XIX Encuentro Internacional Humboldt
“América Latina: balance de una “década”
Rio Grande/ Pelotas – RS - Brasil
11 al 15 de setiembre de 2017
O MOBILIÁRIO URBANO E O ESPAÇO PÚBLICO DAS COMUNIDADES DO PAC –
URBANIZAÇÃO DE ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS: O CASO DO PAC-ANGLO, PELOTAS, RS
NATÁLIA TORALLES DOS SANTOS BRAGA1
NIRCE
SAFFER MEDVEDOVISKI2
¹
Universidade Federal de Pelotas – FAURB – Pelotas, Brasil.
²
Universidade Federal de Pelotas – PROGRAU – Pelotas, Brasil.
1. INTRODUÇÃO
A
seguinte pesquisa trata dos espaços públicos das Habitações de Interesse Social
(HIS) e da inserção de mobiliário urbano nessas áreas, analisando a forma de
apropriação e de utilização desses espaços pelos moradores. Segundo Ferrari
(2011), as ruas são espaços públicos importantes nas áreas de habitação social,
pois tratam-se de espaços de sociabilidade dos moradores, sendo de extrema
relevância a análise da forma como essas áreas são utilizadas e adaptadas pela
comunidade.
Considerando
esses ambientes urbanos como parte integrante e influente nas relações entre as
pessoas (AGUIAR e NETTO, 2012), um dos elementos que beneficiam relação social é
o mobiliário urbano, que surge como resultado das necessidades da população e,
quando situado nas zonas residenciais, proporciona um maior convívio entre as
unidades e a vizinhança (ALMEIDA e WEBER, 1983).
Segundo
a NBR 9050:2004 da ABNT, é considerado mobiliário urbano “todos os objetos,
elementos e pequenas construções integrantes da paisagem urbana, de natureza
utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder público em espaços
públicos e privados”.
Para essa pesquisa, foi
adotada a definição de mobiliário urbano estabelecida por Montenegro (2005, p.
29) descrita como “artefato relacionado ao conforto e à comodidade dos usuários,
principalmente dos pedestres”.
Dentro desse contexto, o objetivo principal deste trabalho é
disponibilizar evidências que ofereçam suporte para futuros projetos de
mobiliário urbano vinculado às necessidades dos
usuários.
Os
objetivos específicos são: (a)
analisar como os moradores do estudo de caso usam os espaços das ruas e da
praça; (b) investigar o mobiliário urbano existente e as atividades realizadas
pelos usuários; (c) avaliar quais os locais mais frequentados conforme a
classificação segundo gênero, faixa etária e estações do ano.
2. METODOLOGIA
A pesquisa tem um estudo de caso representativo da cidade informal: o
Loteamento Anglo, localizado
na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
A escolha foi dada por se tratar de uma área que passa por um processo de
requalificação urbana com recursos do PAC – Programa de Aceleração do
Crescimento e pela grande atuação do Núcleo de Pesquisa de Arquitetura e Urbanismo
(NAURB) nessa região, com ações ligadas ao projeto de extensão interdisciplinar
denominado Programa Vizinhança[1].
Figura 1 – Vista aérea da região Anglo, estudo de
caso.

Fonte:
Adaptado do Google Maps (2016).
Os
métodos utilizados nesta pesquisa são: 1) Levantamento bibliográfico; 2)
Levantamento documental; 3) Mapa Comportamental – registro das atividades
realizadas pelos usuários; 4) Levantamento físico – análise do mobiliário urbano
existente e do uso do espaço público no PAC; 5) Levantamento fotográfico –
auxílio nas observações do levantamento físico e do mapa
comportamental.
O Mapa Comportamental, terceira etapa do estudo, consiste em um
importante instrumento de registro do comportamento dos usuários em relação ao
espaço público. Ele ilustra o espaço ocupado pelos indivíduos e verifica a
adequação do ambiente planejado ao já existente (RHEINGANTZ, 2009). Para a
aplicação do mapa comportamental foram necessários: (a) a divisão da região em
fluxos, para facilitar a análise e a compreensão dos dados obtidos; (b) a
indicação dos horários de início e fim do fluxo em questão; (c) o registro das
pessoas, referente ao sexo e à idade – classificação de Thiel (1997, p. 323): 0
à 5 anos – Bebês, 5 à 13 anos – Crianças, 13 à 18 anos – Adolescentes, 18 à 30 -
Adultos Jovens, 30 à 65 – Adultos, acima de 65 - Idosos; (d) a criação de
legendas para facilitar a leitura dos mapas; (e) a indicação do mobiliário
urbano existente.
O
levantamento fotográfico, quarta etapa da pesquisa, foi utilizado para auxiliar
nas observações do levantamento físico e do mapa comportamental. Porque segundo
Ferrara (1993), a imagem fotográfica retém um instante através de um registro
visual.
Para a análise de cada estação foram somados todos os usuários e
equipamentos presentes nos fluxos observados. A Figura 2, abaixo, representa um
exemplo de aplicação do método de mapa comportamental, acompanhado do
levantamento fotográfico, realizado no estudo de
caso.
Figura
2 – Mapa comportamental, fluxo 5. Estação do ano: verão. Exemplo de aplicação do
método.
Fonte: Acervo da Autora (2016)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após análise referente à metodologia aplicada no estudo de caso, foi
possível reunir informações pertencentes às atividades realizadas pelos usuários
e ao mobiliário utilizado pelos moradores nesse espaço. Pode-se também
identificar qual o local de maior fluxo na comunidade conforme a classificação
feita segundo gênero, faixa etária e estações do ano, identificando nesses
espaços a existência, ou não, de mobiliário urbano.
Os cinco mapas aplicados em cada estação do ano foram sobrepostos. Desta
forma, foi possível analisar quais fluxos foram mais frequentados na estação em
questão (destaque em vermelho), além do gênero predominante e da localização dos
mobiliários utilizados pelos moradores (Figura 3).
Figura 3 – Sobreposição dos mapas aplicados no
verão.



Fonte: Acervo da Autora (2016)
Se comparadas todas as estações do ano, é possível perceber que as áreas
com maior fluxo são: 3, 4, 5 e 6, sendo que o fluxo 6 (da praça) passou a ser
mais frequentado no outono (após processo de requalificação urbana). Por esta
lógica o mobiliário urbano deveria ser implementados com maior urgência nesses
fluxos.
Para
auxiliar na análise dos dados, foram criadas 3 tipos de tabelas comparativas: 1)
número de usuários conforme faixa etária/estação do ano; 2) número de usuários
conforme gênero/estação do ano; 3) número de crianças e adolescentes conforme
fluxos/estações do ano.
Pode-se perceber através das tabelas que a estação que possui maior
número de usuários circulando, ou fazendo alguma atividade no espaço público,
foi a estação do verão e em seguida a do outono. Em todas as estações do ano, os
usuários que mais se destacaram em relação ao número, foram as crianças, sendo
40,87% do total dos usuários.
Em todas as estações a grande maioria de usuários do espaço estudado, em
relação ao gênero, foram os homens com 56,1%. Contrariando o Censo de 2010, o
qual destaca o sexo feminino como maioria (54,2%). Isso se deve à alta taxa de
desemprego masculina nos últimos anos e aos fatores culturais. Destaca-se que
durante todas as estações foi mantido um número médio de 430 usuários por
somatório de cada estação, evidenciando o intenso uso, apesar das variações
climáticas.
Contabilizaram-se, em todas as estações do ano, um número elevado de 132
peças de mobiliário que os próprios usuários levaram às ruas. Esse dado obtido
esclarece a necessidade imediata de implementação de mobiliário no espaço
público do estudo de caso. Vale ressaltar que, durante o período de aplicação
dos mapas, a praça passou por um processo de requalificação urbana, no qual
foram implementados quatro mobiliários (duas arquibancadas e dois
bancos).
4. CONCLUSÕES
Após a análise realizada foi constatado que, mesmo após o processo de
requalificação da praça, o número de mobiliário instalado ainda é insuficiente.
É observado nos usuários que continuam se encarregando de levar o próprio
mobiliário para as ruas ou que utilizam dos elementos de infraestrutura urbana
(meio-fio, degraus, etc) como seu “mobiliário
improvisado”.
Foi constatado que o gênero predominante do local é o sexo masculino e,
de acordo com a faixa etária, há predomínio de crianças. É possível perceber a
existência do grande número de usuários que utilizam esses espaços de transição
como extensão de suas residências, levando bancos e cadeiras para relacionar-se
com o espaço e com a vizinhança. Observa-se também que a estação do ano que
engloba um maior fluxo de pessoas foi o verão
Por conseguinte, é perceptível que os objetivos da pesquisa foram
atendidos, identificando a forma como os usuários utilizam esses espaços segundo
gênero, faixa etária, localização e estação do ano. Para futuras pesquisas e
projetos sugere-se que diferentes tipos de mobiliário urbano sejam propostos
como: bancos na frente das casas; elementos nos pisos como definição dos espaços
de transição entre o público e o privado; elementos de delimitação dos espaços
frontais das unidades habitacionais; mobiliário na praça e no entorno do centro
comunitário, incluindo estacionamento para
bicicletas.
Espera-se que essa pesquisa contribua para que haja uma melhora no uso do espaço público na região
do PAC – Anglo, concedendo subsídios práticos e teóricos para projetos futuros nessa comunidade, vinculando os projetos às reais necessidades dos
usuários.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR,
D. (org.); NETTO, V. M. (org.). Urbanidades. Rio de Janeiro: Folio
Digital: Letra e Imagem, 2012.
ALMEIDA,
J. S.; WEBER, M. S. Planejamento Urbano
II: Mobiliário Urbano. Pelotas: [s.n.], 1983.
FERRARA,
L. D. Olhar periférico: informação,
linguagem, percepção ambiental. São Paulo: Editora da USP, 1993.
FERRARI,
A. A.;. As ruas como espaços públicos da
periferia: imagem avaliativa e desempenho ambiental. 2011. Dissertação de
Mestrado – Curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal de Pelotas.
MONTENEGRO,
G. A produção do mobiliário urbano em
espaços públicos: o desenho do mobiliário urbano nos projetos de reordenamento
das orlas do RN. 2005. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Disponível em
<http://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/12419> Acesso em 12 março
2016.
RHEINGANTZ,
P. A.; AZEVEDO, G. A.; BRASILEIRO, A.; ALCANTARA, D.; QUEIROZ, M. Observando a Qualidade do Lugar:
Procedimentos para a Avaliação Pós Ocupação. 2009. Dissertação de Mestrado –
Curso de Pós-graduação em Arquitetura, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.