NCeHu 616/09
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O efeito tequila
dos tucanos
Emir
Sader
www.cartamaior.com.br ,
9/9/09
Se os tucanos estivessem governando o
Brasil – seja com a vitória de Serra em 2002 ou de Alckmin em 2006 – os efeitos
da crise que o país está superando, seriam tão devastadores como foram os da
crise de janeiro de 1999. O Brasil teria elevado a taxa de juros a alturas
estratosféricas – em 1999 foi para quase 50% -, os gastos públicos sofreriram
novo corte drástico, se assinaria novo acordo com o FMI, com a obrigação dessas
medidas, mais privatizações de empresas estatais, etc., etc., como o governo FHC
tinha acostumado ao país.
Para não ir mais longe: teríamos o mesmo
destino do México. Como os tucanos são adeptos dos Tratados de Livre Comércio –
tinham comprometido o Brasil com a Área de Livre Comércio para as Américas,
Alca, que o governo Lula enterrou – estaríamos sofrendo as mais duras e diretas
consequências da recessão norteamericana. O México, ao assinar o TLC da América
do Norte – o Nafta – teve seu comércio com os EUA elevado para mais de 90% do
total. Podemos imaginar o tamanho da recessão mexicana. Calcula-se que a
economia terá um retrocesso de 7% neste ano, sem perspectivas de recuperação.
Não por acaso o governos do México bateu uma vez às portas do FMI, com as
consequências que se conhece, pela assinatura de mais uma Carta de
Compromisso.
Combinam-se no México vários elementos explosivos de crise:
para começar, um presidente neoiberal, Calderón, que procura dar continuidade ao
programa de governo Fox, com a agravante de que triunfou por uma margen exígua
de votos, com muitos indícios de fraude. Em segundo lugar, a profunda crise
econômica, resultado das políticas neoliberais, agravada pela abertura econômica
do Tratado de Livre Comércio assinado pelo México, com as consequências da
recessão norteamericana. Em segundo lugar, a explosiva expansão do narcotráfico,
com a aceleração da violência e da crueldade da ação das gangues e do exército e
das polícias, fruto da situação limítrofe com os EUA, o maior mercado consumidor
de drogas do mundo. Em terceiro lugar, a situação difícil dos trabalhadores
mexicanos nos EUA, que sofrem mais diretamente os efeitos da crise: diminui a
ida de mexicanos, porque os postos de trabalho diminuíram sensivelmente, ao
mesmo tempo que diminui enormemente o envio de dólares para as familias
mexicanas.
O livre comércio trouxe para o México, inicialmente, a
promessa de desenvolvimento econômico, que ficou no entanto restrito à fronteira
norte, onde o trabalho de mulheres e crianças nao sindicalizadas atraía capitais
pela superploração da mão de obra. Mas mesmo essa “vantagem comparativa”
desapareceu, conforme a China, mesmo situada incomparavelmente mais distante,
atraiu as empresas, pela maior qualidade da mão de obra, seu preço menor e,
especialmente, a capacidade de consumo do mercado chinês.
Hoje o México
vive situação que viveria o Brasil, uma brutal ressaca do tequila com que os
tucanos teriam embebado o país.