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Asunto: | NoticiasdelCeHu 438/09 - Honduras ... ( James Petras ) | Fecha: | Domingo, 5 de Julio, 2009 08:37:27 (-0300) | Autor: | Noticias del CeHu <noticias @..............org>
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NCeHu 438/09
Honduras: "O golpe não poderia ter ocorrido
sem a cumplicidade dos EUA"
Chury: Ao iniciar nosso panorama internacional
de notícias, como sempre às segundas-feiras, temos as análises ponderadas
de James Petras nos Estados Unidos. Bem vindo, Petras.
Petras:
Aqui estamos a analisar os acontecimentos em Honduras e as respostas
internacionais num panorama por um lado muito claro e por outro muito
escuro.
Chury: Certamente quando me falas de escuro referes-te
a Honduras.
Petras: Sim, falamos do golpe de estado e das
respostas dos diferentes organismos internacionais, regionais e também a
resposta da Venezuela e do presidente Zelaya.
Chury: Aqui há
expectativa sobre qual é a atitude assumida pelo governo norte-americano
frente ao primeiro golpe que se verifica sob o governo de Barak Obama.
Petras: Bem, mais uma vez uma divisão. Um sector de esquerda
analisa os vínculos entre os militares hondurenhos, o Pentágono e
organizações clandestinas norte-americanas como a CIA e as fundações com
as ONGs golpistas e concluem que os EUA estavam implicados, são cúmplices,
porque o controle que têm, a influência que tiveram os militares
norte-americanos nas Honduras, é muito profunda e de muito longo prazo...
Chury: Que vem do tempo dos contra também.
Petras:
Sem, há muito tempo Honduras foi trampolim para o golpe contra Arbenz em
1954; foi a ponta de lança para a invasão de Cuba em 1961; foi a casa dos
contras com 20 mil soldados mercenários lançados a partir de Honduras. É
um país muito colonizado desde há muito tempo e Zelaya, por outro lado, é
um burguês reformista tibiamente crítico ou, poderíamos dizer,
independente de algumas políticas norte-americanas do passado e da
actualidade e tenta conseguir benefícios ligando-se à Venezuela por causa
da ajuda petrolífera, a ajuda económica. O facto de ter assumido uma
autonomia relativa em relação à integração do ALBA associando-se à
Venezuela foi a razão para o deslocarem. Agora, a política de Obama é
muito mais subtil do que no passado. Diplomaticamente condenaram a
situação de violência e em primeira instância não condenaram os militares
pelo golpe, mas depois de a OEA o ter feito de forma unânime é que eles se
somaram à denúncia. Mas sabemos que o que dizem em público, em fóruns onde
não têm alternativa, é uma coisa e o que fazem a partir dos seus contactos
e ligações em Honduras é outra. Agora, a prova do envolvimento ou não dos
Estados Unidos vai passar pelas medidas que tome a OEA. Há várias
possibilidades. A política é: as forças devem dialogar com os golpistas no
Congresso e o presidente títere trata de resolver o conflito. Como só
restam seis meses do regime eleito, poderiam prolongar as negociações para
que ele volte ao governo por pouco tempo mas sem possibilidade de aprovar
a reforma da Constituição.
Há que reconhecer várias coisas: Zelaya
não propunha um referendo. Era uma consulta que não tinha força de lei. E
segundo, foram os militares que se negaram a cumprir as ordens do
presidente eleito. E, neste contexto, dizer simplesmente que haja um
diálogo entre os violentos, os ilegais, os golpistas, com o presidente
eleito parece-me um disparate. Por esta razão: Washington quer castigá-lo
como um exemplo para os outros países no Caribe, do que lhes poderia
acontecer se eles se envolvem com Chávez. E é uma dupla política. O que a
esquerda deveria saber, inclusive alguns que deveriam conhecer isso
melhor, é que simplesmente criticar formalmente não significa nada com
este presidente que temos. É o mesmo que se passou no Irão com o golpe
fracassado, criticar o processo eleitoral enquanto estão a fomentar e
financiar os golpistas nas ruas.
Neste caso utilizaram uma parte
da institucionalidade e no Irão lançaram os estudantes e os sectores mais
pró ocidentais às ruas. Mas é o segundo golpe do senhor Obama, muito bem
disfarçado e com a cumplicidade da esquerda que só enfoca no aspecto mais
superficial: os militares, que são simplesmente instrumentos da política
norte-americana. Todos treinados pelos Estados Unidos, todos assessorados
pelos Estados Unidos, todos receberam ajuda financeira e armas dos Estados
Unidos. Actualmente há inclusive assessores norte-americanos que funcionam
na Embaixada e temos o caso dos militares norte-americanos que em momento
algum intervêm para dizer "nós nos opomos a este acontecimento".
Chury: Quer dizer então que na realidade é muito hipócrita a
posição do governo de Obama.
Petras: Bem, é muito inteligente
manejar melhor as relações públicas e o que cala é bom para que a OEA não
condene os Estados Unidos mas condene simplesmente os militares, e
enquanto isso as declarações da OEA são que os protestos devem respeitar o
âmbito constitucional. Que âmbito constitucional existe quando o
Congresso, o Tribunal Supremo e os militares destituíram o presidente
eleito? Não há âmbito constitucional; é um quadro anti-democrático e
anti-constitucional. Então só querem que a gente marche em protesto e
volte para casa. Os sindicatos e os camponeses têm outro projecto: uma
greve geral indefinida e marcha permanentes até que o governo de Zelaya
retorne. Então há uma diferença subtil que devemos anotar porque as
grandes manchetes dizem "OEA repudia o golpe", muito bem. Mas e depois?
Como vão manejar a situação, a negociar com estes poderes golpistas que
são uma frente muito poderosa? E o que poderia sair disso, desarmar a
possibilidade de um voto constitucional e retorna Zelaya como preso na
presidência sem capacidade de criar um quadro melhor para que os processos
democráticos marchem em Honduras? Por isso digo que há uma parte clara e
uma parte escura nisso. Por que todo o mundo aplaude que as Nações Unidas,
a OEA, o ALBA, o Mercosul, a Unasur, condenem o golpe. Sim, está bem, mas
quais são as acções práticas? Vão impor um embargo, vão romper relações
com os golpistas, vão organizar algum embargo sobre o comércio? Que
medidas práticas vão tomar? Os Estados Unidos vão retirar o seu
embaixador, vão retirar seus assessores golpistas?
Porque uma
denúncia simplesmente folclórica e que tudo siga normalmente económica e
politicamente parece-me um acto meramente simbólico e inconsequente.
Chury: Petra, isto leva-me a Roma e Júlio César. Parece que
para Honduras a sorte está lançada.
Petras: Bem, não sei em
que grau. Por exemplo, o que preocupa Bachelet e os outros governos
burgueses na América Latina é que este golpe é contra um governo burguês
liberal, o de Zelaya, que não mudou nenhuma propriedade, não nacionalizou,
não fez nenhuma reforma agrária mas apenas facilitou os direitos
democráticos das organizações sociais para que possam articular as suas
reivindicações. Nesse sentido é um democrata, mas sem nenhuma radicalidade
em medidas sócio-económicas. Por isso queria rever a Constituiçã para
introduzir algumas mudanças sócio-económicas, mas até agora as medidas
mais progressistas estão na política externa. Mas todos os governos da
América Latina devem estar muito preocupados porque eles se podem
identificar com um governo liberal democrata e se há um golpe contra
Zelaya por que não se podem multiplicar os golpes agora na América Latina
a partir das crises económicas e das dificuldades para continuar com a
política económica actual? São os seus próprios interesses que estão em
jogo agora. Inclusive o governo do Uruguai deve considerar que um golpe na
América Central pode parecer algo comum e que não está neste círculo, mas
os militares têm um modo de tomar lições do que se passa em outras partes
e do que se pode fazer, que podem não escapar a um castigo exemplar. Por
esta razão todos querem condenar o golpe; porque poderia ser um efeito
dominó: um golpe em Honduras, depois um golpe no Equador, um golpe na
Bolíva, ... E por esta razão que é muito perigoso e Washington está a
olhar para ver como tudo isso vai acontecer. A primeira prioridade de
Washington é deslocar um aliado de Chávez e a segunda, o mal menor, é que
volte a ser governo mas enquadrado num contexto em que não possa continuar
a mandar, como um presidente preso no palácio presidencial. E depois, em
Novembro, em menos de seis meses, outra eleição em que o partido liberal
muda o candidato, põe um reaccionário de turno e termina o perigo de uma
aliança centro-americana com Chávez.
Há dois carris em Washington:
um é simplesmente deslocar Zelaya e o outro é terminar com um
prolongamento falso deste governo.
Uma indicação de tudo isso é a
reportagem da BBC que lemos esta manhã. Tem uns 15 parágrafos e 13 estão a
dar a voz e a opinião da direita. Inclusive a dizer mentiras, como que o
senhor Zelaya queria fazer uma emenda à Constituição, o que é falso porque
era uma simples consulta, não era propriamente um referendo. E segundo, há
comentários do governo dos golpistas, comentários de alguém na rua que diz
estar alegre por ter caído o governo.
É um artigo pró golpe esse
da BBC, o qual é um media muito degenerado nos últimos anos. Os media
reflectem algo do que realmente pensam em Washington e os argumentos que
vão mencionar: que os militares estavam apoiados pelo Tribunal Suprema,
que não é uma violação ao governo civil e sim que os militares estão a
controlar, revertendo a ordem completamente. Tratam de esconder com uma
nuvem de fumo o grande significado do golpe, dar-lhe legitimidade
enfatizando o novo presidente do Congresso. Dizem que era o segundo na
hierarquia presidencial, etc. Devemos ler com atenção o que dizem os media
neste sentido, que tentam minimizar o significado da derrubada.
Chury: Em síntese, Petras, os Estados Unidos são alheios a este
golpe em Honduras ou são parte dele?
Petras: Eu creio que
estão implicados e há que dizê-lo. Os EUA não tiveram problemas em
convencer os militares devido aos seus próprios interesses e ideologia e
toda a oligarquia estava contra simplesmente porque não controlava Zelaya
tão bem como controlava todos os mal chamados presidentes passados. Então
foi uma confluência de interesses imperialistas, oligárquicos e militares.
E não tenho nenhuma dúvida de que com a presença norte-americana, a
presença militar profunda em Honduras, não há nenhuma possibilidade de
este golpe ter ocorrido sem a cumplicidade dos Estados Unidos.
Ninguém pode imaginar forças armadas mais subordinadas ao
Pentágono que as de Honduras, que não actuam simplesmente por sua conta,
não actuam independentemente dos EUA, não actuam sem que os EUA e os
militares, que funcionam nos mesmos quartéis, nos mesmos Ministérios, não
se pode imaginar que o general do exército de Honduras possa actuar sem a
cumplicidade activa dos Estados Unidos.
Chury: Vamos deixar
este tema, que certamente vai dar muito o que falar. Tivemos eleições no
Rio da Prata. As eleições para a renovação do Congresso argentina e a
eleições internas do Uruguai.
Petras: Da Argentina recebemos a
notícia de que os Kirchner estão muito enfraquecidos, que subiu a direita
dura e, como previmos, com a crise económica o centro-esquerda que é
responsável pela política de dependência sofreu muito e então a direita é
a primeira beneficiária, mas Pino Solanas [NR] aumentou enormemente a votação.
Chury: Sim, é a surpresa.
Petras: Sim, mas também é
uma expressão de como as crises dividiram o país e Pino teve a capacidade
de aglutinar uma força, ao passo que todos os trotsquistas, o Partido
Obrero, os PTS e os demais fragmentam-se não conseguem nada. O mesmo de
sempre: quando aumentam de um por cento para um vírgula cinco crêem que é
um grande êxito. Neste sentido creio que é um sinal de que o
centro-esquerda está em crise. Dissemos isso há um ano aqui. Que frente à
crise económica isto de tentar equilibrar forças entre exportadores,
burgueses, industriais, operários, não tinha mais caminho, que não poderia
continuar. Mas Kirchner e Cristina Fernández continuaram a mesma política
anterior e à crise e a polarização vai contra eles, porque ambos assumem a
responsabilidade pelos efeitos da crise capitalista porque são o governo e
a direita aproveita na sua posição contra o governo para colher votos dos
descontentes. Agora, poderias informar-me se Mujica subiu em relação a
Astori e Tabaré?
Chury: Sim, mas não é o principal da eleição
de ontem no Uruguai. O principal é que o Partido Nacional, con Lacalle à
cabeça, ficou acima da Frente Ampla.
Petras: Repete-se o que
se passou na Argentina. Repito: o centro-esquerda em tempos de crise é
culpável pelos problemas sociais que surgem. Assumiram toda a
responsabilidade pela trajectória capitalista, o capitalismo entra em
crise e as pessoas deslocam-se para a oposição, independentemente de que a
oposição vá continuar e aprofundar as mesmas medidas de crise que a Frente
Ampla. Há uma votação significativa da classe média que diz: quem está a
provocar as minhas dores, quem está a afectar o emprego?: é o governo. O
governo é a Frenta Ampla, então assume todos os custos de continuar a sua
política económica. O que se passa é que a esquerda não é suficientemente
forte e diferenciada da Frente Ampla para aproveitar um deslocamento da
Frente Ampla para a esquerda. É uma lástima, é trágico que por muito tempo
a esquerda tenha estado associada com a Frente Ampla e por esta razão não
acumulou uma imagem suficientemente crítica e contra ela para que possam
servir como um pólo de atracção. Então ganham o Partido Nacional, Macri na
Argentina...
Considero que isso vai ser um fenómeno continental:
onde o centro esquerda maneja e manda neste período de crise, sofrerá
golpes eleitores.
Chury: Petras, como estamos no final do
tempo, tenho que agradecer a análise e dar-te um abraço muito grande.
Encontramo-nos segunda-feira como sempre.
Petras: Um abraço
para todos.
02/Julho/2009
Washington quer Zelaya de volta inabilitado
politicamente
James Petras
O governo dos Estados Unidos esteve por
trás do golpe de Estado ao presidente José Manuel Zelaya, mas o
repúdio mundial a esse feito o tem posto a negociar com os chefes
militares de Honduras, a possibilidade de que o presidente deposto
reassuma seu cargo, mas em condições tais que lhe seja muito difícil
continuar a linha de relações que mantém com os países da ALBA e, em
particular, com o presidente Chávez.
Assim considerou o
analista e acadêmico estadunidense, James Petras, em entrevista
exclusiva à Agencia Bolivariana de Noticias, sobre a situação que se
vive em Honduras.
A seu juízo, o governo norte-americano
está implicado no golpe de Estado em Honduras. Esta análise pode ser
feita a partir de muitos ângulos.
Primeiro está o fato de
que os militares hondurenhos não funcionam sem consultar os
assessores presentes nesse país".
Petras disse que os
assessores estadunidenses estão em todos os níveis da hierarquia
militar hondurenha. "Estruturalmente é impossível aos militares
hondurenhos moverem um dedo sem consultar os assessores dos Estados
Unidos".
"Segundo – explica – o governo de Obama está muito
irritado pelo fato de que Zelaya está aliado a Chávez e recebendo
ajuda econômica em associação com a ALBA".
Assinala o
analista que até agora o Governo de Obama não reconheceu que houve
um golpe militar "e não cortou nenhuma ajuda nem relações com o
governo golpista".
Disse que todas as medidas adotadas até
agora pelo Governo de Washington, são reações forçadas pelo repúdio
mundial ao golpe.
"Em principio – destaca – não denunciaram
o golpe e foi só depois de toda a região da América Latina ter
condenado o golpe, depois de muitas vacilações e para não ficar
isolados, adoptaram a posição das Nações Unidas, OEA e demais
organismos internacionais, mas sempre com muitas reticências porque
não querem debilitar os seus aliados militares e da oligarquia".
Informou que nas discussões nas Nações Unidas sobre o tema,
a delegação dos Estados Unidos prolongou as deliberações durante
quatro horas, para moderar a declaração final.
E acrescenta
que enquanto os países da América Latina retiraram seus
embaixadores, Washington mantém o seu.
"Agora estão tentando
evitar que Zelaya volte ao país como presidente e, caso volte, que o
faça numa situação institucional que debilite sua política de
aliança com Chávez. Não há dúvida de que Obama pensou poder dar o
golpe sem maiores conseqüências".
"Agora mais uma vez temos
um efeito bumerangue. Cada vez que Obama tenta projetar o poder
estadunidense, seja no Afeganistão, ou em relação à política
econômica, o plano de estímulos financeiros ou o que seja, lança a
política e depois tem de retroceder, porque no momento atual não é
possível seguir a política imperialista dos presidentes anteriores",
afirma.
- Qual poderá ser o desenlace desta situação quando
Zelaya se apresentar sábado em Tegucigalpa?
- Tudo dependerá
do grau de apoio que os Estados Unidos continuem a prestar. Se
continuam a não caracterizar esse Governo como golpista, e continuam
com a ajuda e mantém o embaixador, creio que pode fracassar a volta
de Zelaya.
Petras faz uns segundos de pausa e continua: "Eu
creio que estão negociando com os golpistas agora, tentando
minimizar os efeitos do regresso; tentando separar a OEA e os
presidentes do Equador e Argentina de Zelaya. Penso que tentarã
prender Zelaya o que provocaria uma grande crise em todo o
continente e poria os Estados Unidos numa posição muito incomoda".
Insiste na importância do apoio dos Estados Unidos ao
governo golpista, porque a seu juízo, Honduras pode viver sem um
lugar na OEA, mas não sem 85% de seu comércio com o país do norte.
"Mas muito dependerá do grau em que Washington consiga
enfraquecer Zelaya, para que volte como um presidente impotente, que
não possa lançar nem a consulta nem o referendo. Creio que
Washington está procurando isso".
03/Julho/2009
O original encontra-se em www.kaosenlared.net
(NR: efectuadas pequenas correcções).
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 [Adjunto no mostrado: ir?t=resistirinfo-21&l=ur2&o=8 (application/octet-stream)
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