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Asunto: | NoticiasdelCeHu 596/09 - O turno de Obama na direcção política dos negócios imperiais ( José Paulo Gascào ) | Fecha: | Sabado, 29 de Agosto, 2009 17:13:54 (-0300) | Autor: | Noticias del CeHu <noticias @..............org>
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NCeHu
596/09
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O turno de Obama na direcção política dos negócios
imperiais
“Atendo-nos aos factos, tirando a proposta de reforma do
sistema de saúde, nada há na política interna e externa de Obama que permita
concluir ter havido uma alteração às práticas e objectivos da administração
Bush. Inclusive intensifica a política belicista, como o demonstra o acordo
com a Colômbia de criar aí mais 7 bases militares, para somar às 865 que os
EUA já têm no estrangeiro”.
José Paulo
Gascão
28.08.09
Depois do desaparecimento da URSS e da queda do sistema
socialista europeu, muitos foram os comunistas e outros progressistas que
perderam a perspectiva histórica e passaram a ver o mundo como se, na prática,
não houvesse alternativa ao capitalismo.
A eleição de Barack Obama
provocou uma injustificada explosão de alegria mundial que envolveu, por razões
diferentes e até contraditórias, democratas e conservadores, progressistas e
reaccionários, negros, brancos e amarelos, num sentimento de alívio, assente em
razões não coincidentes e muitas vezes opostas. Até políticos, governantes e
jornalistas tidos como de esquerda deram ao jovem presidente dos EUA o benefício
de dúvida…
Se é compreensível a explosão de alegria por ver eleito para
a presidência dos EUA, um país maioritariamente racista, um afro-americano, não
pode confundir-se os desejos com a realidade e pensar que o ex-senador de
Illinois, não segue a lógica do sistema que o preferiu a Hillary Clinton, nas
primárias dos Democratas e ao empedernido candidato republicano, John
McCain.
Seis meses após a tomada de posse, no passado dia 1 de Julho
ainda Ramonet afirmava que Obama «não cometeu nenhum erro importante (…),
manteve as suas principais promessas (…), [e] contrariamente à fanática carga
ideológica da diplomacia de George W. Bush, (…) adoptou uma atitude
não-ideológica (…) multiplicando, (…) os gestos de conciliação, de abertura e
(…) de firmeza (…), [na tentativa de] reabilitar a credibilidade dos Estados
Unidos e reganhar a confiança internacional».
Atendo-nos aos factos,
tirando a proposta de reforma do sistema de saúde, nada há na política interna e
externa de Obama que permita concluir ter havido uma alteração às práticas e
objectivos da administração Bush. Inclusive intensifica a política belicista,
como o demonstra o acordo com a Colômbia de criar aí mais 7 bases militares,
para somar às 865 que os EUA já têm no estrangeiro.
Obama e a
«abertura» a Cuba
As relações EUA-Cuba foram objecto de uma enorme
campanha de manipulação da opinião pública: Em 13 de Abril, na véspera da
Cimeira das Américas, foi criada na opinião pública mundial por manipuladora
campanha na imprensa, a ideia que os EUA tinham derrogado as restrições a
cubanos residentes naquele país, para viajarem até Cuba, e feito algumas
alterações no campo das telecomunicações, mas a realidade é que essas medidas
«até ao momento presente não foram implementadas».
Sem a agressividade de
Bush, Obama mantém o essencial da política do governo anterior: permanece
intacto o bloqueio económico, financeiro e comercial a Cuba e o país caribenho
continua na lista criada por Bush de Estados promotores do terrorismo
internacional.
Se Obama adopta o estilo de estadista da abertura, já
Hillary Clinton falando dum diálogo que apenas se abriu em 14 de Julho
exclusivamente para questões de emigração, diz que quer «ver mudanças
fundamentais no regime cubano».
A nova estratégia afegã
Na
euforia da vitória passaram despercebidas as declarações de Obama que a guerra
no Afeganistão era um objectivo estratégico da sua política na luta contra o
terrorismo. O novo objectivo estratégico passa pela intensificação da guerra que
a NATO está a perder e pela nomeação do Gen. McCrhystal para o comando militar
estadunidense e da NATO no Afeganistão.
Muito apreciado por Rumsfeld e
Dick Cheney, Stanley McCrhystal foi comandante das Operações Especiais Conjuntas
do Pentágono, um corpo militar frequentemente acusada da prática de tortura e do
bombardeamento de populações civis por engano, no Iraque, no Afeganistão, e de
há uns meses para cá no Paquistão… A sua nomeação não pode ser desligada da
decisão de Obama de proibir a publicação de dezenas de fotos a documentar a
prática de tortura por militares norte-americanos sobre prisioneiros,
nomeadamente das Forças Especiais sob comando de General Stanley McCrhystal, com
a desculpa esfarrapada de que «afectaria negativamente as tropas».
É num
país ocupado por um exército atolado neste lodaçal que teve lugar a farsa
eleitoral do passado dia 20.
Os motivos para as considerar uma farsa são
inúmeros, apesar de Barack Obama as ter considerado «um êxito».
Ninguém
acredita nisso: O recenseamento é uma burla, num país atrasado onde a quase
totalidade das mulheres ainda usa burka, há mais eleitores femininos que homens;
apesar de já ter acabado a contagem dos votos só em meados de Setembro está
prevista a divulgação dos resultados; a tinta indelével com que os eleitores são
marcados no indicador direito e que era suposto permanecer no dedo durante uma
semana, foi pelo candidato Ramazan Bashardost apagada com lexívia diante dos
jornalistas, durante uma conferência de imprensa realizada no próprio dia das
eleições.
Podem multiplicar-se os exemplos…
Um populista acima
da média
Com uma cultura acima da média dos políticos
norte-americanos e um discurso fluido e bem elaborado, Barack Obama não está, na
opinião de James Petras em conversa há três anos num hotel de Lisboa, no mesmo
nível de Hillary Clinton, uma versão humana da capacidade de raciocínio de
barbie que, já a pensar no futuro, uma intensa campanha de imprensa
durante o mandato do marido transformou em estadista…
À senhora Clinton
ainda lhe assoma á boca a agressividade do império e deixa ver o jogo que o
presidente esconde como um profissional de poker.
Ao escolher Timothy
Geithner para seu secretário do Tesouro, até aí presidente do Reserve Federal
Bank de Nova Iorque, Obama confiou a Wall Street a decisão sobre as
medidas a tomar para a resolução da crise e pôde começar a dedicar-se aos temas
quentes da política externa, onde já mostrou ser um hábil e inusual dirigente
político dos negócios do império, um homem do establishment, como não
podia deixar de ser.
Nas grandes questões internacionais, com uma
retórica polida e apaziguadora, reafirmou todas as opções da administração Bush:
incondicional apoio a Israel, criação da força de intervenção rápida em África
para protecção dos interesses norte-americanos altamente prejudicados com o que
entende ser a instabilidade política, reafirmação da natureza agressiva e
belicista da NATO onde a União Europeia deve continuar a ter o papel subsidiário
de seguidora das decisões norte-americanas, manutenção do escudo antimísseis na
República Checa e Polónia, como forma de pressão sobre a Rússia…
Quanto
às Honduras as declarações públicas contradizem as posições encobertas: Em 21 de
Junho (sete dias antes do golpe), como relatou o diário La Prensa, os políticos
golpistas e chefias militares reuniram com o embaixador norte-americano, Hugo
Llorens, um cubano-americano colaborador de Otto Reich, que com ele já
participou na preparação o golpe falhado da Venezuela em 2002…
Mudou o
estilo grosseiro e boçal de George W Bush, sem que isso signifique uma política
de respeito pelos outros povos, países e governos.
Os quase 700 milhões
de dólares que o capital norte-americano fez chegar à milionária campanha
eleitoral de Obama não indiciavam outra coisa.
O capital sabe em que
cesta põe os ovos.
Lisboa, 23 de Agosto de 2009
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