NCeHu 1401/05
Brasil
Cinema
Foco em Milton
Santos
O
diretor Sílvio Tendler lançará em 2006 filme sobre o conceituado
geógrafo baiano
Eduardo Bastos
O
carioca Sílvio Tendler confirma sua vocação para filmar
personalidades baianas. Depois de fazer filmes sobre Castro Alves, Carlos
Marighela e Glauber Rocha, o cineasta vai levar às telas, no início de 2006,
um longa-metragem sobre o geógrafo Milton Santos.
A confirmação foi
dada por Tendler durante sua recente visita a Iraquara, na Chapada
Diamantina, onde participou, como palestrante, do I Festival Latino-Americano
de Vídeo Ambiental.
A película tem como base uma entrevista gravada pelo
cineasta pouco antes da morte do geógrafo, em 2001. “Foi a última entrevista
de Milton Santos e ele falou tudo o que pensava da vida. Percebi que não era
só um intelectual, mas, por causa de sua clarividência, conseguia antever
muitas coisas”, constata Tendler.
Os atentados terroristas de 11 de
setembro de 2001 teriam sido uma delas, na visão do cineasta. “Em janeiro de
2001, ele disse que não estávamos prestando atenção nos árabes. Milton Santos
tinha uma visão de mundo muito grande e conseguiu prever coisas como a
globalização e a privatização da saúde, que veio no ano passado”.
A
discussão em torno da globalização, uma das principais preocupações
do geógrafo, é o tema determinante do filme, batizado de Milton Santos e o
Mundo Global Visto do Lado de Cá. À entrevista estão sendo acrescentadas
imagens ilustrativas do tema.
“Tudo o que a gente vê vira imagem”,
filosofa Tendler. “Em Iraquara, por exemplo, filmei uma feira com produtos de
valores globalizados, um cyber café, pessoas do interior tendo acesso à
internet”.
Há também depoimentos de personalidades como o professor
Boaventura Santos, o estudioso americano Noam Chomsky, o uruguaio Eduardo
Galeano, além de imagens do discurso do escritor português José Saramago no
Fórum Mundial e de fatos como lutas sociais no Uruguai e Argentina.
O
geógrafo pernambucano Josué de Castro foi o elo de ligação entre Tendler
e Santos. O cineasta havia ido a Paris, em 1995, entrevistá-lo para um filme
e conheceu pessoalmente o geógrafo baiano, que era discípulo de Castro.
“Ficamos amigos e decidimos fazer algo juntos. Depois de alguns
encontros, Milton foi dar uma palestra no Rio de Janeiro e eu fui filmar, mas
ele ficou doente. Mas concedeu a entrevista em janeiro de 2001”,
recorda.
Sílvio Tendler é diretor de filmes como Glauber, O Filme –
Labirinto do Brasil e o média Memória e História em Utopia e Barbárie, que
será transformado no longa Utopia e Barbárie. “Este será um filme
autobiográfico, sobre ter 18 anos em 1968”, diz o cineasta.
Tendler
recorre a uma metáfora para classificar seu estilo de filmar: “O cinema que
faço é um pouco de sopa de pedra, vou juntando os fragmentos até virar filme.
É um cinema permanentemente em construção, não gosto de um
roteiro preestabelecido, mas de uma idéia”.
Ele considera Utopia e
Barbárie e Milton Santos e o Mundo Global Visto do Lado de Cá como duas faces
da mesma moeda: o primeiro é sobre o passado, o segundo, sobre o futuro. Além
desses dois filmes que ainda irão estrear, Tendler revela “um velho sonho
oculto” – de filmar sobre a Revolta dos Alfaiates, a famosa conjuração
baiana.
Casado com uma baiana de Feira de Santana, ele afirma que a
fixação por temas da Bahia não é intencional. “Não tem nada de preconcebido,
acho que a Bahia tem grandes personalidades”.
Considerado por muitos o
maior geógrafo brasileiro, o professor Milton Santos (1926-2001) enfatizou o
aspecto humano da geografia e foi um crítico da globalização perversa.
Introduziu importantes discussões na geografia, como a retomada de autores
clássicos, e participou do movimento de renovação crítica da disciplina.
Foi o único estudioso, fora do mundo anglo-saxão, a receber o mais alto
prêmio internacional em geografia, o Prêmio Vautrin Lud (1994), o equivalente
ao Nobel na geografia.
Fuente: ListaGeografía/Brasil.
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