NCeHu
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Os EUA e a conjuntura geopolítica internacional
O novo papel dos EUA depois do início do segundo período
presidencial de Obama tem sido o de afirmar sua liderança no cenário mundial.
Primeiro vai fortalecendo a economia interna em seu país, orientando a liquidez
monetária para o consumo de massas. Depois, impulsiona a corrida tecnológica em
serviços informáticos e de comunicação.
Mario
Burkun*
Carta Maior
13/7/13
A) A economia
O
novo papel dos EUA depois do início do segundo período presidencial de Obama tem
sido o de afirmar sua liderança no cenário mundial.
Primeiro vai
fortalecendo a economia interna em seu país, orientando a liquidez monetária
para o consumo de massas, e depois, impulsionando a corrida tecnológica em
serviços informáticos e de comunicação, manufaturas de bens de capital e
tecnologias limpas, assim como o uso de novas fontes de energia como o gás e o
óleo de xisto.
A diminuição da desocupação de aproximadamente 12% em 2010
para 7% no momento atual leva a situações ideais na expansão do mercado de
trabalho.
Junto a esta evolução do uso de trabalho vivo, se destaca o
crescimento do produto interno bruto em cerca de 2% anual, produto que se
multiplica com o volume do comércio, em seu mercado ampliado do NAFTA, com
Canadá e México.
Isso acompanha uma busca para ampliar as relações de
livre mercado com a União Europeia e com os países da costa do Pacífico da
América Latina como o Chile, o Peru, a Colômbia e a Costa Rica.
Este
papel, no campo da economia, vem acompanhado das modificações que promove e
induz na governabilidade de seus aliados mais próximos ou mais distantes, antes
de tentar resolver as situações estratégicas mais complexas com seus oponentes
históricos.
B) A governabilidade internacional
Em uma
análise de políticas crítica quanto ao realismo político dos republicanos e do
primeiro período de Obama com propostas difíceis de colocar em prática, o
chamado soft power da geopolítica de Obama do segundo período escolheu
como primeira região de impacto a Costa do Pacifico, tratando de diminuir as
situações de não resolução dos conflitos de alta intensidade com uma presença
militar dissuasiva.
São um exemplo sua participação como observador e
ator privilegiado em posição de diálogo dissuasivo nas situações de conflito
entre as duas Coreias, ou as provocações entre a China Comunista, o Japão,
Taiwan, Vietnã, as Filipinas pelas ilhas e ilhotes em zonas com recursos
energéticos ou importância de controle geopolítico.
No segundo período de
Obama, também se aprofundou a retirada da força militar como presença direta de
tropas no Oriente Médio, tanto no Iraque como no Afeganistão e a substituição
das mesmas por forças de carácter privado, tropas locais, e avanços tecnológicos
de inteligência e combate fora do terreno operativo. Como exemplo, os Drones de
combate e de informação.
Ao mesmo tempo, a intenção de substituir as
formas mais opressivas de governos aliados, coibindo-os, gerando conflitos
internos ou guerras locais com presença indireta de tropas próprias ou
substituídas por aliados da OTAN.
Os exemplos são o conflito no norte de
África, como Túnis ou Líbia. As situações no Egito, Mali ou Somália. Em outro
plano, mas sob as mesmas premissas, o freio à participação de Israel em Gaza, ou
na tentativa de desatar uma guerra com o Irã.
Mantendo este raciocínio,
seu papel foi importante na nova formulação das situações internas na Síria,
levando ao limite da fragmentação territorial ou da irrupção das mobilizações
via redes sociais e das massas nas ruas na Turquia, Egito e, com maior controle,
no Iêmen e Emirados.
Este esquema complexo não fica fácil nem exitoso em
relação aos propósitos iniciais. Entretanto, a constatação do quanto é
“pantanosa” a região do Oriente Médio em relação às formas de governabilidade e
que uma instabilidade pacífica e não em guerra declarada é melhor e é parte do
reconhecimento de que os conflitos armados só têm vencedores circunstanciais e
de curto prazo que geram uma situação de crise permanente, cada vez mais
dominada por setores fundamentalistas entre todos os participantes.
Essa
tentativa de poder imperial em um novo mapa de representação se manifesta também
na Europa. A ampliação da União Europeia se ressente pelas dificuldades para
resolver a crise financeira e o desemprego nos países da União Europeia,
especialmente entre os jovens.
Indignados e desempregados manifestam sua
inconformidade política na Grécia, Portugal, Espanha, Suécia, Itália, França,
Bélgica, Eslovênia condicionando as políticas de ajuste da Troika (Banco Central
Europeu, FMI, Comissão Econômica União Europeia).
Isto, acompanhado da
centralidade da Alemanha e seu grau de concentração financeira e produtiva,
desequilibra as possibilidades de compensar as regiões na distribuição dos
resultados dos ajustes neoliberais e das rigidezes fiscais entre a base do
Mediterrâneo e o centro norte europeu.
Enquanto isto acontece, os EUA
tentam controlar seus aliados informações de inteligência estratégica, com um
propósito similar a uma nova guerra fria na qual se sente imerso diante da
expansão da Rússia na região natural da ex-União Soviética e da formulação
política de uma aliança entre os componentes dos BRICS.
Enquanto isso, na
economia, reiteramos que está desenvolvendo o acordo de livre comércio com a
União Europeia, o que vem a ser o maior mercado mundial de comércio e produção
no mundo globalizado, ampliando o NAFTA + Chile – Peru – Colômbia - Costa Rica -
México, induz a crise financeira com a informação que transmitem as avaliadoras
e qualificadoras de risco sobre a veracidade dos dados de política fiscal, os
graus de endividamento bancário em papeis "tóxicos" e a descapitalização dos
ativos financeiros.
Esta desestabilização facilita o alinhamento político
e a consolidação de situações de controle para a "guerra" dos tipos de câmbio
entre o dólar estadunidense, o Euro e o Iene.
C) A relação com América
Latina
A tensão criada pela atitude de manejo unilateral sobre
informação sensível no geopolítico e econômico sobre a região se multiplica
permanentemente.
A maior atenção sobre os comportamentos e atitudes dos
governos da região, em especial no que se refere aos processos de integração
como o MERCOSUL ampliado com a Venezuela, a Bolívia e o Equador.
Assim
como a conflitiva atitude surgida pela interrupção violenta do voo do presidente
da Bolívia, em seu regresso de uma reunião sobre temas energéticos na Rússia,
são amostras do ressurgimento de um controle supranacional com sinais alarmantes
para a democracia representativa nos países com governos de formas
nacional-populares.
O outro aspecto preocupante é a visão de conflito na
competição pelos recursos naturais, em especial com os investimentos dos BRICS
como a China, a Rússia e o Brasil na América Latina e na África.
No
momento, os EUA mantêm como temas relevantes na região os de segurança urbana,
como a delinquência em estupefacientes, os de delitos internacionais, como os de
lavagem de ativos líquidos, produto de ilícitos internacionais, ou os de tráfico
e sequestro de pessoas e violações de direitos humanos em sentido amplo do
termo.
Somente no último período manifesta-se em temas estratégicos como
o da geopolítica no Atlântico Sul, a Antártida, os recursos como minerais raros,
a energia não convencional e a transferência de tecnologias à zonas de alto
conflito, como o Oriente Médio.
A presença dos EUA deixa de ser apenas de
carácter privado para assumir, cada vez mais, um papel de Estado que impulsiona
desequilíbrios em casos de assimetrias na governabilidade em situações locais
não favoráveis.
Talvez o maior interesse apareça na análise do manejo das
tensões sociais no Brasil. Já que a dimensão desta Nação a coloca como um sócio
estratégico que poderia ser um opositor potencial caso as relações de amizade
deixassem de ter um carácter cordial e passassem a ser de disputa, com posturas
e práticas desleais.
A dificuldade atual para que o Brasil aceite as
premissas do soft power democrata para a governabilidade regional e se
rebele a uma mimetização social e cultural pode significar uma relação de
conflito mais explícito e relevante.
A outra vinculação historicamente
privilegiada para a política exterior de EUA é a existente com o México. Relação
cujo caráter ontológico é a base Antropológica Cultural da população e do
território comum.
Ao mesmo tempo em que se mantém continuamente o
sentimento e a subjetividade de amor e ódio, de discriminação e de integração,
de dependência e de formas multiculturais.
O México representa a inserção
do mercado ampliado na América Latina, com seus efeitos econômicos,
populacionais, de controle da tensão social e de governabilidade.
Para a
presença dos EUA é primordial um manejo de baixa conflitividade que permita um
papel subalterno com a América Central e o Caribe.
Resta analisar a
subsistência no tempo, com escassas modificações da política exterior com
respeito a Cuba. O que pode ser produto de uma falsa concepção a respeito do
nível de consciência do povo cubano.
A esperança de uma modificação
política substancial com a finalização da liderança de Castro parece não ter
resposta cronológica a curto prazo. A atitude de não reconhecimento e bloqueio
da situação gera um anacronismo político regional que não facilita um vínculo
integrador em uma política de conjunto.
D) Conclusão
É
provável que uma estratégia mais racional seria mais adequada para uma
conjuntura de crise e de encorajamento dos conflitos na América Latina, que
podem ter repercussões mais serias que as do Oriente Médio nos EUA.
A
proximidade geográfica e a complexidade econômica estão menosprezadas em sua
importância em momentos de inflexão do ciclo econômico internacional.
Uma
não integração política que contemple a intersubjetividade pode levar a que a
região entre em um impasse de governabilidade que dificulte um crescimento
inclusivo e que fragmente e separe a região da América do Norte da América do
Sul, gerando uma zona tampão com a América Central e o Caribe.
A dimensão
desta tensão produz formas de dominação que procuram submissões, cuja rejeição
impulsa os processos nacional-populares a uma integração conflitiva do
continente, com sequelas na geopolítica internacional.
O conteúdo da
mensagem de uma teoria política de poder suave se desvirtua com o empirismo
próprio à não aceitação de relações sociais que buscam expressões de liberdade
em marcos democráticos respeitosos ou dignificadores, dos sujeitos da práxis de
transformação.
A tentativa de continuar a mutação das formas de governo
que controlam a tensão social para esvaziar os conteúdos revolucionários de
transformação à emancipação social se manifestam no Oriente Médio, na Europa e,
especialmente, na América Latina.
Esta estratégia dos EUA demonstra a
falta de percepção de fenômenos que podem levar a políticas de fragmentação
social e dissociação entre a consciência social democratizadora ou o
conservadorismo fundamentalista.
Alcançar uma transformação democrática
da governabilidade, com respeito às diferenças e protagonismo dos que
historicamente foram subjugados pela pobreza e discriminação, é o objetivo dos
movimentos sociais que buscam relações políticas compatíveis com o momento
histórico.
Mario Burkun é
professor da Universidade de Buenos
Aires
Tradução:
Liborio Júnior
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