica sobre o pensamento de um dos autores mais
lidos e discutidos hoje no âmbito das ciências sociais. Trata-se também de uma
intervenção polêmica num dos mais importantes debates políticos da atualidade,
aquele que envolve a correta definição do estatuto teórico-prático da
sociedade civil e do Estado. Resgatando o conceito gramsciano de "sociedade
civil" em sua dimensão nitidamente política, mostrando a sua articulação
dialética com a luta pela hegemonia e pela conquista do poder político por
parte das classes subalternas, o livro de Giovanni Semeraro constitui
doravante uma imprescindível contribuição não só ao estudo da obra de Gramsci,
mas também à luta pela desconstrução de uma das mais insidiosas vertentes da
ideologia neoliberal, precisamente aquela que – valendo-se de uma terminologia
supostamente "de esquerda", herdada dos combates contra a ditadura – tem como
base um conceito apolítico e asséptico de "sociedade civil". Um conceito que,
como Semeraro nos demonstra convincentemente, nada tem a ver com o pensamento
revolucionário de Antonio Gramsci.
Carlos Nelson Coutinho é professor da UFRJ e co-editor de *Gramsci e o
Brasil*.
Extraído de
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