Moradores da Patagônia chilena
denunciam forte repressão policial
Moradores de Aysén saíram às ruas nas últimas
semanas para protestar alto custo de vida, escassez de serviços básicos, falta
de hospitais e de conexão de transportes. Assim como ocorreu com os protestos
estudantis, o governo chileno respondeu com forte repressão policial. O
coordenador nacional dos observadores na região, Rodrigo Triviño, disse que “há
mais de 400 efetivos de carabineros atuando com violência desmedida”, e
denunciou invasões de domicílio sem ordem judicial e uso de bombas de gás
lacrimogêneo dentro das mesmas.
Santiago - Aysén é
uma zona linda, uma das mais atrativas da América do Sul, mas seus habitantes
vivem ilhados devido à excessiva centralização que historicamente afeta o Chile.
Depois de mais de 20 anos de inércia por parte da classe política e do modelo
neoliberal, que aprofundou o isolamento, os seus habitantes saíram para
protestar nas ruas pelo alto custo de vida, escassez de serviços básicos, falta
de hospitais e de conexão de transportes.
Eles exigem do atual governo
de direita, presidido pelo empresário Sebastián Piñera, soluções para suas
demandas. Não obstante, como de costume, o palácio de La Moneda não soube
responder às demandas sociais, como aconteceu no ano passado com o Movimento
Estudantil, que exige uma melhor qualidade na educação pública.
Novamente as autoridades do Estado chileno privilegiaram a resposta das
Forças Especiais de Carabineros que reforçaram a repressão em uma zona onde, até
há pouco, não existia este terrível costume.
Os observadores de Direitos
Humanos chegaram à zona austral de Chile e comprovaram a ação da polícia: alguns
de seus membros foram detidos. A violência, no entanto, está longe de terminar,
pois três habitantes do povoado de Porto Aysén tiveram que ser levados a
Santiago pelos golpes recebidos dos Carabineros. Um homem inclusive perdeu um
olho atingido por uma bala de borracha, usada na repressão aos
protestos.
O coordenador nacional dos observadores na região, Rodrigo
Triviño, disse que “há mais de 400 efetivos de Carabineros atuando com violência
desmedida”, e denunciou invasões de domicílio sem ordem judicial e uso de bombas
de gás lacrimogêneo dentro das mesmas.
Além disso, declarou que dispõe de
provas de que a força policial utilizou balas de aço e que, em consequência, há
três pessoas com os olhos mutilados na região, além de outros feridos que não se
aproximam do Hospital por medo de serem detidos pelos Carabineros no
local.
Isto também foi registrado pelos Deputados da Comissão de Direitos
Humanos, que elaboraram um contundente pré-relatório. Segundo o deputado do
Partido Socialista, Fidel Espinoza, a situação em Aysén é grave.
“Quero
deixar registrado que em Aysén estão sendo cometidas graves violações aos
direitos humanos. Existe uma repressão desmedida por parte da Força Especial de
Carabineros e a situação é bastante delicada, especialmente com esta política
repressiva do governo de Piñera, aplicada minuciosamente pelo seu ministro do
Interior”, afirmou.
Estes fatos foram denunciados especialmente pelas
redes sociais e meios de comunicação independentes.
“Existem graves
violações dos direitos humanos, mais de 200 feridos pela brutalidade policial
exercida especialmente pela repressão excessiva e fora de toda lógica das Forças
Especiais de Carabineros. Constatamos estas e muitas outras situações que
entregaremos em um relatório contundente à comissão de direitos humanos. Isto
deve terminar o quanto antes”, assinalou Espinoza.
Durante sua
permanência em Aysén, Espinoza também esteve em Coyhaique - capital da Região de
Aysén -, onde se reuniu com o chefe dos Carabineros da zona e lhe expôs tudo o
que foi observado, fazendo-o ver que a instituição que dirige na região existe
para proteger os cidadãos e não para reprimi-los da forma selvagem com a qual
está sendo aplicada a política repressiva deste governo.
Diante disso,
Fidel Espinoza formulou um forte e enérgico chamado ao Presidente da República:
“Presidente, nestas regiões não se aparece para pedir os votos, mas para
solucionar os problemas. Venha a Aysén e deixe de enviar ministros que, além de
tudo, faltam com o respeito à cidadania“, declarou visivelmente
incomodado.