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América Latina como
geografía
Bariloche, 6 al 10 de octubre
O fim do sonho europeu
A máquina de punir
Resistir
16/5/14
No
que se tornou o sonho europeu? Numa máquina de punir. À medida que o seu
funcionamento se aperfeiçoa, instala-se o sentimento de que elites intermutáveis
aproveitam cada crise para endurecer suas políticas de austeridade e impor sua
quimera federal [1] . Este objectivo duplo
suscita a adesão dos conselhos de administração e das salas de redacção. Mas,
mesmo acrescentando a este magro conjunto os rentistas alemães, alguns
luxemburgueses especializados em evasão fiscal e um bom número de dirigentes
socialistas franceses, o apoio popular ao actual "projecto europeu" não aumenta
grandemente.
A União não cessa de repreender os Estados que não têm como
preocupação prioritária a redução do seu défice orçamental, inclusive quando o
desemprego dispara. Quando eles obedecem sem se fazerem rogados, ela lhes impõe
a seguir um programa de rectificação com objectivos quantificados até à casa
decimal, acompanhado de um calendário de execução. Em contrapartida, quando um
número crescente de pacientes europeus têm de renunciar a cuidados médicos por
falta de recursos, quando a mortalidade infantil progride e o paludismo
reaparece, como na Grécia, os governos nacionais jamais têm de temer as iras da
Comissão de Bruxelas. Inflexíveis quando se trata de défices e de endividamento,
os "critérios de convergência" não existem em matéria de emprego, educação e
saúde. Contudo, as coisas estão ligadas: amputar as despesas públicas significa
quase sempre reduzir o número de médicos nos hospitais e racionar o acesso aos
cuidados de saúde.
Mais do que "Bruxelas", o alvo habitual de todos os
descontentamentos, duas forças políticas têm promovido a metamorfose dos dogmas
monetaristas em servidão voluntária. Desde há décadas, socialistas e liberais
partilham efectivamente o poder e os postos no Parlamento Europeu, na Comissão e
na maior parte das capitais do Velho Continente [2] . O ultraliberal e
partidário da guerra do Iraque José Manuel Barroso há cinco anos foi reeleito
presidente da Comissão Europeia a pedido unânime dos vinte e sete chefes de
Estado e de governo da União, socialistas inclusive, ainda que todos então
reconhecessem a mediocridade estarrecedora do seu desempenho.
Para
sucedê-los rivalizam neste momento um social-democrata alemão, Martin Schulz, e
um democrata-cristão luxemburguês, Jean-Claude Juncker. Um debate televisivo os
"opôs" em 9 de Abril último. Qual dos dois considera que "é necessário o rigor
para recuperar a confiança"? E qual deles responde que "a disciplina orçamental
é inevitável"? O primeiro, para quem as "reformas" impiedosas do seu camarada
Gerhard Schröder constituem "exactamente o modelo" a seguir, chega ao ponto de
deixar escapar: "Não sei o que é que nos distingue". Com certeza não será a
vontade de encerrar a caserna económica europeia.
Maio/2014
(1) Ler " Fédéralisme à marche forcée ", Le Monde diplomatique, juillet 2012. (2) Em 7 de
Julho de 2009, o Partido Popular Europeu (PPE, direita) e os socialistas
assinaram um " accord technique" nos termos do qual o ultraconservador
polaco Jerzy Buzek presidiu o Parlamento Europeu de Julho de 2009 a Janeiro de
2012, e o social-democrata alemão Martin Schulz o sucedeu.
Ver também:
Europa reocupada
Euro eleições: À procura do presidente
Nemo
The record of a Captive
Commission
[*] Jornalista.
O original
encontra-se em www.monde-diplomatique.fr/2014/05/HALIMI/50382
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