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Novo regimento de Pós-graduação da
USP incorpora a lógica produtivista
Será votado nesta quarta-feira (28) o novo
regimento da Pós-graduação da Universidade de São Paulo, sem que alunos tenham
opinado sobre as modificações. Foi marcado um ato de protesto em frente à
Reitoria. O conceito de produtividade, numérico, substitui o conceito
qualitativo de produção. Pró-reitoria diz que intenção do novo regimento é
internacionalizar pesquisa e produção da pós-graduação, seguindo exemplos de
universidades como Harvard e Oxford.
André Cristi e Caio Sarack
www.cartamaior.com.br
28/3/12
São Paulo - A reitoria da
USP propôs através da sua pró-reitoria de Pós-Graduação a alteração do regimento
que normatiza todas as questões referente aos títulos de mestres, doutores e
especialistas, bem como a duração de pesquisa e critérios de qualificações. O
regimento anterior data de 2009 e já tinha um caráter de pouca representação
democrática, visto que sua alteração foi só debatida nos ambientes formais da
Pós-Graduação e não de forma a alcançar todos os afetados pelo novo regimento.
Isto se repete neste ano: o debate do regimento de 2012 começou à revelia dos
seus alunos e principais afetados.
A pró-reitoria da Pós afirma que a
intenção do novo regimento é internacionalizar a pesquisa e a produção da
pós-graduação. Isto faria, segundo ela, com que a USP caminhasse para ser igual
às universidades inglesas e americanas melhores ranqueadas na avaliação de
Ensino Superior, como Harvard e Oxford.
A professora e doutora em
Geografia Humana Rita Cássia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas(FFLCH), produziu um texto sobre as alterações. No texto,
(http://scienceblogs.com.br/eccemedicus/2012/03/usp-universidade-classe-mundial/), ela contesta os argumentos da Pró-Reitoria da Pós e
rejeita a afirmação de que a mudança de regimento seria um avanço para a
universidade. Para ela, é inadequado comparar os números da USP com os seus
pares do Primeiro Mundo, já que existem diferenças estruturais entre as
instituições, a começar pela idade delas: da Oxford, milenar, contra os
recém-chegados 70 anos da Universidade de São Paulo.
Além, é claro, da
renda por aluno de Pós, que no caso da USP é de R$ 39.473,68 anuais, e na mesma
Oxford é de R$150.000, 00. Isto, entretanto, não tira da USP sua posição de
instituição que mais forma doutores no mundo.
A professora nota uma
lógica produtivista nas mudanças propostas: “É nesse contexto que assumimos
uma lógica empresarial de avaliação, fundada não somente na produção, mas
sobretudo e principalmente na produtividade. Paradoxalmente, enquanto o setor
produtivo se flexibiliza, supera o paradigma fordista e incorpora princípios
toyotistas, a vida cotidiana na universidade volta-se para a produção em massa,
além de tornar-se cada dia mais inflexível!”
Quando procurada para falar
sobre os levantamentos da professora Rita, a Reitoria respondeu em
e-mail:
“A Pró-Reitoria de Pós-Graduação poderá se pronunciar para
elucidar essas questões após a sessão do Conselho, que ocorrerá amanhã (hoje),
dia 28”
Este Conselho, no entanto, será deliberativo. É nessa instancia
que será votado o novo regimento.
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