TRABALHO, CULTURA E REPRESENTAÇÃO: AS MUDANÇAS SOCIOESPACIAIS DOS
ESPAÇOS URBANOS-FABRIS NO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO-RJ
João Marçal Bodê de Moraes
Doutor em Geografia
Humana
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro-UERJ
São Gonçalo-Estado do Rio de
Janeiro/Brasil
Este trabalho faz uma análise dos espaços
urbanos segundo as práticas sociais geradas em meio às
transformações da cidade de São Gonçalo, ou seja, como os
trabalhadores relacionam e delimitam
concreta e simbolicamente os
seus espaços. A observação dos marcos simbólicos do espaço social
nos bairros, do processo de urbanização e do
espaço urbano-industrial, dos
diferentes processos de industrialização, bem
como do papel
da acumulação de capital e do Estado na organização espacial, dos fatores de localização industrial e sua
relação com as cidades
em diferentes escalas, redes,
hierarquias, assim como do
processo de metropolização, foram pontos
fundamentais articulados como
base para as
reflexões.
Considerada periférica, São Gonçalo é uma cidade onde se
encontram bairros populares, com
cultura e valores diferentes de bairros de classe média, em que todo tipo de estigma
é possível, como, por exemplo, o de ser
uma “cidade-dormitório” - aquela em
que os moradores não possuem nenhuma relação com o
lugar. Mas o que se observa é uma
situação inversa: há uma forte ligação de
pertencimento com o lugar. A pesquisa
mostrou os espaços e as relações
sociais e identitárias da cidade,
analisando os processos de transformação
da classe trabalhadora do município e as suas
relações com um
território também em
transformação, ressaltando-se que as
mudanças no trabalho e na organização social lá ocorridas vêm alterando estas relações, com a
inserção de novas atividades
econômicas na região distintas das
atividades tradicionais que compuseram o imaginário de “cidade”, de “trabalho” e de
“trabalhador” que antes havia – principalmente no distrito de Neves, que mais
guarda esta “tradição do trabalho”
por ter sido
uma área que recebeu os maiores investimentos econômicos na fase de
crescimento e que formou uma base operária
marcante, como a do operariado naval. A pesquisa, portanto, focalizou este fenômeno urbano
segundo as questões levantadas pelos trabalhadores de São Gonçalo e suas representações dos espaços por
meio da ligação com o
lugar em que
vivem.
Atualmente, São Gonçalo
possui um complexo fabril
diversificado e contíguo, que, embora
hoje considerado “decadente”, existe
desde a década de 1930, sendo este um
município que tradicionalmente também contou com atividades
econômicas expressivas (parque industrial
naval e indústrias pesqueiras, entre
outras). A dinâmica da cidade e especificamente do bairro de Neves
onde estão concentradas essas atividades.
Utilizo uma abordagem particular da ocupação espacial, considerando alguns aspectos,
entre os quais os marcos
espaciais e simbólicos que constituíram a cidade de São
Gonçalo e que ainda são
um referencial para aquela população. Nesta região, localizam-se vários espaços
voltados para os trabalhadores de empresas (conjuntos residenciais, sindicatos e clubes).
Assim, a
pesquisa visou a investigar este
espaço social hoje
constituído, mediante o processo de reestruturação produtiva e da (re)significação das relações sociais
e culturais que ele ocasiona. Portanto, para compreender o fenômeno
urbano que ocorre em
São Gonçalo, sobretudo no que tange
à esfera operário-fabril e suas facetas,
considero relevante a investigação da construção
do espaço social sobreposto ao espaço físico/geométrico transformado pelo
seu uso por
meio do trabalho e pelas diferentes formas de apropriações simbólicas
implicadas.
Esta ponencia será expuesta durante el XVI
Encuentro Internacional Humboldt, a desarrollarse entre los días 06
y 10 de octubre próximos en San Carlos de Bariloche, provincia de Río
Negro, Argentina