NCeHu 194/04
A divisão, que está no Atlas
Ambiental do município, leva em conta fatores
como uso e ocupação do solo e áreas verdes
São Paulo tem 77 microclimas diferentes
Em 1554, o planalto de Piratininga, onde Anchieta construiu o
colégio que deu origem a São Paulo, era uma região de temperaturas estáveis,
mais fria, onde, além dos pinheiros (daí o nome do rio que corta a cidade),
predominavam quatro climas que se dividiam, por causa de fatores como relevo,
altitude e circulação dos ventos, em 26 microclimas. Passaram-se 450 anos, e
os paulistanos hoje vivem num mosaico de 77 microclimas (restritos a áreas
específicas) que reflete uma urbanização e ocupação do solo desigual,
desordenada e ambientalmente despreocupada. A divisão está no Atlas Ambiental do Município de São Paulo,
feito pelas secretarias municipais do Verde e do Meio Ambiente e do
Planejamento, com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo). Ela foi além do conceito tradicional de clima, somando a
ele características sociológicas. Na atualização do mapa dos climas naturais,
foram fundamentais fatores como o tipo dominante de construção (vertical ou
horizontal), a presença de bairros-jardins, a predominância de comércio ou
indústria, a existência de importantes vias de tráfego, favelas, grandes parques
ou áreas de proteção ambiental (APAs). As principais distinções entre os
microclimas dizem respeito à temperatura e ao conforto térmico (muito calor no
verão e muito frio no inverno). "Mas as pessoas também podem sentir diferenças
na ventilação, na umidade e na concentração de poluição", diz Patricia Marra
Sepe, chefe da assessoria técnica da Secretaria do Verde e do Meio
Ambiente.
Grande unidades
climáticas Para efeito de climas urbanos, a cidade foi dividida em
quatro grandes unidades, mais homogêneas no tipo de ocupação e nos atributos
naturais. No interior delas, ocorrem as subdivisões. A Unidade Climática
Urbana Central abrange todo o centro expandido, mais distritos que estão fora do
anel formado pelas marginais Tietê e Pinheiros, como Morumbi, Butantã, Pirituba,
Tucuruvi, Vila Maria, Vila Guilherme e Santana. Nela, os principais fatores
condicionantes do clima são as densidades de prédios, carros e atividades
econômicas. É dentro dela que estão as ilhas de calor. Na Unidade
Climática Urbana Periférica estão as regiões mais afastadas do centro, onde se
concentram as favelas e os conjuntos habitacionais populares, nos extremos
leste, norte e oeste, além dos distritos à beira das represas Billings e
Guarapiranga. Quem vive nesses locais enfrenta principalmente o desconforto
térmico. À Unidade Climática do Urbano Fragmentado pertence o extremo sul da
cidade (Marsilac e Parelheiros), onde a ocupação é rarefeita e predomina um
clima mais frio e úmido -o mesmo que domina a Unidade Climática Não-Urbana, onde
está apenas a APA Capivari-Monos, também no extremos sul da cidade. Para
chegar ao mapa dos 77 microclimas, o geógrafo José Roberto
Tarifa, professor aposentado da USP, sobrepôs no mapa
dos climas naturais os dados de uso e ocupação do solo, além de informações
sobre qualidade do ar, dados resultantes de medições de temperatura in loco e
imagens de satélite do calor superficial. (MARIANA
VIVEIROS)
Fuente: Folha de Sao Paulo,
15 de febrero de 2004.
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