Asunto: | NoticiasdelCeHu 1261/11 - Um mundo de torturadores: a crueldade dos Estados (Eduardo Febbro) | Fecha: | Viernes, 30 de Diciembre, 2011 13:12:41 (-0300) | Autor: | Noticias del CeHu <noticias @..............org>
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NCeHu
1261/11
Ref.: 1256, 1257,
1259 y 1260
Um mundo de torturadores: a crueldade
dos Estados
Dos 194 Estados integrantes das Nações Unidas, cem deles
praticam regularmente a tortura, seja como meio para obter informações ou
confissões, seja como metodologia para fazer reinar o terror. Síria, Egito,
Argélia, Chile, Argentina, Brasil, Cuba, Estados Unidos, França, Espanha, China,
Vietnã, índia ou Rússia: não há continente que esteja livre dessa barbárie. Esta
é a vergonhosa conclusão do informe “Um mundo de torturadores”, publicado na
França pela ONG Ação dos Cristãos Contra a Tortura.
Eduardo
Febbro - Página/12
www.cartamaior.com.br
30/12/11
O século XXI segue sendo um mundo de torturadores. Dos 194
Estados integrantes das Nações Unidas, cem deles praticam regularmente a
tortura, seja como meio para obter informações ou confissões, seja como
metodologia para fazer reinar o terror. Síria, Egito, Argélia, Chile, Argentina,
Brasil, Cuba, Estados Unidos, França, Espanha, China, Vietnã, índia ou Rússia:
não há continente que esteja livre dessa barbárie. Esta é a vergonhosa conclusão
do informe “Um mundo de torturadores”, publicado na França pela
organização não-governamental Ação dos Cristãos Contra a Tortura
(ACAT).
As vítimas das torturas têm uma identidade comum a todos os
países: jornalistas, sindicalistas, opositores políticos, advogados, blogueiros,
membros de minorias étnicas ou religiosas, defensores dos direitos humanos,
membros de ONGs. O retrato apresentado pela ACAT mostra que, ao invés de recuar,
a tortura vem se mantendo em níveis altíssimos, apesar da “reconversão” de
muitas ditaduras à democracia liberal. Jean-Etienne de Linares, delegado geral
da ong ACAT França, destaca que não restam muitas zonas do mundo em relação às
quais seja possível ter ilusões: “queremos acreditar que o uso da tortura é uma
prática reservada aos regimes autoritários. Mas estes não têm a exclusividade
desses crimes e os principais países reconhecidos como democráticos estão longe
de ficar isentos de críticas nessa matéria”.
O mais assombroso reside em
que essa prática degradante e assassina nem sequer conta com uma definição
coerente. O informe da ACAT recorda que embora “o direito internacional forneça
indicações” sobre a tortura (Artigo 16 da Convenção contra a Tortura), “é
impossível estabelecer uma distinção nítida entre o que é tortura e o que pode
ser considerado como penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Seja
como for, o informe da ONG oferece um catálogo universal da crueldade dos
Estados.
A queda de regimes como o tunisiano, o egípcio e o do Iêmen, ou
as revoltas na Jordânia e Síria permitiram lançar luz sobre as formas pelas
quais esses governos torturavam e torturam seus povos. O mesmo ocorre com as
grandes “democracias” como a Índia, o Paquistão, o Irã ou com países com alto
desenvolvimento econômico como a China: opor-se a qualquer desses poderes, em
qualquer escala, significa passar pelo patíbulo da tortura. Nem sequer as
revoluções democráticas se salvam desse horror. Um exemplo patético é o da Costa
do Marfim, onde os dois lados, o do ditador Laurent Gbagbo e o do suposto
democrata Alassame Ouattara, recorreram com igual intensidade à tortura e às
execuções primárias.
No que diz respeito à América Latina, o capítulo
consagrado ao Chile é um dos mais comprometedores devido ao caráter político da
tortura. A investigação da ACAT observa que a mobilização social iniciada em
maio de 2011 pela mão dos estudantes se chocou com uma “repressão
particularmente violenta por parte das forças da ordem”. O informe assinala que,
no Chile, “o fenômeno da tortura perdura contra os militantes dos movimentos de
contestação e contra certos povos indígenas como os Mapuches e os Rapa
Nuis”.
O Brasil também merece uma péssima menção. Apesar de o país ter
adotado os principais instrumentos para prevenir a tortura, esta segue sendo
“uma prática rotineira no interior das Forças de Segurança”. O texto da ACAT
assegura que “as principais vítimas da tortura no Brasil são os camponeses e os
membros das comunidades indígenas que reivindicam o direito á terra, os
defensores dos direitos humanos e os jornalistas”. O informe diz que “a tortura
segue sendo empregada com total impunidade”, tanto mais na medida em que “o
sistema federal não facilita a harmonização das legislações nessa matéria”.
A ACAT destaca o fato de que os mecanismos nacionais necessários para
que se aplique a Convenção contra a Tortura “ainda não foram instalados”.
Segundo a ONG, os principais atores da tortura são as três polícias de Estado:
“polícia civil, polícia federal e polícia militar”. O trabalho da ONG é
particularmente crítico com as condições de prisão e detenção nas prisões
brasileiras (muito especialmente no Estado do Espírito Santo), qualificadas como
“tratamentos cruéis, desumanos e degradantes”.
Peru, Colômbia e Venezuela
formam um trio onde a tortura é regularmente utilizada. No Peru, camponeses,
indígenas e líderes sociais são objeto de frequentes torturas. Na Colômbia, a
“tortura é uma prática generalizada” enquanto que, na Venezuela, “a tortura é de
uso corrente no interior dos serviços de segurança do Estado”. Honduras, Cuba e
México integram outro trio denunciado pela ACAT. Segundo o informe, a derrubada
do presidente Manuel Zelaya deu lugar a “um recrudescimento repentino e massivo
da tortura”. Em relação a Cuba, a ACAT sustenta que, apesar das afirmações de
Fidel Castro e Raúl Castro, “os maus tratos e as humilhações fazem parte dos
métodos de repressão utilizados sistematicamente pelo regime cubano”. Quanto ao
México, o informe diz que as primeiras vítimas da tortura são “as pessoas
críticas ao governo e aqueles que denunciam os abusos da classe política”.
A Argentina não foi examinada no informe. Mas em uma nota interna, a
ACAT aponta a persistência desse ato de barbárie nas mãos da polícia. A ONG
escreve que embora “a democracia tenha provocado a interrupção quase total das
ações contra os membros da oposição, isso não impediu que a polícia siga
recorrendo de forma frequentemente rotineira à tortura como técnica de
interrogatório contra os prisioneiros de direito comum”.
Após um percurso
horripilante através da geografia mundial da tortura, o informe chega às margens
das quatro grandes democracias: Estados Unidos, Espanha, França e Inglaterra.
Sobre os EUA, a investigação da ONG recorda as violações dos direitos humanos
cometidas fora das fronteiras do país em nome da guerra contra o terrorismo. No
entanto, ressalta o mesmo informe, isso “não deve ocultar a situação
extremamente preocupante que reina dentro do território norteamericano”. A
Espanha figura no quadro pelas condições de prisão, violência contra imigrantes,
expulsões com maus tratos e abusos policiais.
A França tampouco escapa:
tratamentos indignos e degradantes e inclusive torturas, assim como práticas de
uma violência cega contra os imigrantes ilegais foram denunciados numerosas
vezes. Quanto a Inglaterra, os casos de tortura se localizam fora do território
e se inscrevem no marco da já incongruente luta contra o terror. A queda do muro
de Berlim e a desaparição progressiva das ditaduras da América Latina não
parecem ter transmitido os ensinamentos sobre os limites do horror. A tortura
sede sendo um instrumento do poder e de poder. Os carrascos conservam sempre um
grau de impunidade absoluto.
Tradução: Katarina Peixoto
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