INDUSTRIALIZAÇÃO E CONCENTRAÇÃO MICRORREGIONAL DEMOGRÁFICA,
DA RENDA E DO EMPREGO
NO VALE DO PARAÍBA PAULISTA ENTRE 1970 E
2000.
Edson Trajano Vieira
Resumo
A mesorregião do Vale
do Paraíba paulista – VPP está localizada no eixo da rodovia Presidente Dutra, a
mais movimentada do país, entre os três principais municípios brasileiros: São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nas últimas três décadas do século XX, a
região formada por seis microrregiões e 39 municípios, passou a ser um dos
maiores pólos de crescimento da atividade industrial, abrigando grandes empresas
nos segmentos aeroespacial, automobilístico e petrolífero. Nesse contexto, este
estudo tem como objetivo analisar a evolução do crescimento e a desigualdade nos
indicadores demográficos, de renda e emprego dentre as microrregiões do Vale do
Paraíba, no período de 1970 a 2000. A partir de uma pesquisa bibliográfica e de
um levantamento de dados, verificou-se que o PIB da macrorregião, puxado pela
atividade industrial, cresceu mais do que o dobro da média nacional e o triplo
da estadual durante o período em análise. Entretanto, o crescimento da renda foi
concentrado em alguns poucos municípios, especialmente os localizados na
microrregião de São José dos Campos. Essa microrregião possui uma renda per
capita quase duas vezes superior à renda média nacional sendo, ainda, maior que
a estadual e seis vezes superior à da microrregião de Bananal, a mais pobre do
Vale do Paraíba paulista. Dentre as microrregiões, São José dos Campos é a única
que possui renda per capita superior a nacional, concentrando 84,86% do PIB da
mesorregião. Essa desigualdade gerou um grande fluxo migratório, especialmente
pela procura por emprego, em direção aos municípios mais ricos, situação que
agravou o desemprego nos mesmos. A falta de um planejamento regional, mesmo com
a criação do Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba - CODIVAP
em 1971, gerou uma grande concentração espacial da renda entre as microrregiões
e no interior das mais ricas do que derivou os mesmos problemas socioeconômicos.
Palavras- chave:
Industrialização,
Emprego, Renda, Vale do Paraíba paulista.
Abstract
The
mesoregion of the Paraiba Valley - VPP is located on axis of the President Dutra
highway, the most bustling of the country, among the three main Brazilian
cities: São Paulo, Rio de Janeiro and Belo Horizonte. In the last three decades
of the twentieth century, the region formed by 6 micro regions and 39 cities,
has become one of the major poles of growth of industrial activity, housing
large companies in segments aerospace, automobile and oil. In that context, this
study aims to examine the evolution of growth and inequality in demographic
indicators of income and employment among the micro region of Paraiba Valley,
from 1970 to 2000. From a literature search and a survey data, found that the
GDP of the macro region, pulled by industrial activity, grew more than twice the
national average and three times the state during the period. Meanwhile, growth
in income was concentrated in a few cities, especially those located in micro
region of Is Jose of the Fields.
This micro region has a per capita income almost twice the national average
income and, still, more than the São Paulo State and six times higher than that
of micro region of Banana plantation, the poorest of Paraiba Valley. Among the
micro regions, Sao José dos Campos is the only one that has per capita income
exceeding national, concentrating 84.86% of GDP in the mesoregion. This
inequality has generated a great migration, especially by demand for employment,
towards the richest cities, which worsened the unemployment situation in them. A
lack in regional planning, even with the creation of Consórcio de
Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba CODIVAP in 1971, generated a large
concentration of rental space, where the richest cities have the same
socioeconomic problems of the poorest.
Keywords: Industry,
Employment, Income, Paraiba Valley.
1)
Introdução
O
Vale do Paraíba paulista - VPP teve uma industrialização acelerada que gerou um
grande crescimento econômico nas décadas de 1970 e 80 e o transformou em um dos
principais centros de produção industrial e tecnológica do país. Nele estão
instaladas grandes empresas produtoras de aviões, foguetes e automóveis. No
entanto, esse crescimento está concentrado nos poucos municípios, onde estão
instaladas as grandes empresas transnacionais e estatais, enquanto a grande
maioria dos municípios continua com atividades agrícolas de subsistência e um
pequeno comércio. Com isso, tem-se uma grande desigualdade de renda na região o
que intensifica o fluxo migratório em direção às áreas mais ricas com o
agravamento do problema socioeconômico geral.
A
industrialização dos principais municípios que ficam à margem da rodovia
Presidente Dutra está diretamente associada à facilidade de acesso aos grandes
centros de consumo e produção do país, principalmente os da Região Metropolitana
de São Paulo, com isso o crescimento econômico regional, ampliou as diferenças
econômicas entre os municípios.
O
objetivo desse trabalho é demonstrar e analisar a evolução, de 1970 a 2000, do
crescimento populacional e econômico, dando ênfase à industrialização, à renda
per capita e ao emprego entre as microrregiões do Vale do Paraíba, verificando a
evolução desigual desses indicadores para apresentar as razões e conseqüências
desse processo.
2) Metodologia
As respostas aos
problemas apresentados na introdução demandarão uma postura metodológica a ser
aplicada conforme os pressupostos teóricos apresentados. Uma delimitação clara
do estudo ajudará na definição do propósito do trabalho, cumprindo-se, assim, os
objetivos propostos. O estudo da história econômica trabalha com duas variáveis
indispensáveis: tempo e espaço.
A primeira variável,
a evolução econômica, ocorre em ciclos, que são flutuações periódicas, com fases
de expansão e contração das atividades econômicas de uma determinada região.
Raramente a economia tem evolução contínua e uniforme. Esse fator dificulta uma
análise cronológica precisa. Os principais teóricos a respeito dos ciclos
econômicos foram Clément Juglar (1819-1905) e Nikolai Kondratieff (1892-1930).
Juglar estudou os ciclos econômicos e a construção periódica das crises de curta
duração, com variações alternadas de oito a dez anos, enquanto Kondratieff
estudou as variações econômicas de longo prazo, de 40 a 60 anos.
A segunda é que esses
ciclos ocorrem em diferentes períodos, nas diversas regiões, mesmo que, muitas
vezes, elas estivessem interligadas. Dentre os estudiosos em relação aos espaços
econômicos, destacamos Walter Christaller (1893-1969) e François Perroux
(1903-1987). O primeiro organiza os espaços econômicos a partir do oferecimento
de bens e serviços do lugar, estabelecendo uma hierarquia entre as regiões e
destacando o porquê de uma região exercer influência sobre a outra. O segundo
analisa a formação de pólos econômicos, fazendo uma relação direta entre o
espaço e a história. A formação de um pólo econômico depende dos fatores
naturais, mas é, sobretudo, fruto das atividades humanas que atuam sobre o
espaço geográfico (CLEMENTE e HIGACHI, 2000).
O levantamento
quantitativo dos dados, ao longo do tempo, e do modo como estão distribuídos, é
de fundamental importância para a análise econômica proposta. Ou seja, será um
estudo de história quantitativa com objetivo de estabelecer a posição do autor
de acordo com o contexto histórico e espacial.
Num sentido geral, método em pesquisa
significa a escolha dos instrumentos e a sua utilização sistematizada para a
descrição e explicação de fenômenos. Consiste em delimitar o problema, fazer as
observações necessárias e interpretá-las com fundamentos teóricos e/ou
quantitativos.
Para Marczewski (1965), aos instrumentos da história quantitativa são
agregados valores extraídos das contas, analisando-se as variações, a sua
importância e estrutura ao longo do tempo e do espaço. O uso de estatísticas,
pelos historiadores econômicos, serve para caracterizar uma estrutura de um dado
momento e mostrar sua evolução ao longo de um período, ou para mostrar as
relações de dependência entre as variáveis em estudo.
A história
quantitativa está apoiada em séries de dados numéricos e qualitativos,
resultando em um esforço no sentido de elaborar modelos, esquemas teóricos que
estabelecem, tanto quanto possível, o uso de ferramentas matemáticas e
estatísticas para analisar uma realidade social (Arruda, 1980). O grande desafio do historiador,
no uso das ferramentas quantitativas, é coletar e organizar dados históricos,
sistematizando-os, com o objetivo de atender aos resultados propostos. Por isso,
o levantamento quantitativo é uma das ferramentas de trabalho do historiador,
mas nunca deve ser a única. O levantamento de dados é de fundamental importância
na descrição dos fatos, desde que seja sistematizado e se proceda a uma análise
crítica, evitando distorções.
A pesquisa
concentrará um levantamento de fontes bibliográficas sobre o crescimento
econômico e a industrialização do VPP e um levantamento de dados
socioeconômicos, no período de 1970 – 2000, com o propósito de comparar a
evolução dos indicadores e analisá-los conforme as teorias apresentadas. O
período selecionado é justificado por duas razões: a primeira por ser aquele em
que foi mais intenso o processo de industrialização na região e o segundo por
ser após a criação, em 1971, do CODIVAP (Consórcio de Desenvolvimento do
Integrado do Vale do Paraíba), que tem como objetivo principal promover uma
melhor distribuição da renda e da riqueza entre as microrregiões (CODIVAP,
1971).
3) Revisão
Bibliográfica
3.1 – Aspectos
históricos
Em 1967, o Centro de
Pesquisas e Estudos Urbanísticos – CPEU – organizou uma proposta de
regionalização do Estado de São Paulo, patrocinada pela Secretaria de
Planejamento, cujo objetivo era fazer uma divisão regional e sub-regional
voltada ao bom funcionamento da máquina administrativa estadual. A política de
pólos visava, também, promover a descentralização, no Estado de São Paulo, para
as sedes das regiões administrativas. No VPP, São José dos Campos é essa sede. A
desconcentração da região metropolitana de São Paulo e a concentração nos
municípios próximos permitiram o crescimento industrial rápido, reduzindo os
efeitos da deseconomias de escala geradas na Metrópole.
A reestruturação da
Metrópole paulista, com redução da participação da atividade industrial e
aumento dos serviços e comércio, provoca a formação de eixos de desconcentração
industrial que acompanham as grandes rodovias (Dutra, Bandeirantes, Anhangüera e
Washington Luís). O deslocamento industrial é fortemente influenciado por
estímulos governamentais, dentre os quais se destacam a construção das
refinarias de petróleo, em São José dos Campos e Paulínia, o programa do álcool,
o desenvolvimento da indústria eletrônica com subsídio estatal e a melhoria e
duplicação das estradas. Na esfera municipal, foram intensificados os subsídios
fiscais, com a criação dos Distritos Industriais, provocando grande
endividamento das prefeituras, que criaram um programa de incentivos além das
suas possibilidades (Lencioni, 1994).
Os benefícios das
políticas fiscais podem permitir o crescimento da atividade industrial em uma
determinada região. Entretanto, se essa região não apresentar outras condições
econômicas capazes de manter essas atividades, a industrialização, a custo do
setor público, não é capaz de gerar o desenvolvimento (Polése, 1998). O Estado
de São Paulo e as grandes cidades do Vale apresentam essas condições econômicas:
mercado consumidor, mão-de-obra especializada, infra-estrutura etc. Entretanto,
no aspecto intra-regional, os incentivos fiscais ainda são determinantes na
localização das indústrias.
No VPP, a indústria
veio em decorrência das dificuldades do setor agrícola. Durante o século XIX, a
região era um dos principais pólos da economia cafeeira do País (Cano, 1998);
entretanto, no início do século XX, as cidades pareciam caminhar para o
ostracismo, relatado no texto de Monteiro Lobato “Cidades Mortas”. Na segunda
metade do século XX, principalmente a partir da década de 60, a região, puxada
por algumas cidades, torna-se um dos principais centros industriais do país.
Esse crescimento foi decorrente, dentre outros fatores, da conformação natural
do vale, da indução da rodovia e da política de desconcentração da grande São
Paulo promovida pelos governos Estadual e Federal.
O processo de
industrialização no VPP pode ser dividido em três fases, e os fatores
responsáveis estão associados à posição geográfica, por ser o caminho entre os
principais centros econômicos do país: São Paulo e Rio de Janeiro. A primeira
fase da industrialização vai de 1881 a 1914, puxada pelo setor têxtil e motivada
pelas dificuldades enfrentadas pelos cafeicultores da região, que tentavam uma
nova opção econômica. Essa fase foi propiciada pelos incentivos fiscais,
principalmente no município de Jacareí, e pela disponibilidade de mão-de-obra.
Dentre as deficiências, destaca-se a falta de energia elétrica (Ricci, 2002).
A política pública
municipal e a localização geográfica foram fatores determinantes nessa fase,
concentrando a produção. Na segunda fase, de 1914 a 1943, a indústria cresceu
nos municípios de Taubaté e Guaratinguetá, em que aparecem os estabelecimentos
de transformação de produtos agropecuários, minerais não metálicos, madeiras e,
posteriormente, as bases para o processo, praticamente inalterado, de
participação do VPP no valor da produção industrial. A terceira fase, a mais
dinâmica, foi marcada, em um contexto mais amplo, pelo PSI – Processo de
Substituição de Importação –, pela construção da Usina Siderúrgica de Volta
Redonda, pela inauguração da Rodovia Presidente Dutra e pela criação de novos
centros de desenvolvimento e tecnologia, principalmente nos municípios à margem
da rodovia, como São José dos Campos, Taubaté, Jacareí, Pindamonhangaba e
Guaratinguetá.
Para que essas
cidades do Vale do Paraíba se tornem o grande pólo industrial, são necessários
vultosos investimentos. O capital utilizado na maciça industrialização vem, a
princípio, da diversificação da aplicação do capital pelos cafeicultores; no
entanto, após a Segunda Guerra Mundial, a industrialização é custeada por
capital estrangeiro e, num terceiro momento, na crise do petróleo, quando o
investimento no país via capital estrangeiro cessa, o Estado passa a ter forte
interferência no setor industrial (Cano, 1998). Dentre os fatores responsáveis
por essa fase do crescimento das atividades industriais em São José dos Campos e
Taubaté, podemos destacar a política de desenvolvimento urbano-regional, que
cria condições para a atração de investimentos associada também a uma política
nacional desenvolvimentista, principalmente do segundo Plano Nacional de
Desenvolvimento de 1970.
Nos anos do milagre econômico (1968-74), São José dos Campos
lidera o crescimento econômico regional, apesar de apresentar condições
semelhantes às de outras cidades, como Taubaté e Jacareí, com acesso aos
mercados de São Paulo e Rio de Janeiro. A preferência por essa cidade pode ser
explicada se forem consideradas as vantagens fiscais oferecidas pela Prefeitura
(Francesconi, 1978).
O crescimento
econômico regional desigual transforma problemas específicos de cada uma das
sub-regiões em problemas gerais (Muller, 1967). Por um lado, o flagrante
contraste entre os municípios pobres e ricos faz com que os pequenos municípios,
mal aparelhados, gravitem em torno dos grandes, transformando seus problemas em
problemas regionais. Por outro lado, as grandes cidades, motores do crescimento
econômico, crescem descontroladamente, sem planejamento e sem que os serviços
públicos acompanhem o ritmo de crescimento populacional, e passam a enfrentar
todos os tipos de problemas das grandes metrópoles.
A falta de uma
política de desenvolvimento que permitisse maior integração entre os setores de
atividade e, principalmente, uma integração entre os municípios da região,
promove o crescimento da indústria no VPP, mas esse crescimento é extremamente
desigual. A atividade industrial atrai para as grandes cidades os problemas
urbanos comuns às grandes metrópoles. Nas pequenas cidades, são poucos os
efeitos positivos da industrialização. As cidades vizinhas, além de perderem a
parte mais importante da sua força de trabalho, continuam com uma economia de
subsistência.
3.2 - Aspectos
teóricos
Há uma grande dificuldade na conceituação da região, pois, além dos
espaços físicos, ambientais, culturais, econômicos e políticos, para se
identificar uma região é preciso conhecer sua história. Isso porque a região é
um espaço dinâmico, em constante transformação. O determinismo geográfico na
caracterização de uma região, a cada dia, vem sendo substituído pela região
criada pelas ações antrópicas, fruto das relações sociais, políticas e
econômicas (Marczewski,1965).
Um das alternativas
de delimitação regional é fazer uma conceituação a partir dos aspectos naturais.
Mesmo assim, haverá grandes dificuldades, pois uma região natural é formada por
aspectos físicos do solo, da vegetação e do clima, por exemplo, e cada
especialista fará uma delimitação espacial. Ricchieri (1920, apud Andrade, 1987)
procurou conciliar as divergências e conceituá-las, admitindo três tipos de
região: elementar, geográfica e integral. A primeira, a partir de elementos
físicos, usando apenas um fenômeno, podendo ser geológico, hidrográfico,
climático ou botânico; a segunda, as áreas sobre as quais se sobrepunham várias
regiões elementares; e, a terceira, formada pelo conjunto de regiões complexas.
Essa divisão geográfica orientou a primeira divisão regional do Brasil, em 1941.
Para a maioria dos
marxistas, conforme apontado por Markusen (1981), há duas definições comuns de
região que estão implícitas na maioria dos trabalhos: a região como uma unidade
econômica (por exemplo, Brasil, Inglaterra) ou a região como sinônimo de classe
econômica (por exemplo, colonização interna). Entretanto, nem todos que moram em
um país exploram todos os que moram em outros. Ou seja, não é a Inglaterra que
explora o Brasil, e sim um certo grupo de ingleses que explora um grupo que
reside no Brasil. Assim como a classe capitalista, que pode explorar a classe
trabalhadora em qualquer lugar do mundo, não necessariamente em uma determinada
localidade. A região é uma identidade territorial, e não sociológica. O que
ocorre são relações sociais em um determinado espaço. Uma alternativa é usar o
termo regionalismo, como uma forma de subordinar o espacial ao social,
entretanto isso não significa região. Regionalismo é a reivindicação de um grupo
de pessoas identificado territorialmente contra um ou muitos mecanismos do
Estado, que é a arena de luta.
Pensar o espaço regionalizado em uma perspectiva histórica significa
discutir os usos e encaminhamento do problema a partir de contribuições, não
somente da história, mas também das várias ciências sociais, com destaque para a
geografia e a economia. A região tem uma dimensão técnico-econômico-cultural,
além de ser um espaço político, natural e geográfico. Ou seja, ao mesmo tempo em
que é uma paisagem natural, é também um espaço social, econômico, político e
cultural. Não podemos fazer uma análise da região de forma anacrônica, não
respeitando as mudanças ocorridas ao longo do tempo (Cunha, Simões e Paula,
2005).
O espaço e o tempo são as duas principais dimensões materiais da vida
humana, e estão interligados na natureza e na sociedade. Tanto o espaço, quanto
o tempo, estão sendo modificados pela tecnologia de informação e pelas formas de
processos sociais, na atual transformação histórica. Mesmo que as pessoas vivam
em lugares específicos, suas funções estarão organizadas em lugares múltiplos,
espalhadas em redes de informações. Ou seja, a região, como espaço físico, é
substituída por uma região abstrata, onde são estabelecidas as relações
sociais.
A partir da ação antrópica no espaço, o homem constrói seu espaço
geográfico e econômico, modelando-o conforme seus interesses e suas
necessidades. Para Perroux (1967), os espaços econômicos são abstratos,
constituídos por relações de natureza econômica, com a produção, distribuição e
consumo, que têm origem nas atividades humanas que atuam sobre um espaço
geográfico.
Perroux estabelece três conceitos básicos de espaço econômico: O primeiro
deles, o espaço de planejamento, que é o conteúdo de plano, é o território
abrangido pelo plano de uma empresa ou de um órgão público, por exemplo, uma
prefeitura faz um plano para atender as necessidades da população que pertence
ao seu município. O segundo conceito: o espaço polarizado, resultado de ações de
forças de atração e repulsão, é uma região de influência sobre a outra a partir
do pólo central, por exemplo, no vale do Paraíba paulista, a cidade de São José
dos Campos é o grande pólo regional, pois concentra as principais atividades
econômicas industriais, de serviços e comércio, em torno da qual gravitam
cidades menores, como Caçapava e Jacareí. O terceiro conceito, de espaço
homogêneo. Está associado à certa uniformidade ou homogeneidade em um espaço
delimitado, por exemplo, as características econômicas semelhantes dos
municípios do Litoral Norte do Estado de São Paulo. Essa delimitação de
homogeneidade pode ser feita a partir de levantamento estatístico, no qual podem
ser agrupadas regiões com características econômicas comuns.
Todos os conceitos de
espaço econômico de Perroux serão de grande valia na delimitação espacial do
trabalho. Adelimitação deste
estudo é resultado de interpretação metodológica de Perroux com o espaço de
planejamento que é a mesorregião do Vale do Paraíba formada por 39 municípios
paulistas. Entretanto, essa mesorregião apresenta pouca homogeneidade econômica,
o que torna necessária uma divisão de homogeneidade a partir do estudo das 6
microrregiões que a compõem, pois é possível encontrar similaridades, por
exemplo, a microrregião de Bananal é formada pelos municípios do vale Histórico.
Também será de grande
importância dar destaque à teoria de pólos, para que possamos entender as
relações de dependência entre as cidades da mesorregião, com presença de cidades
que sofrem ação de repulsão e atração econômica, em relação à cidade vizinha,
com destaque para o papel da cidade de São José dos Campos, no crescimento e
desenvolvimento da região.
4) Divisão
microrregional do Vale do Paraíba Paulista
Em 1968, o IBGE publicou o estudo intitulado “Divisão do Brasil em
Microrregiões Homogêneas”, e em 1990, “Divisão do Brasil em Mesorregião”. A
primeira tem como objetivo fazer uma divisão seguindo os critérios de
homogeneidade, e a segunda, a organização do espaço político administrativo. O
Brasil foi dividido em 136 mesorregiões e 547 microrregiões (Clemente e Higachi,
2000). A divisão das microrregiões segue o conceito de regiões homogêneas, e a
divisão de mesorregião segue o conceito de região de planejamento elaborado por
Perroux.
A mesorregião do Vale do Paraíba formada por 39 municípios é uma das 15
mesorregiões do Estado de São Paulo. Essa mesorregião conta com seis
microrregiões, do total de 63 do Estado. O mapa da figura 1 apresenta os
municípios pertencentes a cada microrregião.
A microrregião de
Bananal é formada pelos municípios: Arapeí,
Areias, Bananal, São José do Barreiro e Silveiras. É uma região na qual
prevalece uma atividade
agrícola de subsistência. Foram as cidades mais ricas no vale do Paraíba,
durante o ciclo do café, mas não conseguiram manter essa posição, exceto no
processo de industrialização, na segunda metade do século XIX. Essas cidades
foram caracterizadas por Monteiro Lobato, em sua obra, como “Cidades
Mortas”.
A microrregião de
Campos do Jordão é formada pelos municípios: Campos
do Jordão, Monteiro Lobato, Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí.
São
cidades com forte atividade de agropecuária de subsistência no final do século
XX. Em meados do século XX, foi importante centro de tratamento de tuberculosos,
devido ao clima ameno da região serrana. Atualmente, seu crescimento econômico é
puxado pela atividade de turismo, com destaque para a cidade de Campos do
Jordão.
A microrregião de
Caraguatatuba é formada pelos quatro municípios do litoral Norte paulista:
Caraguatatuba,
Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba, que têm como
atividade econômica principal o turismo litorâneo. Nos últimos anos têm crescido
as atividades portuárias no município de São Sebastião, devido à instalação,
ali, do terminal da Petrobrás. Com isso, ocorreu um forte crescimento do PIB da
região. Essas cidades ainda apresentam graves problemas sociais, mesmo com a
circulação da riqueza do turismo, ainda não foi possível promover o
desenvolvimento local.
Figura 1 – Mapa das
microrregiões do Vale do Paraíba
Fonte: Elaboração do
autor a partir do IBGE
A microrregião de
Guaratinguetá, formada pelos municípios de Aparecida,
Cachoeira Paulista, Canas, Cruzeiro,
Guaratinguetá, Lavrinhas, Lorena, Piquete,
Potim, Queluz e
Roseira, teve um bom
desempenho econômico durante o ciclo do café. Conta com várias atividades
industriais nos setores metal mecânico, alimentos e quimicos. Nas últimas
décadas, transforma-se em um grande centro de turismo religioso, com destaque
para as cidades de Aparecida, Cachoeira Paulista e, mais recentemente,
Guaratinguetá. É a segunda microrregião mais rica da mesorregião, mas
apresentou, nas últimas três décadas do século XX, baixos indicadores de
evolução econômica.
A microrregião de
Paraibuna/Paraitinga é formada pelos municípios de Cunha,
Jambeiro, Lagoinha, Natividade da Serra, Paraibuna, Redenção da Serra e
São Luiz do Paraitinga, situados no entorno
da represa formada pelos rios Paraitinga e Paraibana, que dão origem ao rio
Paraíba do Sul. Esses municípios contam com uma economia agropecuária de
subsistência e com poucas atividades industriais e de serviços, exceto o
município de Jambeiro, onde se instalaram várias indústrias ao longo da Rodovia
dos Tamoios, em 1990.
A microrregião mais
rica do vale do Paraíba é a de São José dos Campos, onde estão localizados os
municípios de Caçapava
, Igaratá, Jacareí, Pindamonhangaba, Santa Branca, São José dos Campos, Taubaté
e Tremembé. Apresenta uma forte
concentração espacial da renda, puxada pela atividade industrial. Nessa região
estão instaladas grandes empresas multinacionais, que provocam um grande
crescimento econômico das atividades terciárias.
5) Resultados da
pesquisa
5.1 Evolução nos
indicadores de crescimento econômico nas microrregiões
Um dos principais indicadores econômicos é o Produto Interno Bruto – PIB,
a soma de tudo o que é produzido em uma determinada região durante um
determinado período. Para fins de comparação, as tabelas apresentadas, além de
apontarem a evolução desse indicador nas microrregiões da macrorregião do vale
do Paraíba, mostram também a evolução do indicador no Estado de São Paulo e no
Brasil.
No período entre 1970 e 2000, foram muitos os acontecimentos econômicos,
que interferiram no crescimento do PIB brasileiro. Durante a década de 1970,
mesmo com as duas crises do petróleo, a economia brasileira passou por um forte
crescimento, principalmente na primeira metade da década, com o 2º PND – Plano
Nacional de Desenvolvimento. Já na década de 1980, conhecida por muitos como a
década perdida, e nos três primeiros anos da década de 1990, a economia
brasileira passou por grandes dificuldades econômicas, por várias razões, como:
a hiperinflação no período, a pressão da dívida interna e externa, a redução dos
investimentos estatais e a forte instabilidade macroeconômica. Já a partir de
1994, com o Plano Real, a economia volta a crescer, entretanto em ritmo menor do
que o da década de 1970.
A Tabela 1 mostra que
o crescimento do PIB no Brasil, no período de 1970 a 2000, foi de 319,76%, mesmo
com todos os problemas macroeconômicos e externos. O Estado de São Paulo, o mais
importante da nação, cresceu em um ritmo menor: 258,51%. Esse desempenho de São
Paulo pode ser explicado pelo maior crescimento na economia dos estados da
região Centro Oeste, nova fronteira agrícola, e por maior descentralização da
atividade industrial no país, fortemente concentrada na região metropolitana de
São Paulo até a década de 1970.
Tabela 1 –
Crescimento do PIB total, em mil reais de 2000
Microrregiões |
1970 |
2000 |
Variação, em
% |
Bananal |
45.293 |
88.813 |
96,09 |
Campos do
Jordão |
72.553 |
298.189 |
310,99 |
Caraguatatuba |
150.392 |
1.250.423 |
731,44 |
Guaratinguetá |
915.723 |
2.037.584 |
141,79 |
Paraibuna/Paraitinga
|
83.399 |
300.490 |
260,30 |
São José dos
Campos
|
2.336.438 |
22.610.282 |
867,72 |
Vale
do Paraíba |
3.550.287 |
26.645.275 |
650,51 |
São
Paulo |
103.434.251 |
370.818.992 |
258,51 |
Brasil |
262.352.495 |
1.101.254.907 |
319,76 |
Fonte: Elaboração do Autor, a partir dos dados do IPEA e do
IBGE.
Ainda na tabela 1
observa-se que a mesorregião do vale do Paraíba, a variação do PIB, no período
de 1970 a 2000, foi de 650,51%. Esse crescimento foi o dobro do ocorrido no país
e duas vezes e meia, maior que o desempenho do Estado. Ou seja, mesmo com um
desempenho econômico de São Paulo abaixo da média nacional o vale do Paraíba
cresceu de forma acelerada por várias razões, entre essas, a entrada das grandes
empresas estatais e multinacionais na região.
Quanto ao desempenho
econômico das microrregiões do vale do Paraíba, observa-se o elevado crescimento
econômico da microrregião de São José dos Campos, a mais rica da mesorregião,
que cresceu 867,72%, no período em análise. Caraguatatuba também apresentou um
bom desempenho econômico. Por outro lado, as regiões de Bananal e Guaratinguetá
apresentaram baixo crescimento do PIB.
Quanto à evolução do
crescimento do PIB na mesorregião do vale do Paraíba, observa-se que os
municípios mais pobres cresceram menos. Isso pode ser observado pelo desempenho
pífio da microrregião de Bananal. Outra microrregião pobre é a de
Paraibuna/Paraitinga; entretanto, houve bom desempenho do Município de Jambeiro,
na década de 1990, por conta do efeito de transbordamento (Quando há o
crescimento da atividade industrial de forma extraordinária em um determinada
região, e esses acaba transbordando, ou provocando o crescimento das regiões
vizinhas) provocado pela cidade de São José dos Campos, com a melhoria da
Rodovia dos Tamoios, o que acabou melhorando o indicador da microrregião.
No período, a
participação do PIB da microrregião de São José dos Campos, formada por oito dos
39 municípios da mesorregião, aumentou de 65,81% para 84,86%. Podemos concluir,
a partir dos dados da Tabela 1, que ocorreu uma forte concentração espacial da
renda na mesorregião do vale do Paraíba, durante o período de 1970 a 2000, por
conta do melhor desempenho da microrregião rica e do baixo crescimento das mais
pobres.
A Tabela 2 mostra a
evolução do PIB da indústria. De um modo geral, podemos observar que o setor
industrial cresceu 411,75% mais do que as demais atividades econômicas no
Brasil, no período de 1970 a 2000, já que a média da economia foi de 319,76%.
Provavelmente, esse desempenho foi muito melhor durante a década de 1970, pois
nos últimos anos o setor terciário tem tido um crescimento
maior.
Tabela 2 –
Crescimento do PIB da Indústria, em mil reais de 2000
Microrregiões |
1970 |
2000 |
Variação,
em % |
Bananal |
9.046 |
19.231 |
112,59 |
Campos do
Jordão |
19.365 |
74.084 |
282,57 |
Caraguatatuba |
310.537 |
1.675.225 |
439,46 |
Guaratinguetá |
369.373 |
741.028 |
100,62 |
Paraibuna/Paraitinga |
15.945 |
113.950 |
614,64 |
São José dos
Campos |
1.310.710 |
13.198.089 |
906,94 |
Vale
do Paraíba |
1.876.864 |
15.064.253 |
702,63 |
São
Paulo |
45.359.057 |
145.441.227 |
220,64 |
Brasil |
80.351.683 |
411.200.539 |
411,75 |
Elaboração do
Autor, a partir dos dados do IPEA e do IBGE.
No Estado de São
Paulo, o crescimento do PIB industrial foi quase a metade do registrado no
Brasil. Isso mostra a descentralização da atividade industrial no período. A
produção do Estado de São Paulo representava 56,45% da produção nacional, em
1970, e reduziu-se para 35,37%, em 2000. Os programas de incentivos fiscais
feitos por outros Estados e pelo governo federal, provavelmente, contribuíram
para esse resultado.
Quando observados os
indicadores da mesorregião, observa-se um efeito contrário ao desempenho do
Estado. A produção industrial do vale do Paraíba, no período em análise, cresceu
702,63%, mais de três vezes superior ao desempenho apresentado no Estado e quase
o dobro do nacional. Com isso, a participação da produção industrial da
mesorregião cresceu, de 4,14%, em 1970, para 10,36%, no Estado. No mesmo
período, a participação da mesorregião passou de 1,35% para 3,66%. Ou seja, há
um processo de desconcentração da atividade industrial no Brasil com um ritmo
menor de crescimento no Estado de São Paulo, mas no vale do Paraíba a indústria
teve um acelerado crescimento. Há uma vasta literatura sobre o processo de
descentralização da atividade industrial no Estado de São Paulo após 1970, com
destaque para Negri (1988). Esse processo também é visto como decorrência da
desconcentração da Metrópole (LENCIONE, 1994).
Ainda na Tabela 2,
podemos observar o desempenho da atividade industrial entre as Microrregiões do
Vale do Paraíba: um forte crescimento na microrregião de São José dos Campos,
906,94%, e nas regiões de Guaratinguetá e de Bananal. Também cabe destacar o bom
desempenho das microrregiões de Paraitinga/ Paraibuna, em decorrência do bom
desempenho das cidades de Jambeiro e de Caraguatatuba, provavelmente em
decorrência da presença do terminal da Petrobrás em São
Sebastião.
A microrregião de São
José dos Campos, que era responsável por 69,84% da produção industrial da
mesorregião, passou para 87,61%, no período em análise. Entretanto, observa-se
forte concentração espacial da atividade industrial já em 1970, processo esse
que continua acelerado, nas décadas posteriores. Os dados das tabelas 2 e 3 mostram o
grande crescimento econômico da mesorregião do vale do Paraíba (na comparação
entre 1970 e 2000), puxado pela atividade Industrial e cada vez mais concentrado
na microrregião de São José dos Campos.
5.2 - Crescimento
populacional e evolução da renda per capita
Em um país como o Brasil, onde há livre circulação de capital e pessoas,
a concentração espacial da renda também tende a provocar a concentração da
população, nas áreas mais ricas. A década de 1960 foi marcada por uma forte
concentração de indústrias e da renda, na região metropolitana de São Paulo O
resultado foi um forte fluxo migratório para aquela região (Rattner, 1972). O
crescimento econômico nas grandes cidades do vale do Paraíba também foi
acompanhado de um deslocamento populacional para essas
cidades.
Tabela 3 - População
Total
Microrregiões |
1970 |
2000 |
Variação, em
% |
Bananal |
27.962 |
25.414 |
-9,11 |
Campos do
Jordão |
36.618 |
64.395 |
75,86 |
Caraguatatuba |
47.510 |
223.037 |
369,45 |
Guaratinguetá |
228.904 |
372.999 |
62,95 |
Paraibuna/Paraitinga |
71.107 |
70.374 |
-1,03 |
São José dos
Campos |
417.283 |
1.229.888 |
194,74 |
Vale do
Paraíba |
829.384 |
1.986.107 |
139,47 |
São
Paulo |
17.770.975 |
37.032.403 |
108,39 |
Brasil |
93.134.846 |
169.799.170 |
82,32 |
Elaboração do Autor, a
partir dos dados do Seade (2007) e IBGE (Censos de 1970 e
2000).
Nos dias atuais, a população brasileira cresce em um ritmo menor, em
função da queda do crescimento vegetativo. Entretanto, no período de 1970 a
2000, como apresentado na Tabela 3, a população brasileira cresceu 82,32%. No
mesmo período, a população do Estado de São Paulo cresceu 108,39%. Observa-se
que, mesmo com o melhor desempenho econômico do Brasil, em relação ao do Estado
de São Paulo, o ritmo de crescimento populacional paulista foi maior,
provavelmente como resultado do acelerado fluxo migratório para a região
metropolitana de São Paulo, na década de 1970.
Na mesorregião do
Vale do Paraíba, o ritmo de crescimento populacional foi maior do que a média
brasileira e paulista, resultado da maior dinâmica econômica da região, puxada
pelo setor industrial e pelas atividades terciárias das cidades litorâneas. Na
tabela 3, observa-se que o maior crescimento populacional ocorreu na
microrregião de Caraguatatuba porque, nos últimos anos, as atividades turísticas
têm dado um novo dinamismo a esses municípios e, conseqüentemente, atraíram cada
vez mais moradores.
Pode ser destacado
também o elevado crescimento populacional na microrregião de São José dos
Campos, onde estão localizadas as maiores cidades e onde a dinâmica industrial é
mais intensa. Por outro lado, as microrregiões de Bananal e Paraitinga/Paraibuna
apresentaram redução populacional de 9,11% e 1,03%, respectivamente. As
microrregiões de Guaratinguetá e Campos do Jordão também apresentaram
crescimento abaixo da média regional.
A Tabela 4 mostra a
evolução da renda per capita (PIB dividido pela população de cada localidade).
Observa-se que a renda per capita brasileira cresceu 130,24% no período
1970–2000. No Estado de São Paulo, que tem uma renda per capita maior que a
brasileira, esta cresceu em um ritmo menor que a nacional, 72,04%. Ou seja, o
menor crescimento do PIB em São Paulo e o maior crescimento populacional
resultaram na redução média da renda paulista que, entretanto, em 2000 ainda foi
54,39% maior do que a média do país.
Quanto à evolução da renda per capita na mesorregião, observa-se que, na
média, o indivíduo morador do vale do Paraíba tem uma renda cada vez maior, em
comparação com o restante dos paulistas e dos brasileiros, pois o crescimento do
PIB, per capita, foi de 213,41%. Essa provavelmente foi uma das causas do
elevado crescimento demográfico de algumas cidades da região. A renda acabou
atraindo mais pessoas, entretanto num ritmo menor do que o do crescimento do
PIB.
Quando analisada a evolução do PIB per capita da mesorregião, o grande
destaque é a microrregião de Paraitinga/Paraibuna. Esse resultado é explicado
pelo crescimento populacional negativo na região, mas principalmente pelo
desempenho econômico do município de Jambeiro, cujo PIB cresceu 1.911,80%, no
período de 1970 a 2000. Esse crescimento foi puxado pela industrialização ao
longo da rodovia que dá acesso a São José dos Campos, exemplo de
industrialização provocada pelo efeito de transbordamento.
Tabela 4 – PIB per
capita, em reais de 2000
Microrregiões |
1970 |
2000 |
Variação, em
% |
Bananal |
1.619,81 |
3.494,65 |
115,74 |
Campos do
Jordão |
1.981,35 |
4.630,62 |
133,71 |
Caraguatatuba |
3.165,48 |
5.606,35 |
77,11 |
Guaratinguetá |
4.000,47 |
5.462,71 |
36,55 |
Paraibuna/Paraitinga |
1.172,87 |
4.269,90 |
274,30 |
São José dos
Campos |
5.599,17 |
18.384,02 |
228,33 |
Vale do
Paraíba |
4.280,63 |
13.415,83 |
213,41 |
São
Paulo |
5.820,40 |
10.013,37 |
72,04 |
Brasil |
2.816,91 |
6.485,63 |
130,24 |
Fonte: Elaboração do
autor, a partir dos dados do Seade (2007) e IBGE (Censos de 1970 e
2000).
A segunda
microrregião que mais cresceu foi a de São José dos Campos, formada pelos
grandes municípios. Com exceção da microrregião de Guaratinguetá, todas as
demais, apresentaram um crescimento superior ao da média do Estado. Assim, o
crescimento foi determinado, nas microrregiões mais ricas, pelo elevado
crescimento industrial, e, nas mais pobres, pela redução da população.
A microrregião de São
José dos Campos, por apresentar maior crescimento econômico, devido à
industrialização, acabou atraindo mais pessoas. Entretanto, o ritmo de
crescimento econômico foi maior do que o das pessoas, o que resultou no elevado
crescimento do PIB per capita. A situação observada que foge à regra foi a do
município de Jambeiro que, mesmo não sendo grande pólo de atração populacional,
teve elevado crescimento no PIB, por conta da quase ausência da atividade
industrial, na década de 1970, modificada pelo efeito de transbordamento
posterior. Ainda destacamos que das
seis microrregiões do vale do Paraíba a de São Jose dos Campos é a única que tem
renda per capita maior do que a média nacional.
5.3 Crescimento
população economicamente ativa e da ocupação e do
desemprego
Conforme os conceitos utilizados pelo IBGE, compõem a População
Economicamente Ativa – PEA as pessoas ocupadas e as desempregadas. Pessoas
ocupadas são as que, durante todos os 12 meses anteriores à data da entrevista
do Censo, exerceram trabalho remunerado, em dinheiro e/ou produtos ou
mercadorias, inclusive as licenciadas, com remuneração, por doença, com bolsas
de estudo, etc. São consideradas ocupadas também as pessoas que, sem
remuneração, trabalharam 15 horas ou mais por semana, numa atividade econômica,
ajudando a pessoa com quem residiam ou uma instituição de caridade, beneficente
ou de cooperativismo, ou, ainda, como aprendizes, estagiárias
etc.
Na Tabela 5 pode ser
observado o crescimento da PEA no Brasil, de 162,09%, praticamente o dobro da
população total, 82,32% (tabela 3). A elevada taxa de natalidade nas décadas de
1950 e 1960 e a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, após 1970,
explicam a diferença entre a PEA e a população total. Esse fato aumentou a
pressão por novos postos de trabalho.
A busca por trabalho
provocou, no período em análise, grande fluxo migratório interno no Brasil,
principalmente em direção às grandes cidades. No Estado de São Paulo, a PEA
cresceu 186,53%, mais do que a média brasileira e menor do que o da mesorregião
do vale do Paraíba, 277,62%. A análise da evolução interna na Mesorregião revela
que o resultado foi maior nas microrregiões de Caraguatatuba e São José dos
Campos, a primeira por conta das atividades turísticas, e a segunda por conta da
industrialização acelerada no período. Por outro lado, nas mais pobres, Bananal
e Paraibuna/Paraitinga, observa-se à evolução mais lenta da PEA.
Tabela 5 - População
Economicamente Ativa –PEA, Total
Microrregiões |
1970 |
2000 |
Variação, em
% |
Bananal |
7.706 |
11.251 |
46,00 |
Campos do
Jordão |
10.590 |
31.894 |
201,17 |
Caraguatatuba |
15.389 |
112.949 |
633,96 |
Guaratinguetá |
67.158 |
167.932 |
150,06 |
Paraibuna/Paraitinga |
19.767 |
30.431 |
53,95 |
São José dos
Campos |
129.344 |
589.406 |
355,69 |
Vale do
Paraíba |
249.954 |
943.865 |
277,62 |
São
Paulo |
6.372.842 |
18.259.930 |
186,53 |
Brasil |
29.557.224 |
77.467.473 |
162,09 |
Elaboração do
Autor, a partir dos dados do IPEA e do IBGE (IPEADATA,
2007).
Ao se observar, na
Tabela 6, a evolução da população ocupada, identifica-se que o percentual de
ocupados foi inferior ao da PEA em todas as esferas regionais delimitadas. As
microrregiões de Caraguatatuba e São José dos Campos foram as que apresentaram
maior evolução do emprego, enquanto as que menos cresceram foram as de Bananal e
Paraibuna/Paraitinga.
Quando se compara a
evolução do crescimento do PIB com a da ocupação, observa-se que, no Brasil, o
PIB cresceu mais (152,52%). Em São Paulo, esse crescimento foi de 81,18% e, no
vale do Paraíba, de 198,49%. Ou seja, o emprego cresceu muito menos do que o
PIB, no vale do Paraíba, em uma comparação com o país e o Estado, esse resultado
é conseqüência da industrialização acelerada, que cria mais renda que emprego, e
do baixo crescimento econômico nas regiões pobres.
Uma análise mais
detalhada do crescimento da ocupação e da renda nas microrregiões do Vale do
Paraíba revela que São José dos Campos apresenta o maior crescimento do PIB,
puxado pela atividade industrial. Fica atrás de Caraguatatuba, no que se refere
à geração de postos de trabalho. O grande crescimento do PIB registrado na
microrregião de Paraibuna/Paraitinga, com o bom desempenho industrial do
município de Jambeiro, não foi acompanhado pela mesma dinâmica, na geração de
emprego.
Tabela 6 - População
Economicamente Ativa Ocupada e taxa de desemprego
Microrregiões |
1970 |
2000 |
Variação, em % da PEA - Ocupada |
Desemprego, em %,1970 |
Desemprego, em %, 2000 |
Bananal |
7.656 |
10.001 |
30,63 |
0,65 |
11,11 |
Campos do
Jordão |
10.439 |
28.557 |
173,56 |
1,43 |
10,46 |
Caraguatatuba |
15.021 |
93.174 |
520,29 |
2,39 |
17,51 |
Guaratinguetá |
64.539 |
137.071 |
112,38 |
3,90 |
18,38 |
Paraibuna/Paraitinga |
19.434 |
26.858 |
38,20 |
1,68 |
11,74 |
São José dos
Campos |
124.439 |
472.229 |
279,49 |
3,79 |
19,88 |
Vale do
Paraíba |
241.528 |
767.889 |
217,93 |
3,37 |
18,64 |
São
Paulo |
6.209.717 |
15.069.645 |
142,68 |
2,56 |
17,47 |
Brasil |
28.959.523 |
65.629.892 |
126,63 |
2,02 |
15,28 |
Elaboração do Autor,
a partir dos dados do IPEA e do IBGE (IPEADATA, 2007).
O resultado do
crescimento da PEA superior ao do emprego resultou no aumento na taxa de
desemprego, como apresentado na Tabela 6. Observa-se que o maior desemprego
passa a ser uma realidade presente no país e em todas as delimitações regionais
apresentadas. Em 1970, o Brasil passava por um dos melhores momentos da história
de sua economia. Eram os anos do “Milagre Econômico”. Já em 2000, o emprego
sofre os reflexos do baixo crescimento da economia nas décadas de 1980 e 1990.
Observa-se que as regiões que tinha as maiores taxas de desemprego, em 1970,
continuam na mesma situação, em 2000.
O grande destaque
negativo é a microrregião de São José dos Campos, que é a grande campeã de
desemprego em 2000. Ou seja, o crescimento econômico puxado pela indústria, nas
grandes cidades do vale do Paraíba, acabou atraindo pessoas de outras cidades,
e, como a dinâmica econômica foi muito maior que o emprego, o resultado foi o
crescimento na taxa de desemprego. O resultado disso, provavelmente, foi a
ampliação dos problemas sociais, com o desemprego e, conseqüentemente, com o
aumento da concentração da renda. Ou seja, a população tende a migrar das
regiões com menor dinâmica econômica em busca de empregos nas regiões mais
ricas, mas, conforme os números apresentados na tabelas 6, parte dela não tem
êxito. Em 2000, praticamente um em cada cinco trabalhadores estava desempregado
na microrregião de São José dos Campos.
6) Considerações
finais
A mesorregião do Vale
do Paraíba paulista – VPP está localizada no eixo da rodovia Presidente Dutra, a
mais movimentada do país, entre os três principais municípios brasileiros: São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nas últimas três décadas do século XX, a
região passou a ser um dos maiores pólos de crescimento da atividade industrial,
abrigando grandes empresas nos segmentos aeroespacial, automobilístico e
petrolífero. O estudo do IBGE, em 1968, determinou a criação das mesorregiões e
microrregiões, em que a primeira tem como objetivo fazer uma divisão seguindo os
critérios de homogeneidade e, a segunda, organizar o espaço político-
administrativo. O Vale do Paraíba paulista é uma das 15 mesorregiões do Estado
de São Paulo e conta com seis microrregiões e 39 municípios.
A reestruturação da
metrópole paulista, com a redução da participação da atividade industrial,
paralela ao aumento do setor serviços e comercial resultou, conforme efeito de
transbordamento, na desconcentração industrial metropolitana, acompanhando os
grandes eixos rodoviários (Dutra, Bandeirantes, Anhangüera e Washington Luís).
Em direção ao Vale do Paraíba paulista, o deslocamento industrial foi fortemente
influenciado por estímulos governamentais, dentre os quais se destacam: i) a
construção das refinarias de petróleo e a criação do centro técnico e
aeroespacial, em São José dos Campos; ii) a implantação das indústrias
automobilísticas em Taubaté e São José dos Campos; iii) a melhoria do sistema
viário da região; iv) a intensificação, nos municípios, dos subsídios fiscais,
com a criação dos Distritos Industriais.
Os municípios que
margeiam a Rodovia Presidente Dutra, especialmente entre Guaratinguetá e
Jacareí, apresentam elevado grau de industrialização enquanto que, os da Serra
da Mantiqueira paulista e do Vale Histórico, que não participaram do processo de
industrialização, mantêm características de uma economia de subsistência. Essa
desigualdade, evidentemente, não facilita um desenvolvimento integrado da
macrorregião.
A microrregião de São
José dos Campos, por apresentar maior crescimento econômico, devido à
industrialização, acabou atraindo mais pessoas. Entretanto, o ritmo de
crescimento econômico foi maior do que o das pessoas, o que resultou no elevado
crescimento do PIB per capita. Há, porém, uma situação que foge à regra: o caso
do município de Jambeiro que, mesmo não sendo um grande pólo de atração
populacional, mostrou elevado crescimento no PIB, por conta do efeito de
transbordamento e pela quase ausência da atividade industrial no município na
década de 1970. A microrregião de São José dos Campos é uma das mais ricas do
país, por conta da atividade industrial e da produção de tecnologia. Entretanto,
85% da renda produzida está concentrada em apenas uma microrregião, com uma
renda per capita três vezes superior à média nacional, enquanto que as demais
não conseguem atingir sequer essa média. Nas três últimas décadas do século XX,
mesmo com a criação do CODIVAP, a renda per capita da microrregião mais pobres
cresceu 115,74%, enquanto que a da mais rica cresceu 228,33%, acentuando a
desigualdade entre elas.
Conclui-se que, na mesorregião do Vale do Paraíba a dinâmica do
crescimento populacional seguiu a direção do crescimento econômico. Com isso, a
concentração espacial da renda também resultou na concentração populacional nos
grandes centros, com destaque para São José dos Campos. O crescimento econômico puxado pela
atividade industrial, nas grandes cidades da macrorregião, provocou um grande
deslocamento populacional intra-regional, sendo a inovação tecnológica e a
dinâmica do crescimento econômico muito maior que o crescimento do emprego, o
que resultou no aumento na taxa de desemprego e, conseqüentemente, na ampliação
dos problemas sociais, com o aumento da concentração da renda. Em suma, a
população das regiões mais pobres migrou para as mais ricas em busca de
empregos, porém parte dessa não consegue êxito, pois em 2000, praticamente um
entre cada cinco trabalhadores estava desempregado na microrregião de São José
dos Campos. A falta de um planejamento regional gerou uma grande concentração
espacial da renda, em que os municípios mais ricos apresentam os mesmos
problemas socioeconômicos dos mais pobres, sendo este um problema macro e
microrregional.
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