XIX Encuentro Internacional Humboldt
“América Latina: balance de una “década”
Rio Grande/ Pelotas – RS - Brasil
11 al 15 de setiembre de 2017
GEOPOLITICA SUBSAARIANA: OS CONFLITOS NO CHADE
Dante Severo Giudice
Prof. Dr. IFCH/UCSAL
Curso de Geografia
Líder do GEPOGEO¹
Pesquisador GEOPLAN
Salvador/Bahia/Brasil
Mariana de Oliveira Santana
Licencianda em Geografia UCSAL
Membro Pesquisador do GEPOGEO
Salvador/Bahia/Brasil
Marlon Muriel Correia da Cruz
Bacharelando em Geografia UCSAL
Membro Pesquisador do GEPOGEO
Salvador/Bahia/Brasil
Michele Paiva Pereira
Licencianda em Geografia pela Ucsal
Membro Pesquisador do GEPOGEO
Salvador/Bahia/Brasil
Resumo
O Chade é um país da África central, ex-colonia francesa, e afetado
por conflitos geopoliticos, comuns no continente. Vivenciou guerras civis que
praticamente destruiu o pais, consequência dos conflitos internos e dos
conflitos em países vizinhos.
Resumen
Chad es un país de África central, ex colonia francesa, y afectado
por conflictos geopolíticos, comunes en el continente. Vivió guerras civiles que
prácticamente destruyeron al país, consecuencia de los conflictos internos y de
los conflictos en países vecinos.
Abstract
Chad is a country in central Africa, formerly a French colony, and
affected by geopolitical conflicts common on the continent. He experienced civil
wars that practically destroyed the country as a consequence of internal
conflicts and conflicts in neighboring countries.
Introdução
O país está situado na região central da àfrica, limitando-se ao
norte com a Líbia, a leste com o Sudão, a sul com a República Centro Africana e
Camarões, e a oeste com a Nigéria e o Níger (Figura 1).
A ocupação da região onde se situa o país hoje, data do neolítico,
mas o efettivo povoamento se deu devido a localização do lago Chade, na
confluência das estradas vindas de Tripoli (Líbia) e Cartum (Sudão), quando do
surgimento do Reino Kanem, por volta do século VIII. Os árabes se estabeleceram
na região por volta do século XI e iniciaram o processo de islamização, e
passaram a contribuir para intensificação do tráfico escravo.
Figura 1 – Localização
.
Fonte: Adaptado do Atlas Politico Mundial (2010)
Segundo Hernandez (2005)
“Entre o século XVIII e XIX, grande parte do Chade estava sob
controle dos conquistadores negros árabes Rabeh e Zubayr. No século XIX, o lago
Chade tornou-se ponto de convergência dos exploradores europeus, entre os quais
se destacou Eduard Vogel, que iniciram a colonização com apoio dos sultões
locais, que sofriam constantes ameaças dos negreiros árabes, em especial o
conquistador sudanês Rabah. Expedições francesas avançaram na região, tendo o
pretexto do combate ao tráfico negreiro facilitando a submissão da região à
França”
Problemas ocorridos no fim do século XIX, ligados a contrução de
ferrovias pelos franceses e ingleses, levou esses países a fazer um acordo, em
1900, que incorporou o território do atual Chade à zona de colonização francesa.
No entanto a consolidação demorou mais de dez anos, e somente em 1922, o país
foi incorporado à África Equatorial Francesa.
Geopolitica Africana
A geopolítica africana esteve muito tempo ligada aos golpes de estado
apoiados pelas matrizes coloniais, e sujeitos aos interesses econômicos delas,
pois ainda que independentes, os países africanos são comandados por uma elite
formada/criada por elas. A impressão de caos é fruto de simplificação midiática
e preconceitos depreciativos, o que gera a ideia de “complexidade sem solução”
do continente.
O fim da Guerra Fria promoveu mudanças importantes como o fim dos
confrontos nas duas principais ex-colônias portuguesas (Moçambique e Angola). Os
regimes comunistas, a exemplo do leste europeu, se transformaram em economias de
mercado, o desmoronamento do regime de aparthaid na África do Sul, e
muitos países passaram a experimentar o pluripartidarismo, contrapondo o regime
de partido único das ditaduras.
Apesar das transformações ocorridas, o que se pode observar é que
existe uma regressão social e uma democracia limitada.
Como afirma Robert (2008):
“A África subsaariana é a única parte do mundo em desenvolvimento em
que a expectativa de vida recuou para o nível registrado no início da década de
1970, e continua abaixo dos 50 anos”.
Por outro lado ainda segundo Robert (op. Cit)
“.a democratização ampliou o espaço político, mas de modo incompleto.
A tutela das instituições financeiras internacionais põe um manto de dúvida
sobre a legitimidade das autoridades públicas. O surgimento de novas potências
africanas ou estrangeiras redesenha a geopolítica do continente, deixando a
esperança de uma possível redistribuição das cartas do jogo”.
É muito provável que o emergir de novas potências no continente, e a
nova ordem mundial, venham modificar a composição geopolítica no continente, o
que pode levar ao aumento de taxas de crescimento, como já ocorre em algumas
nações, mas dificilmente conseguirão uma redução significativa nos índices de
pobreza. Apesar dos inúmeros acordos de parceria econômica, com redução ou
perdão das dívidas públicas, geram impasses, pois, os “remédios” podem levar a
“morte dos pacientes”.
Aliado a esses fatos existe a atitude preconceituosa de como se trata
as questões africanas, afirmando que os problemas são fruto das “mentalidades”,
sem procurar enxergar que as mazelas são fruto de anos de
colonização.
Para Ninsin (2001),
"Durante a atual fase de expansão do capital, com suas novas formas
de acumulação, muita gente, inclusive a classe média, foi privada de seus meios
de produção, empobrecida, maltratada e quebrada pelas forças do
mercado”.
Na verdade a ideologia neoliberal destruiu os estados, enfraqueceu o
poder público, e contribuiu para o desmonte das cidades, através da ausência da
proteção social e degradação do ensino, e na Àfrica não foi
diferente.
Todo esse contexto leva a uma perigosa tentação ao etnicismo, graças
a incapacidade do poder público que perdeu a autoridade legítima para firmar
metas para a sociedade.
A problemática tem levado a uma série de conflitos em praticamente
todos os países, gerando grande tensão sobretudo urbana, e a emigração
principalmente de jovens que terminam sendo uma grande fonte de divisas para o
continente.
O cenário geopolítico na África é de corrupção e elitismo, sendo que
a legitimidade e a representatividade das elites são garantidas muito mais pelas
instituições financeiras internacionais que pela população (CASTRO,
2012).
Enfim, a geopolítica africana vem se transformando e as dependências
ligadas ao colonialismo têm uma tendência a se enfraquecer, como as novas
relações sul-sul e os pesados investimentos da China no continente.
A Questão Geopolítica no Chade
Os problemas geopoliticos surgiram já na independência, em 1960,
quando se livrou do julgo francês e o primeiro presidente, Tombalbaye, enfretou
a questão de manter a unidade, num país dividido e dominado por povos muçulmanos
no norte e bantos animistas, mais desenvolvidos economicamente, no sul e
oeste.
A tendencia ao totalitarismo é outro problema geopolítico e já na
primeira constituição do país, existia artigo que proibia a atividade politica
de oposição ao governo. Os tumultos se sucederam, e o poder central teve de
enfrentar movimentos clandestinos de oposição, como a FROLINAC – Frente de
Libertação Nacional, sob o comando de Abba Siddick, no norte, e outro sob o
comando de Hissène Habré, no sul.
A pressão de países fronteiriços, relacionados a pretenções
territoriais, como a Líbia, levou a instabiidade política e a derrubada de
governos, até o fim da década de 1970. Toda essa instabilidade levou a primeira
guerra civil que afetou todo o país, inclusive a capital, se extendendo até os
anos 1990. Neste período, sempre com a ajuda da França, esta ajuda com muito
mais intenção de tirar proveito que ajudar, o país assinou com a Líbia acordo de
fusão, e atravessou doze anos de terror entre 1983 e 1995, na luta pelo poder,
frente a oposição, sempre ligada aos muçulmanos do norte, a agora denomidada FAN
– Forças Armadas do Norte, que promoveram sucessivos massacres, com milhares de
mortos e de refugiados. Também neste período, sucessivos golpes de estado,
promoveram várias mudanças de mandatários.
Segundo Reader (1997)
“Ante o acirramento dos conflitos políticos, uma conferência nacional
foi instalada em 1993 para dar continuidade ao processo de democratização do
país. Em 1994, a Líbia devolveu ao Chade a faixa ocupada desde 1973. Em 1995, a
ação dos sindicatos e das associações de defesa dos direitos do Homem, conseguiu
devolver a paz ao país. Em 1996, I. Déby venceu a eleição presidencial, sendo
reeleito em 2001”.
O contexto geopolitico regional, sempre teve desdobramentos no país,
assim, o conflito na região de Darfu, no Sudão, transpôs as fronteiras, e os
refugiados daquele país se juntaram aos civis locais que buscavam escapar da
violência dos rebeldes, abarrotando campos de refugiados que causaram grandes
problemas sociais. Este fato desencadeou outra guerra civil.
A questão tribal é outra vertente dos conflitos geopolíticos, assim a
disputa entre os Zaghawa e os Tama, promoveram instabilidade política, e
alternância de poder. Essa alternância leva a classe política a utilizar todos
os recursos para se manter no poder, ainda que para isso sejam necessários a
criação de milícias e alterações constitucionais.
Os grupos rebeldes se multiplicam e mudam de nome ao sabor das
coveniências, mas as dissidências não permitem formar uma frente unida e única.
Os esforços dos governos de países vizinhos e da OUA – Organização da Unidade
Africana, para buscar uma solução, sempre esbarram na radicalidade de algum
grupo rebelde, como foi o caso dos acordos de Tripoli e de Dacar.
Essa nova Guerra Civil, que durou cinco anos, termina com o acordo
assinado entre Chade e Sudão, em 15 de janeiro de 2010, após a retirada da
missão da ONU, quando acordaram a reabertura de fronteira entre os países, bem
como a implantação de uma força conjunta para proteger a fronteira.
Ressalte-se que a esse caldeirão geopolítico, foi acrescido o início
da exploração do petróleo, por empresas estrangeiras, sobretudo européias, e a
partir daí o dinheiro do petróleo passou a fazer parte do conflito, uma vez que
para controlá-lo, era necessário ter o controle do poder, concentrado na mão das
oligarquias locais. O petróleo que poderia ser a redenção econômica do país,
passou a ser a maldição, acentuando a corrupção e os conflitos.
Segundo Cordeiro (2007)
“Toda a logística em torno do petróleo é gerida por empressas
francesas. O interesse da França é, sobretudo geoestratégico. Estamos numa
situação em que, ao agir, a França apoia o regime. O que se pede é para a França
agarrarar a oportunidade do acordo politico existente e condicionar a sua ajuda
logística a uma abertura política para o Chade. Isso é possível. Seria bom ver a
EU apoiar essa posição.”
Fica evidente que os conflitos do Chade estão longe de uma solução,
pois os contendores não tem o sentimento de unidade, num continente onde as
fronteiras misturaram etnias, religião e identidade cultural.
Considerações Finais
Apesar das novas oportunidades econômicas o Chade continua a ser um
dos países mais pobres do mundo, e o “projeto modelo” elaborado pelo Banco
Mundial não surtiu efeito, sobretudo pelo desconhecimento efetivo da
realidade local, aliás comum neste tipo de ajuda e interferência. A falta de
infra-estrutura do país é uma das travas ao desenvolvimento. Ainda que a
exploração do petróleo tenha sido iniciada e escoada, por oleodutos até o
Atlântico, a participação de multinacionais como a Exxnmobil, Petronas Malasia,
e Chevron, na Esso Chade, muito provavelmente deve ter de alguma forma
prejudicado o pleno uso economico do bem mineral, e ainda que os níveis da
economia do Chade terem crescido nos anos subsequentes, isso não refletiu em
melhoras efetivas para a população, como acesso as redes de eletricidade, água
potável, educação, saúde, incremento a agricultura, etc. É a triste realidade
africana, sacramentando o continente como a eterna periferia do mundo, situação
fomentada pelos colonizadores desde qua ali chegaram.
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