III Congreso de Geografía
Económica
Mar del Plata - 13 al 15 de
junio de 2018
O DESENVOLVIMENTO DA AVIAÇÃO EM SANTA
CATARINA
Gabriel
Canisio Beckenkamp
Graduando
em Geografia Laboratório de Estudos Urbanos e
Regionais
LABEUR Universidade Federal de Santa
Catarina Florianópolis
Santa Catarina - Brasil
A possibilidade de voar sempre foi um desejo de muitas
pessoas. E ele está sendo possível graças a aviação que está sendo desenvolvida
desde os voos com balões, passando para dirigíveis, já motorizados, no final do
século XIX e início do século XX, os primeiros planadores no início do século
XX, desenvolvidos na Europa e Estados Unidos, e posteriormente o avião, década
de 1910-20, impulsionado pela Primeira Guerra Mundial. Voar passou de um desejo,
para a conquista de poder territorial e desenvolvimento econômico, significando
mobilidade, comodidade, estratégia e rapidez. Tais possibilidades impulsionaram
o desenvolvimento de ampla infraestrutura aeronáutica, de extrema importância
para a economia mundial.
O desenvolvimento do setor aéreo no Brasil foi muito
importante para o avanço da economia nacional e sua integração territorial. Em
virtude de sua característica latifundiária, escravista e agroexportadora de sua
economia na maior parcela de seu desenvolvimento, o país deu origem a uma série
de arquipélagos regionais, formados por grandes núcleos urbanos ao longo do
litoral que tinham mais contato com o exterior do que com o restante do
território. Assim, por conta das dimensões continentais do país e a ausência da
integração entre a diferentes regiões por estradas de rodagens, da
característica de sua malha ferroviária que ligava o interior ao litoral sem a
preocupação de integrar as diferentes regiões, o avião veio como forma de
integrar essas regiões de forma rápida para regiões mais distantes.
A construção de Brasília foi um exemplo da utilização do
avião para acesso durante sua construção. Após a inauguração, o meio aéreo foi o
mais usado para oficiais e outros servidores poderem chegar a antiga capital,
Rio de Janeiro.
Teve também grande importância no desenvolvimento econômico
de outras regiões, como o caso de Londrina-PR. (ANDERSON, 1979) Em Santa
Catarina, os voos iniciaram na década de 1910. Nessa ocasião, o exército
nacional construiu uma base aérea na cidade de Caçador para aviões que seguiam
para a Guerra do Contestado, sendo essa a primeira guerra em que um avião foi
usado para motivos militares para observações do território que a guerra estava
ocupando. Esse foi o primeiro campo de aviação do estado, e também a primeira
vez que um avião sobrevoou os céus catarinenses. (COELHO, 2012)
O estado de Santa Catarina, devido a sua colonização,
desenvolveu diversos centro econômicos em várias regiões do Estado. Esse
processo ocorreu devido às diversas entradas de rios da bacia da Atlântico Sul,
onde os imigrantes instalaram-se. A colonização do Sul do estado, região de
Criciúma, foi principalmente de italianos e desenvolveu-se nessa região
atividades ligadas ao setor extrativista de carvão e produção de cerâmica. No
Vale do Itajaí, região de Blumenau e Itajaí, com colonização predominantemente
alemã, desenvolve-se principalmente o setor têxtil. Norte, região de Joinville,
com colonização semelhante a de Blumenau, os setores ligados à extração de erva
e madeira, metal-mecânica recentemente. Florianópolis, com colonização
açoriana/portuguesa, setor pesqueiro e produção de alimentos. Na serra, com
colonização proveniente do tropeirismo e paulista e gaúchos, setores do papel e
madeireiro e o Oeste de Santa Catarina com colonização mais tardia, de colonos,
predominantemente italianos e alemães, no início da década de 1920, a
agroindústria predominou.
Essa diferente colonização com diversos polos regionais
espalhados por várias regiões do estado contribuiu para o desenvolvimento da
aviação. Os aviões também serviram para a integração de todas essas regiões,
principalmente devido ao relevo do estado, dificultado pela necessidade da
transposição das serras do Mar e Geral.
Em várias localidades de Santa Catarina a aviação
desenvolveu-se devido a iniciativas de moradores e proprietários de indústrias.
Eles, possuindo conhecimentos relacionados ao setor, conhecimento de voo, alguns
até sendo proprietários de aviões, eram capazes de financiar as obras para
construção de campos de pouso, essas contando inicialmente com pouca
infraestrutura. (QUINTILHANO, 2012)
Nesse sentindo, empresários dos ramos têxtil,
metal-mecânico, cerâmico e agroindustrial, contribuíram na formação dos
primeiros empreendimentos. Foram eles que financiaram a construção, e também por
conta do movimento econômico que esses setores produziram nas cidades, como a
chegada de clientes e empresários, que motivou o início da operação de voos para
essas áreas.
Joinville teve a primeira iniciativa para construção de um
aeroporto da década de 1930. Primeiramente foi criado a Aeroclube de Joinville,
que foi posteriormente comprado pela prefeitura da cidade. A melhoria da
estrutura veio nas décadas seguintes. Em 1941, com a construção de uma pista
agora asfaltada, e na década de 1960, com a doação de terras feitas pela
prefeitura de Joinville para a construção de um terminal de passageiros e
cargas. (QUINTILHANO, 2012)
Em Blumenau a construção do primeiro campo de pouso também
ocorreu na década de 1930, por iniciativa de empresários e moradores da cidade.
Foi impulsionado após a visita de um aviador alemão, que na época fez uma
apresentação na cidade falando da aviação alemã,o que fez alguns blumenauenses
até construírem um planador. (QUINTILHANO, 2012)
A cidade de Itajaí, também no Vale do Itajaí, já possuiu
aeroporto, inaugurado na década de 1950. Logo após, as instalações foram
transferidas para o município de Navegantes. Na década de 1970 o aeroporto
recebeu melhorias, passando a ter pista asfaltada e ampliada. Na década
seguinte, a administração passou a ser da INFRAERO (Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária). Em 2004 ocorreu a internacionalização do
aeroporto. (QUINTILHANO, 2012)
No Sul do estado, Criciúma teve seu primeiro aeroporto
inaugurado em 1956. No entanto, foi fechado, por falta de estruturas adequadas,
e um outro foi construído onde hoje se localiza a cidade de Forquilhinha, na
década de 1970. O Aeroporto Regional Sul Humberto Bortoluzzi, situado na cidade
de Jaguaruna, foi inaugurado em 2014, construído por iniciativa governamental, e
hoje concentra os voos para essa região do estado. (QUINTILHANO, 2012)
No Oeste, os industriais locais foram os responsáveis pelo
início das operações e construção de campos de pouso. Por exemplo a Sadia, que
após uma reformulação de seus frigoríficos, começou a produzir produtos com
maior valor embutido, e necessitou, consequentemente, de novos mercados
consumidores, sendo São Paulo o principal. Assim, buscou novos meios de
transporte, já que as mercadorias não poderiam ser transportadas da forma
antiga, por trem, então comprou da estadunidense Panam três aviões Douglas.
(ESPÍNDOLA, 1996). Omar Fontana, filho de Atílio Fontana, fundador da Sadia, foi
quem teve a ideia de construir um campo de pouso na cidade de Concórdia-SC e
iniciar as rotas para São Paulo, já que ele era aviador. Os voos iniciaram em
1955, possuíam várias escalas, obtendo muito sucesso, inclusive chegando a
Brasília um ano após o início das operações. (COELHO, 2012)
Em 1965, a Sadia, após melhorias nas estradas e fabricação
de caminhões refrigerados, iniciou o transporte de passageiros em seus aviões, e
teve sua razão social trocada para Transbrasil. A empresa tornou-se uma das
maiores companhias nacionais, porém, após vários anos de prejuízo, faliu.
(ESPÍNDOLA, 1996)
Alguns outros aeroportos do oeste, como Joaçaba e Videira,
também fizeram parte da rota da Sadia que seguia para o Sudeste. Joaçaba teve
seu primeiro aeroporto construído em 1949. Na década de 1960, chegou a possuir
voos de três empresas, que diminuíram posteriormente com a ampliação dos acessos
terrestres. (COELHO, 2012)
A primeira cidade catarinense a construir um complexo
aeroportuário foi Florianópolis. Pousavam na cidade hidroaviões usados pelas
primeiras operadoras. A capital catarinense foi também sede do Centro de Aviação
Naval, e posteriormente Base Aérea, por conta da sua posição estratégica e ações
do governo federal que visavam a proteção da costa do Brasil (FORÇA AÉREA
BRASILEIRA). Após o fim das obras da Base Aérea, foi decidido ampliar as
instalações por aumento da demanda, assim criando o Aeroporto Hercílio Luz,
homenagem ao antigo governador de Santa Catarina.
Diversas empresas aéreas já operaram em Florianópolis.
Inicialmente o Correio Aéreo Nacional possuía base na cidade, porém só
hidroaviões poderiam pousar. Posteriormente, a francesa Compagnie Générale
Aéropostale, que inicialmente se chamava Latécoère, depois da Segunda Guerra
Mundial, recrutou pilotos que atuaram na guerra para pilotar aviões com
correspondências para a América do Sul. Essas viagens saíam da França,
realizaram outras paradas na Europa, África, várias cidades do Brasil, incluindo
Florianópolis, e seguiram para Buenos Aires e Santiago, que era o destino final
das primeiras rotas realizadas para o sul. Essa rota era conhecida como Correio
do Sul. (FAY, 2012)
A Aéropostale motivou a construção de vários campos de pouso
para poder operar em todo território brasileiro, sendo os primeiros do país,
anteriormente as primeiras aeronaves usadas eram hidroaviões. Daí a importância
da companhia. A Aeropostale também criou um campo de pouso no bairro Campeche na
Ilha de Santa Catarina, que posteriormente motivou a construção da Base aérea de
Florianópolis.
A alemã Condor Syndikat, outra empresa que operava no
Brasil, possuía rota do Rio de Janeiro para Rio Grande-RS, podendo estendê-la
até Montevideo. Essa rota possuía escalas em São Francisco do Sul e
Florianópolis, até seguir ao seu destino final. (QUINTILHANO, 2014)
A Varig (Viação Riograndense) também foi uma das companhias
que operam no litoral catarinense. Ela operava voos saindo do Rio Grande do Sul
e realizavam escalas em Florianópolis, São Francisco do sul e Itajaí. Santa
Catarina já possuiu também outra companhia aérea a TAC (Transportes Aéreas
Catarinenses), com sede em Florianópolis, realizando voos para o RIo de Janeiro.
Em 1957, Santa Catarina já possuía diversos aeródromos.
Entre eles Joinville, Rio do Sul, Gaspar, Caçador, Bom Retiro, Araranguá, entre
outros. A partir da década de 1980, a aviação catarinense não se desenvolve com
tanta velocidade como anteriormente, mas continua avançando, com aeroportos e
campos de pouso privados são criados em municípios catarinenses como São José,
Porto Belo e Governador Celso Ramos.
Outras cidades de durante o impulso do desenvolvimento de
campos de pouso no estado, criaram aeroclubes, incentivados pela população
local. Entre elas estão Rio do Sul, Videira, São José, formando pilotos, algumas
vezes com sendo as escolas certificadas pelo governo. Esse fato garantiu
posteriormente às cidades estrutura para pousos também de outros aviões.
Atualmente, seis aeroportos catarinenses contam com
operações das quatro maiores companhias aéreas que operam hoje no país, Tam,
Gol, Azul e Avianca. São eles Joinville, Navegantes, Florianópolis, Jaguaruna,
Lages e Chapecó. Outros aeroportos também contam com voos de companhias
regionais. No ano de 2015, Santa Catarina registrou cerca de 6,2 milhões de
passageiros. A quantidade de aeroportos com operações regulares mostra a boa
estrutura que o estado possui, com várias regiões possuindo ligações para outras
partes do país, diferentes de vários outros estados do Brasil. Essa rede
aeroportuária garante ao estado progresso econômico e desenvolvimento de cada
região.
BIBLIOGRAFIA
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In: ANDERSON, Dole A. Aviação comercial brasileira. João Pessoa: Editora
Universitária UFPB, 1979. p. 11-16.
COELHO, Andutsa Aline. UM ESTUDO GEOGRÁFICO DO TRANSPORTE AÉREO NO
BRASIL. 2012. 178 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. Cap. 178.
ESPÍNDOLA, Carlos José. AS AGROINDÚSTRIAS DO OESTE CATARINENSE: O
CASO SADIA. 1996. 309 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
FAY, Claudia Musa. As viagens de Saint-Exupéry pela América do Sul.
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FORÇA AÉREA BRASILEIRA. Histórico da BAFL. Disponível em: . Acesso
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OLIVEIRA, Geneci Guimarães de. VARIG DE 1986 A 2006: Reflexões
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2011. 156 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História, PontifÍcia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
QUINTILHANO, Diogo. TRANSPORTE AÉREO DE CARGAS EM SANTA CATARINA:
DESENVOLVIMENTO E PERSPECTIVAS. 2014. 268 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.
SILVA, Odair Vieira da; SANTOS, Rosiane Cristina dos. Trajetória
histórica da aviação mundial. Revista Científica Eletônica de Turismo, Garça,
p.1-5, 11 jun. 2009.