NCeHu
624/09
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O Afeganistão em números A contabilidade duma
guerra que se tornou um inferno
São cada
vez mais os textos e os cidadãos norte-americanos se opõe à aventura bélica
dos EUA no Afeganistão, no entanto, como analisa Tom Engelhardt nesta
exaustiva análise baseada em números, “até há pouco tempo ninguém no
mainstream levantou dúvidas sobre o facto de durante quase oito anos (para não
dizer grande parte das últimas três décadas) termos [EUA] andado a despejar
milhares de milhões de dólares, experiência militar norte-americana e vidas
norte-americanas num buraco negro no Afeganistão que foi, pelo menos em
significativa parte, criado por nós.
Tom Engelhardt* -
19.09.09
Este é talvez o mais estranho facto do nosso mundo americano:
pelo menos três administrações norte-americanas (Ronald Reagan, George W. Bush e
agora Barack Obama) desenharam o perímetro de «defesa» dos EUA até Hindu Kush;
isto é, até às terras árduas e montanhosas do Afeganistão. Dito de outro modo,
enquanto os norte-americanos discutem fervorosamente donde virá o dinheiro, se
algum há, para investir em cuidados de saúde ou infra-estruturas degradadas ou
outros pontos-chave, até há pouco tempo ninguém no mainstream levantou dúvidas
sobre o facto de durante quase oito anos (para não dizer grande parte das
últimas três décadas) termos andado a despejar milhares de milhões de dólares,
experiência militar norte-americana e vidas norte-americanas num buraco negro no
Afeganistão que foi, pelo menos em significativa parte, criado por nós.
Imaginem por um momento, enquanto lêem este texto, o que poderia ter
acontecido se os norte-americanos tivessem decidido usar esse mesmo dinheiro
(228 mil milhões de dólares, e a aumentar rapidamente), os mesmos «apoios», o
mesmo planeamento, reflexão e esforços (mas não a mesma espantosa ineficácia)
para recuperar New Orleans ou Detroit, ou para planificar um futuro para os EUA
na sua própria casa. Imaginem por um momento, enquanto lêem sobre os muitos
milhões investidos em mais construções na Base Aérea de Bagram ou na empresa
mercenária que fornece guardas do tipo “invista na sua protecção”, ao estilo
«Senhor das Moscas», a diplomatas norte-americanos em mega-embaixadas colossais,
ou enquanto lêem sobre os 500 milhões de dólares estoirados numas eleições
afegãs corruptas e fraudulentas, imaginem o que teria significado um
investimento semelhante no nosso próprio pais.
Atentem na seguinte
questão: não estariam os EUA mais seguros se todo o dinheiro, esforços e
planeamento tivessem sido investidos em desenvolvimento no nosso país? Ou acham
que estamos mais seguros agora, com uma taxa de desemprego oficial de 9,7%, uma
taxa de subemprego de 16,8% e uma taxa recorde de 25,5% de desemprego na faixa
etária 13-19 anos, com despesas alarmantes de cuidados de saúde, com vastos
problemas e falhas infraestruturais e endividados até ao tutano, enquanto
dezenas de milhar de tropas e injecções massivas de dinheiro são ostensivamente
canalizadas para combater uma organização terrorista talvez em número de umas
escassas centenas de membros, no máximo uns milhares que, contas feitas, já nem
sequer está sedeada no Afeganistão, e que se mostrou perfeitamente capaz de
assentar em estados falidos como a Somália ou em cidades com um funcionamento
regular como Hamburgo.
A medida do sucesso
Por volta do
fim deste mês, a Administração Obama irá apresentar ao Congresso as “medidas”
para… Bem, uma vez que já não estamos na era Bush, não podemos chamar-lhe
“vitória”. Ao estilo do enviado especial na região Richard Holbrooke, vamos
chamar-lhe “sucesso”. Holbrooke propôs recentemente esta definição da palavra,
evidentemente baseada nos padrões do Tribunal Supremo utilizados para definir a
pornografia: “saberemos quando virmos.”
De acordo com Karen DeYoung do
Washington Post, a Administração Obama quer rapidamente “comprar o Congresso com
os seus próprios números”. Está a elaborar um documento intitulado “Plano de
Implementação Estratégica” que, escreve DeYoung, “incluirá ‘indicadores’
separados de progresso divididos em nove grandes ‘objectivos’ que serão
avaliados de três em três meses… Alguns dos cerca de 50 indicadores respeitarão
ao desempenho dos EUA, mas a maioria avaliará os esforços afegãos e
paquistaneses.” Estes deverão incluir categorias supostamente mensuráveis como
os números dos recrutas do exército afegão recentemente treinados e o prazo de
entrega de recursos prometidos pelos EUA.
A Administração está agora
evidentemente a “reajustar” os seus números. Mas admitamo-lo: os números na
guerra tornam-se invariavelmente traiçoeiros. Pensemos neles como terrenos
movediços, em parte porque os números, mesmo se exactos (e muitas vezes não
são), podem mentir; ou melhor, podem contar a história que queremos que contem.
A Guerra do Vietname foi um caso clássico de guerra de números. Por
vezes pareceu que os EUA no Vietname nada faziam senão inventar novos modos de
medir o sucesso. Houve por exemplo os dezoito índices do «Hamlet Evaluation
System» [N. do T.: Durante a Guerra do Vietname o Departamento de Defesa dos EUA
criou instrumentos de avaliação que procuravam medir a eficácia das operações e,
como neste caso, a segurança ao nível dos hamlets, como são designados os
milhares de assentamentos rurais, demasiado pequenos para serem considerados
aldeias.], cada uma delas concebida para avaliar o “progresso” da “pacificação”
nas 2 300 aldeias e quase 13 000 assentamentos rurais vietnamitas, com enfoque
maioritariamente em “segurança rural” e “desenvolvimento”. Depois houve os
muitos índices do sistema «Measurement of Progress» [N. do T.: Sistema de
Avaliação Qualitativa], os seus relatórios mensais, apresentados em
diapositivos, incluindo “tendências de força dos contendores, acções das forças
aliadas… bases do inimigo neutralizadas”, etc. Para as visitas de delegações do
Congresso, o comandante das forças dos EUA, o General William Westmoreland,
tinha os seus “mapas de desgaste”, gráficos de barras coloridos ilustrando
várias “tendências” de mortandade e destruição. Os comandantes no terreno tinham
os seus próprios meios sofisticados para atribuir nomes de código a “cálculos de
mortandade” enquanto estavam no terreno, num momento em que a contagem real
tinha que ser feita em circunstâncias perigosas, tudo isto traduzido de forma
particularmente cruel no MGR, ou, como os soldados por vezes diziam, o “Mere
Gook Rule”: “se morreu e é vietnamita, então é um VC [Vietcong]”. Por outras
palavras, quando havia pressão para “contar os mortos”, qualquer um servia.
O problema é que nenhuma das contagens oficiais conseguiu avaliar o mais
importante no Vietname. A história pode não se repetir simplesmente, mas há boas
razões para desconfiar de qualquer que seja o tipo de avaliação que a
Administração Obama conceba. Afinal, como no Vietname, também os homens de Obama
arranjarão números à procura do “sucesso”; também eles irão avaliar o
“progresso”. E esses números (como a contagem das baixas na guerra do Vietname)
terão de subir (dadas as pressões em jogo). Quando chegarem a Washington serão
com toda a probabilidade muito bem tratados.
Estando aparentemente
próxima a entrega dessas novas avaliações ao Congresso, pensei em propor o meu
próprio sistema de avaliação para o Afeganistão para o pior ano da guerra em
curso. Considerem isto como matemática elementar para americanos (todos os
números infracitados têm ligação às fontes; se um número não tiver ligação,
basta aceder à ligação antecedente mais
próxima.)
Custos
Financiamento anual para operações de
combate dos EUA no Afeganistão em 2002: 20,8 mil milhões de dólares.
Financiamento anual para operações de combate dos EUA no Afeganistão em
2009: 60,2 mil milhões de dólares.
Financiamento total para operações de
combate dos EUA no Afeganistão de 2002 a 2009: 228,2 mil milhões de dólares.
Financiamento de guerra pedido pela Administração Obama para 2010: 68
mil milhões de dólares (um número que irá, pela primeira vez desde 2003, exceder
o financiamento pedido para o Iraque).
Financiamento recentemente pedido
pelo embaixador dos EUA Karl Eikenberry para despesas não militares no
Afeganistão em 2010: 2,5 mil milhões de dólares.
Financiamento gasto
desde 2001 em “reconstrução” no Afeganistão: 38 mil milhões (“mais de metade dos
quais em treino e equipamento de forças de segurança
afegãs”).
Percentagem do financiamento dos EUA para o Afeganistão usado
para fins militares: quase 90%.
Estimativa de financiamento dos EUA
necessário para apoiar e melhorar as forças afegãs para a próxima década: 4 mil
milhões de dólares por ano (“com uma quantia semelhante para o desenvolvimento”)
de acordo com o antigo Secretário-adjunto da Defesa, Bing West (de acordo com
Michael O’Hanlon da Brookings Institution “é uma previsão razoável esperar que
durante 20 anos tenhamos que financiar metade do orçamento para o
Afeganistão.”)
Produto interno bruto afegão: 23 mil milhões de dólares
(semelhante ao da cidade de Boise em Idaho, escreve o jornalista George Will);
destes, cerca de 3 mil milhões provenientes da produção de ópio.
Orçamento anual do Governo Afegão: 600 milhões de dólares.
Custos de manutenção para a força de 450 000 soldados e polícias afegãos
que os generais dos EUA sonham criar: aproximadamente 500% do orçamento afegão.
Quantia despendida no “ensino e treino” da polícia desde 2001: 10 mil
milhões de dólares.
Percentagem das mais de 400 unidades da Polícia
Nacional Afegã “ainda incapazes de levar a cabo as suas operações de forma
independente”: 75% (números de 2008).
Custo das últimas melhorias da Base
Aérea de Bagram (uma velha base soviética que se tornou a maior base
norte-americana no Afeganistão): 220 milhões de dólares.
Custo de um
único contrato recente do Pentágono com a DynCorp International Inc. e a Fluor
Corporation “para construir e apoiar bases militares dos EUA por todo o
Afeganistão”: até 15 mil milhões de dólares.
A
guerra
Número de soldados norte-americanos mortos no Afeganistão em
2001: 12.
Número de soldados norte-americanos mortos no Afeganistão em
2009 (até 7 de Setembro): 186.
Número total de baixas na coligação (NATO
e EUA) em 2009 até agora: 311, o que faz deste o ano com maior número de mortes
para estas forças desde que a Guerra começou.
Número de soldados
lituanos mortos no Afeganistão: 1
Dois piores meses da Guerra do
Afeganistão em termos de baixas da coligação: Julho (71) e Agosto (74) de
2009.
Número de soldados dos EUA no Afeganistão em 2002: 5
200.
Número de soldados dos EUA no Afeganistão esperados para Dezembro de
2009: 68 000
Subida percentual de ataques talibã a forças da coligação
que usaram Engenhos Explosivos Improvisados (EEI) em 2009 (comparada com o mesmo
período de 2008): 114%.
Subida do número de baixas da Coligação
provocadas por ataques EEI em Julho de 2009 (comparada com Julho de 2008):
aumentou 6 vezes.
Aumento percentual dos ataques talibã nos primeiros
cinco meses de 2009 (comparado com o mesmo período de 2008): 59%.
Número
de centros de comando regional no Afeganistão: 4 (Kandahar, Herat,
Mazar-i-Sharif e Bagram).
Número de prisões dos EUA e centros de
detenção: aproximadamente 36 “lugares sobrepovoados e muitas vezes violentos”
com 15 000 reclusos.
Número de bases dos EUA: pelo menos 74 só no norte
do Afeganistão, com mais a serem construídas (o número total de bases dos EUA no
Afeganistão parece não estar disponível).
Custo estimado (por tropa) de
manutenção das forças dos EUA no Afeganistão comparado com o Iraque: 30% mais
elevado.
Número de galões [N. do T: o Galão nos EUA corresponde a 3 785
litros] de combustível diários usados pelos Marines no Afeganistão: 800
000.
Custo de um único galão de gás entregue na zona de guerra no
Afeganistão nas longas e duras linhas de abastecimento, perigosamente sujeitas a
ataques: até 100 dólares.
Número de galões de combustível usado para
manter as tendas dos Marines frescas durante o Verão afegão e quentes no
Inverno: 448 000.
Número de tropas da Geórgia (o país, não o estado
norte-americano) que estão a ser preparadas por treinadores Marines dos EUA para
serem enviadas para o Afeganistão para combater na Primavera de 2010:
750.
Número de comandos colombianos a enviar para o Afeganistão:
desconhecido, mas os comandos colombianos, treinados pelas foras especiais dos
EUA e financiados pelo Governo dos EUA, estão alegadamente a ser enviados para
aqui para combater ao lado das tropas dos EUA (note-se que quer a Geórgia quer a
Colômbia dependem da ajuda e apoio dos EUA; note-se também que nem os georgianos
nem os colombianos estariam dispostos a assumir o tipo de normas de combate
restritivas que limitam as acções de algumas forças da NATO no
Afeganistão).
Percentagem de aviões espiões dos EUA e aviões não
tripulados agora destinados ao Afeganistão: 66% (33% estão no
Iraque).
Número de bombas dos EUA lançadas no Afeganistão nos primeiros
seis meses de 2009: 2 011 (uma descida de 24% em relação ao ano anterior, graças
evidentemente a uma directiva do Comandante-general no Afeganistão Stanley A.
McChrystal limitando os ataques aéreos quando podem estar presentes
civis).
Número de baixas civis afegãs registadas pelas Nações Unidas de
Janeiro a Julho de 2009: 1 013, uma subida de 24% relativamente ao mesmo período
de 2008 (infelizmente, as baixas afegãs são geralmente registadas em separado,
incidente por incidente, como nas mortes de uma família afegã que viajava para
uma festa de casamento em Agosto, supostamente devidas a um EEI planeado pelos
Talibã, ou o recente bombardeamento controverso de dois camiões cisterna
roubados na Província de Kunduz no qual muitos civis terão morrido. Qualquer
coisa que se pareça com o número total de afegãos mortos nestes anos permanece
desconhecida, os números que temos pecam sem dúvida por defeito).
Em
escalada
Número de tropas adicionais que se prevê que o General
McChrystal recomende ao Presidente Obama que se enviem para o Afeganistão nos
próximos meses: 21 000 a 45 000, de acordo com os Jornais da McClatchy; 10 000 a
15 000 (“referido como uma opção de alto risco”), 25 000 (“uma opção de médio
risco”), 45 000 (“uma opção de baixo risco”), de acordo com o The New York
Times; menos de 10 000 de acordo com a Associated Press.
Número de
tropas de apoio que os oficiais do Departamento de Defesa planeiam substituir
com atiradores (tropas de combate) nos próximos meses, que constitui de facto
uma escalada: 6 000 – 14 000. (“as mudanças não irão anular a necessidade
eventual de tropas adicionais no futuro, mas poderão reduzir o volume de
qualquer pedido… disseram as autoridades oficiais”).
Número de forças da
NATO adicionais que o General McChrystal irá alegadamente pedir: 20
000.
Número óptimo de tropas adicionais do Exército Nacional Afegão (ENA)
que deverão estar treinadas em 2012, de acordo com relatórios sobre o plano do
General McChrystal: 162 000 (de acordo com o Professor Thomas H. Johnson, da
Naval Postgraduate School e o oficial reformado do Serviço de Estrangeiros M.
Chris Mason, “O Exército dos EUA dá 91 000 soldados do ENA por ‘treinados e
equipados’, sabendo perfeitamente que apenas uns 39 000 estão ainda nas fileiras
e capazes de se apresentar ao dever.”)
A opinião pública
Percentagem de norte-americanos que se opõem à guerra no
Afeganistão: 57%, de acordo com a última sondagem da CNN, uma subida de 11%
desde Abril. Apenas 42% apoiam agora a Guerra.
Percentagem de
Republicanos que apoiam a Guerra: 70%, de acordo com a última sondagem
Washington Post-ABC News.
Percentagem de norte-americanos que concordam
com o modo como o Presidente Obama tem gerido a Guerra: 48%, de acordo com a
última sondagem da CBS, uma queda de 8% desde Abril (os que apoiam o aumento do
número de tropas no Afeganistão são agora apenas nos 25%, caiu 14% desde
Abril.)
Percentagem de ingleses que acha que as suas forças deviam
retirar do Afeganistão: 59%.
Percentagem de alemães que se opõem ao
compromisso deste país de ter 4 000 tropas no Afeganistão: mais de 70%.
A eleição presidencial
Custo estimado das eleições
presidenciais de 2009 no Afeganistão: 500 milhões de dólares.
Número de
queixas de irregularidades nas Eleições: mais de 2 500 e ainda a subir, 691 das
quais descritas como “acusações graves”.
Número de membros da “Comissão
Eleitoral Independente” não nomeados pelo Presidente Afegão (e candidato
presidencial) Hamid Karzai: 0.
Custo dos boletins para registo de eleitor
na província de Ghazni em Maio de 2009: 200 dólares por 200 boletins.
Custo de um desses boletins adquirido por “um jornalista afegão
infiltrado ao serviço da BBC”: 8 dólares.
Número de cartões para registo
de eleitor (sem incluir os falsos) alegadamente distribuídos pelo país: 17
milhões, ou seja, quase o dobro do número estimado de eleitores.
Número
de boletins de voto expressos na assembleia de voto da Escola Secundaria Hajji
Janat Gul, a meia hora do centro de Cabul: 600.
Número de votos
registados a favor de Karzai nessa assembleia de voto: 996 (número de votos a
favor de outros candidatos: 5.)
Número de boletins de voto expressos a
favor de Karzai e enviados para Cabul de 45 assembleias de voto no distrito de
Shorabak no Sul do Afeganistão que foram fechadas pelas autoridades locais
ligadas a Karzai antes da votação poder começar: 23 900.
Número de
assembleias de voto falsas montadas por apoiantes de Karzai onde ninguém votou
mas em que centenas de milhar de votos foram registados: cerca de 800, de acordo
com o The New York Times (outras 800 assembleias verdadeiras foram ocupadas por
apoiantes de Karzai “para registar de modo fraudulento dezenas de milhar de
votos adicionais para o Sr. Karzai.”)
Número de boletins na província
natal de Karzai, Kandahar, onde uns estimados 25 000 afegãos realmente votaram,
submetidos a contagem: aproximadamente 350 000.
Empreiteiros privados
Número de empreiteiros militares contratados pelo Pentágono no
Afeganistão pelo fim de Junho de 2009: quase 74 000, perto de dois terços dos
quais foram contratações locais, uma subida de 9% relativamente aos anteriores
três meses.
Percentagem da força do Pentágono no Afeganistão constituída
por empreiteiros em Março de 2009: 57%.
Posição da percentagem de
empreiteiros usada pelo Pentágono no Afeganistão: a mais alta de qualquer
conflito na história dos EUA.
Diplomatas e apoios
Custo do
novo programa “de choque” para aumentar a “presença diplomática” dos EUA no
Afeganistão e no Paquistão: mil milhões de dólares (736 milhões dos quais foram
designados para a construção de uma enorme nova embaixada / sede regional em
Islamabad, no Paquistão.)
Número de pessoal adicional do Governo dos EUA
alegadamente designado para ser enviado para o Paquistão para aumentar o número
de civis (750) que já lá estão: 1 000.
Número estimado de civis do
Governo dos EUA a enviar para a Embaixada dos EUA em Cabul, no Afeganistão, pelo
fim de 2009: 976 (havia 562 no fim de 2008 e agora há alegadamente mais de 1 000
diplomatas, staff, e cidadãos afegãos que já ali trabalham.)
Número
total estimado de civis a seleccionar para a embaixada dos EUA em Cabul como
parte de um proposto apoio em 2011: 1 350 (800 a enviar para Cabul, 550 para
fora da Capital.)
Custo do contrato de 5 anos do Departamento de Estado
com a Xe Services (antiga Blackwater) para fornecer segurança aos diplomatas dos
EUA no Afeganistão: 210 milhões de dólares.
Custo do contrato do
Departamento de Estado com a ArmorGroup North America, uma subsidiária da
Wackenhutt Services Inc. com sede nos EUA, para vigiar a Embaixada dos EUA em
Cabul: 189 milhões.
Número de seguranças privados fornecidos pela
ArmorGroup North America: 450, com base em Camp Sullivan, a vários quilómetros
do complexo da embaixada onde alegadamente se envolveram num comportamento
estilo “Senhor das Moscas”.
Os números do
sucesso
Secretário da Defesa Robert Gates sobre o sucesso no
Afeganistão: levaremos “alguns anos” para derrotar os Talibã e a Al-Qaeda.
Almirante “Mike” Mullen, presidente da Joint Chiefs of Staff ao programa
“Meet the Press”: “acredito que temos de começar a virar isto do ponto de vista
da segurança nos próximos 12 a 18 meses” (não quis dizer directamente quanto
tempo).
Relatório do Comité de Relações Estrangeiras do Senado sobre a
Guerra no Afeganistão: ”nenhum dos oficiais civis ou militares entrevistados no
Afeganistão ou noutra parte esperavam progressos substanciais a curto prazo.
Falavam em termos de 2, 5 e 10 anos… Os oficiais militares acreditam que a
missão no Afeganistão apenas poderá ser bem sucedida se as tropas lá estiverem
muito mais tempo (entre 5 a 12 anos).”
Peritos militares citados por
Walter Pincus do Washington Post avisam: “Os EUA estão a assumir compromissos
políticos e de segurança que irão durar pelo menos uma década e que terão um
custo que irá eclipsar o da Guerra do Iraque.”
Anthony H. Cordesman,
membro de uma “equipe” reunida pelo Comandante-general norte-americano Stanley
A. McChrystal para delinear a estratégia de guerra e perito em segurança
nacional do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais “disse recentemente
aos repórters que mesmo com avanços militares nos próximos 12 a 18 meses
demoraria anos reduzir acentuadamente a ameaça dos Talibã e outras forças
insurgentes.”
Robert Dreyfuss, do The Nation resumindo as opiniões de um
painel de peritos na Guerra do Afeganistão, incluindo Bruce Riedel, um veterano
da CIA com 30 anos de experiência e conselheiro de quatro presidentes, que
presidiu ao grupo de trabalho do Presidente Obama para o Afeganistão, dois
membros do grupo de trabalho de McChrystal, Kim Kagan e Cordesman, e Michael
O’Hanlon da Brooking Institution: “(1) Será necessária uma escalada
significativa da Guerra para evitar uma derrota completa. (2) Mesmo que dezenas
de milhar de tropas sejam acrescentadas à ocupação norte-americana, não será
possível determinar se o esforço dos EUA / NATO terá sucesso até 18 meses maus
tarde. (3) Mesmo que os EUA invertam o curso dos acontecimentos no Afeganistão,
não haverá diminuição significativa das forças dos EUA até que passem 5 anos.”
(Riedel comentou: “Quem pense que em 12-18 meses vamos estar perto da vitória
vive uma fantasia.”)
O novo chefe do Estado-maior do Exército Britânico,
General Sir David Richards: “o papel do Exército evoluirá, mas o processo pode
levar 30 ou 40 anos.” (depois de muitas críticas, retirou o que disse.)
O
novo Secretário-geral da NATO Anders Fogh Rasmussen: a missão da NATO no
Afeganistão irá durar “o tempo que for preciso” para garantir que o país fica
seguro.
Os números do Afeganistão
Custo de uma espingarda
Kalashnikov no Afeganistão hoje: 400-600 dólares.
Custo de uma Kalakov (o
nome afegão para um novo modelo de Kalashnikov): 1 100 dólares (por mais 150
dólares, pode ser entregue no sul do Afeganistão.)
Custo de um quilo de
heroína no Afeganistão: 2 500 dólares (custo desse mesmo quilo em Moscovo: uns
estimados 100 000 dólares.)
Custo em suborno de polícias para trazer o
contrabando para o Afeganistão ou daqui para fora: “20 dólares por cada arma,
100 dólares por quilo de Heroína e 1 000 dólares por cada mil quilos de
haxixe.”
Posição do Afeganistão entre os “estados mais fracos” do globo,
de acordo com a Brookings Institution: segundo mais fraco (também é
frequentemente referido como o quarto país mais pobre do mundo.)
Taxa de
desemprego no Afeganistão, de acordo com o World Factbook da CIA: 40% (números
de 2008).
Ordenado mensal da Polícia Nacional Afegã: 110 dólares (menos
de 4 dólares por dia).
Vencimento diário que os Talibã alegadamente
pagam aos seus combatentes: 4-8 (muitas vezes é o único “trabalho”
disponível).
Quanto tempo pode demorar levar um caso a tribunal do
governo (com favorecimentos): 4-5 anos.
Quanto tempo pode demorar levar
um caso a tribunal dos Talibã (sem favorecimentos): 1 dia.
Número de
refugiados afegãos registados ainda no Irão e no Paquistão: 3
milhões.
Número de campos da Al-Qaeda que se estima existirem hoje no
Afeganistão: 0 (todos os peritos reputados parecem de acordo quanto a isto).
A próxima guerra
Preço que o Gabinete do Orçamento da
Administração Obama alegadamente atribuiu a futuras guerras dos EUA em cada ano
até 2019: mais de 100 mil milhões por ano.
Custo de equipar sete
brigadas militares com um avançado sistema coordenado de veículos aéreos não
tripulados da Boeing, robots, sensores, e outro equipamento de vigilância para o
terreno de batalha nos próximos dois anos: 2 mil milhões de dólares.
Data em que todas as 73 brigadas activas e de reserva estarão equipadas
com o sistema: 2025.
O que não se pode medir
Eis um enigma
a considerar e arquivar na rubrica “impossível mensurar”, à medida que deixamos
o mundo dos números da Guerra do Afeganistão: os EUA continuam a esforçar-se
para treinar a polícia e os soldados afegãos para se apresentarem e lutarem com
disciplina (ver acima). Entretanto, como indicou um artigo de Karen DeYoung no
Washington Post, os Talibã regularmente preparam combatentes que alegadamente
usam técnicas cada vez mais sofisticadas e ousadas do tipo “fire-and-maneuver”
[N. do T.: uma equipa “fire and maneuver” é a mais pequena unidade militar
depois do soldado; é constituída por dois soldados em que um deles protege o
outro enquanto este avança para outra posição] contra o extraordinário poder de
fogo das forças dos EUA e da NATO (“para muitos norte-americanos, parecia que os
insurgentes tinham andado numa coisa parecida com a Escola dos Rangers do
Exército Norte-americano, que ensina os soldados a lutar em grupos pequenos em
ambientes austeros.”)
Ambos os grupos são, é claro, afegãos. Pode valer a
pena pensar por que razão “os deles” são os ferozes combatentes dos livros de
história e da lenda e os nossos, apesar de milhares de milhões de dólares e
acções de treino, não são. Este enigma teve o seu paralelo no Vietname há
décadas atrás, quando conselheiros militares norte-americanos frequentemente se
queixavam de que trocariam uma divisão de forças sul-vietnamitas treinadas pelos
EUA por um único batalhão de Vietcongs.
Ora aqui está uma coisa para
recordar: a vida é invariavelmente difícil quando se têm embaixadas gigantescas,
centros de comando regional, conselheiros eleitorais, seguranças privados,
instrutores e conselheiros militares, diplomatas e dinamizadores e se tenta
então encontrar uma fórmula para motivar os locais para fazer o que nós queremos
que eles façam.
*
Tom Engelhardt, co-fundador do American Empire Project, dirige o TomDispatch.com
do Nation Institute. [Nota do autor: agradecimentos na pesquisa para este
artigo são devidos, acima de tudo, a Nick Turse – com uma pequena vénia também a
Frida Berrigan. Sítios electrónicos fundamentais, se quiserem estar actualizados
sobre o Afeganistão, incluem o Juan Cole’s Informed Content, que recentemente
aplicou a sua cada vez mais detalhada análise aos acontecimentos naquele país, o
inestimável Antiwar.com (em especial os sumários diários de Jason Ditz), the War
in Context (a não perder, mais genericamente, sobre “o Grande Médio Oriente”);
Rethink Afghanistan, e o Af/Pak da Foreign Policy. Se quiser descarregar um
contador electrónico de “custos de guerra”, visite a página do National
Priorities Project.]
Este texto foi divulgado em www.tomdispatch.com
Tradução: André
Rodrigues P. da Silva
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