NCeHu 74/14
Rumbo al
XVI EnHu
América Latina como geografía
Bariloche, 6 al 10 de octubre
A social-democracia
brasileira à moda do PT
É a estrutura, aldrabões
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1. Economistas escrevem
copiosos e longos artigos sobre o quanto a taxa de câmbio do real,
valorizada, prejudica a indústria local e contribui para a crise das
contas externas apontada pelo déficit recorde nas transações correntes
(TCs) com o exterior em 2013: US$ 81,4 mil milhões.
2. Na
realidade, é ainda maior, pois as contas foram contabilizadas como
exportadas as plataformas de exploração de petróleo em atividade no país.
Sem essa maquilagem, o déficit nas TCs teria sido 10% maior.
3.
Claro que a taxa de câmbio do real valorizada pode estimular as
importações, mormente num país que está em vias de desindustrialização há
decênios, e por incentivar gastos no exterior.
4. Entretanto, faz
melhorar a relação de intercâmbio, pois as exportações brasileiras são
cada vez mais intensivas de recursos naturais, as commodities, cuja
comercialização depende pouco da competição de preços.
5. De fato,
foi o grande superávit nas mercadorias, acima de US$ 100 mil milhões, que
possibilitou o pequeno saldo positivo, de US$ 2,6 mil milhões, na balança
comercial, em queda impressionante, decorrente do crescente e enorme
déficit externo dos produtos industriais: nada menos que US$ 105 mil
milhões.
6. Na realidade, o déficit industrial chegou a US$ 113
mil milhões, se expurgarmos a “mágica” das plataformas. É consequência da
desindustrialização do Brasil, dominado pelo capital estrangeiro.
7. A valorização cambial decorre do afluxo de capitais do
exterior, que funciona como uma droga, com efeitos altamente prejudiciais
à economia, inclusive a própria dependência dessa droga.
8. Por
sua vez, os capitais forâneos são atraídos por taxas de juros altas, tendo
sido as dos títulos públicos, elevadas, agora, a 10,5% ao ano. Nos EUA os
títulos até dois anos pagam menos de 0,3% ao ano, e lá a dívida externa,
de US$ 16 milhões de milhões, supera o PIB, e a pública ascende a US$ 17
milhões de milhões.
9. O Banco Central, ilegalmente independente
na prática, age a serviço dos bancos e empresas transnacionais, inclusive
de brasileiros que aplicam diretamente do exterior. As autoridades
monetárias servem assim os concentradores, os reais detentores do poder.
10. Entre os prejuízos decorrentes dos juros altíssimos, está o de
os juros para as empresas produtivas serem um múltiplo dos títulos
públicos, o que eleva o custo de produção de bens e serviços.
11.
As grandes empresas e as transnacionais não padecem com essas taxas, pois
são favorecidas com a benigna TJLP (taxa de juros de longo prazo) aplicada
pelo BNDES e por taxas também suaves da Caixa Econômica e de outros bancos
públicos.
12. Tudo isso é para fazer crescer os lucros das
transnacionais, pois elas nem precisam de crédito – as que têm acesso ao
exterior a baixo custo – nem dependem de custos de produção baixos,
porque, não sofrendo concorrência, aplicam os preços que desejam.
13. Ademais, elevado às nuvens pelos juros absurdos, o serviço da
dívida federal absorve mais de 40% da despesa, impulsionado por taxas de
juros acolhidas pelo governo, que, assim, perde capacidade de investimento
e custeio.
14. Já se vê que as mazelas da economia brasileira são
estruturais e não podem ser sanadas por medidas de política monetária ou
fiscal, sem substituir o modelo dependente por um modelo econômico e
social que atenda os interesses do país.
15. Assim, submisso ao
modelo dependente, o governo não tem autonomia para manejar as taxas de
câmbio nem as taxas de juros, nem praticar políticas expansionistas ou
contracionistas da moeda e do crédito.
16. O tenebroso art. 164 da
Constituição dá todo o poder ao Banco Central para emitir moeda, para
passá-la exclusivamente aos bancos privados, deixando sem recursos o setor
público e o próprio Tesouro, assim obrigado a endividar-se com os bancos.
Não bastasse tudo isso, suas disponibilidades de caixa têm que ser
depositadas no Banco Central.
17. As causas do descalabro são,
portanto, estruturais, sistêmicas. Como também estas:
a) a
administração pública tornou-se incapaz de conduzir o desenvolvimento, com
o Estado enfraquecido pelo serviço da dívida, e com as estatais
incrivelmente capitalizadas pelo Estado antes de serem privatizadas em
favor de grupos concentradores, inclusive estrangeiros.
b) o setor
privado nacional continua vitimado pelas políticas públicas, desde que foi
condenado a definhar, desde o golpe de 1954, que decretou a entrega do
mercado às empresas transnacionais, sem que tivessem sequer de investir
realmente, subsidiadas, de forma absurda, para trazer suas máquinas
usadas, amortizadas e mais que pagas no exterior.
c) esses
oligopólios e carteis – que continuaram sendo subsidiados pela União,
estados e municípios e ocupam posições dominantes – são os agentes da
transferência de recursos para o exterior, através de diversas contas.
d) essa é a grande fonte da dívida externa, que se desdobrou na
enorme dívida interna, cevada com a capitalização de juros, devido às
taxas de juros extorsivas; estas, por sua vez, a raiz da dependência
financeira, que pretende justificar as altas taxas de juros dos títulos
públicos para atrair capitais a fim de compensar os déficits na conta
corrente.
e) a ascendência das transnacionais fez delas as
beneficiárias dos incríveis subsídios às exportações, instituídos desde o
final dos anos 60, as quais não evitaram a explosão da dívida externa daí
até o final dos anos 70, que também cresceu com os investimentos públicos
na infraestrutura e nas indústrias básicas, sob dependência financeira
(comandada pelo Banco Mundial) e dependência tecnológica, agravadas em
função das especificações impostas nas concorrências internacionais.
f) no “modelo brasileiro” – alardeado nos anos dos falsos milagres
econômicos –, não há como incorporar a maior parte da força de trabalho a
um processo produtivo de qualidade, nem elevar o padrão de vida do grosso
da população: só cresce a já esmagadora concentração da renda [NR] nas grandes
empresas e os modestos programas de transferência de renda [NR] , na
tentativa de sustentar parte do número gigantesco dos marginalizados, a
grande maioria da população; tudo como o Banco Mundial gosta, enquanto as
transnacionais extraem os recursos naturais do país e transferem para o
exterior os lucros, principalmente como despesas, afora as crescentes
remessas como lucros oficiais e juros.
17. Colocar o Brasil no
caminho da industrialização, com produção crescente de bens de alto valor
agregado e intensidade tecnológica, é tarefa que não há como realizar sem
as mudanças estruturais rejeitadas pela atual estrutura de poder, dominada
pelos concentradores, que controlam também o processo político e os
centros formadores de opinião, inclusive a mídia.
31/Janeiro/2014 [NR] No Brasil chamam de renda a
qualquer espécie de rendimento, não apenas aos de actividades rentistas.
[*] Doutorado em Economia e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
O
original encontra-se em www.correiocidadania.com.br/...
Este
artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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