XIX Encuentro Internacional Humboldt
“América Latina: balance de una “década”
Rio Grande/ Pelotas – RS - Brasil
11 al 15 de setiembre de 2017
INDICADORES
SOCIAIS: GEOGRAFIAS,
POLÍTICAS E USOS NA
AMÉRICA LATINA
Daniel
Godoy
Universidade
Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Bolsista CAPES Porto Alegre,
Brasil
RESUMO
EXPANDIDO
O
estudo trazido para discussão é uma revisão interpretativa da literatura
especializada no tema dos indicadores sociais, o recorte feito foca nas
abordagens promovidas na América Latina, colocando-as para a reflexão diante de
uma contextualidade geográfica e histórica em escala mundial de processos
técnicos e políticos universalizantes do trabalho de produção de indicadores
sociais. O tema dos indicadores sociais na região não é algo novo. O debate mais
amplo com discussão técnica e científicas que acontecem com a organização de
comunidades epistêmicas e a adesão de centros de calculo é iniciado na década de
1970 e ganha estudos dedicados a uma interpretação e crítica do tema na década
de 1980. Para promover uma interpretação da relação entre Geografia e os
indicadores sociais, superando clivagens históricas, os indicadores sociais são
enquadrados teoricamente como objetos técnicos utilizando contribuições da
Teoria Geográfica de Milton Santos, e como dispositivos de tecnologias de
políticas, para estabelecimento de nexos entre espaço e ação política a partir
de contribuições de Michel Foucalt.
A
metodologia utilizada consistiu na análise dos conteúdos e discursos em textos
especializados no tema indicadores sociais para realizar uma hermenêutica a
partir da Geografia sobre o tema. Como constructo de análise foi organizado um
conjunto eclético de conceitos comuns a epistemologia da Geografia e conceitos
auxiliares que permitem uma interpretação contextualizada em dialogo com as
Ciências Humanas dos processos geográficos do trabalho de produção dos
indicadores sociais. Para permitir um maior diálogo e debate, o termo paradigma
foi escolhido como conceito chave para a análise de diferenciação e entendimento
das contradições internas a produção dos indicadores sociais. Considerando o
significado do conceito para explicar abordagens positivistas e neopositivistas,
e relavando também, sua recontextualização feita por Boaventura de Souza Santos
para uma interpretação das tensões e conflitos típicos nas Ciências Humanas e
Filosofia.
Neste
estudo é feito a distinção entre estatísticas sociais e indicadores sociais,
entre “lugares de produção” (CERTEAU, 1982), “comunidades epistêmicas” (ADLEER e
HAAS, 1992) e “centros de cálculo” (LATOUR, 2001) enquanto “espaços sociais” (H.
LEFEBVRE, 1991) do trabalho de produção, uso e apropriações dos indicadores.
Para poder articular esses conceitos com a perspectiva de análise
geográfico temporal proposta por Roberto Lobato Corrêa (2006), fazendo uso das
categorias “herança”, “memória”, “projeto”, “inscrição” e “trajetória”, aos
espaços sociais da ação social. Analisando os “processos geográficos”
relacionados ao Movimento dos Indicadores Sociais (FERNANDES, 2012; 2015).
Observamos
que o termo paradigma é utilizado na literatura especializada sobre o tema dos
indicadores sociais com diferentes significações, uma para cada fase técnica
metodológica, outra para a cada abordagem teórico conceitual como por exemplo:
os indicadores socioeconômicos como uma herança das escolas escandinavas; os
indicadores de desenvolvimento social como herança do movimento estadunidense; e
os indicadores de qualidade de vida e os de bem-estar, já produtos de um debate
mais universal, com destaque para discussões inglesas e alemãs, A interpretação
aqui feita, por sua vez, considera a significação do termo paradigma, a partir
das relações e tensões internas entre diferentes tendências de representação
geográfica e histórica das sociedades, buscando uma compreensão pela
epistemologia da Geografia.
Ao
observar as diferenças regionais na produção de indicadores sociais na América
Latina, um fator importante é que ocorre no Brasil pela herança e trajetórias da
colonização, da institucionalização da língua portuguesa, desafios e
dificuldades de integração com a América Latina que repercutem em identidades e
diferenças na territorialização dos processos de trabalho e produção de
indicadores sociais. No caso brasileiro a força das referências de críticas e de
trabalhos como os de Caio Prado, Sérgio Buarque, Celso Furtado entre outras
pessoas que trabalharam nas primeiras décadas do século XX, para com um
paradigma histórico no trabalho de produção de indicadores sociais no Brasil,
influencia a busca de análise e de diálogos explicativos que geram fortes
tensões com as abordagens que o positivismo e o neopositivismo são presentes
gerando conflitos e tensões com as influências e projetos de agências
multilaterais de desenvolvimento regional.
Nos
casos do Chile, México, Argentina os debates históricos em comunidades
epistêmicas que se articulam junto a CEPAL, a CLACSO e a FLACSO situam com uma
maior facilidade a adesão a teorias e metodologias vinculadas ao paradigma
comparativo dos indicadores sociais, com destaque pelo agenciamento territorial
promovido pela CEPAL. Logo, podemos perceber uma via acadêmica brasileira onde
as forças do paradigma histórico parecem tensionar de forma mais independente e
contundente com as forças do paradigma comparativo, mesmo quando se busca
referências em contribuições vinda dos EUA, França, Inglaterra e
Alemanha.
Entre
as problematizações possíveis é importante observarmos que a produção dos
indicadores sociais na América Latina é sujeita a duas questões que se
destacaram: uma é a “alienação do trabalho” de produção típica de sociedades
capitalistas e a consequente “racionalização” como abordou Georg Lukacks, que
promove rupturas nas consciências de totalidade e totalização dos processos de
produção; a outra é a reificação quando os indicadores sociais acabam por ser
utilizados como representações que substituem a realidade esvaziando seus
conceitos originários, se constituindo então como ideologias para fins de
ordenamentos territoriais. Uma terceira questão a se destacar, é a emergência da
atuação e relevância de comunidades epistêmicas muitas vezes antagônicas que
passaram a atuar na produção e uso de indicadores sociais atuando diretamente
nas discussões sobre as desigualdades sociais e junto a produção de políticas
públicas.
Por
exemplo, se tornou comum usar indicadores sociais para elaboração de mapas
sociais todavia, as representações cartográficas geradas se limitam a metáforas
geográficas as quais são muitas vezes utilizadas como um conhecimento
geográfico. Tal, lógica de reificação é observada junto ao campo econômico, que
mesmo depois de longa data de críticas as racionalidades performativas cunhadas
no manejo de indicadores de resultado como o Produto Interno Bruto e outros
tantos, ainda se propaga hegemonicamente uma economicidade e um imaginário
econômico que crer ser possível modelar relações econômicas complexas por
formulações matemáticas sem considerar as complexidades das relações politicas,
micropolíticas e geopolíticas no espaço geográfico e social. Diante desse
paradoxo, seguimos observando o uso reificado dos indicadores sociais como o
IDH, o qual é comum ser entendido erradamente como uma medida precisa do
desenvolvimento humano, representando quantitativamente o desenvolvimento social
em vez de ser tomando em sua limitação e potência que é a de um indicador social
simbólico concebido para promover um ethos mais humanista.
Na
universalização técnica dos indicadores sociais também, pode ser observado um
processo de mercantilização que se pauta na transformação de necessidades
sociais em demandas sociais para serem atendidas em um mercado, seja para
apontar localizações a cortes de custos seja, para legitimar gastos e
investimentos de recursos públicos via o Estado. Outra observação é as formas de
uso dos indicadores nas formulações de políticas sociais, monitoramento,
controle e mapeamento do espaço social. As quais permitem entender que os
indicadores sociais estão sendo territorializados como dispositivos de poder e
de governamentalidade para a execução e operacionalidade de diferentes
ordenamentos territoriais.
Diante
do caso da produção de indicadores sociais observados na escala regional da
América Latina, a principal questão de problematização suscitada é o não haver
visibilidade nem incentivos significativos para uma produção de indicadores
sociais orientada a territorialização de um paradigma emergente ou a estratégias
e táticas de produção caracterizadas por um projeto de produção anti-hegemônica
ou mesmo de fortalecimento do paradigma histórico. O que observamos é um
agenciamento de espaços sociais típicos do uso e influência do paradigma
histórico pelo paradigma comparativo, promovendo uma popularização massiva e
muitas vezes reificada dos indicadores sociais sintéticos sob a influência de um
paradigma comparativo centrado as geograficidades em ranqueamentos.
Também,
podemos observar experiências que buscam criar indicadores de sustentabilidades,
como exemplo de uma aproximação do paradigma emergente na produção de
indicadores sociais e área como o Planejamento e Ordenamento Territorial e
estudos ambientais. Contudo, apesar dos esforços a tendência emergente ainda
adota uma epistemologia que categoriza o social, como uma componente dentro de
um planejamento de produção dos dispositivos que coloque a participação social
como uma dimensão de protagonismo e de agente construtor de outras naturezas de
conhecimento e de ação política.
Portanto,
o estudo empreendido permite perceber importantes questões relacionadas a uma
Geografia dos indicadores sociais, necessária ao um ir além de uma crítica
política a produção e ao uso de indicadores. Ao se experimentar a organização de
uma abordagem de análise da produção de indicadores sociais e de sua
territorialização através de uma epistemologia da Geografia. A territorialização
e o trabalho de produção de indicadores sociais pode revelar que existem
diferenças e antagonismos no trabalho de produção, e que é possível promover
outros caminhos para o trabalho e a criação social de conhecimentos com
indicadores sociais, para fins de superação qualitativa das forças políticas as
quais hoje, atuam para manter o status quo e as hegemonias na reprodução
estrutural das desigualdades e injustiças sociais em uma ordem política e
econômica polarizadora e contraditória a vida no Planeta.
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