Os Estados Unidos e a Espanha vão prolongar por
mais um ano a presença de tropas norte-americanas no Sul da Península Ibérica.
Alegam que a instabilidade no Norte de África e em especial no Sahel coloca em
risco a segurança e os interesses dos dois países.
O acordo entre Washington e Madrid prevê o aumento
de efectivos e a duplicação de aviões estacionados na base militar de Morón de
la Frontera, a 66 quilómetros de Sevilha.
Na base da Andaluzia, os EUA passam a dispor de 850
a 1100 marines e de 17 aviões de guerra – uma dúzia de MV-22 de descolagem
vertical, quatro KC-130 de reabastecimento em voo e um aparelho de apoio
logístico.
O objectivo desta força, criada em Abril de 2013,
sob o comando do Africom, é «a protecção de cidadãos e instalações» dos EUA em
África, bem como a resposta a «situações de crise».
Este é mais um indicador recente do aumento do
intervencionismo militar dos EUA e da União Europeia (UE) em África –
directamente ou por intermédio e com a conivência de alguns governos mais
reaccionários –, visando impor o domínio imperial aos países do continente para
saquear as riquezas dos seus povos.
Um outro exemplo que ilustra o
expansionismo belicista da UE é o previsto envio de tropas para a República
Centro-Africana, no quadro da missão Eurofor RCA. Trata-se de um contingente de
cerca de 1000 militares e polícias, de diversas nacionalidades, que em Abril
seguirá para Bangui, a capital do país, com o pretexto de ajudar a «restabelecer
a ordem».
Segundo o «El Pais», a Espanha contribuirá com 60
militares e 25 guardas civis para esta operação europeia na RCA. De acordo com o
«Diário de Notícias», também Portugal poderá enviar um pelotão (20 elementos) da
unidade de intervenção da GNR.
Para os espanhóis, a presença de tropas suas na
África subsaariana não é novidade, uma vez que que Madrid dispõe já de 300
militares no Djibuti, na Somália, no Senegal e no Mali.
No Mali onde, depois da operação «Serval», em 2013
– quando os franceses intervieram em socorro do regime de Bamako, ameaçado por
rebeldes islâmicos e separatistas tuaregues –, permanecem tropas africanas,
«capacetes azuis» e, também, uma missão militar da UE.
Neste momento, além de 2300 soldados franceses a
combater, há cerca de 560 instrutores e assessores europeus que treinam e
enquadram o exército maliano. O mandato desta missão da UE termina em Maio e
deverá ser renovado por mais 24 meses.
Na República Centro-Africana a tragédia repete-se.
Em Março do ano passado uma coligação armada derrubou o governo eleito de
François Bozizé e substituiu-o pelo seu líder, Michel Djotodia. Em Dezembro a
França enviou a legião estrangeira – operação «Sangaris» –, despachou Djotodia
para o exílio e colocou Catherine Samba-Panza na presidência, mudanças que não
travaram um sangrento conflito entre facções rivais.
Face à situação humanitária catastrófica, e apesar
da presença de 2000 expedicionários franceses e 6000 militares da União
Africana, as Nações Unidas acham necessário enviar para a RCA, até meados de
Setembro, mais 12 mil soldados e polícias. Nesta operação, que custará centenas
de milhões de dólares, os «capacetes azuis» substituirão as tropas
africanas.
Antes disso, chegará a Bangui a missão militar da
UE, para ajudar a «pacificar» o país e, depois, claro, para permitir um programa
de «auxílio económico» que aprofundará a sua dependência e favorecerá a
exploração das suas riquezas pelo Ocidente…
O gendarme do imperialismo
Nestes recentes conflitos em África – agressão da
NATO à Líbia, golpe na Costa do Marfim, ocupação do Mali, intervenção na RCA –,
a França, primeiro com Sarkozy, agora com Hollande, tem sido o mais fiel polícia
do imperialismo norte-americano.
A coberto desta aliança, a burguesia francesa, com
largo cadastro colonial e neocolonial, reforça a aposta nos negócios africanos,
em parceria com os amigos indígenas. Negócios que vão da exploração do petróleo
e do urânio às pescas, passando pela venda de armamento e pelas
telecomunicações.
Em artigo na «Jeune Afrique», Christophe
Boisbouvier calcula que o orçamento de Paris para as «operações exteriores», em
2014, atingirá 450 milhões de euros. A operação «Serval» custou 650 milhões de
euros em 2013 e a «Sangaris» já vai em 100 milhões.
Para assegurar os interesses económicos, a França
reforça o dispositivo militar em África. Tem bases permanentes em Dakar
(Senegal), Libreville (Gabão) e Djibuti, ocupa o Mali e a RCA e mantém tropas
estacionadas em países como Mauritânia, Níger, Costa do Marfim, Burkina Faso,
Camarões e Chade…
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2102, 14.03.2014