NCeHu
1624/04
Brasil
Revista
ComCiencia
http://www.comciencia.br/200409/noticias/3/pesquisa_saude.htm
Saúde concentra maior número de pesquisas no
Brasil
Em entrevista concedida à ComCiência, o diretor do Departamento de
Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo
Guimarães, fala sobre as pesquisas na área de saúde, que
representam cerca de 25% de toda a pesquisa realizada no Brasil. Para ele, um
dos principais problemas da área está ligado ao chamado "complexo industrial
da saúde", ou seja, à concentração de pesquisas em empresas, de acordo com os
interesses do mercado. Além de professor da Faculdade de Medicina da UFRJ e do
Instituto de Medicina Social da UERJ, Guimarães já foi coordenador do Centro de
Estudos da Presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), presidente
do Conselho Superior da Faperj, consultor do CNPq e ex-diretor do Instituto
Ciência Hoje.
ComCiência - Qual é a
situação atual das pesquisas em saúde no Brasil? Guimarães-
Segundo números do CNPq, colhidos ao longo da década 90 e início da década
atual, a pesquisa em saúde no Brasil perfaz algo em torno de 25 a 30% de todo o
esforço de pesquisa existente no país, em todas as áreas do conhecimento. Isto
porque a pesquisa em saúde não é só realizada na grande área da saúde, como a
medicina, enfermagem, saúde coletiva, mas também nas engenharias, na química e
nas ciências sociais. Levando-se em consideração este conceito abrangente,
deve-se ter hoje cerca de 5 mil grupos de pesquisa ativos em universidades e
institutos de pesquisa que tenham pelo menos uma linha de pesquisa vinculada à
saúde humana. É, certamente, o maior setor de pesquisa no país. Para fornecer um
elemento de comparação, o esforço de pesquisa em saúde no Brasil é
aproximadamente o dobro da pesquisa agropecuária, que é também muito importante
no país.
ComCiência -
Em saúde, quais são as áreas que concentram o maior
número de pesquisas? Guimarães- Temos um leque muito aberto,
fazemos pesquisa em saúde numa amplitude muito grande de campos de interesse.
Cerca de 50% do esforço de pesquisa em saúde está vinculado às ciências da
saúde, cerca de 25% está vinculado às ciências biológicas e os 25% restantes às
demais grandes áreas do conhecimento. A porcentagem referente às ciências
biológicas referem-se a grupos pertencentes às áreas de bioquímica, biofísica,
farmacologia, neurociências, genética, etc. Entre as outras grandes áreas do
conhecimento, as ciências humanas, as ciências agrárias e as ciências sociais
aplicadas possuem uma presença maior. As engenharias e as ciências exatas e da
terra estão menos presentes.
ComCiência - Quais
são os problemas existentes no campo das pesquisas em saúde no
Brasil? Guimarães- No mundo todo existe uma aproximação
crescente entre as opções de pesquisa em saúde e as prioridades de políticas
de saúde. Já no Brasil, desde a década de 50, observou-se um relativo
afastamento entre as prioridades de pesquisa e as prioridades das políticas de
saúde. Esse é um problema que temos hoje. Outro problema é a pesquisa
desenvolvida no chamado "complexo industrial da saúde". Nos países ricos, uma
parte muito grande da pesquisa em saúde é feita nas empresas, no complexo
farmacêutico, nas empresas biotecnológicas que produzem vacinas, nas
que produzem equipamentos médicos etc. Existe um componente muito grande de
pesquisa nessas empresas. No Brasil, isso é muito incipiente pelo próprio padrão
da industrialização brasileira, que sempre foi muito associado
internacionalmente, e subordinado também. E principalmente pelo que aconteceu
durante a década de 90, que foi uma abertura comercial indiscriminada, que
prejudicou muito certos setores estratégicos na área de empresas do complexo
industrial da saúde que deveriam ter sido, euacho, mais defendidas.
ComCiência - Quais são as prioridades das políticas de saúde no
país? Guimarães- Entre as prioridades, é importante citar a
tuberculose, a dengue e a aids. Além disso, é preciso também realizar pesquisas
em Demografia e Saúde, para atualizar dados sobre a saúde de mulheres e crianças
no Brasil, por exemplo. No campo da pesquisa clínica, queremos montar uma rede
para reforçar a sua infra-estrutura, tendo como base, na parte física, os
hospitais universitários e os hospitais de ensino em todo o Brasil. Estamos
trabalhando na idéia de fazer um conjunto de centros gerais de pesquisa clínica,
que seriam infra-estruturas, pequenas enfermarias e instalações nos hospitais de
ensino capazes de abrigar pacientes que estivessem participando de protocolos de
interesse do Sistema Único de Saúde (SUS), de interesse da política de
saúde.
ComCiência - Como será financiado este
trabalho? Guimarães- Os recursos do Ministério da Saúde como
um todo para C&T, incluindo seus institutos de pesquisa, serão quase R$ 300
milhões. Para o ano de 2004, deste montante, o Ministério da Saúde destinou
cerca de R$ 70 milhões para o Departamento de Ciência e Tecnologia. Só para fins
de comparação, em 2002 foram R$ 13 milhões. Em 2005, a idéia é destinar o
mesmo deste ano, algo em torno de R$ 70 milhões.
Leia mais sobre o
assunto:
-Política de ciência, tecnologia e inovação em
saúde
Fuente: ListaGeografia/Brasil.
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