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O
Afeganistão tem História
A
coberta do termo eleições no Afeganistão, “O que se prepara para 20 de Agosto
é mais uma farsa monumental. Não há nem pode haver eleições dignas desse nome
sob a ocupação e o terror militar. O que os EUA pretendem é dar uma aparência
de legitimidade ao regime fantoche de Kabul e ao seu homem de mão, H. Karzai,
bem conhecido pelo seu longo historial ao serviço da CIA”.
Albano Nunes
14.08.09
A guerra no Afeganistão intensifica-se. As tropas
anglo-americanas e da NATO são cada dia mais numerosas e as operações militares
atingem cada vez mais dramaticamente as populações civis. Ao mesmo tempo aumenta
a resistência às forças de ocupação que no último mês sofreram o maior número de
baixas de sempre. A braços com a crescente oposição à guerra nos seus próprios
países, os invasores procuram convencer o mundo que agem no interesse do povo
afegão. A escalada militarista em que, pela mão do Governo do PS e do Presidente
da República, Portugal está a ser inquietantemente envolvido, é conduzida a
pretexto da «segurança» das próximas «eleições». É sabido que tais afirmações
não têm a mínima credibilidade. O que de há muito transformou o Afeganistão em
alvo fundamental do imperialismo é a sua posição geo-estratégica e o petróleo da
região. Mas nem por isso pode abrandar a desmistificação dos propagandistas da
guerra.
1. As «eleições». O que se prepara para 20 de Agosto é mais uma
farsa monumental. Não há nem pode haver eleições dignas desse nome sob a
ocupação e o terror militar. O que os EUA pretendem é dar uma aparência de
legitimidade ao regime fantoche de Kabul e ao seu homem de mão, H. Karzai, bem
conhecido pelo seu longo historial ao serviço da CIA. É para «eleger» este
sujeito que, com a firme oposição do PCP, o contingente militar português foi
recentemente reforçado.
2. Os «talibã». Conceito nebuloso e
instrumentalização evidente. Tomaram o poder com o apoio dos EUA a partir do
Paquistão, como aliás aconteceu com Bin Laden. Serviram de pretexto para a
invasão. São hoje o pretexto para a violenta repressão de toda e qualquer
oposição ainda que simplesmente nacionalista. No labéu «talibã» cabe tudo quanto
resista ao imperialismo. É sintomático que H.Karzai, que a seu tempo os apoiara,
procure a todo o custo entender-se com os «talibã» contra os interesses vitais
do povo afegão.
3. O ópio. A sua cultura e comércio em larga escala é uma
realidade. Cerca de 80% do tráfico mundial seria proveniente do Afeganistão. Mas
quando em 2001 os EUA invadiram o país as plantações opiácias estavam
praticamente erradicadas. A questão está a ser descaradamente manipulada pela
reacção e pelo imperialismo para justificar a ocupação. Como aliás acontece com
a coca na Colômbia onde foi recentemente anunciada a cedência aos EUA de novas
bases militares, o que além de visar a resistência armada e popular colombiana
constitui uma seriíssima ameaça à segurança da Venezuela e de outros processos
progressistas na região.
4. A revolução de Abril. O povo afegão tem
História. É necessário não permitir que a componente patriótica e revolucionária
dessa história milenar seja soterrada na campanha de desinformação que rodeia a
guerra no Afeganistão. Um berço da civilização humana. Um povo mosaico de muitos
povos que se tornou conhecido pela resposta corajosa que deu a repetidas
invasões, particularmente do imperialismo britânico. Um país solidário com a
Revolução de Outubro e que manteve com a URSS relações de boa vizinhança. Um
povo que se libertou da monarquia feudal e que em Abril de 1978, sob a direcção
do Partido Democrático e Popular, empreendeu o caminho de profundas
transformações revolucionárias, num processo complexo mas exaltante, que acabou
derrotado pela acção conjugada das forças feudais e obscurantistas e da
conspiração imperialista que, como reconheceu Brezinsky, o célebre «conselheiro
para a segurança» de James Carter, começou muito antes da entrada das tropas
soviéticas no país.
Os objectivos do imperialismo no Afeganistão são
muito sérios. Portugal está a ser arrastado na corrente militarista que já
anuncia para a NATO, braço armado da globalização imperialista, nova revisão do
seu conceito estratégico em sentido ainda mais agressivo. E propõe-se fazê-lo
precisamente em Lisboa no próximo ano. O que torna ainda mais necessária a
denúncia das manipulações e falsificações imperialistas.
Este
texto foi publicado no Avante nº 1.863 de 13 de Agosto de 2009
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