XIX Encuentro Internacional Humboldt
“América Latina: balance de una “década”
Rio Grande/ Pelotas – RS - Brasil
11 al 15 de setiembre de 2017
A
DENSIDADE DEMOGRÁFICA E AS ÁREAS DE MAIOR EXPANSÃO E
CRESCIMENTO POPULACIONAL EM RIO GRANDE/RS ENTRE
OS PERÍODOS DE 2005 E 2016
Maristel
Coelho San Martin
Solismar
Fraga Martins
Universidade
Federal do Rio Grande, Rio Grande /RS, Brasil
Introdução
Nos
últimos anos o município do Rio Grande foi palco de grandes transformações
socioeconômicas e espaciais devido à instalação de um Pólo Naval na zona
industrial/portuária da cidade. Nesse contexto, a região tornou-se um atrativo de
outros empreendimentos que suscitaram o crescimento populacional e a expansão
urbana acelerada, motivando também o desenvolvimento do mercado imobiliário e o
aumento do valor do solo. Dessa forma, o crescimento populacional ocasionado
pelas migrações em busca de emprego e melhores condições de vida, provocaram
transformações na distribuição espacial da população e o aumento da densidade
demográfica em algumas áreas.
Assim,
imigrantes de outras regiões, e de classes de menor poder aquisitivo, procuraram
se estabelecer nas áreas periféricas, visto que há maior oferta de terrenos e
moradias com valores mais acessíveis. Simultaneamente a isso, houve um acelerado
processo de ocupação de terras, de forma ilegal, onde residências foram auto
construídas em terrenos nas mais precárias condições. Já as classes de maior
poder aquisitivo se estabeleceram em locais mais equipados, como nas áreas
centrais, ou ainda em loteamentos ou condomínios fechados na periferia, pois
esse “isolamento e distância do centro da cidade e da intensa vida urbana são
tidos como condições para um estilo de vida melhor” (CALDEIRA, 2000, p.
266).
Desse
modo, o uso do solo urbano será disputado pelos vários segmentos da sociedade de
forma diferenciada, gerando conflitos entre indivíduos e usos (CARLOS, 1994,
p.86). Esse novo arranjo espacial acabou exercendo também uma forte pressão
sobre as infraestruturas básicas, as quais muitas localidades evidenciam o
excesso ou a inexistência de determinados serviços ou ainda a insuficiência do
atendimento, agravando e trazendo outros problemas (LEITE, 2013, p. 14). Isso
ocorre, pois a demanda de serviços nos diversos setores, assim como o déficit
habitacional foram aumentando aceleradamente.
Portanto,
a cidade deve ser pensada, planejada e analisada constantemente devido seus
constantes fluxos de transformação derivados do capital e das relações sociais.
Dessa forma, torna-se necessário atualizar as informações diversas do
território, conhecer sua dinâmica, o crescimento da população e suas
realocações, visto que é primordial para auxiliar na tomada de decisão dos
gestores e planejadores locais (SANTOS, 2010, p.7). Salientamos ainda que, a
produção e (re) produção do espaço urbano produzem áreas cada vez mais
distintas, os quais podem aumentar a exclusão social refletindo também na
qualidade de vida e desenvolvimento econômico do local.
A densidade demográfica é um dos mais
importantes indicadores a ser utilizado no processo de planejamento e gestão dos
assentamentos humanos (ACIOLY; DAVIDSON, 1998, p. 16). Isso porque, além de
contribuir como um auxílio na tomada de decisões sobre a extensão e a forma de
uma determinada área, ela possibilita avaliar a eficiência de determinados
projetos a serem implantados neste local. Cabe destacarmos que a tomada de
decisões sobre as localidades com maiores taxas de densidade demográfica irão
influenciar diretamente em sua infraestrutura, serviços públicos, e na
distribuição, consumo e valor do solo.
Assim,
este trabalho tem como objetivo apresentar os setores censitários do Rio Grande
com maior densidade demográfica, no distrito sede, conforme o censo de 2010, e
demonstrar as áreas de maior expansão e crescimento populacional nos últimos
anos a partir da analise espacial. Para a realização desta pesquisa foram feitas
revisões bibliográficas, coleta de dados sobre densidade demográfica por setor
censitário, por meio do IBGE, utilização do programa Google Earth Pro7.1.2.2041
para analisar as áreas de expansão e o programa QGIS 2.18.3, para estruturar os
mapas. Salientamos ainda que para melhor visualização dos setores, dividimos o
mapa em quatro partes.
Discussões
e resultados
O
município do Rio Grande está localizado na Planície Costeira do estado do Rio
Grande do Sul, limitando-se ao norte pelo município de Pelotas e a Laguna dos
Patos, ao sul com o município de Santa Vitória do Palmar, a leste com o Oceano
Atlântico e Canal do Rio Grande e a oeste com o município de Pelotas, Arroio
Grande e Lagoa Mirim.

Seu
processo de expansão urbana ocorreu em consonância com sua economia marcada pela
inserção de diversas indústrias, as quais passaram por períodos de expansão
industrial sucedidos por períodos de estagnação ou retração. Tais inconstâncias
vêm desde o final do século XIX quando as primeiras fábricas se instalaram na
cidade do Rio Grande (MARTINS, 2006). A cidade passou por um longo tempo de
estagnação econômica nas décadas de 1980 e 1990.
No
entanto, em 2005, foi contemplada com a instalação de um Pólo Naval que
impulsionou novamente sua economia trazendo grandes alterações em seu espaço
através de investimentos públicos e privados. Segundo
os dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2000, 2010) a população desse município em 2000 era de
186.544 habitantes e em 2010 passou para 197.228 habitantes. Já os dados da
Fundação de Economia e Estatística (FFE, 2015), mencionam que a estimativa
populacional em 2015 era de 213.166 habitantes.
De
acordo com (SANTOS, M., 1988, p. 37) o fenômeno humano é dinâmico e uma das
formas de revelação desse dinamismo está exatamente na transformação qualitativa
e quantitativa do espaço habitado. Salientamos ainda que com o crescimento
populacional do município, foram realizados diversos investimentos, sobretudo no
setor de infraestrutura e habitação como a duplicação e pavimentação de
estradas, construção de viadutos, escolas e moradias por meio do Programa Minha
Casa Minha Vida. No entanto, ambos os setores ainda não suprem a demanda de
serviços, visto que, as construções de moradias já realizadas não foram
suficientes para atender o déficit habitacional de 17.200 domicílios,
apresentado em 2010 assim como os demais serviços que necessitam de expansão e
um aprimoramento.
Além
disso, muitas famílias continuam sem acesso a esse programa, pois, contam com
recurso financeiro limitado a oferta de imóveis no mercado, que não é compatível
com seu salário, conseqüentemente, passam a ocupar desordenadamente o território
da cidade, nas mais distintas formas. Desse modo, “o acesso a moradia está
ligado ao seu preço, que por sua vez, depende de sua localização na cidade”
(MARICATO, 1997, p. 43). Diante disso, apresentamos nos mapas a baixo, os
setores censitários de maior densidade demográficas e as zonas que apresentaram
maior expansão e crescimento populacional nos últimos anos.
DENSIDADE
DEMOGRÁFICA E AS ÁREAS DE MAIOR EXPANSÃO E
CRESCIMENTO POPULACIONAL
Fonte: IBGE, 2010. Adaptado pela autora.
De
acordo com os mapas acima podemos perceber que as áreas 1 e 2 demonstram um
grande número de setores censitários com elevadas taxas de densidade
demográfica. No entanto, apresentam poucas localidades de expansão e crescimento
populacional, pois, ambas as áreas já possuem uma urbanização consolidada,
apresentando poucos terrenos disponíveis e com o valor do solo elevado. Isso
ocorre, pois, a área 1 abrange o centro da cidade onde se concentram as
atividades comerciais, serviços diversos e o uso residencial de médio e alto
padrão, enquanto que a área 2, por estar mais próxima do centro e ainda
apresentar um pouco desse conteúdo da zona central.
Já
a área 3 apresenta um número menor de setores com maior concentração
demográfica, visto que está situada na periferia. Esta área se destacou entre as
demais nos últimos anos, com relação a quantidade de localidades que se
expandiram e o elevado índice de construções de condomínios, principalmente para
classes populares. Soma-se a isso que, por apresentar condições para expansão da
malha urbana, e por estar em um perímetro de fácil acesso de diversas
localidades do município, esta região também permitiu que ocorresse o
crescimento populacional, devido a instalação de outros tipos de
empreendimentos, como por exemplo, a construção de um supermercado (atacado), de
um shopping e na construção da nova rodoviária da cidade.
Com
relação a área 4, esta demonstrou densidades demográficas mais baixas, por se
tratar do balneário Cassino, o qual a maior parte dos moradoressão veranistas
provindos de outras localidades. Apesar disso, a mesma também apresentou três
áreas de expansão e crescimento populacional elevado. É importante enfatizarmos
que, em todas as áreas, a maior parte das localidades de expansão e crescimento
populacional estão situadas nas regiões periféricas.
Caracterizando
as localidades de expansão, podemos dizer que na área 1, o local destacado,
predominam as segregações de classes sociais de renda mais baixa que vivem em
condições precárias, em terrenos de posse e insalubres. Já na área 2, a zona
demarcada a leste, preponderam as classes de menor renda que se apossaram de
terrenos localizados as margens da Lagoa dos Patos e em alguns casos, ao fundo
de antigas fábricas. Quanto a zona demarcada a oeste, trata-se de uma região que
recebeu a instalação de um shopping center e um empreendimento do programa
“Minha Casa Minha Vida”, em um terreno onde estava situado o antigo Jockey Club,
sendo que, seu entorno prevalecem residências de classes populares, consideradas
legais e outras ilegais e que se adensaram no mesmo
espaço.
Com
relação à área 3, apesar de todas as localidades demarcadas receberem um aporte
de instalação de loteamentos e/ou condomínios, em sua maioria para classes
baixas, a zona demarcada a oeste e no extremo norte predominaram a expansão de
residências consideradas ilegais. Já as localizadas a leste e a sul,
predominaram a expansão de residências legalizadas. A área 4, ocorre uma
semelhança com a área 3, visto que, a maior parte da expansão urbana da região
oeste é formada por terrenos ilegais, em contrapartida os localizados a leste
predominam os terrenos legalizados, e a norte ocorre uma mistura dos
mesmos.
Conclusão
Diante
dessa pesquisa podemos perceber que a migração para a cidade, que ocorreu a
partir da instalação do Pólo Naval, estimulou o crescimento demográfico, que por
sua vez impulsionou o desenvolvimento da malha urbana. Embora algumas áreas da
cidade demonstraram diferentes desempenhos no que tange ao crescimento
populacional, nota-se o maior crescimento nas áreas periféricas da cidade. Dessa forma, conhecer as áreas com maior
densidade demográfica da cidade corrobora para uma melhor aplicação das
políticas públicas, seja com relação a sua infraestrutura e serviços quanto na
questão habitacional.
Referências
Bibliográficas
ACIOLY,
C. e DAVIDSON, F. Densidade urbana: um
instrumento de planejamento e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad,
1998.
CALDEIRA,
T. P. R. Cidade de Muros: Crime,
Segregação e Cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34/Edusp,
2000.
CARLOS,
A. F. A. A (re)produção do espaço
urbano. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo,
1994.
CORRÊA,
R. L.. O Espaço Urbano.São Paulo.
Editora Àtica, 1989.
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Perfil socioeconômico: População total
de Rio Grande, 2015.
Disponível
em: http://www.fee.rs.gov.br/perfilsocioeconomico/municipios/detalhe/?municipio=Rio+Grande.
Acesso em: 20/02/2017.
IBGE:
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Disponível
em: http://cidades.ibge.gov.br/painel/populacao.php?lang=&codmun=431560&search=rio-grande-do-sul|rio-grande|infograficos:-evolucao-populacional-e-piramide-etaria.
2011.
MARICATO,
E. Habitação e cidade.São Paulo:
Atual. 1997.
MARTINS,
S. F. Cidade do Rio Grande:
Industrialização e Urbanidade. (1873/1990). Rio Grande. Ed. FURG,
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SANTOS,
M. A natureza do espaço: técnica e
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1988.
SANTOS,
T. F.. População e Cidades:subsídios
para o planejamento e para as políticas sociais. / Rosana Baeninger (Org.).
Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Unicamp; Brasília: UNFPA,
2010.
LEITE,
N.B.F. Expansão urbana e seus efeitos
sobre a mobilidade e acessibilidade avaliada com o auxílio dos sistemas de
informação geográfica (SIG) em Teresina-PI.Tese do Programa de Pós-Graduação
em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG,Belo Horizonte,
2013.