Asunto: | NoticiasdelCeHu 452/13 - Crisis y geografía - Belluzzo: Brasil precisa s uperar enganos conjunturais e fazer política macroecon ômica (CM, 17/7) | Fecha: | Miercoles, 17 de Julio, 2013 15:49:51 (-0300) | Autor: | Noticias del CeHu <noticias @..............org>
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NCeHu 452/13
Crisis y geografía
Belluzzo: Brasil precisa superar
enganos conjunturais e fazer política macroeconômica
O economista Luiz Gonzaga
Belluzzo avalia que a presidente Dilma Rousseff tem uma visão clara do
que deseja para o país a longo prazo, mas terá de enfrentar fortes obstáculos
para concretizar um projeto de futuro. Um deles é a dificuldade dos agentes
econômicos de privilegiar as decisões conjunturais às de caráter macroeconômico.
Maria Inês
Nassif
Carta Maior
17/7/13
O Brasil saiu-se “muito bem” da
crise financeira mundial de 2008, mas ainda tem que enfrentar sérios problemas,
como “a relação perversa entre juros e câmbio”, a saída do país de sua estrutura
de fornecimento e a precariedade de sua infraestrutura. É o que pensa o
economista Luiz Gonzaga Belluzzo, para quem a presidente Dilma Rousseff tem uma
visão clara do que deseja para o país a longo prazo, mas terá de enfrentar
fortes obstáculos para concretizar um projeto de futuro. Um deles é a
dificuldade dos agentes econômicos de privilegiar as decisões conjunturais às de
caráter macroeconômico.
Um engano dessa visão conjuntural, por exemplo, é
tomar a desindustrialização do país como uma transição para uma “economia de
serviços”. “Isto é uma fuga da realidade”, adverte o professor. Estados Unidos e
Europa, que viveram desse engano nas últimas décadas, hoje se empenham em se
reindustrializar, tentando levar, de volta, as empresas que saíram de seus
países para o mundo, atrás de maiores vantagens para produção.
O Brasil
precisa não apenas retomar sua industrialização, mas fazer sua reintegração
produtiva no mundo, diz Belluzzo. Nessa reacomodação interna e externa, deve
inclusive rever questões como o protecionismo. Não é nada fora de propósito, por
exemplo, a presidente querer exigir das empresas que vão explorar o Pré-Sal um
alto grau de conteúdo nacional.
Os planos para o futuro, todavia, não
podem prescindir de uma atenção especial à educação – não propriamente a
educação técnica, mas a educação humanista, aquela que dê elementos para o
cidadão entender e julgar. “É preciso formar cidadãos, para que não se forme o
especialista idiotizado”, diz.
Belluzzo considera importante a
consolidação de uma cultura democrática de debate em espaços de “controvérsia e
discussão”, a exemplo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – e para
que eles funcionem, o fundamental é a diversidade de formação e de pontos de
vista.
Leia, abaixo, os principais pontos da entrevista de Luiz Gonzaga
Belluzzo à Carta Maior.
Espaços de mediação Para Belluzzo, a
democracia não pode se resumir exclusivamente ao voto. Os espaços de
controvérsia e discussão fazem parte do processo democrático. “A cidadania é o
exercício permanente de participação”, afirma. No Brasil, todavia, instâncias
intermediárias, destinadas a aproximar o escolhido pelo voto e o cidadão, não
são levadas muito em conta. “Essas práticas foram construídas pelos governos do
PT e num período ainda mais recente nos descuramos um pouquinho da importância
dessas práticas”, afirmou o economista. Exemplos positivos dessas práticas são o
Orçamento Participativo e os conselhos.
“Os conselhos têm representação
do todo, portanto são fundamentais para a construção da vida democrática”, diz
Belluzzo. E são particularmente importantes num Estado que ganha complexidade, e
onde a burocracia tende a se autonomizar.
Para que o Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) funcione, o fundamental é a
“diversidade de pontos de vista e de formação”, opina.
Papel de
coordenação do Estado “A tentativa de separar o Estado e o mercado é uma
dicotomia falsa”, afirma Belluzzo. “Como dizia Fernand Braudel, não há
capitalismo sem Estado.” E a agenda do Estado, segundo ele, tem de ser a de
coordenar um mercado que não tem tendência a gerar bons resultados do ponto de
vista da equidade; não tem tendência à estabilidade; nem permite projetar uma
economia de longo prazo. O Estado deve restabelecer suas três funções: de
“corretor de desigualdades”; de “evitar o excesso de instabilidade econômica”; e
de planejar a longo prazo.
Reformas estruturantes Desde o
governo Lula, Belluzzo, Delfim Netto e o ministro Guido Mantega se reúnem
regularmente para debater a economia – antes com Lula, agora com a presidente
Dilma Rousseff. Desde então, as preocupações se concentram em três questões,
segundo Belluzzo: “a relação perversa que o Brasil tinha entre a taxa de juros e
o câmbio, com câmbio muito valorizado e taxas de juros muito altas”; em
decorrência, a saída da “estrutura de fornecimento” do país (o fornecimento
interno passa a ser feito pelo exterior), que tem um efeito inflacionário
potencialmente grave, se ocorre a desvalorização cambial; e uma infraestrutura
atrasada que onera muito fortemente a exportação do país.
Para Belluzzo,
o Brasil se comportou “razoavelmente bem” no pós-crise de 2008 – “aliás, acho
que muito bem”, retifica – e a presidente Dilma tem feito um grande esforço para
quebrar essa “relação perversa” entre juros e câmbio, que é um “convite para que
as empresas tomem empréstimos em moeda estrangeira”. “Nós já assistimos esse
filme várias vezes, provavelmente desta vez não vamos sofrer tanto, porque temos
US$ 375 bilhões de reservas”, ressalva. De qualquer forma, é uma equação que
traz um alto grau de instabilidade.
A infraestrutura brasileira estagnou
na década de 70, na crise da dívida externa brasileira, e hoje exibe enormes
gargalos. É um enorme ônus para as exportações brasileiras, afirma o
economista.
A presidente Dilma “tem clara a questão de longo prazo”, diz
Belluzzo, mas enfrenta uma série de dificuldades, inclusive a de governar em um
momento em que a conjuntura “tapeia”, ou seja, obscurece, a questão mais
importante, que é macroeconômica. Um dos enganos colocados pela conjuntura,
exemplificados por Belluzzo, é a falsa ideia de que a economia brasileira vai se
tornar uma economia de serviços. “Esta é uma fuga da realidade”, afirma. “Os
americanos e os europeus, neste momento, estão desesperados para se
reindustrializar”.
“Durante 30 anos marcamos passo na questão da
industrialização”, afirmou. Nessas décadas, a indústria mundial mudou
completamente e hoje está concentrada na Ásia e na China. As cadeias produtivas
foram internacionalizadas. “E o Brasil ficou à margem do processo de
internacionalização produtiva”, afirma.
Para Belluzzo, a reintegração
produtiva do país recoloca, neste momento, a questão do protecionismo. Dilma
defende, por exemplo, que a exploração do petróleo na camada de Pré-Sal seja
condicionada a uma forte demanda de conteúdo nacional. “Aí os conservadores
dizem: não, isso é coisa atrasada. Não é atrasada: eles que são atrasados, pois
na verdade, para manter e desenvolver e até atrair o capital estrangeiro (...)
você precisa desse tipo de política”, afirma. E o fato é que, desde os anos 70,
o Brasil vive um declínio sistemático da indústria.
A questão a ser
resolvida num processo de desenvolvimento, para Belluzzo, é a educação – não
necessariamente a educação técnica, mas fundamentalmente a educação cidadã. “É
preciso a formação de cidadãos, para que não se forme o especialista
idiotizado”, diz. “Você não pode ter um país desenvolvido sem ter um cidadão
capaz de compreender”.
“O meu maior medo”, diz Belluzzo, “é que o Brasil
vire um país rico, próspero, mas com uma população insuficientemente formada e
com baixo nível cultural”. Isto, segundo ele, não é defender uma ilustração das
pessoas, mas “a capacidade de compreensão e de julgamento”.
Estado de
Bem-Estar foi derrotado “O neoliberalismo não é um produto de [Ronald]
Reagan ou [Margareth] Thatcher, é produto da derrota da luta social. Foi essa
derrota que permitiu a ascensão de Reagan e de Thatcher”, afirma o professor.
Ele afirma que, em no final dos anos 60, meados dos anos 70, “começou a haver um
certo incômodo (...) com o poder dos sindicatos, com a interferência do Estado,
ou seja, as classes dominantes e dirigentes começaram a se sentir incomodados
dentro do espartilho que o Estado lhes colocava, com o poder do sindicato de
reivindicar etc.”
A primeira coisa que Reagan e Thatcher fizeram, o
pontapé inicial para a retomada do liberalismo, foi derrotar os sindicatos.
“Esse foi o fator fundamental e aí começaram as liberações, começaram a
flexibilizar o mercado de trabalho, fizeram a liberação financeira
etc.”
Pior que 1929 A crise de 2008 repôs um problema tratado
há 70 anos: a coordenação do sistema monetário internacional. Descortinou um
sistema onde a coordenação torna-se impossível, na medida em que os Estados
Unidos, país gestor da moeda de reserva, não assume responsabilidades globais e
os países que não têm moeda conversível pagam pelo choque de qualquer mudança na
política econômica norte-americana.
“Não é possível que os Estados
Unidos, que são os gestores da moeda de reserva e, portanto, têm
responsabilidades globais, tomem decisões em função de seus interesses que
desorganizam a economia de todo o mundo”, diz Belluzzo. “Você não faz nada de
errado, mas você leva o choque de qualquer mudança na política
americana”.
Para o economista, a crise atual remete à mesma discussão
sobre o sistema monetário que se repete há 70 anos, sem que nada importante
tenha efetivamente acontecido. Como as instituições multilaterais não cumprem o
papel regulador, “cada um toma a atitude que acha conveniente”. “Não aconteceu
nada em relação aos desequilíbrios internacionais, nem à questão da
regulamentação ou do controle do sistema financeiro”, conclui.
A grande
crise do Século XXI também traz como desvantagem o fato de não ter produzido
nada de novo, ao contrário da crise de 1929, que resultou em reformas
importantes. “Os governos [apenas] protegeram seus sistemas bancários, impediram
o que seria catastrófico, uma brutal desvalorização (...), mas não fizeram mais
nada. Deixaram tudo como está.”
Uma religião chamada
economia “A economia é uma forma de conhecimento que, hoje em dia, se
aproxima muito da religião, porque transformou certas coisas em dogmas”, afirma
Belluzzo. E esses dogmas dominam as cabeças da maioria dos economistas formados
nas melhores escolas americanas e europeias. O domínio ideológico da escola
econômica neoliberal tem o poder de impedir grandes mudanças, segundo o
professor. “Hoje se pode fazer pouca coisa para avançar, mas não se pode vencer
o que está encastelado nas finanças e nas universidades que servem às finanças”,
diz Belluzzo.
Essa predominância constitui um verdadeiro “bloqueio
ideológico” que, somado a debilidades do Estado atual de fazer mudanças,
produzem uma grande dificuldade de governos de fazer política.
“Você não
tem mais um Estado capaz de fazer política”, diz Belluzzo. “O Estado americano,
por exemplo, não passa de um comitê de empresas”, afirma. A exceção fica por
conta do Estado chinês: “Ali se pode ganhar dinheiro à vontade, só que nas
políticas de longo prazo do governo chinês ninguém mexe”.
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