NCeHu 295/04
Soja é a planta que mais causa emissão de carbono na
agricultura
A principal fonte de poluição da atmosfera é a queima de
combustíveis fósseis, responsável por mais de 60% da emissões de dióxico de
carbono (CO²), substância responsável por danos ambientais como o aquecimento
global e problemas respiratórios. Em segundo lugar na emissão de CO² está a
agricultura, tanto pelo uso de combustíveis na mecanização quanto pelas técnicas
de manejo do solo.
Neste contexto, a soja é uma das culturas que mais
dependem da concentração de carbono no solo, ao mesmo tempo em que aparece como
a maior causa de emissão de CO² na agricultura. A informação foi divulgada pelo
pesquisador do Departamento de Agricultura Americano (Usda), Don Reicosky, na
VII Conferência Mundial da Soja que termina neste sábado (6), em Foz do Iguaçu
(PR).
O carbono (C) é um nutriente natural do solo, cuja função é
garantir a ciclagem dos componentes físicos, químicos e biológicos que servem de
alimento às plantas durante todo o desenvolvimento vegetativo. A conservação do
carbono no solo garante uma menor demanda por insumos, maior retenção da água e
menor compactação. "O carbono funciona como uma esponja que minimiza os impactos
na compactação. A estrutura do solo sofre a pressão, mas volta ao seu estado
normal em pouco tempo", avalia Don Reicosky.
No processo de fotossíntese
das plantas, o oxigênio (O²) chega ao solo, aumentando a atividade microbiana. A
união C + O² resulta na produção de CO², substância eliminada gradativamente na
decomposição das plantas. Contudo, a sincronia perfeita da natureza na
sustentabilidade do sistema é afetada pela intervenção do homem, usando técnicas
agrícolas que aceleram a emissão de CO².
"Na revirada do solo para
descompactação e plantio, procedimento comum na agricultura convencional, há uma
decomposição muito rápida da matéria orgânica (restos culturais que ficaram na
última colheita). A emissão de CO² durante o revolvimento do solo é semelhante à
queima pelo fogo, com alta poluição atmosférica, só que de maneira não visível.
O carbono não é algo palpável como a água, e essa é uma das restrições ao
reconhecimento da importância deste problema" , diz Reicosky.
Segundo
ele, a soja causa efeitos dramáticos no solo, já que se decompõe mais
rapidamente do que qualquer outra cultura. "Na remoção do solo, a soja
representa um valor 24 vezes maior de perda de carbono. No solo sem plantio, a
perda de carbono e emissão de CO² fica em 100%; no trigo, é de 196%, mas na
soja, essa perda representa 264% ", contabiliza Reicosky. Sem carbono no solo, é
preciso investir em insumos. Nos cálculos do pesquisador, são necessárias 10
unidades de carbono para produzir uma unidade de nitrogênio (N), e para gerar
uma unidade de fósforo (P), são consumidas 60 unidades de carbono. "O carbono é
muito importante para manter a biodiversidade e a fertilidade do
solo".
Como se não bastasse, a soja ainda tem menor capacidade de
infiltração de água em relação a outras culturas, gerando uma erosão de 778
quilos de solo por hectare ao ano (no milho é de 350 kg/ha). "Estudos mostram
que a perda de carbono implica na redução de água no solo, prejudicando o
desenvolvimento da soja", diz Don Reicosky.
Para Don Reicosky, os solos
brasileiros são muito deficientes em nutrientes, com os produtores mais
preocupados em manter os benefícios do carbono no solo do que com a questão
ambiental da emissão de CO². "Os produtores brasileiros não estão mais
conscientes da conservação do que os norte-amercianos. O que existe é a
necessidade de cuidados especiais, já que nos países tropicais chove mais,
resultando na lixiviação dos nutrientes do solo". (Ascom
Embrapa)
Fuente: Listageografía/Brasil, 6 de marzo de 2004. |