ATIVIDADE TURÍSTICA EM ÁREAS DE
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL:
O caso do Parque Estadual das
Nascentes do Rio Taquari-MS
Roni Mayer Lomba
UFMS/Dourados
Edvaldo Cesar Moretti
UFMS/Dourados
Nível do trabalho:
Iniciação Científica
Abstract
This research for a scientific initiation aims at analysing the
production and occupation of the sul-mato-grossense space due to an economical
activity – the tourism in areas of preservation.
The park of the heads of Taquari-Ms river is between the cities of
Costa Rica and Alcinópolis, next to the border with Goiás. The area which the
park takes is now very degraded because of the constant action of the capitalist
society.
This parks follows a world-wide standard called “the natural
paradise”, where people who are under stress can go and have some peaceful
moments in order to get in touch with the nature. This meeting is possible by
the selling of the nature, i.e. the space is sold to people who can pay and the
tourism id the only way of inserting the capitalism.
To maximize this
research, a bibliographical revision is being done, a survey of information
about the Conservation Unity, interviews with different segments in the local
society which aims at collecting data and opinions referring to the new job
proposals and assessment which the park can provide to society.
O presente trabalho analisa o
processo de criação da Unidade de Conservação das Nascentes do Rio Taquari e as
transformações territoriais e culturais nos municípios de Alcinópolis e Costa
Rica no estado de Mato Grosso do Sul, relacionadas à implantação de uma Unidade
de Conservação com a perspectiva no crescimento da atividade turística.
Por isso faz-se necessário investigar o papel do poder público no
momento em que realiza a proposta de transformar aquela área em uma unidade de
conservação, analisando a relação existente entre a implantação de uma unidade
de conservação, o desenvolvimento da atividade turística e as transformações na
produção e consumo do espaço.
Para que a atividade turística se desenvolva, as relações da
sociedade com a natureza deverão ser modificadas para poderem atender ao consumo
especifico desta atividade, culturas originais deverão ser modificadas cedendo
espaço a um outro modelo de desenvolvimento econômico regional. A criação
do Parque das Nascentes do Rio Taquari insere-se enquanto atividade turística,
acarretando possível re-ordenamento do espaço local.
Com isso a unidade de conservação das Nascentes do Rio Taquari
mostra-se como uma alternativa de preservar elementos da natureza e inserir uma
atividade econômica com o intuito de preservar biomas e ao mesmo tempo gerar
desenvolvimento econômico para suprir as necessidades da sociedade daquela
região.
Dessa forma, exige uma reformulação cultural na região, ou seja, uma
sociedade que tinha como base econômica a agricultura e a pecuária, com a crise
econômica destes, surge a necessidade de buscar uma outra alternativa de
desenvolvimento econômico, no caso o turismo. Portanto, analiso a
existência de uma contradição de paradigmas, pois, no momento em que este
lugar era marginalizado pela classe dominante local por não permitir a
agricultura ou a pecuária, agora é visto como a salvação de uma economia falida
e uma forma de reencontro com o mundo natural.
A criação do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari surge no
momento em que ocorre o reencanto social com a natureza devido à problemática
ambiental e artificialização das cidades, acrescido também a uma forte
propaganda realizada pela mídia, que faz o ser humano sentir a necessidade de
visitar os elementos da natureza nos momentos de lazer, ocorrendo entre outras
problemáticas a artificialização do espaço, a desfiguração da cultura nas
comunidades locais, a degradação dos ambientes naturais e o problema mais grave,
a elitização do poder de compra do turismo, geralmente relacionado a uma pequena
parcela da população mundial que possui as condições materiais e imateriais para
realizar turismo.
Neste
sentido, concordo com o autor Ricardo Barbosa de Lima (1998) quando dá um
exemplo bem claro de contradição de paradigmas, muito semelhante ao fato
ocorrido no Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari:
As jazidas de cristal de rocha, sucedâneas
das primeiras fazendas e da cultura do trigo, foram fundamentais para a ocupação
da Chapada dos Veadeiros, formando os primeiros povoados (...) No começo do, os
cristais de rocha atraíram as pessoas para as frentes de garimpo. O primeiro
garimpo, o “Garimpão” foi descoberto em 1912. (...) Mais recentemente, no inicio
da década de 1980, o interesse sobre esses mesmo cristais de rocha voltou a
exercer uma força de atração sobre humanos errantes. Não mais garimpeiros, mas
grupos de pessoas com vinculações com o pensamento ecológico, fundamentalmente
religiosas e místicas. (...) No primeiro momento, os cristais de rocha estão
vinculados à imagem de enriquecimento fácil e à sua utilização em equipamentos
de guerra. No segundo momento, o interesse sobre os cristais atrai novos
migrantes à Chapada dos Veadeiros, para uma vida despojada e ligada à defesa da
vida e da natureza. (1998:,
p.53-55)
As
unidades de conservação são territórios demarcados por órgãos públicos com o
intuito de manutenção da paisagem natural e desenvolvimento regional. É, no
entanto, um bem comum da sociedade. Estes mesmos órgãos públicos vendem esses
espaços através da cobrança de taxas para entrar e visitar os parques. Com isso
tornam-se produtos destinados às classes sociais com condições financeiras
de adquirir e praticar turismo.
O termo “unidades de conservação” surgiu como uma forma de
amenizar as pressões políticas, econômicas e sociais, agravadas pelo modelo
econômico capitalista de transformar a natureza em mercadoria de consumo. Assim
as unidades de conservação (UC) surgem como uma outra forma de consumo dentro do
sistema, uma alternativa de lazer, um lugar desabitado, “um paraíso”, que o ser
humano com poder aquisitivo poderia visitar nas férias, onde poderia consumir as
paisagens e eliminar todo stresse adquirido no cotidiano da vida urbana.(Santos,
1994)
O modelo de parque que é adotado no mundo todo, com raras exceções,
surgiu nos Estados Unidos no século passado: o parque de Yelowstone foi o
primeiro, era um modelo que exigia principalmente que essas áreas fossem
totalmente desabitadas, nelas vivendo somente elementos da natureza, aberta para
visita de turistas. Esse modelo de unidade de conservação foi exportado para
todo o globo, principalmente para os países de Terceiro Mundo, com a proposta de
transformar 10% de seus territórios em áreas de proteção ambiental. Essa
proposta atingia principalmente os países periféricos, pois, para as potências
capitalistas, o número de unidades de conservação, e a proporção territorial
eram bem menores. (Diegues, 1994, p. 19-23).
O Brasil como o restante do mundo foi um dos países a adotar o modelo
americano de UC (unidades de conservação – wilderness em inglês), o primeiro a
ser criado foi o Parque Nacional de Itatiaia no Estado de São Paulo na década de
30, mas somente nas décadas de 70 e 80 ocorreu significativo aumento tanto em
número como em espaço territorial de unidades de conservação.
O modelo de parque americano enfrentou críticas e conflitos, tanto
dentro dos EUA, como no Brasil, devido à imposição de retirar toda a população
que morasse nas delimitações do parque, e que vivia em relativa harmonia com a
natureza. Um exemplo claro disso são os povos indígenas, que viviam
exclusivamente desse meio natural.
Especificamente no Estado de Mato Grosso do Sul, o governo estadual
criou algumas unidades de conservação, a partir de 1990. O primeiro a ser criado
foi o Parque das Várzeas do Rio Ivinhema, uma compensação da CESP pela área
apropriada pela instalação da usina hidrelétrica engenheiro Sergio Motta, o
Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, criado em área bastante degradada
pelo homem; Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro; Estrada Parque do
Pantanal; Estrada Parque de Piraputanga; Rio Cênico, Rotas Monçoeiras e Rio
Coxim e Parques urbanos de Campo Grande. (SEMA, 1999, s/p)
A
proposta do governo sul-mato-grossense é transformar estas áreas de conservação
em pontos de atrativo turístico, como podemos aferir na publicação sobre
unidades de conservação lançada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (1999,
p. s/p):
O governo popular consciente de seu papel na defesa do
patrimônio natural de Mato Grosso do Sul criou os Parques das Várzeas do Rio
Ivinhema, do Pantanal do Rio Negro, das Nascentes do Rio Taquari, as Estradas
Parques do Pantanal, de Piraputanga e o Rio Cênico Rotas Monçoeiras – Rio Coxim.
Todas estas áreas são agora patrimônio da coletividade sob gestão do Governo
Popular e, em breve, estarão abertas ao uso público.
Neste trabalho, analisamos a criação do Parque Estadual das Nascentes
do Rio Taquari, com uma área de aproximadamente 30.618 hectares, com uma
diversidade de belezas cênicas importantíssima para o desenvolvimento da
atividade turística, que inclui um corredor ecológico Cerrado-Pantanal, sítios
arqueológicos, cavernas, pinturas rupestres e petróglifos, além de uma rica
diversidade de fauna e flora. Seu estudo, dentro da Geografia, se faz muito
importante devido às transformações no local promovidas pela desapropriação da
área e inserção da atividade turística .
O
Parque das Nascentes do Rio Taquari, situa nas cidades de Costa Rica e
Alcinópolis, as quais tendem a sofrer uma transformação muito grande na produção
da paisagem local e na cultura de sua população, pois o modelo de
desenvolvimento atual obriga a população à nova dinâmica,
principalmente se considerarmos que, em sua história cultural, as cidades
de Alcinópolis e Costa Rica tém na agricultura e pecuária suas atividades
principais de sobrevivência e desenvolvimento. Assim com a inserção da atividade
turística, as relações de trabalho se modificam, surgem novos ramos de serviços
voltados a atender turistas, como trabalhos em hotéis, restaurantes, etc e
também se verifica a informalição do trabalho, ou seja, empregos sem os direitos
trabalhistas garantidos por lei.
Analisando a questão do trabalho, Moretti (2001, p.48)
argumenta:
Podem ser destacadas algumas destas
problemáticas que possuem relação direta com a atividade turística: o debate
sobre a questão do trabalho e de suas transformações; a questão do aumento do
tempo fora do espaço e tempo do trabalho; o aumento da velocidade da locomoção e
das comunicações; a homogeneização do espaço de lazer. Estas questões são fruto
de transformações referentes ao movimento do modo de produção capitalista, com
destaque para evolução da técnica que promove profundas mudanças nas relações
societárias.
Entre
as problemáticas relacionadas à atividade turística, entram as relações de
trabalho, o aumento do ócio, as comunicações, a homogeneidade do lazer. Alguns
autores como Paul Virilio (1998), colocam as mudanças relacionadas aos motores;
Milton Santos (1994) refere-se à passagem da sociedade industrial para a
informal.
Ainda
sobre a questão do trabalho, o autor De Masi (1998) acredita que o avanço
tecnológico deve aumentar o tempo livre do indivíduo, libertando-o em relação ao
trabalho Assim o turismo é visto como uma atividade de lazer para preencher o
tempo ocioso; outros autores como Boaventura de Souza Santos (1995) e Paul
Virilio (1998) analisam o turismo como uma atividade construída em relações
sociais desiguais e excludentes, assim o avanço tecnológico provocará o
desemprego, o tempo livre gerará violência, não lazer. (Moretti, 2001, p.
49)
Através
do turismo, as relações sociais locais de poder transformam-se de acordo com os
novos ideários de desenvolvimento construídos a partir da década de 70, com a
revalorização da natureza, representada pela idéia do chamado desenvolvimento
sustentável, em que o modelo atual da atividade turística procura
inserir-se.
A criação do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari enquadra-se
no novo processo de exploração capitalista, chamado desenvolvimento sustentável
que analiso como a contradições, pois o termo desenvolvimento significa produção
ilimitada de mercadorias e sustentável quer dizer manter, manutenção, ou seja,
estas palavras se contradizem, abordam aspectos distintos em um modelo atual de
sociedade que deposita sua fé na ciência, que esta irá resolver os problemas do
mundo no futuro, como doenças, fome, etc., através da industrialização; da
atividade turística, buscando assim novos caminhos para a vida no mundo.
(Rodrigues, 2001, p. 20/1)
Devido ao momento de crise, o desenvolvimento sustentável mostra-se
como um aprimoramento em relação ao antigo modo de reprodução da natureza, com
ênfase na preocupação ambiental em conservar elementos da natureza para gerações
futuras.
As mudanças do modelo ocorrem por
revoluções bruscas ou graduais; quando um ramo da ciência não consegue
solucionar os problemas pelas regras vigentes, mudam-se conceitos e ocorrem
trocas. A ciência que oferecer melhor resposta acumula status; o modelo
que não oferecer respostas cabíveis, entra em crise. (Pires, 1998, p.
64/5)
A ciência que se mostrar mais competente consegue o consenso da
maioria, as mudanças no modelo significam mudanças no mundo.
Assim analiso o atual momento de decadência, devido à inflação,
desemprego, poluição, crimes, mostrando a existência de uma crise única, a crise
do capitalismo. Neste sistema, ocorre a separação entre sociedade e natureza,
vista pelo atual modelo como matéria-prima a ser apropriada. (Capra, 1990,
apud Pires, 1998, p. 66)
A crise atual da ciência moderna mostra a necessidade de um outro
modelo, denominado transição ao desenvolvimento. Nota-se atualmente a
preocupação com o ecológico; percebe-se que os recursos naturais usufruídos para
a reprodução do capital são frágeis e não infinitos. Define-se claramente a
crise do desenvolvimento e da sociedade moderna.
Relacionado à crise, concordo com a autora Célia Serrano quando esta
faz referências ao desenvolvimento sustentável:
Devido às catástrofes mundiais, ameaças
nucleares, o meio ambiente é colocado em xeque, sob uma nova visão, a
natureza deixa de ser analisada apenas como recurso para se integrar à vida
social humana. Atualmente no campo das ciências sociais há este estudo sobre o
desenvolvimento sustentável, crescimento dos movimentos em proteção a natureza e
a qualidade de vida. (1997,
p. 05)
O processo de urbanização se intensificou nas últimas décadas,
deslocando o ser humano do contato com a natureza para as cidades. Nos grandes
centros urbanos, a paisagem natural é escondida através da pavimentação de ruas
e calçadas, construção de edifícios e casas, transformando-se em um
ambiente artificial. O progresso observado nas grandes cidades esconde a
natureza, transforma o lugar em uma área totalmente artificial, gera problemas
ao meio ambiente como as ilhas de calor, poluição, efeito estufa; surgindo assim
o mito do reencantamento da natureza, realizado agora pela atividade econômica
turística. (Rodrigues, 2001)
Com o passar do tempo, o ser humano percebe que seu afastamento da
natureza provoca uma série de efeitos maléficos à vida, também em função da
agitação cotidiana das grandes cidades. Para Luchiari
(1999, p.122),
A explosão da atividade turística está estreitamente
associada à insatisfação com a vida cotidiana. As cidades, embebidas pelo mundo
do trabalho, levam suas populações à mobilidade. Esta mobilidade tem, então, um
caráter de evasão, de fuga planejada para o anticotidiano, que se coloca em
contraposição à desumanização do lugar de moradia.
A
reaproximação com a natureza através do turismo, torna-se algo necessário à vida
humana, a atividade turística procura vender uma imagem, uma mercadoria que faz
o ser humano sentir necessidade de compra, consumo e que pague por ela, fazendo
surgir à necessidade da existência de lugares onde possa ocorrer essa espécie de
mercantilização do espaço, como a criação parques, áreas naturais desabitadas,
tornando possível usufruir um meio ambiente saudável nos seus momentos de
lazer.
O
turismo é um fenômeno social que abrange o mundo inteiro. Com a globalização,
ocorre a melhoria nos meios de comunicação e transporte, envolvendo grande parte
das camadas sociais, mesmo os não-turistas são atingidos indiretamente como
trabalhadores no turismo ou entrando em contato com esses prestadores de
serviços etc. Nesta relação, os turistas são os consumidores, a demanda;
os prestadores de serviços constituem a oferta. (Barretto, 2000,
p.14)
A atividade turística ecológica ou ecoturismo, utilizando como base o
Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, surge então como uma atividade
econômica, pois, para voltar a ter contato com a natureza, o homem deverá
consumir, pagar por ela. Desta forma, o turismo transforma a natureza em
mercadoria. Justificando a mecantilização do espaço, Altvater (1995,
p.157) considera:
O mercado mundial não é somente mercado, mas um conjunto de
formas econômicas e instituições político-econômicas, cuja articulação mais ou
menos coerente configura o modo de funcionamento do mercado mundial numa dada
época histórica.
Outro
autor, Ceballos-Lascuráin (1995, p.25/6), utilizando-se dos dados do Conselho
Mundial de Viagens e Turismo, afirma:
O turismo de modo geral, já é a indústria civil mais importante do
mundo... o turismo é hoje a maior indústria do planeta... A indústria do turismo
é maior que a do automóvel, do aço, da eletrônica ou da agricultura. A indústria
de viagens e turismo emprega 127 milhões de trabalhadores (um em cada 15
trabalhadores em todo mundo). Ao todo, a expectativa é de que a indústria do
turismo duplique até o ano de 2005.
Dentro da atividade turística, existem diferentes maneiras e formas
de praticar turismo, e no que se refere ao turismo com base na preservação
da natureza, o ecoturismo apresenta-se como segmento turístico que mais cresce
no mundo.
A industria do turismo hoje vê um de seus braços, o ecoturismo,
espécie de atividade que vai desde os passeios em florestas a esportes radicais,
como segmento turístico que mais cresce no mundo. A atividade turística emprega
hoje 10% da população economicamente ativa, deve movimentar 7,9 trilhões até
2005, com crescimento entre 4 a 5% ao ano; no mesmo período o ecoturismo deve
crescer 20% ano. (Serrano, 1997, p. 07)
Para que a atividade turística em parques obtenha um numero cada vez
maior de adeptos, uma série de infra-estruturas deve ser criada, como estradas
asfaltadas, redes de hotéis e restaurantes, aeroportos, portanto, apesar de o
discurso oficial relacionar a criação das Unidades de Conservação à preservação
de áreas naturais, ocorre ao mesmo tempo a urbanização destas , que garante as
condições econômicas e políticas para a efetivação das unidades.
Para que se instale a atividade turística, faz-se necessário à região
ter um potencial, uma paisagem histórica ou natural; o Estado se responsabiliza
pela criação da infra-estrutura, como estradas, aeroportos; com a estrutura
pronta, o Estado se retira, entregando à iniciativa privada o direito de
apropriação dos lucros; ao turista cabe aproveitar o lazer; ao trabalhador,
alcançar o bem-estar. (Rodrigues, 2001, p. 32)
Hoje a recriação do mito de paraíso natural vende os lugares como um
paraíso que está sendo preservado, como atividades não-destruidoras dentro do
“desenvolvimento sustentável”.
Utilizando o pensamento de Barreto (2000), analiso que é falsa
a idéia que o turismo traz desenvolvimento econômico à sociedade, pois quem
retém a maior parte do dinheiro são os prestadores de serviços; os trabalhadores
recebem salários baixos, não conseguem assim ter despesas significativas; ao
governo atinge a evasão de boa parte dos impostos, e as diversas formas de
isenção para atrair grandes empresas multinacionais turísticas faz com que este
pouco lucre com esta atividade.
Para chegar ao ápice da sociedade moderna, a atividade
turística vai passar por transformações, devido principalmente ao sistema
econômico que propicia melhorias na tecnologia e em outros conceitos histórico
culturais. Assim Virilio (1996, p.35) considera:
Os
motores como impulsionadores nesta história, primeiro o motor a vapor, depois o
foguete e mais recentemente o motor da informática. Este motor faz com que o
virtual derrote o real, alteram o tempo e o espaço local, assim um fato ocorrido
em um lugar pode ser visto ao mesmo tempo no mundo todo; a atividade turística
apropria-se do virtual, denominado era digital para vender produtos, imagens,
etc.
A criação de Unidades de Conservação está atrelada a uma produção
territorial voltada para a privatização das áreas naturais, com a atividade
turística sendo a concretude desta ação.
O turismo não
está relacionado apenas à visitação de pessoas a lugares, é necessário analisar
a sua complexidade, a circulação de pessoas e mercadorias, a tecnologia para
conhecer os lugares a serem visitados e os serviços; envolve então um universo
amplo. (Rodrigues, 2001, p. 35)
O turismo de base local, tendo como exemplo o Parque Estadual
das Nascentes do Rio Taquari só tem o espaço como local, pois este se insere em
um contexto globalizante e mundial no sentido de consumo de mercadorias e
serviços. O turismo deve ser entendido como um processo de produção, circulação
e consumo de mercadorias.
Inserido nesta atividade econômica complexa, o Parque Estadual das
Nascentes do Rio Taquari mostra-se como ambiente natural apropriado pela
atividade turística, que, utilizando a propaganda do lazer para o turista
transforma o lugar de forma comercial, para gerar lucro.
Cabe à Geografia aprofundar os estudos sobre esta atividade
turística, analisando as transformações no espaço, seja cultural, estrutural ou
social, que tal atividade promove.
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