Rumbo al
XVI EnHu (112)
Costas Lapavitsas
Resistir
17/4/14
Estarão as economias maduras
numa estagnação de longo prazo? Nos quatro anos desde a grande crise de
2007-09, os EUA cresceram a uma taxa anual de 2,2%, a Alemanha a 2%, o
Japão a 1,6% e o Reino Unido a 1%. Considerando que o PIB destes países
contraiu-se num total de 4 a 6% durante a crise, eles apenas recuperaram o
terreno perdido – e o Reino Unido nem sequer conseguiu isso. Enquanto
isso, as perspectivas de crescimento em 2014 e mais além parecem longe de
brilhantes.
Alguns economistas conhecidos começaram a
manifestar-se muito preocupados. Larry Summers, por exemplo, afirmou que a
estagnação a longo prazo é o "novo normal". A razão é que as taxas de juro
exigidas para crescimento sustentado do sector privado realmente seriam
negativas. Uma vez que as taxas nominais não podem cair abaixo de zero, as
economias maduras só podem escapar à estagnação se tiverem uma bolha
financeira. Isto é um pouco como tomar anfetaminas: há um pesado
preço a pagar quando a bolha explode. Paul Krugman corrobora no essencial,
descrevendo o actual estado de coisas como uma "armadilha de liquidez".
Para ambos os economistas, a resposta é expansão decisiva da despesa
pública.
Há pouca dúvida de que o fraco desempenho económico em
2010-13 é o resultado das políticas implementadas para enfrentar a crise.
Os Estados visaram apoiar o sistema financeiro, enquanto transferiam os
custos para a sociedade como um todo. Portanto, bancos centrais forneceram
grandes quantias de dinheiro e conduziram taxas de juro praticamente para
zero, enquanto governos garantiam a solvência de instituições financeiras.
A lucratividade da banca foi rapidamente restaurada e o sistema financeiro
foi capaz de começar uma nova bolha, desta vez no mercado de acções. Em
contraste agudo, os salários reais foram mantidos estagnados, ou em queda,
e a despesa pública foi restringida. Bastante naturalmente, os
trabalhadores reduziram seu consumo e começaram a reembolsar as
gigantescas dívidas acumuladas durante os anos 2001-7. Globalmente, a
política governamental impediu uma repetição da Grande Depressão da década
de 1930, mas a procura e o crescimento foram muito fracas, apesar da
emergência gradual de uma nova bolha.
A questão real, entretanto,
é se economias maduras estão em estagnação a longo prazo ou simplesmente a
ter um desempenho fraco após a crise. A estagnação a longo prazo é um
problema muito sério pois os rendimentos sofrem, o nível de emprego
torna-se fraco, o bem-estar declina, a instabilidade económica é
exacerbada e as tensões sociais aumentam. Nas quatro décadas desde o
início da década de 1970, a taxa média de crescimento nos EUA, Japão,
Alemanha e Reino Unido caiu de cerca de 4% para cerca de 2%. Durante o
mesmo período verificou-se uma sucessão de crises, 1973-75, 1980-2,
1990-92, 2000-2002 e 2007-9, das quais as últimas três foram claramente
associadas a bolhas financeiras. Enquanto isso, o trabalhou perdeu
dramaticamente para o capital pois a desigualdade disparou. Isto pode não
ser totalmente estagnação, mas o crescimento tem sido indiferente e
permeado por bolhas e crises.
Muitos à esquerda consideram que
estes fenómenos são o resultado do neoliberalismo, isto é, da ideologia
dominante do período, a qual prega mercados livres e advoga a
desregulamentação e privatização. Contudo, processos mais profundos têm
estado a verificar-se durante este período, incluindo uma revolução
tecnológica e a expansão do emprego em tempo parcial e precário. Estas
mudanças profundas aumentaram a produtividade do trabalho, mas não como
nos períodos históricos anteriores. Apesar de expectativas róseas, a
tecnologia da informação sob este aspecto demonstrou-se inferior a,
digamos, a electricidade ou ao motor de combustão interna.
Por
outro lado, nova tecnologia e práticas de trabalho alteradas foram
excepcionalmente eficazes para impulsionar a finança. Ajudada pela
desregulamentação financeira, eles transformaram o modo como operam bancos
e mercados financeiros, facilitando um crescimento notável. O aspecto mais
gritante das últimas quatro décadas é a assimetria entre o sector real e o
sector financeiro das economias maduras. A finança inchou, proporcionando
novas e enormes fontes de lucros, promovendo desigualdade, inflando bolhas
enormes e exacerbando crises, ao passo que o desemenho da produção ocorreu
de um modo indiferente. Ainda mais impressionante, as práticas,
perspectivas e moralidade da finança penetraram o resto da economia.
Em suma, o capitalismo maduro tornou-se financiarizado:
empresas industriais e comerciais sentam-se sobre enormes quantias de
dinheiro, relutam em investir mas ao invés utilizam-no para gerar lucros
financeiros; os bancos emprestam menos para a produção, procuram lucros no
trading financeiro e alimentam uma bolha após a outra; as famílias
tornaram-se enormemente endividadas bem como dependentes de instituições
financeiras privadas para pensões. O fracasso do capitalismo contemporâneo
em produzir crescimento sustentado está relacionado com a sua
financiarização e não na incapacidade de as taxas de juros caírem abaixo
de zero.
Há políticas que podiam melhorar coisas no curto prazo,
incluindo regulamentação do sistema financeiro, redistribuição do
rendimento e da riqueza em favor dos trabalhadores e expansão da despesa
pública. Por este meio, poder-se-ia esperar recuperação, melhoria de
padrões de vida e que a arrecadação fiscal ascendesse equilibrando a
contabilidade do estado. Mas o desafio real é alcançar mudança estrutural
revertendo a financiarização, uma tarefa que exige medidas intrinsecamente
anti-capitalistas. Elas incluem restauração maciça do estado previdência e
reintrodução da propriedade pública, com um mandato estimulante e energia,
tanto no sector real como no financeiro. A escolha a longo prazo para
sociedades maduras é ou continuar com a desastrosa financiarização ou
seguir um caminho intrinsecamente anti-capitalista.
02/Abril/2014
Ver
também:
Crises, os desenlaces
possíveis
O original
encontra-se em www.researchonmoneyandfinance.org/...
Este artigo
encontra-se em http://resistir.info/ .
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