III Congreso de Geografía
Económica
Mar del Plata - 13 al 15 de junio de
2018
O SHOPPING CENTER NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM PRINCIPAIS
INVESTIDORES: O CASO DA REGIÃO SUL
Tally
Ferreira Mansur
Mestranda
em Geografia - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais (LABEUR)
Florianópolis, Santa Catarina, BR
Leonardo
Rover
Mestrando
em Geografia - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais (LABEUR)
Florianópolis, Santa Catarina, BR
O setor de Shopping Centers no Brasil
se destaca pela sua diligência frente aos desafios do mercado, importância na
pauta comercial regional, geração de empregos e grande circulação de
consumidores, o que coloca o ramo como importante forma espacial representante
dos modos de produção e da organização local da sociedade.
Conforme números divulgados pela
Associação Brasileira de Shopping Centers – ABRASCE, o Brasil possui atualmente
571 shoppings espalhados por todo território nacional, atingindo a marca de
33,88 milhões de metros quadrados construídos, aproximadamente 463 milhões de
visitas mensais e faturamento de 167,75 bilhões de reais somados em 2017. O
setor brasileiro de shopping centers gera torno de 1.029.367 empregos
distribuídos entre as cinco regiões brasileiras.
O Shopping Center é uma forma espacial
urbana comercial, destinada ao oferecimento heterogêneo, diversificado e
balanceado de produtos e serviços, atendendo aos mais variados públicos e
interesses, com diversos segmentos do mercado acoplados à sua estrutura. A
necessidade de investigar o setor está ancorada no grau de importância para a
economia regional brasileira, na geração de empregos e renda, desenvolvimento de
inovações comerciais e principalmente a relação direta dos tipos de capitais
envolvidos nas concepções desses empreendimentos.
Os diferentes apoios financeiros para
a construção de tais empreendimentos variaram de acordo com o espaço temporal e
desenvolvimento espacial nas diferentes regiões do país. De acordo com D’AIUTO
(2013) inicialmente conseguir o crédito para a instalação destas estruturas era
difícil, mediante ao longo processo de maturação natural do negócio e por ser
uma grande novidade para o país. Segundo a autora, a maioria dos
empreendimentos, em primeiro momento, foram construídos com recursos próprios ou
através de financiamento de capitais estrangeiros. A partir dos anos 90
observou-se uma maior aceitação dessas novas estruturas comerciais, além de
claro, o maior envolvimento com diferentes fontes de fomento.
Um dos grandes exemplos a serem
citados é o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – que
vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
financia a longo prazo investimentos em diversos segmentos econômicos desde
agricultura e indústria até infraestrutura, comércio e serviços (entre outros).
Os Shoppings Centers têm uma relação direta com investimentos do BNDES. Relação
que movimenta o mercado e merece ganhar destaque quando estudamos o setor e suas
atividades.
Segundo dados do próprio BNDES (2017),
a sua relação com a construção de shoppings centers no Brasil iniciou em 1995, a
partir do interesse no crescimento vigente do setor. Além disso, havia no Brasil
uma crescente em relação ao aumento de consumo de bens duráveis (muito ofertados
dentro dos shoppings centers). Com um contexto favorável aos investimentos e
participações, o BNDES visualizou no segmento uma oportunidade de sortir suas
operações de crédito. Outra justificativa vislumbrada para o investimento no
setor foi a característica de grande geração de empregos de maneira qualitativa
e quantitativa ofertada.
Outra razão apontada para a entrada do
BNDES nesse segmento naquela época foi o fato de os shopping centers serem
vistos como geradores de empregos diretos que, dadas as características desse
tipo de empreendimento, seriam de qualidade superior à do tradicional “comércio
de rua”. Os investimentos necessários à geração de empregos nesse segmento, da
ordem de R$ 50 mil/emprego gerado, seriam também inferiores aos de outros
segmentos de atividade econômica, a exemplo do industrial. (BNDES, 2003, p.
181). Com a perspectiva de um grande lucro o BNDES não contava com os anos
posteriores de recessão. Em abril de 2000 o cenário econômico brasileiro foi
desfavorável para o setor comercial, diminuindo significativamente os lucros
esperados. Segundo as próprias literaturas do BNDES, as consequências foram
pontuais.
• redução do acréscimo ao spread
básico, de 2,5% a.a. para 0,5% a.a., perfazendo um spread básico total de 3%
a.a. ao invés dos 5% a.a. anteriores; e
• eliminação do subcrédito acelerado,
sendo os prazos de amortização estabelecidos pelo BNDES em função da capacidade
de pagamento apresentada pelo beneficiário. (BNDES, 2003, p. 182). Mesmo com uma
grande queda nos investimentos nos anos posteriores e segundo dados do próprio
BNDES em novembro de 2002 o banco já contava em sua carteira 21 operações com
Shoppings Centers no Brasil, representando 0,6% das operações diretas do
sistema, como podemos observar no gráfico 1.

Gráfico 1:
Desembolsos do BNDES aos Shopping Centers – 1995/2002. Fonte Site
Abrasce e BNDES Setorial, 2007
Podemos observar também o
direcionamento dos recursos para determinadas regiões brasileiras,
principalmente para a região Sudeste. Segundo dados da ABRASCE – Associação
Brasileira de Shoppings Centers (2017), a região Sudeste
hoje é a que mais concentra Shoppings com um total de 304 unidadese mais lucra
no setor, sendo que em segundo lugar temos a região Sul com 98 unidades
construídas apresentando-se como a região brasileira que mais cresceu no ramo
nos últimos anos. Apesar do desenvolvimento do setor na região sul, que fica em
segundo lugar em números de unidades e primeiro em crescimento dinâmico, sua
relação com o BNDES é relativamente pequena, ficando em terceiro lugar se
comparado com as demais regiões brasileiras com um total de apenas 12,2% dos
recursos, como percebemos na tabela 1. Essas características mostram o dinamismo
próprio da região, que não utiliza recursos financeiros externos para a
capitalização da construção das suas unidades. Conseguimos perceber essa
independência se analisarmos outras principais fontes de crédito utilizadas pela
maioria dos Shoppings no Brasil.


Tabela 1 - Desembolsos do BNDES segundo cada Região Brasileira –
1995/2002.
Fonte Site Abrasce e BNDES Setorial,
2007
Outra fonte de recurso a ser mencionada são os fundos de pensão,
criados para gerenciar os recursos que são recolhidos pelos trabalhadores de uma
determinada empresa. Segundo D’AIUTO (2013) a PREVI é hoje um dos maiores fundos
de investimentos no Brasil, tendo participação direta naconstrução de diversos
shoppings brasileiros segundo tabela abaixo. Podemos observar que a região mais
comtemplada é de fato a Sudeste, que hoje possui a maior parte dos shoppings no
Brasil. De acordo com a autora, ainda podemos mencionar alguns outros fundos de
pensão que atuam no mercado, comconcentração de investimentos em grande maioria
na região Sudeste.
Alguns exemplos dos principais fundos de pensão no Brasil são: a
Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil – PREVI; a Fundação dos
Economiários Federais - FUNCEF, da Caixa Econômica Federal; a Fundação Vale do
Rio Doce de Seguridade Social – VALIA, dos funcionários da Vale; a Fundação
Petrobrás de Seguridade Social – PETROS; entre outros. A PREVI é o maior fundo
de pensão do Brasil, totalizando investimentos neste ano de 155 bilhões de
reais. Na tabela abaixo, é apresentado o ranking dos maiores fundos de pensão do
Brasil. Pagina 26 (D’AIUTO, Melissa Ferraz, 2003,
p.26).

Tabela 2 – Valor dos investimentos da PREVI em 2011. Podemos
observar somente.
(D’AIUTO, Melissa Ferraz, 2003, p.25).
Além do BNDES e dos fundos de pensão, temos também os recursos
próprios das grandes empresas do setor. Por serem demasiadamente segmentados no
Brasil, segundo D’AIUTO (2013) essas empresas representam 30% dos investidores
do mercado de Shoppings. Essas três maiores empresas do setor hoje, no Brasil,
são os grupos BRMALLS, Multiplan e Iguatemi, os três listados em bolsa. As três
fizeram o IPO de forma bem sucedida em 2007, o que culminou diretamente na
posição de liderança atual. O IPO da BRMALLS ocorreu em abril de 2007, tendo
sido a empresa que apresentou a maior captação no ano (R$ 2,6 bilhões). Em julho
de 2007, a Multiplan abriu seu capital e captou recursos da ordem de,
aproximadamente, R$ 666 milhões. Já a Iguatemi teve seu IPO em fevereiro de
2007, que resultou em uma captação de aproximadamente R$ 550 milhões. (D’AIUTO,
Melissa Ferraz, 2003, p.23).
Segundo dados retirados dos sites das três maiores empresas
administradores e investidoras de shoppings no Brasil, a participação de
Shoppings da Região Sul é demasiadamente pequena em relação as outras regiões. A
BRMALLS (2018) possui 39 unidades distribuídas pelo Brasil e somente 5
empreendimentos estão na região sul. A Multiplan possui 19 unidades e somente 3
delas encontram-se na mesma região. E o Iguatemi segue com 15 unidades sendo
somente 3 na região que mais cresce no setor, a região
sul.
O dinamismo da Região Sul do Brasil perante ao setor de Shoppings
Centers pode ser percebido conforme a distribuição dos recursos financeiros dos
principais investidores brasileiros relacionados ao setor. A Região Sul a pesar
de ser a que mais cresce possui baixas taxas de investimento destas principais
fontes de fomento. Pode-se concluir a importância e força das atividades e
recursos locais, além de salientar a relevância de estudar a região e os
capitais locais envolvidos na construção destes
emprendimentos.
Referências Bibliográficas
Associação
Brasileira de Shopping Centers – ABRASCE. Desempenho
da indústria de Shopping Centers no Brasil.
Disponível em
<http://www.portaldoshopping.com.br/site/monitoramento/desempenho-daindustria
Acesso em: 15/05/2018.
BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 17, p. 171-186, mar.
2003.
BRMALLS. Disponível em
<http://ri.brmalls.com.br/default_pt.asp?idioma=0&conta=28> Acesso em
15/05/2018.
D’AIUTO,
Melissa Ferraz. O
Desenvolvimento do Setor de Shopping Centers no Brasil. Monografia
em Economia. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2003.
IGUATEMI.
Disponível em: https://iguatemi.com.br/institucional/shoppings-eoutlets
Acesso em 15/05/2018.
MULTIPLAN. Disponível em <http://multiplan.com.br/> . Acesso
em 15/05/2018.
PREVI. Disponível em <http://www.previ.com.br/home.htm>.
Acesso em 15/05/2018.