PERCEPÇÃO AMBIENTAL EM DUNAS COSTEIRAS NO LITORAL SUL DE SERGIPE, BRASIL.
Walter Uchôa DIAS JÚNIOR
1
Rosemeri MELO & SOUZA 2
RELAÇÃO HISTÓRICA ENTRE HOMEM E NATUREZA
Muito se têm discutido a respeito da atuação antrópica
sobre a natureza em seu estado "primário", e principalmente o resultado dessa
interação, que intervém na dinâmica dos ecossistemas, gerando danos ao meio
ambiente e, conseqüentemente ao ser humano.
Na história da evolução social humana, foi a partir da
industrialização que o ser humano começou a interferir bruscamente nos processos
da natureza, pois a ciência e tecnologia absorvida a partir daquele momento
inferiram diretamente na relação homem x natureza, de forma predatória.
Com o desenvolvimento desses processos, que é uma das
idéias básicas da cultura ocidental, a natureza aparece com a função de gerar
matéria-prima e absorver resíduos contaminados. A ciência e a tecnologia que
conhecemos não são corpos de conhecimento teórico e prático ameaçadores ou
perigosos em si mesmos, para a condição humana, mas o são, em todo caso, o
caráter, a orientação e o uso que lhes é dado (MOLINA, 2001).
Segundo MILTON SANTOS (2003), estamos vivenciando uma
Natureza Hostil, dominada por grupos sociais que mantém uma relação exploratória
com o ambiente, uniformizando-a a serviço dos interesses econômicos.
O espaço é um ‘reflexo da sociedade’, ele é a
sociedade. [...] Portanto, as formas espaciais, pelo menos em nosso planeta, hão
de ser produzidas, como o são todos os outros objetos, pela ação humana. Hão de
expressar e executar os interesses da classe dominante, de acordo com um modo
específico de desenvolvimento. Hão de expressar e implementar as relações de
poder do Estado numa sociedade historicamente definida. [...] E a ação desse
processo histórico tão contraditório sobre o espaço será exercida numa forma
espacial já herdada, produto do histórico anterior e sustentáculo de novos
interesses, projetos, protestos e sonhos (CASTELLS apud GONÇALVES, 2003).
AMBIENTE, SUSTENTABILIDADE E O DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
As pressões antrópicas sobre o meio
ambiente promovem altos níveis de degradação ambiental. Segundo MOLINA (2001), a
grande maioria dos estudiosos da questão ecológica traça uma conexão clara entre
o número de habitantes e o estado de conservação do meio ambiente, ou seja, a
disponibilidade quantitativa e qualitativa de recursos naturais. Diante desta
perspectiva, torna-se necessário assegurar a sustentabilidade ambiental, que
LARANJEIRA (1997) define como sendo o assegurar de bens e serviços (recursos)
biofísicos necessários ao desenvolvimento dos sistemas humanos podendo ser
mantido perpetuamente sem que se experimente uma degradação irreversível da
integridade e da capacidade de resiliência dos sistemas biofísicos que os
suportam.
Essa sustentabilidade deve pairar na idéia
de que é o ambiente o principal sujeito a ser preservado, e a conseqüência dessa
ação refletirá em tudo que estiver interligado e usufruir dele.
Além da resiliência biofísica, MELO E
SOUZA (2003) aponta outro tipo de resiliência, a cultural, definindo-a como
sendo um tipo de resiliência construída pelas mediações históricas e
sócio-espaciais entre o saber e o saber-fazer das comunidades. São os dois
momentos relevantes como vida desse patrimônio relacional, consistindo em
momentos dinâmicos, mas se redefinem cada vez que o homem inova e renova sua
territorialidade, através de um repertório de estratégias adaptativas que logram
uma duradoura coexistência com o meio ambiente.
Porém, em um mundo competitivo e dinâmico
onde a palavra de ordem é globalização, evidenciamos que dentro dos pensamentos,
projetos, políticas e ações voltadas para o desenvolvimento turístico, o aspecto
econômico está se sobressaindo ao cultural e ecológico. Esse modelo gera choques
e desigualdades sócio-culturais, trazendo como conseqüência também a destruição
ambiental. É a noção de desenvolvimento econômico vista como crescimento
derivado do progresso.
O turismo é tratado como mais um objeto de
uso do sistema, (re)criando ambientes naturais para que a sociedade altamente
antropizada utilize-os, gerando lucros e benefícios para apenas alguns atores
desse processo, o empresário e o Estado.
Há uma tendência nas últimas décadas da
inversão dos interesses do ator social consumidor do setor turístico, o turista,
que começa a procurar os ecossistemas naturais e culturas de cada região, indo
de encontro aos modelos construídos. Contudo o planejamento sustentável esbarra
em alguns obstáculos, como a falta de um marketing e orientação adequados ao
turista, e a falta de acesso às informações e exclusão dos processos de decisão
que a comunidade receptiva sofre.
Nesse contexto, a zona costeira além de
apresentar características naturais de
ocupação próprias, com atividades que lhe
são exclusivas, em termos ambientais, possui uma complexidade de ecossistemas
dentre eles campos de dunas, ilhas recifes, costões rochosos, estuários, brejos,
falésias e baixios. Por outro lado, a proximidade de grandes centros urbanos e
indústrias, somado aos atrativos paisagísticos, acarretam mecanismos de forte
pressão antrópica sobre tais ecossistemas, reforçando assim sua vulnerabilidade.
No litoral brasileiro, no que se diz
respeito ao processo de gestão ambiental buscando um planejamento turístico
sustentável, a devastação dos ambientes costeiros se deve a todo um processo
histórico que privilegia os projetos de urbanização e os projetos turísticos sem
um trabalho de avaliações profundas dos impactos ambientais e culturais.
Entretanto, somente na última década o governo brasileiro começou a se preocupar
com a questão da zona costeira, introduzindo o conceito de gerenciamento
costeiro na administração pública (DIEHL, 2000).
Como resultado das atividades humanas, os
ecossistemas costeiros e marinhos estão se deteriorando rapidamente, em função
do e turístico sem precedentes.
A especulação imobiliária, o parcelamento
do solo de forma inadequada, a implantação de empreendimentos turísticos, e o
desenvolvimento urbano-industrial são elementos que tem comprometido o uso
racional e a preservação desses ambientes costeiros.
Analisando essa questão, que é uma
problemática mundial, MOLINA (2001) alerta para a necessidade de se trabalhar
modelos sustentáveis de maior complexidade, estruturado a partir de novos
valores e com um suporte imenso de conhecimentos científicos e tecnológicos, que
aumente a eficiência dos sistemas produtivos, mas que no mesmo nível, desenvolva
os sistemas relacionados ao uso sustentável dos recursos e à ampliação de
valores culturais vinculados a ampliação da consciência ambiental.
Dentre os variados ecossistemas costeiros,
as dunas litorâneas são as que mais impactos sofrem decorrentes de agressões
humanas diretas. Por apresentarem uma diversidade geoformas e considerável
riqueza ecológica, as dunas costeiras prestam-se a formas de usos múltiplos,
cujas ações comprometem o equilíbrio dinâmico de tais ambientes. (OLIVEIRA,
2004)
Com base na Resolução do 303/2002 CONAMA
(Conselho Nacional do Meio Ambiente), dunas podem ser definidas como "unidades
geomorfológicas de constituição predominantemente arenosa, com aparência de
cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no litoral ou no
interior do continente, podendo estar recoberta ou não por vegetação".
Quanto à importância, os sistemas dunares
atuam na regulação do fluxo das águas
situados na sub-superfície, sobretudo no
caso de sistemas fixos, ao controlar a intensidade da evapotranspiração
potencial, associados à vegetação, contribuindo tanto para redução do albedo
quanto barreira eólica em zonas de grande intensidade de circulação de ventos e
de evapotranspiração como a zona costeira nos trópicos úmidos (MELO, 2000).
Em Sergipe não houve, até o momento,
pesquisas especialmente voltadas para as condições de vulnerabilidade referentes
às interferências de fatores antrópicos e biofísicos nestes ambientes.
O LITORAL SUL DE SERGIPE E A DEGRADAÇÃO
DOS AMBIENTES DUNARES.
É fato incontestante que as dunas
sergipanas encontram-se fortemente antropizadas. Mecanismos de natureza
socioeconômica de caráter predatório são evidentes, a saber: avanço
indiscriminado de práticas agrícolas (coqueirais e pastagens, entre outras),
trânsito de veículos, pisoteio e abertura de caminhos, edificações sobre a linha
de costa, desmonte e retirada de areia para ocupação por loteamentos,
intensificação do turismo etc. Todos esses mecanismos provocam mudanças no
ambiente costeiro em questão.
Em Sergipe, a faixa costeira possui 163 km
de extensão. São verificadas feições dunares compartimentadas em três áreas do
litoral: litoral norte, definido a partir do município de Pirambu (praia de
Santa Isabel e em torno da lagoa da Prata) e se estende à nordeste rumo ao
município de Pacatuba (Ponta dos Mangues); litoral centro, referente ao campo
dunar de Aracaju, desde a Coroa do Meio (cercanias do Oceanário) prosseguindo
com interrupções até a Área de Preservação Permanente (APP) mantida pela
Petrobrás no TECARMO (Terminal de Carmópolis) e as praias da Aruana, Robalo e do
Mosqueiro. Já o litoral sul comporta mais expressivamente as praias do município
de Estância (Praias do Saco e Abais) além de lagoas costeiras adjacentes até a
divisa com a Bahia (Mangue Seco).
LITORAL NORTE LITORAL CENTROLITORAL SUL
Figura 1. Localização da área de estudo-Litoral de
Sergipe.
O Litoral Sul compõe-se de cinco
municípios: São Cristóvão, Itaporanga D’Ajuda, Estância, Santa Luzia do Itanhy e
Indiaroba. Apresenta uma superfície de 2.496,4 km² e extensão de 55,5 km.
Dentre os ecossistemas relevantes
encontram-se associados aos campos de dunas, manguezais, brejos e lagoas, além
de outros como restingas e remanescentes de Mata Atlântica.
O desmonte de dunas, por conta da ocupação
desordenada na zona de praia, facilita a invasão das águas do mar, já que, a
destruição das feições dunares (barreiras naturais) interfere no processo de
acumulação das areias acarretando assim efeitos erosivos que contribuem para
alteração no perfil litorâneo.
Por serem caracterizados como os mais
impactantes, os danos derivados de atividades antrópicas remontam a uma situação
de alerta quanto à manutenção da integridade biofísica dos sistemas dunares
litorâneos. No tocante às construções sobre a linha de costa, a problemática
atingem proporções ainda maiores dado ao desmonte de dunas, de forma ilegal,
para fins de ocupação tanto por casas de veraneio como por grandes
empreendimentos hoteleiros.
A atividade turística manifesta-se
associada à estruturação urbana de povoados adensados de equipamentos
turísticos, ora articulada a espaços de segundas residências, que mobiliza
proprietários de terras, incorporadores, corretores, e a indústria de construção
civil; ora ainda como indutora da ocupação de novas áreas com vistas à expansão
da rede hoteleira na região. Essas situações são bem perceptíveis no município
de Estância, um dos municípios dentro do Pólo Costa dos Coqueirais classificado
como potencialmente turístico e mais contemplado com projetos urbano-turísticos
dentre os quais destacamos a construção da Orla do Abaís e das rodovias que
fazem parte do Projeto Linha Verde que liga Bahia a Sergipe.
PÓLO COSTA DOS COQUEIRAIS (SE)
Fonte: EMBRATUR
Definição dos Municípios quanto à Potencialidade
Turística.
MUNICÍPIO
|
POPULAÇÃO (Hab.)
|
Classificação EMBRATUR
|
Aracaju
|
461.534
|
MT |
São Cristóvão
|
64.647
|
MT |
Estância
|
59.002
|
MPT
|
Propriá
|
27.385
|
MPT
|
Laranjeiras
|
23.560
|
MT |
Itaporanga D´Ajuda
|
25.482
|
NC |
Neópolis
|
18.593
|
MPT
|
Barra dos Coqueiros
|
17.807
|
MPT
|
Canindé de São Francisco
|
17.754
|
MPT
|
Indiaroba
|
13.152
|
MPT
|
Pacatuba
|
11.536
|
MPT
|
Santa Luzia do Itanhy
|
13.948
|
MPT
|
Gararu
|
11.363
|
MPT
|
Santo Amaro das Brotas
|
10.670
|
NC |
Ilha das Flores
|
8.281 |
NC |
Brejo Grande
|
7.102 |
MPT
|
Pirambu
|
7.255 |
NC |
N. Sra. do Socorro
|
131.679
|
MT |
TOTAL (PÓLO)
|
930.750
|
MT - municípios turísticos
MPT - municípios potencialmente turísticos
NC - não classificados
Fonte: Manual Auxiliar - Operações de
Crédito, Título 35, Capítulo 42, de 02/01/2003, conforme Deliberação Normativa
nº 432, de 28/11/2002 da EMBRATUR.
Quanto às políticas setoriais, é uma faixa
muito visada pelos empreendimentos turísticos por conta das iniciativas do
Estado no desenvolvimento destas regiões.
O Projeto de Desenvolvimento para o
Turismo no Nordeste (PRODETUR-NE) é um dos principais programas voltado para o
crescimento do turismo na região. Ele surge por iniciativa da Superintendência
de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e com apoio da Empresa Brasileira de
Turismo (EMBRATUR) em 1993.
Em seu discurso, o turismo é apontado sem
restrições como a grande alternativa de recuperação da economia, a partir da
criação e melhoria da infra-estrutura regional. Essas situações são bem
perceptíveis no município de Estância, um dos municípios dentro do Pólo Costa
dos Coqueirais classificado como potencialmente turístico e mais contemplado com
projetos urbano-turísticos dentre os quais destacamos a construção da Orla do
Abaís e das rodovias que fazem parte do Projeto Linha Verde que liga Bahia a
Sergipe.
No Povoado Saco do Rio Real (Estância),
conhecido popularmente como Praia do Saco, a intensificação das atividades
turísticas promoveu de forma desenfreada a destruição de ambientes naturais
(desmonte de dunas móveis pra loteamentos de residências secundárias e hotéis),
doação de terrenos públicos e aumento do custo social para a população local,
que não foi inserida nem consultada na elaboração do planejamento turístico da
região.
Mesmo sendo definida como área de
recuperação ambiental, medidas de vigilância e controle não são verificadas, uma
vez que, principalmente nos setores de antedunas e dunas móveis a ocupação é
realizada de forma irregular. O constante desmonte de dunas para fins de
ocupação,seja por loteamentos ou estabelecimentos comerciais, e a inexistência
de fiscalização tanto municipal quanto estadual acarretam não só a
desconfiguração dos ambientes dunares como promove danos irremediáveis ao
equilíbrio natural dos ecossistemas que deles dependem.
Presença de condomínios de segunda
residência na praia do Saco. Trabalho de campo, 2004
Já na região da Praia do Abaís, um ponto
mais antigo de ocupação do ecossistema dunar, é perceptível a atuação de fatores
que modificam a situação de equilíbrio dos sistemas observados. Há em
determinados locais, uma inexistência de campo dunar pleno, em consequência da
barreira de casas que impede a interação entre a fonte de alimentação
praia-duna. A seqüência de casas compromete a competência eólica para alimentar
o campo de dunas situado mais internamente.
Somente em algumas áreas mais afastadas da
linha de praia é que encontramos campos dunares ativos chegando a 25 metros de
altura, apesar da ameaça de degradação, evidenciado por processos de
uso-ocupação do solo, os quais podem ser exemplificados através de construções
como pousadas e armazéns, casas de veraneio além ruas e estradas não asfaltadas
que agem como barreira afetando a própria dinâmica dunar natural.
ABORDAGEM METODOLÓGICA DA PERCEPÇÃO
AMBIENTAL
No litoral de Sergipe, caracterizam-se
sistemas dunares distintos decorrentes tanto das formas de uso-ocupação humana
como por geoindicadores que se referem à situação dos componentes. (MELO e SOUZA
apud OLIVEIRA e BARRETO,2004).
Para a verificação dos fatores antrópicos
intervenientes nesse processo e as medidas de proteção recentes presenciadas na
área estudada foram utilizados instrumentos como a aplicação de field check
lists (listas de controle de campo), baseadas nas elaboradas por LARANJEIRA
(1997).
As check lists consistem na listagem de um
conjunto geral de variáveis relevantes para a concretização de um determinado
objetivo, que são, caso a caso e individualmente, identificadas, caracterizadas
e ordenadas em relação a uma escala pré-definida, por forma a estabelecer a sua
importância relativa para o objetivo em causa (LARANJEIRA, 1997).
Essas listas de checagem serão divididas
em duas secções, denominadas de: pressões exercidas pelos diversos utilizadores
(turistas, moradores, comércio, veranistas...) e medidas de proteção recente
(atuação do Estado em forma de leis de preservação). Cada secção está
subdividida em 11 variáveis. Na secção relacionada às pressões de uso
encontraremos as seguintes variáveis: pressão dos visitantes, acesso por
estrada, viaturas motorizadas nas dunas, pisoteio sobre as dunas, densidade dos
caminhos, campismo selvagem, habitação/construção, números de proprietários,
principal regime de propriedade, extração comercial/ocasional e pastagem
intensiva (bovinos, caprinos, ovinos). Já a secção das medidas de proteção
recente obtém: vigilância e manutenção, % da área com acesso limitado, controle
de estacionamento de veículos, pisoteio controlado, controle de veículos
motorizados sobre as dunas, ordenamento dos caminhos, "armadilhas" de areia, %
de plantação nas áreas com areias móveis, painéis de informação, se erosão
marinha – medidas de proteção contra o mar e proteção legislativa.
Essas secções foram explicadas a partir de
quadros baseados em variações de cores (amarela, laranja e vermelha) em que
quanto menor a intensidade de cor, menor o grau de vulnerabilidade dunar. Os
itens sem informação foram expostos nos quadros e tabelas através do símbolo
tracejado ( - ), a abreviatura (OBSD) simbolizará a percepção de cada observador
.
CHECK LISTS
SECÇÃO D - Pressão exercida pelos
diversos utilizadores |
OBSD 1 |
OBSD 2 |
OBSD 3 |
OBSD 4 |
OBSD 5
|
1. Pressão dos visitantes
|
2. Acesso por estrada
|
3. Viaturas motorizadas nas dunas
|
4. Pisoteio sobre as dunas
|
5. Densidade dos caminhos
|
6. Campismo selvagem
|
7. Habitação / construção
|
8. Número de proprietários
|
9. Principal regime de propriedade
|
10. Extração comercial/ocasional
|
11. Pastagem intensiva (bovinos,
caprinos, ovinos) |
Fonte: Trabalho de campo, 2004.
SEÇÃO E - Medidas de proteção
recentes |
OBSD 1 |
OBSD 2 |
OBSD 3 |
OBSD 4 |
OBSD 5
|
1. Vigilância e manutenção
|
2. %da área com acesso limitado
|
3. Controle de estacionamento de
veículos |
4. Pisoteio controlado
|
5. Controle de veículos motorizados
sobre dunas |
6. Ordenamento dos caminhos
|
7. "Armadilhas" de areia
|
8. % de plantação nas áreas com
areias móveis |
9. Painéis de informação
|
10. Se erosão marinha - medidas de
proteção |
11. Proteção legislativa
|
Fonte: Trabalho de campo, 2004.
A partir deste método,
destacaram-se a elevada degradação pelo uso e a evidente ineficácia das medidas
de proteção como principais responsáveis pela vulnerabilidade experimentada no
Litoral Sul de Sergipe.
A atividade turística, a
ocupação desordenada pela expansão dos loteamentos, o grande número de
visitantes principalmente nos meses de verão, além da rede densa de caminhos de
acesso à praia abertos aleatoriamente expõem a necessidade de medidas
específicas de conservação dos sistemas dunares ao indicar a situação de
potencial risco a que tais ambientes estão sujeitos.
Assim, os setores focalizados
apresentam tipos e intensidades de uso compatíveis com a necessidade de maior
intervenção para a eficácia dos serviços ambientais atribuídos aos sistemas
dunares costeiros.
Além das check lists,
entrevistas com pessoas da comunidade e com turistas foram realizadas, materiais
como GPS, câmera fotográfica digital, câmera filmadora, computador, fotografias
aéreas, mapas, papel transparente e transparências para confecção de overlays,
bem como programas de digitalização de
dados de campo para produção de cartogramas também foram utilizados como
suportes de auxílio na pesquisa, na perspectiva de se estabelecer uma
compreensão ampliada do processo pesquisado.
OS ATORES SOCIAIS E A
(DES)IMPORTÂNCIA DOS AMBIENTES DUNARES
Ao longo da história humana, a
escassez dos recursos e a degradação ambiental constituem faces de uma só moeda
já que refletem a crise do modelo civilizatório global.
Dentro da idéia de
sustentabilidade, o desenvolvimento econômico deve possuir compatibilidade com a
preservação ambiental, porém, no Brasil o modelo econômico adotado esgota os
recursos naturais além de excluir grande parte da população.
Diante dessa situação, surge
como alternativa o Turismo Sustentável, que segundo Iving (2001) é um modelo de
desenvolvimento estratégico baseado na mobilização comunitária com o desejo de
enfocar o ambiente como bem coletivo a ser preservado. A verdadeira
sustentabilidade tem como principal vertente uma união entre a natureza e a
cultura.
O turismo sustentável baseia-se
na: preservação e conservação do patrimônio natural, valorização do patrimônio
histórico e cultural, desenvolvimento econômico com equidade social e incentivo
ao micro e pequeno negócio. (SEABRA,2001)
Segundo a Organização Mundial
do Turismo (1994), o desenvolvimento do turismo sustentável somente é possível
quando há um planejamento baseado nas sustentabilidades econômica, social,
ambiental, cultural e política.
Para e PAIVA (1991), no que se
diz respeito ao processo de gestão ambiental na perspectiva de um planejamento
turístico sustentável no litoral brasileiro, a devastação dos ambientes
costeiros brasileiros se deve a todo um processo histórico que privilegia os
projetos de urbanização e os projetos turísticos desgarrados de análises
profundas dos impactos ambientais e culturais.
A expressão turismo sustentável
é o ícone preferido pelos discursos oficiais, utilizados no sentido de mascarar
os elevados impactos ambientais e socioculturais ocasionados na implantação dos
grandes projetos turísticos. (SEABRA, 2001)
Diante da situação, é notória a
preocupação com a situação ambiental de alguns atores sociais que vivem na
região de estudo, valendo destacar: moradores antigos, pescadores, alguns donos
de casas de veraneio e pequenos comerciantes.
Através de entrevistas foi dito
que mudanças bruscas estão ocorrendo na região, causando o desaparecimento de
algumas espécies de animais, vegetação, aterramento de lagoas além de alterações climáticas. De
fato houve uma perceptível mudança paisagística, porém apesar de não ter sido
observado pela maioria dos atores, houve também uma mudança cultural
(predatória) com o crescimento das segundas residências e a invasão dos
turistas, expulsando os moradores antigos, tirando a verdadeira identidade da
região.
Foi apontado também aumento da poluição
(aparecimento de lixões em áreas dunares, queimadas de vegetação dunar, poluição
de lagoas e mangues entre outras), e o desaparecimento de dunas para construção
de empreendimentos hoteleiros sem planejamento, o que causou um decréscimo na
qualidade de vida dos habitantes gerando dentre outros fatores, alterações
climáticas.
Queimada em duna na Praia do Abais.
Trabalho de campo, 2004.
De um outro lado estão os grandes
comerciantes, empreendedores turísticos e a maioria dos donos de casas de
veraneio que defendem a mudança que está ocorrendo, atrelando esta a um
desenvolvimento necessário. A justificativa dada é que a vinda dos equipamentos
urbanos são importantes para o crescimento econômico da região, aumentando o
conforto e opções de lazer aos turistas, o que faz com que todos supostamente
ganhem com isso. Porém o que vem acontecendo é um crescimento mal planejado onde
o Estado atua como incentivador e regulador, dando suporte a grupos econômicos
sem levar em conta leis ambientais, provocando um sentimento de rejeição dos
antigos moradores da região.
Fica evidente que o Litoral Sul Sergipano
apresenta graves problemas, problemas estes comuns em planejamentos turísticos
baseado apenas no econômico, explorando um potencial natural de forma errônea,
não inserindo a população local no contexto, gerando como conseqüência choques
culturais, desigualdades sociais e a destruição ambiental.
O diagnóstico socioambiental é necessário
em quanto processo de suma relevância a fim de orientar as medidas de controle a
serem adotadas a partir do monitoramento adequado, bem como as ações de
planejamento e de proteção legislativa visando conjugar o incremento da oferta
de atrativos turísticos aliado à preservação destes ambientes dotados de
significativas belezas cênicas.
REFERÊNCIAS
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AMBIENTE-CONAMA. Resolução 303 de
20/03/2002.
DIEHL, F. P
. Aspectos
Destacados da Legislação Brasileira sobre Terrenos de Marinha e sua Influência
no Uso da Zona Costeira. In:Anais do
Simpósio Brasileiro sobre Praias Arenosas: morfodinâmica, ecologia, usos, riscos
e gestão. Antônio H. F. Klein (organizador)-Itajaí: Editora da UNIVALI, 2000.
GONÇALVES, Odete Catarina Locatelli.
Meio Ambiente Urbano. Chapecó, Argos,
2003.
LARANJEIRA, Manuela Carruço.
Vulnerabilidade e Gestão dos
Sistemas Dunares- o caso das dunas de Mira.(Dissertação de
Mestrado).Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1997.
MELO, Rosemeri Santos.
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Brasil.In: Geografia de
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Piaçabuçu, Alagoas. In: Capítulo 2-
Rizomas e Crise Ambiental – Relações entre Natureza, Ambientalismo e
Sustentabilidade Biofísica e Cultural. Tese de Doutorado. Universidade de
Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável. 2003.
MOLINA E., Sérgio.
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Vianna Baptista. Bauru, SP, 2001: Coleção Turis.
MORAES, A . C. R..
Localismo e Isolamento: uma reflexão sobre o turismo e as
populações tradicionais.In: Redescobrindo a
ecologia do Turismo/org. Margarita Barretto, Elizabete Tamanini - Caxias do Sul:
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OLIVEIRA, A. C. A.; MELO & SOUZA,
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OLIVEIRA, Lívia de; MACHADO, Lucy M. C.
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a Geografia Física no Brasil/ Antônio Carlos Vitte, Antônio José Teixeira Guerra
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PAIVA, Maria das Graças de Menezes V.
Sociologia do Turismo. Campinas, SP:
Papirus, 1991.
SANTOS, M
. Técnica, espaço,
tempo – globalização e meio técnico científico
informacional. São Paulo, 1997.
SEABRA, Giovanni de Farias.
Ecos do Turismo: O turismo
ecológico em área protegidas. Campinas, SP. Papirus,
2001.
1 Graduado em Geografia - Licenciatura.Graduando em Geografia -
Bacharelado- UFS - Campus Universitário,S/N,São Cristóvão-SE, Brasil: E-mail:
walter.uchoa@ig.com.br
2
Profª Drª dos Cursos de Geografia e do
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA/NESA - UFS - Campus
Universitário, S/N, São Cristóvão -SE, Brasil.E-mail: rome@ufs.br.