TURISMO E ENSINO: APROXIMAÇÕES E POSSIBILIDADES.

Claudemira
Azevedo Ito
Departamento de
Geografia
Faculdade de Ciências
e Tecnologia de Presidente Prudente-Unesp
Resumo
Este
trabalho trata de dois momentos da história do turismo, com diferenças marcantes
quanto à época e perfil do viajante, mas com motivações similares, relacionadas
especialmente ao conhecimento.
O
período entre os Séculos XVI e XVIII foram fundamentais para fortalecer a
associação entre Turismo e conhecimento, pois nesta época onde os meios de
comunicação eram precários, havia pouca circulação de livros, o “tour” foi a forma encontrada para
“conhecer o mundo. Aprender línguas, Geografia, História, Sociologia entre
outras era realizado através do “Grand tours”. Estes, viagens de ida e volta, eram
praticados por jovens da elite acompanhados de professor particular. No final do
Século XVII o turismo era prática restrita aos jovens filhos da aristocracia e
da pequena nobreza, pois havia a convicção de que viagens atraiam viagens, o que
contribuiu para criar o costume das famílias ricas em mandar seus filhos em
viagens com o objetivo de aprenderem línguas, além de “edificar-se e
distrair-se”.
O ritmo e velocidade do deslocamento faziam com que o viajante tivesse maior
contato com o lugar, as condições atmosféricas sentidas na pele, o seu olhar se
detinha nos detalhes da paisagem: profundidade dos vales, meandros dos rios,
formato dos platôs e picos, cor da rocha e do solo, diversidade e tamanho das
espécies da fauna e da flora, enfim, a observação do olhar, capturava nuances e
cores que passam desapercebidas na velocidade dos automóveis e aviões dos
turistas contemporâneos.
A
união entre turismo e conhecimento criado pelo Grand Tourist dos Séculos XVII e
XVIII merece atenção, pois com o grande crescimento do turismo em nível mundial
nos dias atuais, o turismo formatado pelas operadoras e agências de viagens,
atende preferencialmente à demanda de lazer de massa. Existem, sem dúvida,
roteiros culturais e de conhecimento, mas em muito menor número, com foco no
público que viaja com os mesmos objetivos do Grand Tourist-
aprender.
Hoje,
dentro da segmentação do mercado de turismo o “Turismo Pedagógico” tem a sua
motivação no processo ensino aprendizado. Caracteriza-se pelas viagens com fins
educativos e não de lazer, mas sempre privilegiando o lúdico e diversão. Seus
defensores afirmam que a viagem dá um encantamento para a educação, pois motiva
os alunos em ambiente diferente da escola.
O Turismo
Pedagógico deve ser organizado e desenvolvido por equipes multidisciplinares
formadas por Bacharéis em Turismo e Professores de diversas áreas. O projeto
deve contemplar atividades com algum tipo de deslocamento do ambiente escolar,
como por exemplo, visita a museu, a indústria, a parque ou participação em
acampamento. Esta vivência prática reafirmará conceitos construídos na sala de
aula, também possibilitará maior interação entre os alunos e contribuirá no
processo de ensino e aprendizagem através de aulas mais dinâmicas, pois
aproximará o professor do aluno, onde este terá mais possibilidades de expor
conceitos e informações adquiridas fora da sala de aula.
O
turismo pedagógico pretende resgatar o sentido do Grand Tourist, que viajava
contemplando, anotando suas observações e descobertas, saboreando os lugares com
suas particularidades e simularidades, onde viagem era sinônimo de conhecimento
e saber, e não de consumo.
Grand
Tour: Viagem para o prazer do conhecimento.
A
curiosidade e a necessidade dos homens em conhecer e descobrir lugares e povos
diferentes impulsionaram, desde longa data, as viagens. Desde os tempos mais
remotos as viagens se constituíram em grande fonte de conhecimento e
descobertas. Segundo Barretto (1995) a gênese do Turismo não encontra consenso
entre os autores: Teria nascido nas atividades dos Fenícios, gregos ou entre
outros povos. Os romanos teriam contribuído com a construção de estradas, spas e
termas. No mundo cristão as peregrinações a Jerusalém, a Roma e o túmulo de
Santiago merecem destaque na História do Turismo.
Na
Antiguidade e na Idade Média, aos poucos, foram muitas as contribuições para o
incremento das viagens, paulatinamente com o desenvolvimento técnico e o
crescimento do conhecimento geográfico as viagens foram se tornando mais
freqüentes e mais longas. Apesar do desconforto pela falta de estradas, pousadas
e lugares de repouso e alimentação ao longo das rotas, gradativamente o fluxo de
viagens aumentou.
As
motivações eram fundamentalmente associadas ao comércio, à fé e à conquista de
riquezas, ou seja, os viajantes eram mercadores, peregrinos ou
aventureiro/explorador. Haviam, ainda, os clérigos e representantes do senhores
feudais ou dos reis que seguiam as rotas em missão oficial ou de fé. Até o
Século. XV, poucos viajavam em busca do prazer, Barretto, cita o exemplo dos
visitantes de Baden-Baden, na Alemanha.
O
período entre os Séculos XVI e XVIII foram fundamentais para fortalecer a
associação entre Turismo e conhecimento, pois nesta época onde os meios de
comunicação eram precários, havia pouca circulação de livros, o “tour” foi a forma encontrada para
“conhecer o mundo. Aprender línguas, Geografia, História, Sociologia entre
outras era realizado através do “Grand tours” ou “Petit tours”.
Salgueiro
(2002) apoiado em pesquisa em diários de viagens do Século XVIII traçou o perfil
deste fenômeno social da época, Nestes relatos de viagens foram destacados os
destinos, as rotas, os meios de transporte e hospedagem, assim como os guias de
viagem. Salgueiro, afirma que trata-se de um novo tipo de viajante, que surgiu
no Século XVIII, fruto das manifestações e transformações da Europa do e da
Revolução Industrial. p. 291:
Trata-se
aqui não do viajante de expedições de guerras e conquistas, não do missionário
ou do peregrino, e nem do estudioso ou cientista natural, ou do diplomata em
missão oficial, mas sim do grand tourist, conforme era chamado o viajante
amante da cultura dos antigos e de seus monumentos, com um gosto exacerbado por
ruínas que beirava a obsessão e uma inclinação inusitada para contemplar
paisagens com seu olhar armado no enquadramento de amplas vistas panorâmicas,
compostas segundo um idioma permeado por valores estéticos sublimes. Um viajante
dispondo acima de tudo de recursos e tempo nas primeiras viagens registradas
pela historiografia da prática social de viajar por puro prazer e por amor à
cultura. A viagem por prazer, não como um ato isolado por um ou outro viajante
mais excêntrico e curioso, mas sim como um fenômeno social,
configurando fluxos com origens e, sobretudo, destinos específicos, na verdade
começou a assumir seus contornos já ao final do século 17. Salgueiro
(2002:291)
Os
“tours”, viagens de ida e volta, eram praticados por jovens da elite
acompanhados de professor particular. Segundo Salgueiro (2002) no final do
Século XVII o turismo era prática restrita aos jovens filhos da aristocracia e
da pequena nobreza, pois havia a convicção de que viagens atraiam viagens, o que
contribuiu para criar o costume das famílias ricas em mandar seus filhos em
viagens com o objetivo de aprenderem línguas, além de “edificar-se e
distrair-se”. p.291.
O
fenômeno do Grand Tour surgiu e se difundiu na Inglaterra, alguns apontam o
isolamento territorial como fator primordial para o desenvolvimento desta
prática. Outros afirmam que a situação socioeconômica e de liderança política,
comercial e industrial da Inglaterra foram determinantes para criar um segmento
populacional com condições financeiras de viajar por longos períodos em busca de
prazer e conhecimento sem a necessidade de trabalhar.
Os
destinos e as rotas eram diversos, alguns iam até os Países Baixos e a França.
Entretanto, o circuito completa incluía Paris, e as principais cidades
italianas: Roma, Veneza, Florença e Napoles. No Século XVIII este roteiro
constituía-se uma grande prova de resistência e coragem, e eminentemente
masculina, que durava até três anos. Iniciava com a aventura de atravessar o
Canal da Mancha em embarcação a vela e prosseguiam em carruagens, a cavalo ou a
pé. As travessias de áreas montanhosas, como os Alpes, podiam ser em liteiras
carregadas por trabalhadores montanheses, dependendo das posses do
viajante.
As
acomodações eram sempre muito precárias, faltavam hospedarias e restaurantes. Na
ausência destes serviços buscavam abrigo e alimentação nas residências dos
habitantes locais mediante algum pagamento, muitas vezes encontravam hospedagem
em instalações insalubres e sujas, faziam sua própria comida e tinha que dividir
aposentos com desconhecidos. Somente na cidades maiores, como Roma, haviam
hospedarias consideradas razoáveis para o padrão da época.
Entretanto,
os desconfortos da viagem eram esquecidos diante do prazer da visitação in loco de monumentos históricos e
arqueológicos, assim como do prazer do conhecimento.
A
recompensa a tantos sacrifícios na viagem era a possibilidade de poder verificar
in loco os monumentos que se conhecia até então apenas de ouvir falar, de
ler nos diários de viagem dos outros, ou de ver em livros de estampas que iam
surgindo nos principais pólos culturais europeus. Era tal o interesse do
grand tourist por antigüidades que as dificuldades não chegavam a
propriamente detê-lo em sua avidez por monumentos do passado. No culto ao antigo
característico do século 18 a viagem desempenhou um papel muito importante no
reconhecimento, assim como na descrição e representação visual de monumentos.
Pode-se dizer que foi com os Grand Tours que se iniciaram os estudos
sistemáticos da ainda embrionária ciência da arqueologia e as primeiras
teorizações modernas sobre conservação/preservação de monumentos históricos,
questão que tem atraído tantos debates desde Ruskin e Violet-le-Duc. Sob o olhar
de viajantes que viam no estudo dos antigos o sentido maior de sua viagem,
monumentos puderam ser localizados, identificados e estudados, para serem por
fim tornados conhecidos do público em obras ilustradas e pioneiras de
arqueologia e de história da arte e da arquitetura. Salgueiro
(2002:300)
Este
interesse crescia na medida em que eram reveladas as ruínas das cidades de
Pompéia e Herculano que ressurgiam sob as cinzas e lavas da erupção do Vesúvio
em 79 d.C.. Os objetos recuperados nas escavações eram foco de grande
curiosidade: Estátuas, mobiliários, colunas de mármore, louças eram expostos, e
aguçavam o interesse dos viajantes.
O
objetivo do Grand Tour de ampliar o conhecimento sobre a história e a
arte dos antigos, um hábito aristocrático e altamente em moda, pressupunha a
elaboração de um diário de viagem, e, se possível, a ilustração dos monumentos
observados. A escrita do diário e a ilustração faziam parte de um ritual
metodológico que ia se impondo, cujo ponto alto era a sua publicação, ao retorno
do viajante, o que ampliava o conhecimento e despertava o interesse dos leitores
para novos projetos de viagem e novos conhecimentos. A publicação conferia
também bastante prestígio ao autor, que procurava referir- se a passagens
históricas e a textos da literatura clássica para estabelecer relações com o que
era visto no ato da viagem, pois isso denotava um saber em moda e compartilhado
com o público leitor. Salgueiro (2002: 301)
A
realização da viagem era antecedida de planejamento e estudos. As rotas deveriam
ser em consonância com os temas a serem estudados: Artes, literatura, Geografia,
História, Arquitetura, Botânica entre outras áreas de conhecimento eram
necessárias para o viajante, que deveria ter familiaridade com as temáticas e os
lugares visitados, o que lhe daria maior prestígio social.
A
Aristocracia do Século XVII e XVIII valorizava a arte como elemento fundamental
da sociedade. Deste modo, a arte era parte essencial da viagem, tanto através da
contemplação como da sua produção. Parte dos viajantes eram artista, mesmo que
amadores, outros contratavam artistas para acompanhar e registrar as paisagens e
fatos dos lugares visitados, os desenhos e gravuras eram valorizados como forma
de registro e comprovação de tudo que era visto e descoberto. A produção
artística de pinturas e gravuras tinham como tema central as paisagens
panorâmicas ou particularidades estudos geográficos (vulcão, vales, praia) ou de
interesse histórico (monumentos, fachadas e seus
detalhes).
Essa
necessidade do viajante em registrar e a paisagens e os fatos de viagem
fortaleceu o trabalho dos artistas que retratavam as cidades, seus monumentos,
assim como os campos e os costumes dos povos. O Vedutismo italiano nasce para
atender esta demanda e influencia as artes em toda a Europa. É o olhar do
turista, apreciador de arte e cultura, fomentando o mercado das artes e
determinando estilo. “ Muitos artistas vieram a produzir uma arte específica
para o viajante, trabalhando para um mercado fundado nesse novo hábito dos ricos
— viajar por prazer e para se edificar, tendo o antigo como paradigma.”
Salgueiro (2002:305)
É
importante destacar que este viajante o “grand Tourist”, de gosto e educação
refinada é responsável “ pelo culto ao cenário natural dentro de uma abordagem
estética sublime”
Uma
sensibilidade especial acompanhava, pois, o grand tourist, permitindo-lhe
viver emoções que seriam transportadas para seus relatos e registros visuais. O
trajeto pelo Monte Cenis, por exemplo, conduzia o viajante ao contato com uma
paisagem onde, pela altura das montanhas e precipícios, a visão de uma enorme
distância, avalanches, o frio intenso e a neblina espessa, tudo impressionava
segundo termos como “infinito”, “grandioso”, “interminável”, desconhecidos para
descrever a paisagem pelos que nunca, até então, haviam deixado sua região de
origem, na Inglaterra, França ou Alemanha. Salgueiro (2002:
305)
Neste
sentido, Tuan (1980) ao definir o termo topofilia descreve os laços afetivos dos
seres humanos com o meio ambiente. “ A resposta ao meio ambiente pode ser
basicamente estética: em seguida, pode variar do efêmero prazer que se tem de
uma vista, até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas muito mais intensa,
que é subitamente revelada. A resposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar,
água, terra.” p.107.
O
ritmo e velocidade do deslocamento faziam com que o viajante tivesse maior
contato com o lugar, as condições atmosféricas sentidas na pele, o seu olhar se
detinha nos detalhes da paisagem: profundidade dos vales, meandros dos rios,
formato dos platôs e picos, cor da rocha e do solo, diversidade e tamanho das
espécies da fauna e da flora, enfim, a observação do olhar, capturava nuances e
cores que passam desapercebidas na velocidade dos automóveis e aviões dos
turistas contemporâneos.
A
união entre turismo e conhecimento criado pelo Grand Tourist dos Séculos XVII e
XVIII merece atenção, pois com o grande crescimento do turismo em nível mundial
nos dias atuais, o turismo formatado pelas operadoras e agências de viagens,
atende preferencialmente à demanda de lazer de massa. Existem, sem dúvida,
roteiros culturais e de conhecimento, mas em muito menor número, com foco no
público que viaja com os mesmos objetivos do Grand Tourist-
aprender.
Turismo
Pedagógico
Dentro da
segmentação do mercado de turismo o “Turismo Pedagógico” tem a sua motivação no
processo ensino aprendizado. Caracteriza-se pelas viagens com fins educativos e
não de lazer, mas sempre privilegiando o lúdico e diversão. Seus defensores
afirmam que a viagem dá um encantamento para a educação, pois motiva os alunos
em ambiente diferente da escola.
Rodrigues
(2008) fundamentando-se em diversos autores afirma que o turismo pedagógico “é
aquele que serve as escolas em suas atividades educativas que envolvem as
viagens, cuja finalidade é o conhecimento”, baseando-se em Fonseca Filho (2007)
ainda, enfatiza o caráter pedagógico, mesmo havendo momentos de lazer, pois a
prática educativa estimula e sensibiliza os estudantes sobre o respeito aos
monumentos e patrimônios culturais.
O Turismo
Pedagógico deve ser organizado e desenvolvido por equipes multidisciplinares
formadas por Bacharéis em Turismo e Professores de diversas áreas. O projeto
deve contemplar atividades com algum tipo de deslocamento do ambiente escolar,
como por exemplo, visita a museu, a indústria, a parque ou participação em
acampamento. Esta vivência prática reafirmará conceitos construídos na sala de
aula, também possibilitará maior interação entre os alunos e contribuirá no
processo de ensino e aprendizagem através de aulas mais dinâmicas, pois
aproximará o professor do aluno, onde este terá mais possibilidades de expor
conceitos e informações adquiridas fora da sala de aula.
Vinha
(2005) ao propor o turismo pedagógico como possibilidade de ampliação dos
espaços da escola afirma que:
um dos principais sentidos das atividades
ligadas ao Turismo Pedagógico está na possibilidade de ampliação das demandas
dos estudantes, pois a
escola em geral, centra suas atividades nas demandas dos professores,
esquecendo-se que os estudantes precisam de envolvimento ativo para a construção
do conhecimento e da formação da cidadania. Na educação infantil, damos às
crianças, diversos materiais como blocos, areia, para construírem; tempo para
brincar; propomos passeios; depois, pelo resto de sua escolaridade, retiramos
tudo isso e queremos que elas sejam criativas, profissionais
competentes.Vinha
(2005:2)
A proposta
da área de Geografia dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) aponta na
direção do aproveitamento desta prática, no estudo da paisagem é bem clara a
orientação “é preciso observar, buscar explicações para aquilo que, numa
determinada paisagem, permaneceu ou foi transformado, isto é, os elementos do
passado e do presente que nele convivem e podem ser compreendidos mediante a
análise do processo/organização do espaço”. Brasil
(1997:74)
Nesta
proposta é valorizada a experiência vivida pelo estudante, lembrando que o
espaço geográfico é historicamente produzido pelo homem e a percepção de cada
individuo é marcada por laços de afetividade e referência socioculturais. Assim,
“o estudo de uma totalidade, isto é, da paisagem como síntese de múltiplos
espaços e tempos deve considerar o espaço topológico – o espaço vivido e
percebido – e o espaço produzido economicamente como algumas das noções de
espaço dentre as tantas que povoam o discurso da Geografia. Brasil
(1997:74)
A
valorização da percepção ocorre pelo reconhecimento de que a paisagem ganha
significado para aqueles que a vivem e a constroem, e se reconhecem a partir do
lugar,
A
categoria paisagem, por sua vez, está relacionada à categoria de lugar.
Pertencer a um território e sua paisagem significa fazer deles o seu lugar de
vida e estabelecer uma identidade com eles. Nesse contexto, a categoria lugar
traduz os espaços com os quais as pessoas têm vínculos mais afetivos e
subjetivos que racionais e objetivos: uma praça, onde se brinca desde menino, a
janela de onde se vê a rua, o alto de uma colina, de onde se avista a cidade. O
lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam
as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço
geográfico. Brasil
(1997:76)
A
Geografia desde os primeiros ciclos tem por objetivo mostrar ao aluno que
cidadania pressupõe o sentimento de pertencimento a uma realidade onde sociedade
e natureza interagem e estão em constante transformação, onde ele (aluno) se
reconheça como individuo participante, historicamente responsável e afetivamente
ligado.
Dessa
forma, fortalecem as propostas de desenvolvimento de turismo pedagógico, onde:
O que se pretende com essas atividades é
a organização de situações de aprendizagens, relacionadas a conteúdos
curriculares, a valores éticos e estéticos, além de atitudes formativas, tais
como o desenvolvimento da capacidade de iniciativa e solidificação de amizades;
respeito ao outro e fortalecimento da noção de pertencimento a um grupo ou a um
ecossistema; experiência de autonomia; elaboração conjunta de regras de
convivência, dentre outras. Vinha (2005:6)
A
metodologia de trabalho proposta por Vinha é dividida por três etapas. Primeiro,
o Planejamento, onde acontece a fase de organização, com a participação dos
estudantes, em processo democrático, define-se o lugar a ser visitado, a
elaboração de regras, a pesquisa sobre o local a ser visitado. A segunda etapa é
a “execução propriamente dita, através da observação e coleta de dados, da
fruição do prazer de dirigir o olhar para uma paisagem”. p.7. A terceira etapa é
composta pelas atividades de retorno, “através da sistematização de
conhecimentos, de montagens de relatórios, de organização de painéis com fotos,
com desenhos e textos, podendo-se contar atualmente, com os recursos multimídia
advindos dos computadores e da Internet.” Vinha, 2005,p.7.
A
autora destaca neste processo que os alunos participantes do projeto de turismo
pedagógico, podem acompanhar in loco
atividades de produção dos diversos setores da economia, ou seja, “A
execução de atividades voltadas para o senso de processo deve ser acompanhada
pela busca de aspectos históricos e culturais que contribuíram para que
determinadas características estivessem presentes naqueles produtos ou naquela
configuração de serviços”. Vinha,
2005,p.7.
Alem
disso, alerta para que a apresentação dos resultados e conclusões das atividades
desenvolvidas devem utilizar toda a diversidade possível de linguagens
artísticas e recursos estéticos e artísticos, permitindo que os alunos
demonstrem suas habilidades artísticas.
Há
o grande desafio de transformar os passeios e excursões escolares de simples
atividade de lazer, um prêmio no final do ano ou de uma gincana, em atividade
pedagógica, estruturada no modelo de plano de aula, cujo roteiro e objetivos são
construídos em exercício coletivo. Sua validade aumenta na medida em que
articule diversas áreas de saberes e temas transversais. Podem ser explorados no
mesmo projeto conceitos de Geografia, História, Educação ambiental, Cidadania, e
outros das mais diversas áreas de conhecimento sem, contudo, perder as
possibilidades do divertimento, do prazer e do lúdico, aspectos tão importantes
e inerentes ao turismo.
Finalizando,
as propostas de turismo pedagógico devem primar pelo conteúdo, e ainda aos
aspectos cognitivos e afetivos do processo ensino-aprendizagem, pois este é o
espaço da aprendizagem com prazer, que objetiva a convivência, o debate, a
crítica e a ampliação do conhecimento.
O
turismo pedagógico pretende resgatar o sentido do Grand Tourist, que viajava
contemplando, anotando suas observações e descobertas, saboreando os lugares com
suas particularidades e simularidades, onde viagem era sinônimo de conhecimento
e saber, e não de consumo.
Pode-se
afirmar que existe grande relação entre turismo e educação. Pois na prática do
turismo está presente o processo de aprendizagem, conceitos de diversas áreas do
conhecimento são construídos e reelaborados, pois não se pode negar que ao
visitar um lugar, o turista entra em contato com suas singularidades: Expressões
artísticas, folclóricas, geografia e história, entre outros que podem estimular
e enriquecer o arcabouço de conhecimento e conceitos deste
indivíduo.
Bibliografia
ARENDIT,
Ednilson José. Introdução à economia do Turismo.
2ª
ed. Campinas: Alínea, 2000.
BRASIL.
Secretaria da Educação Fundamental. Brasilia:MEC/SEF,1997.
FONSECA
FILHO, Ari da Silva. Educação e Turismo. (Dissertação)São
Paulo:USP,2007.
ITO,
Claudemira A. Turismo: Reflexão sobre a produção científica do tema. In
Anais do 8º Encuentro Internacional Humboldt. Colón- Argentina-
2006. Digital.
________
Possibilidades do Turismo: Da concentração de renda à inclusão social.
Revista Dialogando no
Turismo, n.3, v.1, junho, 2007. disponível em < http://www.rosana.unesp.br/revista/artigos_terceira.php>
KRIPPENDORF,J.
Sociologia do Turismo: Para uma nova compreensão do lazer e das
viagens. São Paulo:Aleph, 2001.
LEMOS,
Amália I. G. Turismo: impactos
sócio-ambientais. São
Paulo: Hucitec, 1996.
MOLINA, S.
O pós-turismo. São Paulo: Aleph, 2003,
144p.
MOLINA,
Sergio E. e RODRÍGUES, Sergio A. Planejamento integral do
Turismo. 1ª ed. Bauru: Sagrado Coração de Jesus,
2001.
OURIQUES,
H. R. A Produção do Turismo: Fetichismo e Dependência.
Campinas: Alínea.2005.
PANOSSO
NETTO, A. Filosofia do Turismo: Teoria e Epistemologia. São
Paulo: Aleph, 2005.
RODRIGUES,
A B.. Turismo e Espaço. São Paulo: Hucitec, 1997.
RODRIGUES,
Sul Brasil Pinto, Educação, Ciências Sociais, Patrimônio e Turismo: Fazer
Conhecimento. Revista Itinerarium. Rio de Janeiro:Unirio,
v.1.2008
_________.
Turismo e geografia –
reflexões teóricas e enfoques regionais. 3ª ed. São Paulo:
Hucitec, 2000.
RUSCHMANN,
D. V. de M. Turismo e planejamento sustentável: a
proteção do meio ambiente. Campinas: Papirus, 1997.
SALGUEIRO, Valéria Grand Tour: uma contribuição à
historia do viajar por prazer e por amor à cultura. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 22, nº 44, 2002.
TUAN,
Yi-fu. Topofilia. São Paulo:Difel.1980.
VINHA,
Maria Lúcia . O turismo pedagógico e a possibilidade de ampliação de olhares.
Hórus- Revista de Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas, Ourinhos, n3,2005.
XAVIER,
Herbe, A Percepção Geográfica do Turismo, São
Paulo:Aleph,2007.
YAZIGI, C.
Turismo – espaço, paisagem e
cultura. 2ª Edição. São Paulo; Hucitec,
2000.
Ponencia presentada en el XI Encuentro
Internacional Humboldt – 26 al 30 de octubre de 2009. Ubatuba, SP,
Brasil.