III Congreso de Geografía
Económica
Mar del Plata - 13 al 15 de junio de
2018
A DINÂMICA INDUSTRIAL DE
PALHOÇA: 2000−2016
Mario
Will
Mestrando
do Programa de Pós-Graduação da UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis, SC,
Brasil
Este artigo busca analisar a economia de Palhoça, tendo como foco
principal os setores da indústria e da construção civil, que passaram a
despontar no município a partir dos anos 2000. Para isto será apresentado um
breve histórico da região desde os anos 60, quando tem início a inserção de
Palhoça na Região Metropolitana de Florianópolis. Esse processo de conurbação
começa a influenciar a cidade com a vinda de migrantes de várias partes, que
começam a dar impulso à construção civil e com o surgimento das primeiras
fábricas localizadas às margens da BR-101.
Mais
tarde, a partir dos anos 90, o setor da construção civil é impulsionado pela
vinda de grandes investimentos como os loteamentos Pedra Branca, Pagani e o
Campus Universitário da Unisul. No mesmo momento, o Distrito Industrial de
Palhoça passa a atrair um número maior de indústrias por meio de políticas
municipais de isenção de impostos e cessão de terrenos. No entanto, o
crescimento só conhece o seu boom partir dos anos 2000, quando as dinâmicas
econômicas começam a se acelerar. A cidade passa a ser reconhecida como uma das
que mais crescem no país, além de uma das melhores para se investir. Palhoça passa a ser a bola da vez na
atração de grandes investimentos nos setores da indústria e da construção civil,
fatores estes que acabam alterando profundamente a estrutura da
cidade.
A partir dos 60, com a inauguração da BR-101, dá-se o processo de
expansão periférica de Florianópolis para a região continental, momento em que a
cidade de Palhoça começa a receber migrantes de outros estados e regiões,
atraídos pelo baixo valor da terra. Nesse período cresce o número vilas e
loteamentos por intermédio do BNH (Banco nacional de Habitação), onde se
concentram um contingente populacional de famílias de baixa renda. Por este
motivo disto, Palhoça começa a ganhar características de uma cidade-dormitório,
ou seja, de uma cidade onde a maioria dos habitantes se desloca para as cidades
próximas em busca de trabalho.
Em 1989, essa realidade começou a mudar, quando é criado o Distrito
Industrial de Palhoça, onde passam a funcionar unidades industriais de pequeno
porte, do ramo de cerâmica, olaria, serrarias, esquadrias de alumínio. A partir
daí o processo de desenvolvimento começa a ganhar impulso concomitantemente ao
reaquecimento do setor da construção civil, que passa a se desenvolver a partir
do estabelecimento de grandes loteamentos como o da Pedra Branca e do Pagani, ás
margens da BR-101, além do Campus Universitário da Unisul.
Mais adiante, o crescimento começa a ganhar corpo em meados de
2000, quando a cidade ganha notoriedade nacional, em veículos de mídia, como
umas das cidades mais dinâmicas do Brasil. Depois disto, o crescimento tanto em
termos econômicos, PIB, perspectiva de consumo das famílias, quanto em marketing
empresarial, passa a refletir em investimentos nos setores da construção civil e
da indústria. Esse conjunto de fatores levou a multiplicação de loteamentos,
edifícios, indústrias, em um ritmo muito superior as décadas anteriores e trouxe
um ciclo de prosperidade para a economia palhocense.
Florianópolis, a partir da década de 60 em
diante, firmou-se como uma cidade de serviços. Esta especialização ocorreu ainda
nos anos 70, quando a maioria das indústrias e novos empreendimentos se
transferiram para a área continental. As indústrias foram se estabelecendo as
margens da BR-101, no município de São José, e por um processo conurbação com o
entorno, foram se expandindo também para Palhoça (PELUSO, 1991).
Esse processo resultou no surgimento do
Distrito Industrial de Palhoça, em 1989, sob o mandato do então prefeito de
Palhoça, Paulo Roberto Vidal, que com a perspectiva de atrair indústrias para o
município, criou o distrito localizado ás margens da BR-101.
O distrito passou a ocupar uma área
353.142,00m², da qual 244.267,55m² foram destinadas à instalação de indústrias,
dando grande impulso ao setor. O município passou a abrigar inicialmente
unidades industriais de pequeno porte, voltadas a suprir as necessidades mais
urgentes da população urbana, dentro dos chamados insumos urbanos. Houve
predomínio de fabricas do ramo de cerâmicas e olarias, mas também houve
instalação de fábricas nas áreas de confecções, serrarias, esquadrias de
alumínio, artefatos de cimentos, panifícios, calçados e produtos odontológicos
(LOPES, 1999).
Durante a década 1970, Palhoça apresentou
acelerado crescimento industrial, entretanto, no decorrer da década 80 passou
por um momento de retração no setor devido à crise geral na economia brasileira.
Mas a partir da criação do distrito industrial, em 1989, o setor voltou a
crescer, gerando um notável incremento no número de pessoas ocupadas na
indústria, conforme o Quadro 1:
|
ANO |
1960 |
1970 |
1980 |
1986 |
1995 |
% |
Biguaçu |
150 |
189 |
799 |
781 |
1172 |
681,3% |
Florianópolis |
1665 |
2301 |
3800 |
3232 |
2941 |
76,6% |
Palhoça |
280 |
501 |
1053 |
1012 |
1398 |
399,3% |
São José |
338 |
565 |
2985 |
3361 |
4247 |
1156,5% |
Quadro
1
− Pessoal ocupado na indústria e crescimento em
porcentagem
Fonte: Adaptado de Souza
(2011) |
Os resultados positivos na indústria também refletiram no setor da
construção civil, principalmente a partir dos anos 1990, quando houve a retomada
da expansão urbana e da indústria da construção civil a partir da construção de
prédios e loteamentos em diversos locais da região. Nesse período, constatou-se
uma grande expansão urbana nos municípios de Palhoça e Biguaçu, transformando
consideravelmente toda a fisionomia da Região da Grande Florianópolis,
principalmente as margens da BR-101.
Um exemplo do processo de crescimento da construção civil foi à
criação do Campus da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), em 1996.
Inicialmente o Campus foi instalado no prédio do Colégio Maria Vargas, só depois
ganhou uma estrutura própria dentro do recém-criado loteamento Pedra Branca
(UNISUL, 2016).
Na década de 90, em nível
local, o setor da construção civil teve grande impulso e iniciou um processo de
recuperação a partir da vinda de grandes investimentos empresariais,
principalmente dos loteamentos Pagani e Pedra Branca. Além da construção civil,
o setor da indústria também voltou a crescer, impulsionado em grande medida pela
criação do distrito industrial na década anterior.
O município de Palhoça, em 2007, em uma pesquisa do jornal Gazeta
Mercantil, foi considerado o 25º município mais dinâmico do país a atrair novos
empreendimentos. Isso levou o prefeito Ronério Heiderscheidt a afirmar,
categoricamente: “Palhoça é o município que mais cresce em Santa Catarina”. O slogan ganhou visibilidade através de
outdoors espalhados pela cidade, fazendo repercutir na mídia a ideia do boom de
crescimento que a cidade estava atravessando (TOLENTINO, 2009).
Um estudo realizado pela Florenzano Marketing, em 2009, mostrou
quais as cidades que cresceram mais que a média nacional no ano anterior. Do
total de 5.565 municípios brasileiros, foram pesquisados os 300 maiores
mercados, aqueles com maior potencial de consumo. Nesta pesquisa, Palhoça foi
considerada a cidade mais dinâmica Brasil, ou seja, aquela com maior potencial
para investimento (FIESC, 2009).
A revista Veja publicou, no ano de 2010, matéria intitulada “A
Força das Cidades Médias”, em que analisou o perfil econômico, social e urbano
das 233 cidades do país com população entre 100 e 500 mil habitantes. O estudo
revelou a explosão de crescimento econômico na cidade de Palhoça, que ficou na
6ª colocação na categoria vocação para o comércio. O estudo também revelou que
Palhoça esteve entre as 106 cidades médias que mantiveram um crescimento igual
ou superior à média nacional durante 2002 e 2007 (DE OLHO NA ILHA,
2010).
De acordo com dados do Ministério do Trabalho
(Quadro 2), o número de empregos formais passou de 9.182, em 2000, para 38.105,
em 2015, um incremento de 315,00%. Para o mesmo período, entre 2000 e 2015, o
crescimento no número de empresas passou de 1.124, em 2000, para 4.516, em 2015,
um crescimento de 301,78%. Os dados indicam que a cidade vem mostrando forte
aquecimento nos setores da indústria, comércio, serviços e construção civil,
fazendo com que se multipliquem a olhos vistos o número de fábricas no distrito
industrial da cidade, bem como o de obras de engenharia, loteamentos e
construções de edifícios, que começam a impor a verticalização em certas regiões
da cidade.
Setor |
2000 |
2015 |
Var. % |
Empr |
Estab |
Empr |
Estab |
Empr |
Estab |
Indústria |
1736 |
219 |
5949 |
689 |
242,68 |
214,61 |
Construção Civil |
1565 |
102 |
4440 |
536 |
183,71 |
425,49 |
Comércio |
2034 |
495 |
10981 |
1787 |
439,87 |
261,01 |
Serviços |
3794 |
288 |
16619 |
1482 |
338,03 |
414,58 |
Agropecuária |
53 |
20 |
116 |
22 |
118,87 |
10,00 |
Total |
9182 |
1124 |
38105 |
4516 |
315,00 |
301,78 |
Quadro 2 – Empregados e estabelecimentos em Palhoça: 2000 e
2015 |
Fonte: RAIS –
MTE |
Os setores que mais obtiveram crescimento no número de empregados
foram os setores de comércio e serviços, em seguida veio à construção civil e
indústria, por último ficou o setor de agropecuária, que cresceu, embora com
baixo percentual. Em relação ao número de estabelecimentos criados, chamou
atenção o setor de construção civil que obteve crescimento de 425,49%,
demonstrando o aquecimento do setor imobiliário.
Durante o período de 2000 a 2013, o PIB de
Palhoça apresentou crescimento substancial, passando de um PIB de R$ 395.672, em
2000, para R$ 3.971.575, em 2013, crescimento de 904,75%. No contexto estadual,
até o ano 2000, Palhoça estava muito distante dos primeiros PIBs de Santa
Catarina, ocupando a 21ª posição, porém, em 2013, a distância entre Palhoça e os
primeiros colocados diminuiu de forma considerável, passando para a 10ª posição
em nível estadual.
De acordo com dados do IBGE, Censo (2000) e estimativas
populacionais, a população palhocense cresceu de forma acentuada durante os
últimos anos, passando de 102.742 habitantes, em 2000, para 157.833 habitantes,
em 2015, variação de 53,62%. Dados como estes demonstram que a população cresce
de forma acelerada e isto acaba refletindo sobre o setor da indústria da
construção civil.
De acordo com dados do CREA- SC (2016), dentre as cidades da região
conurbada de Florianópolis, Palhoça vem apresentando o maior crescimento em
relação ao número de ART’s (Anotação de Responsabilidade Técnica) e áreas a
construir, o que pode ser verificado pelo número de canteiros de obras a céu
aberto e no surgimento de vários loteamentos por toda a cidade.
Segundo Campos (2009), o empresariado da região da Grande
Florianópolis observando o mercado favorável e altamente consumidor, com um
elevado déficit habitacional, vem investindo maciçamente na construção e
incorporação imobiliária em diversos pontos da região metropolitana. Nesse
contexto, Palhoça, dentre todos os municípios região, está sendo a cidade com
maior potencial de investimento para o setor, devido sua proximidade com a
capital e o valor comparativamente mais baixo da terra, em relação aos mercados
mais consolidados de São José e Florianópolis.
Segundo o SEBRAE (2016) a cidade de Palhoça concentra o maior
número de estaleiros que produzem barcos no Brasil e uma ampla cadeia de
fornecedores. Além disto, o município é o maior formador de mão de obra
especializada no segmento, contemplando todo o processo produtivo das
embarcações.
Neste sentido, a prefeitura de Palhoça lançou o PRONAU (Plano de
Desenvolvimento do Polo Náutico de Palhoça) cujo objetivo é desenvolver o setor
na cidade, viabilizando investimentos em projetos de infraestrutura,
aproveitando a inteligência competitiva da região para fomentar parcerias
estratégicas e para a geração de novos negócios (NÁUTICA 2016).
Um setor que Palhoça prevê crescimento nos
próximos anos é o de tecnologia. A cidade buscou seguir o exemplo de
Florianópolis, que apresenta atualmente três parques tecnológicos, criando uma
parceria entre o Parque Pedra Branca, a UNISUL, a Prefeitura de Palhoça e
Instituto de Apoio à inovação, incubação e Tecnologia de Palhoça (INAITEC) para
implementar e operar a CELTA – Pedra Branca, uma empresa inaugurada em 2010 e
que hoje conta 16 empresas inovadoras (CELTA, 2016).
Nesse mesmo sentido, buscando atrair empresas
de tecnologia para o município, a Prefeitura de Palhoça apresentou o programa
“Inova Palhoça” que promete transformar a economia do município. O programa
comtempla uma série de incentivos fiscais e econômicos que visam atrair novas
empresas para Palhoça. Ele tem como objetivo fomentar o desenvolvimento
econômico de uma nova matriz econômica de base tecnológica, agregando valor à
produção e trazendo menor impacto ambiental.
O desenvolvimento acelerado fez com que
Palhoça deixasse para trás o estigma de cidade dormitório. Os habitantes que
antes tinham de se deslocar para as cidades próximas em busca de emprego, agora
encontram oportunidades na cidade, fato este que começa até a inverter o fluxo
migratório, já que as indústrias de Palhoça têm atraído, cada vez mais,
profissionais de outras cidades da região metropolitana.
RFERÊNCIAS
CAMPOS, Edson Telê. A expansão urbana na região metropolitana de
Florianópolis e a dinâmica da indústria da construção civil. xii, [200] f. Tese
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Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Florianópolis,
2009.
CELTA – CENTRO EMPRESARIAL PARA ELABORAÇÃO DE TECNOLOGIAIS
AVANÇADAS. Disponível em: <
http://www.celta.org.br/celta-pedra-branca.html/>. Último acesso em 15 de
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CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA DE SANTA CATARINA –
CREA-SC. Disponível em:
<http://www.crea-sc.org.br/portal/index.php?cmd=estatisticos. Ùltimo acesso
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DE OLHO NA ILHA. Palhoça é destaque Nacional na revista Veja, 2010.
Disponível em:
http://www.deolhonailha.com.br/florianopolis/noticias/palhoca_e_destaque_nacinal_na_revista_veja.html.
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FIESC – FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DE SANTA CATARINA. Santa Catarina
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LOPES, Ester Warken Bahia; CARUSO, Marilea Martins Leal. Ocupação
humana em áreas de manguezal o caso do manguezal de Palhoça, SC /.
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Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências
Humanas.
PELUSO JUNIOR, Victor Antônio. Estudos de geografia urbana de Santa
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REVISTA NÁUTICA. Sebrae e prefeitura de Palhoça lançam programa
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http://www.nautica.com.br/pronau/>. Último acesso em 6 de Agosto de
2016.
SEBRAE. Prefeitura lança programa para fortalecer setor náutico em
Palhoça, 2016. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sc/noticias/prefeitura-lanca-
programa-para-fortalecer-setor-nautico-em- palhoca,
73f38208b9395510VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Último acesso em 5 de Agosto de
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SOUZA, Geraldo Aldair. A inserção de Palhoça na região
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Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de
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TOLENTINO, Marcelo. Palhoça é o município mais dinâmico do Brasil,
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http://marcelotolentino.blogspot.com.br/2009/06/palhoca-e-o-municipio-mais-dinamico-do.html.
Último acesso em: 16 de Julho de 2016.
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA – UNISUL. Disponível em:
<http://50anos.unisul.br/timeline/>. Acesso em 8 de Julho de
2016.