NCeHu 1528/04
Características da crise atual
Umberto
Martins
jornalista, S. Paulo, Brasil
Antes de se
constituir numa teoria, a crise do sistema capitalista-imperialista é hoje uma
realidade à flor da pele de todo o mundo. Ela se manifesta, entre outras formas,
através do desemprego em massa, da tendência à estagnação econômica, da
instabilidade monetária internacional – traduzida nos intermitentes terremotos
cambiais que vêm abalando diferentes nações ao longo dos últimos anos.
Também não me
parece exagerado classificar como crítico o cenário geopolítico, caracterizado
pela decadência e crescente agressividade da potência capitalista hegemônica,
cuja política está produzindo um visível acirramento das contradições
interimperialistas - como se pode deduzir das tensões entre EUA e União Européia
decorrentes da guerra no Golfo Pérsico -, sendo igualmente flagrante o
aguçamento do choque de interesses entre o centro e a chamada periferia do
sistema.
Os movimentos
sociais, e em particular o movimento operário, ainda carecem de uma análise
consensual sobre as características e perspectivas de evolução desta crise,
embora haja uma convergência de opiniões em torno de importantes questões
relacionadas ao assunto.
A observação de
alguns fenômenos em curso sugere que a crise em tela, na qual se entrelaçam
aspectos econômicos e políticos (1), está em larga medida globalizada e poderia,
por conseqüência, ser classificada como crise geral, estrutural ou sistêmica,
conforme propõem diferentes observadores. Não será difícil notar, ainda, que ela
exibe particularidades históricas novas, diferenciando-se em muitos aspectos de
outras crises verificadas ao longo da história do capitalismo (incluindo a dos
anos 30 do século passado), embora carregando muitas características daquelas e
expressando as contradições históricas fundamentais do capitalismo, derivadas da
forma de propriedade, da oposição entre produção e consumo e da crescente
incompatibilidade entre as relações de produção burguesas e as forças produtivas
modernas.
Com a
compreensão de que nossa análise deve ter como ponto de partida e de chegada a
realidade histórica objetiva e concreta, enumero a seguir alguns fenômenos que,
a meu ver, demonstram a existência da crise e constituem provavelmente suas
principais formas de manifestação (2):
1-
Redução progressiva das taxas de
crescimento econômico, sugerindo uma tendência à
estagnação
2-
Desemprego massivo e estrutural, que
decorre tanto do crescimento medíocre quanto do avanço da produtividade do
trabalho nas condições do capitalismo
3-
Instabilidade monetária mundial, que se
desdobra em recorrentes crises cambiais e
financeiras
4-
Declínio do poderio econômico
relativo dos EUA e decomposição do padrão dólar, fenômenos estreItamente
associados à instabilidade monetária, que podem se desdobrar em grave crise
geopolítica
Tendência à
estagnação
Quanto ao
primeiro ponto, é preciso observar que há uma ampla convergência de opiniões a
respeito do tema entre aqueles que procuram analisar o desenrolar desta nossa
história com espírito crítico. A partir da década iniciada em 1970 as
estatísticas econômicas indicam um progressivo e gradual declínio das taxas de
crescimento econômico, a partir dos países de capitalismo mais maduro ou
desenvolvido (3).
A taxa média
anual de crescimento do PIB nos países capitalistas mais desenvolvidos da
Europa, EUA e Japão, foi de 5% entre 1960 a 1970, caiu para 3,1% no período
compreendido entre 1970 a 1980, chegou a 2,5% de 1980 a 1990, passando a oscilar
em torno de 2% desde então, segundo informações do Banco Mundial. O nível de
desemprego, em contraposição, cresceu de forma generalizada e assustadora. Basta lembrar a este respeito que
durante os anos 1060, a taxa de desemprego médio da Europa Ocidental “estacionou
em 1,5%” e no Japão foi menor ainda (1,3%), conforme destacou o historiador
inglês Eric Hobsbawm no livro
intitulado “Era dos Extremos”. Atualmente, o índice de desocupação oscila em
torno de 10% na Europa.
Assim,
aparentemente o sistema capitalista teria ingressado numa fase relativamente
longa de decadência econômica (em contraste com as crises cíclicas), marcada por
uma forte tendência à estagnação, uma fase que em variados aspectos pode ser
definida como uma antítese do período imediatamente anterior, por muitos
considerado como “a Era de ouro do capitalismo”. Agora, no plano das idéias e da
política econômica, temos neoliberalismo em vez de keynesianismo;
desregulamentação e “Estado mínimo” no lugar do Estado de Bem Estar Social;
tendência à redução dos salários reais e dos direitos em contraposição a
conquistas trabalhistas crescentes; desemprego estrutural e massivo em oposição
ao virtual pleno emprego dos anos 1960; estagnação da renda em vez de
prosperidade econômica.
Obviamente não
se trata de uma crise conjuntural, em geral de curta duração, que em ciclos mais
ou menos regulares costuma perturbar a produção capitalista pelo menos desde o
início do século XIX. Diferentemente das crises conjunturais, e também de
depressão dos anos 1930, a crise iniciada nos anos 70 do século XX não se
instalou de uma hora para a outra, tampouco encontrou solução repentina. Foi
tomando corpo pouco a pouco através da redução gradual das taxas de crescimento
e elevação, igualmente progressiva, dos níveis de desemprego. Não foi ainda
resolvida e continua perturbando a vida de muita
gente.
É preciso
assinalar que as crises cíclicas, clássicas, continuaram operando, sofrendo ao
mesmo tempo relevantes alterações. A partir da crise de 1973/74, as depressões
do sistema produtivo foram mais sérias que nos “anos dourados”, quando causavam
pouca preocupação e aparentemente podiam ser facilmente contidas ou contornadas
com uma sábia política econômica – os instrumentos ditos pró-cíclicos
manipulados pelo Estado capitalista (4).
A persistente
crise que se abateu sobre o Japão durante os anos 90 do século passado não
guarda muitas semelhanças com o padrão clássico e o mesmo se pode dizer em
relação ao Brasil e outros países da América Latina, onde os ciclos de
prosperidade tornaram-se uma raridade nos últimos 20
anos.
Embora a
tendência à redução das taxas de crescimento econômico e o avanço do desemprego
estrutural sejam visíveis num grande número de países capitalistas, a crise
econômica não atingiu a todos num só tempo e com a mesma intensidade.
Instalando-se nos anos 1970 nos centros capitalistas mais avançados, só na
década seguinte aportou na América Latina, através da chamada crise da dívida
externa. No final de 2003, segundo as estatísticas da Comissão Econômica da ONU
para a América Latina – Cepal, a renda per capita das nações
latino-americanos ainda correspondia ao valor registrado em 1980. A África e
outras regiões também têm sido duramente afetadas. Em compensação, para muitos
países asiáticos a crise não chegou a ser preocupante, a não ser pelas
turbulências financeiras verificadas em 1997.
O drama do desemprego
O desemprego
sempre foi um problema no capitalismo, Adquire contornos diferentes de acordo
com as diversas fases e períodos de desenvolvimento do sistema. Na atualidade,
ganhou uma dimensão alarmante e se manifesta de forma generalizada nos países
capitalistas. É comparável, para alguns países, à realidade econômica decorrente
da Grande Depressão de 1929 nos EUA.
O desemprego
massivo pode ser explicado em boa medida como uma contrapartida da redução das
taxas de crescimento, mas isto não é tudo. O avanço da produtividade do trabalho
nas condições do capitalismo, traduzido muitas vezes na introdução de novas
tecnologias, também contribuiu para agravar o drama. A ociosidade involuntária e
indesejada de centenas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras talvez seja a
forma mais dramática da manifestação da crise econômica do
capitalismo.
De um lado, o
fenômeno revela a crescente incompatibilidade entre as relações de produção
capitalistas e o grau de desenvolvimento das forças produtivas modernas, cuja
capacidade é sub-utilizada na medida em que seu mais importante componente, o
trabalhador, aquele que cria novo valor, é condenado ao ócio. De outro, o
desemprego agrava a contradição entre produção e consumo, uma vez que quem está
desempregado não produz e tampouco recebe salário, sobrevivendo com um
seguro-desemprego nos países onde este existe. O aumento do desemprego,
associado à depreciação dos salários e precarização das relações e condições de
trabalho, tende a deprimir os mercados internos (como, por exemplo, ocorreu no
Brasil entre 1996 e 2002), ampliando conseqüentemente o hiato entre produção (ou
a capacidade instalada de produção) e o consumo, o que como Marx já assinalava
alimenta as crises de superprodução.
A instabilidade monetária
Paralela à
redução das taxas de crescimento, e com ela associada, a conjuntura
internacional vem sendo marcada por uma notável instabilidade monetária, que se
desdobra recorrentemente em crises cambiais e financeiras pelo mundo. Os fatos
que comprovam tal instabilidade são conhecidos. Podemos observá-la, por esses
dias, na exacerbada volatilidade das taxas de câmbio entre as principais moedas.
Somente no dia 6 de agosto o dólar oscilou 1,50% em relação ao euro. A
instabilidade é um fenômeno que vem sendo observado ao longo dos últimos anos e
nada indica que seja um problema cíclico, de curto prazo. Suas repercussões
sobre a produção (em diferentes países) e o comércio exterior não são
desprezíveis
Notáveis têm
sido as manifestações desta instabilidade através das crises cambiais que,
iniciando num ou noutro país, acabam atravessando fronteiras, contagiando outras
economias e abalando os mercados financeiros mundiais. Foi o caso, entre outros,
da crise cambial mexicana em dezembro de 1994, da chamada crise asiática no
segundo semestre de 1997, da moratória decretada pela Rússia em 1998, da crise
cambial brasileira e desvalorização do real em janeiro de 1999, da insolvência
da Argentina em 2001.
As turbulências
monetárias não estão dissociadas das perturbações do processo de produção
capitalista e têm contribuindo sobretudo para impulsionar o desemprego em massa.
Presenciamos ainda, em 2001, a recessão nos EUA, uma queda substancial das
bolsas de valores, fraudes e falências de poderosos grupos que haviam especulado
com as ilusões da Nova Economia, destruição de capitais e dramática redução e
reversão dos fluxos de investimentos externos diretos (5).
Provavelmente
há mais de um fator por trás dessas turbulências, contando entre eles a
acumulação de crescentes desequilíbrios comerciais e financeiros nas
relações entre as nações de um modo geral e, em particular, entre o centro e a
periferia do sistema imperialista. As dívidas externas, em aliança com políticas
de cunho neoliberal impostas pelo FMI (sobretudo a liberalização do fluxo de
capitais), têm muito a ver com as crises cambiais verificadas na América Latina
e em outras regiões pelo menos desde 1982 e ao longo dos últimos anos. O
financiamento do passivo externo de muitos países (acumulado durante as fases de
maior liquidez do mercado financeiro, conforme se viu durante os anos 1990) já
não é compatível com a capacidade interna de geração de renda e poupança para o
pagamento de juros e dividendos. Disto decorre um desequilíbrio que é foco de
intermitentes crises cambiais.
Entretanto, não
é nos países mais pobres que reside a raiz da crise monetária mundial. O
problema maior, que inclusive causou a crise da dívida externa no Terceiro
Mundo, está localizado nos EUA, mais precisamente nos déficits externos da
economia norte-americana, originado pelo histórico (e crescente) saldo negativo
da balança comercial. Como já observaram vários economistas, foi a elevação das
taxas de juros dos EUA no final da década de 1970 que, afinal, provocou a
moratória mexicana em 1982 e a crise da dívida externa dos países mais pobres
dependentes do capital estrangeiro.
Decomposição do padrão dólar
É neste ponto
que se verifica uma identidade entre a instabilidade monetária mundial e a crise
do padrão dólar. A instabilidade não só ocorre no contexto do padrão dólar, é de
fato um reflexo da crise do padrão dólar, cuja origem (é preciso reiterar)
reside no histórico déficit comercial.
Ao longo da
história, o déficit comercial dos EUA (que começa em 1971 em relação ao conjunto
das suas trocas internacionais), transformou-se em déficit de contas correntes
(a partir de 1982) e, na seqüência, em dívida externa. Já em meados dos anos
1980, os EUA deixaram de ser credores líquidos do mundo e pouco a pouco passaram
a exibir o maior passivo externo do planeta, estimado hoje por alguns
economistas em 40% do PIB. Lênin provavelmente enxergaria em tudo isto uma forte
evidência do crescente parasitismo da potência
hegemônica.
O endividamento
elevou a necessidade de financiamento do balanço de pagamentos dos EUA a valores
estupendos. O déficit em contas correntes acumulado em 2003 por Tio Sam chegou a
541,83 bilhões de dólares em 2003. Embora alguns economistas acreditem que isto
não seja um problema maior, dado que a dívida pode ser paga com a mera emissão
de dólar, na realidade as coisas não são tão simples assim.
Na medida em
que os pagamentos forem sendo realizados com emissão de dólares, é de se esperar
(como contrapartida) a inflação ou desvalorização do dólar no mercado
internacional, como de fato vem ocorrendo pelo menos desde 2002. A idéia de que
o poder de emissão sobre o dólar confere ao governo e ao banco central dos EUA o
direito de determinar o ritmo e a direção da acumulação do capital traduz uma
concepção falsa e idealista da história, que nega o caráter objetivo dos
fenômenos econômicos e, por isto, não guarda muita sintonia com os
fatos.
Certamente a
posição especial ocupada pelo dólar nos mercados financeiros mundiais confere
certas vantagens momentâneas e, na atualidade, nenhum outro país poderia se dar
ao luxo de cultivar um déficit externo colossal e crescente como os EUA. Porém,
a emissão monetária não pode substituir o fluxo de capitais, assim como a
circulação e o controle da moeda não podem ser confundidos com a circulação e o
controle sobre o capital, como fazem alguns economistas. A verdade, que podemos
captar na realidade dos fatos econômicos, é que os EUA dependem (cada dia mais)
do capital estrangeiro para financiar seu gigantesco e crescente déficit.
Recorre basicamente à poupança asiática (Japão e China são grandes financiadores
do parasitismo de Tio Sam) e européia. Quando, por uma ou outra razão, este
capital não flui na medida necessária o valor do dólar nos mercados
internacionais é afetado.
A depreciação
da moeda hegemônica (base do sistema monetário e das relações comerciais e
financeiras internacionais) a partir de 2002 refletiu a redução dos
investimentos externos nos EUA, em parte explicável pela política de juros
baixos. É sabido que o fluxo de capitais tornou-se perigosamente volátil para os
países pobres. Embora poucos comentam, o fato é que isto ocorreu também em
relação aos EUA.
Dado que a
poupança e a disponibilidade de capitais para investimentos no exterior não é
infinita fica evidente que a crescente necessidade de financiamento externo dos
EUA tende a provocar e realmente provoca sérias perturbações sobre os fluxos de
capitais estrangeiros pelo globo e não está dissociada das migrações e da
volatilidade verificadas nas últimas décadas.
O aumento do
grau de exploração neocolonial das nações situadas na periferia do sistema foi
em boa medida uma outra conseqüência da vultosa necessidade de financiamento do
déficit externo norte-americano (6).
Uma crise geopolítica em gestação
No curso da
instabilidade monetária internacional, cuja identidade com a crise do padrão
dólar parece evidente, transcorre o processo histórico de declínio do poderio
econômico relativo dos EUA no mundo (7). Naturalmente, isto não tem impactos
apenas sobre a economia e as trocas internacionais, afeta também e de modo cada
vez mais transparente o plano da geografia
política.
Os fatos em
curso indicam que os imperialistas norte-americanos têm reagido à crise com uma
ofensiva estratégia orientada pelo objetivo de recompor a qualquer custo sua
hegemonia e ampliar seu domínio imperialista em todo o mundo - traduzida em
fatos da atualidade como a guerra contra o Iraque, o Plano Colômbia, a proposta
de Alca, entre outros.
A vitória
contra o “socialismo real”, o colapso da URSS (em 1991) e a conseqüente ruptura
do equilíbrio bipolar num primeiro momento pareciam favorecer e justificar o
projeto imperialista dos EUA, que procuraram conduzir os rumos dos
acontecimentos mundiais segundo seus próprios interesses propondo em 1991,
durante o governo de George Bush (pai), o estabelecimento de uma “nova ordem
mundial”, na qual a hegemonia norte-americana seria reafirmada e caberia às
demais potências capitalistas o papel de estrela coadjuvante na definição e
imposição das novas regras que iriam configurar a “nova ordem”. A coalizão
montada durante a guerra de 1991 contra o Iraque foi realizada e apresentada
como um coroamento prático dessas idéias.
Mas hoje,
quando lançamos um olhar sobre a realidade atual não é difícil concluir que as
coisas não tomaram os rumos desejados e projetados pela Casa Branca. O próprio
Bush filho cuidou de transformar a “nova ordem” numa triste caricatura ao
rebatizá-la, alguns anos depois, de “novíssima ordem
mundial”.
Os 13 anos que
se seguiram ao anúncio de Bush pai foram caracterizados por um crescente
unilateralismo dos EUA, que nem sempre contou com o apoio das demais potências
capitalistas, ainda que muitas vezes estas se submetessem constrangidas. Aos
poucos a unidade de ação e de interesses das potências capitalistas vai cedendo
espaço às contradições, tensões e lutas. Certamente, a aberta oposição à guerra
imperialista contra o Iraque por parte da França, da Alemanha, da Rússia e da
China é um sinal muito claro de que uma mudança neste sentido está em
curso
Parece que uma
crise geopolítica está em gestação, impulsionada pelo recrudescimento das
contradições e da concorrência entre as potências capitalistas, assim como do
protecionismo e das guerras comerciais.
Subjacente a
esta realidade diplomática, está o fato de que a ambição imperialista dos EUA
não é mais respaldada por uma superioridade econômica ascendente e inconteste.
Em vez de amainar o apetite imperialista, a decadência do império hegemônico
estimula a agressividade, já está provocando e tende a provocar novas
guerras.
É igualmente
notório que o avanço do protecionismo e o aumento do grau de espoliação
neocolonial decorrente da crise da dívida externa tem resultado no aguçamento
das contradições entre centro e periferia do sistema – mais especificamente
entre as nações imperialistas e as nações economicamente dependentes.
Em síntese, a
crise potencializa as contradições fundamentais do sistema capitalista
internacional - entre os interesses do capital e do trabalho; das potências
imperialistas e das nações economicamente dependentes, vítimas da espoliação
neocolonial; e dos próprios países imperialistas entre si -, gerando uma
perspectiva de instabilidade e grandes conflitos.
A crise não
terá uma solução espontânea nos marcos do capitalismo favorável à civilização,
pois expressa a dissonância entre os interesses do capital financeiro e os
interesses da Humanidade no sentido de um desenvolvimento sustentado e
sustentável das nações. O dilema entre socialismo ou barbárie se apresenta hoje
de forma talvez mais radical do que em outras épocas da história. Em que pese as
adversidades do movimento operário e dos ideais socialistas, somente a vitória
de um projeto fundado na valorização do trabalho e na defesa da soberania e
autodeterminação das nações pode constituir uma alternativa à barbárie
capitalista. Uma vitória que só pode ser alcançada na luta sem tréguas contra o
imperialismo e após a derrota do unilateralismo criminoso dos
EUA.
NOTAS
1- Existem outros aspectos da
crise cuja importância não deve ser relevada - ambiental, ideológico, cultural,
entre outros. A crise tem caráter global e conduz a humanidade a uma
encruzilhada em que desponta a contradição entre barbárie e civilização, mas
limitarei minhas observações às questões econômicas e
políticas
2- Os números em questão não
estão distribuídos conforme uma ordem de importância política ou econômica e os
fenômenos estão entrelaçados de tal modo que às vezes diluem-se as fronteiras
entre economia e política. Assim, a divisão e numeração dos fenômenos em que a
crise se concretiza ou toma forma tem antes o interesse de facilitar a exposição
e a compreensão do tema
3- O artigo publicado em
29-3-2004 no sítio www.resistir.info intitulado “Teses sobre a crise do
capitalismo e a conjuntura mundial” (assinado por Alberto Anaya Gutiérrez,
Virgílio Maltos Long e Rodolfo Solís Parga) faz referência ao fenômeno,
caracterizando-o como uma “crise cíclica de longa duração”, que não seria
estranha ao modo de produção capitalista.
4- No livro “A crise econômica
e a sua forma contemporânea” (publicado pela Editorial Caminho), o economista
português António Mendonça nota que “a ausência significativa de quebras
absolutas da produção e do emprego, durante as duas décadas que se seguiram ao
final da Segunda Guerra Mundial, parecerem vir confirmar as teses keynesianas e
cimentaram a crença na capacidade do Estado para regular a atividade econômica”.
Alguns chegaram a falar em “capitalismo pós-cíclico”, sem crises. Os humores se
alteraram após a crise de 1973-74 e o Estado salvador passou a ser satanizado e
apresentado como o bicho papão da crise.
5- Os anos 1990 foram
caracterizados por uma invulgar pletora de capitais. Em 2001, depois de anos de
crescimento acelerado, o volume global de Investimentos Externos Diretos (IEDs)
atingiram o pico de 1,49 trilhão de dólares, recuou para US$ 735 bilhões em 2001
e ficou em torno de 600 bilhões de dólares em 2002, segundo informações
coletadas pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(Unctad), comentadas no livro “A nova realidade internacional sob o primado dos
EUA” (coletânea de artigos publicada pela editora Anita Garibaldi). A queda não
foi uniforme, atingiu principalmente os EUA, onde despencou de 300,9 bilhões de
dólares em 2000 para apenas US$ 39 bilhões em 2002, o que certamente contribuiu
para a queda do dólar, a recessão de 2001 e o desempenho contraditório e
medíocre do PIB desde então.
6- Os professores franceses
Gerard Duménil e Dominique Lévy observam no artigo “O imperialismo na era
neoliberal”, publicado pela revista Crítica Marxista número 18 (Editora Revan),
que a proporção dos lucros extraídos pelas empresas norte-americanas no exterior
sobre os lucros domésticos era de 10% em 1950 e subiu para 100% em 2000, sendo
“mais chocante a alta espetacular no final dos anos 70”, graças ao forte aumento
das taxas de juros. “Toda a primeira fase da alta, ao final dos anos 70, reflete
o crescimento dos juros sobre a dívida, então chamada do Terceiro Mundo”,
sustentam. Revela-se através do aumento do grau de espoliação das nações mais
pobres um outro sintoma do fantástico parasitismo que acomete Tio
Sam.
7- O artigo intitulado
“Hegemonia americana: declínio contínuo, perigo duradouro”, do economista
norte-americano Richard B. Du Boff, publicado em 4 de dezembro de 2003 no sítio
resistir.info, é muito relevante para a compreensão do
tema
Encuentro Internacional Civilización o
Barbarie - Desafíos del Mundo Contemporáneo.Serpa, Portugal 23-25 de Septiembre de
2004.