O RESGATE DO IMPERIALISMO NA INTERPRETAÇÃO DAS
TENSÕES DE TERRITORIALIDADES E A REFUNDAÇÃO DO ESTADO NA AMÉRICA
LATINA
Dr. Marcos César Araujo Carvalho
Faculdade de Formação de Professores – UERJ – São Gonçalo - RJ,
Brasil.
Msc. Rodrigo Pina
Colégio Pedro II – Rio de Janeiro, Brasil.
Msc. Marcus Vinícius Castro Faria
Universidade Federal Fluminense – Niterói – RJ,
Brasil.
A
produção teórica sobre o imperialismo quase sempre foi marginalizada e passou
por avanços e retrocessos nos ambitos acadêmico e político. Esse conceito foi
analisado predominantemente sob um viés economicista e interpretado sob uma
perspectiva negativizada, haja vista que o imperialismo se torna afamado por
formar parte de uma teoria crítica de caráter revolucionário. Nos últimos anos tomou corpo o debate acerca da
validade da categoria imperialismo para a interpretação das questões de
natureza geopolítica e geoeconômica na América Latina, região na qual o debate
foi silenciado durante anos. O imperialismo como teoria e prática sofre avanços
e mutações que exigem um resgate constante e uma atualização crítica
aprofundada. Vivemos em tempos e terrenos re-imperializados e marcados
não somente pela colonialidade, mas igualmente por uma imperialidade do poder,
onde o sentido do mundo se define a partir de uma certa razão imperial, nos
termos de David Slater e Heriberto Cairo. O recrudescimento das ações
imperialistas no contexto da crise do capitalismo possibilitou o retorno do
imperialismo para o debate crítico na América Latina, assim como a
diversificação das ações e manifestações anti-imperialistas. A acentuação das
desigualdades sociais em grande parte dos Estados latino-americanos desmentiam
as sínteses discursivas voltadas para o desmonte do Estado e para a abertura da
economia nacional como forma de inserção soberana na economia mundial. A classe
trabalhadora urbana, campesinos, populações indígenas de diferentes
nacionalidades, afrodescendentes etc. vivenciaram a degradação cotidiana do seu
modo de vida e perceberam a necessidade de resistir a esse processo como forma
de garantir a sua própria existência. Dessa forma, a territorialidade do Estado
é confrontada com uma miríade de territorialidades subalternas que emergem a
cena política e passam a exigir direitos. O anti-imperialismo na atualidade
também deve ser reinterpretado a partir de novas perspectivas analíticas e em
diferentes escalas. Com um repertório amplo e difuso de dominação, a
imperialidade hegemônica incita diferentes tensões de territorialidades, tanto
no plano teórico quanto no plano prático, tanto inter quanto intra-estatal. O
caso da Bolívia é evidente, pois esse Estado passou por uma refundação que
permitiu, a partir de mudanças constitucionais, se relacionar de uma maneira
diferente com o imperialismo brasileiro e reconhecer diferentes nacionalidades e
seus respectivos direitos, assumindo juridicamente seu caráter de Estado
Plurinacional. No contexto de ambivalência das relações de dominação/resistência
interestatais na América Latina, ocorreram na Bolívia alguns impasses e tensões
envolvendo empresas transnacionais brasileiras. A tensão com a Petrobras, por
exemplo, revelou-se o ponto mais difícil quando da “nacionalização” dos
hidrocarbonetos, em 2006. A tese do imperialismo brasileiro tem como um de seus
fundamentos a interpretação que alguns países fazem de suas relações
assimétricas com Brasil, cuja hegemonia tem sido criticada pelo papel de
protagonista que desempenha no contexto regional. O imperialismo brasileiro tem
como seu principal vetor de dominação a associação do Estado brasileiro com
algumas empresas públicas e privadas que atuam em diversos setores da economia,
desencadeadores de tensões interestatais.
Palavras-chave: Imperialismo, Antiimperialismo, América Latina,
Territorialidades, Refundação do Estado