Territórios étnico-religiosos:
as manifestações do candomblé em
Manzo Ngunzo Kaiango – Belo
Horizonte/Brasil
Ana Maria Martins
Queiroz
Doutoranda em
geografia
Universidade Federal de Goiás
Goiânia - Brasil
As práticas religiosas podem ser consideradas
como uma significativa dimensão na vida de um grupo social qualquer. Pela
religião torna-se possível acessar elementos que permitem a composição de uma
série de experiências espaço-temporais. A relevância que a religião assume,
entretanto, para um determinado sujeito é variável, podendo até mesmo se
configurar como uma dimensão que alicerça os demais aspectos da vida. Neste
sentido, o trabalho que aqui se apresenta pretende discutir as manifestações
étnico-religiosas presentes em um território candomblecista, localizado na
cidade de Belo Horizonte/Minas Gerais - Brasil. Trata-se do território-terreiro
de Manzo Ngunzo Kaiango.
O candomblé constitui-se uma religião que se
estabeleceu a partir das distintas manifestações religiosas de negros que foram
trazidos para o Brasil na diáspora africana. Trata-se de uma religião de matriz
africana, na qual o encontro de práticas religiosas distintas fundou o que se
conhece hoje como candomblé. Os negros que chegaram ao Brasil pertenciam a
etnias diferentes, sendo que cada uma possuía suas próprias dinâmicas culturais
e socioespaciais, entre as quais a religiosidade. Dentre essas etnias, havia o
predomínio de dois grandes grupos: os iorubás e os bantos, que eram negros
provenientes da África Ocidental e da região de Angola e do Congo,
respectivamente. É sob os pilares das manifestações religiosas destes povos que
o candomblé se estabeleceu no país. Por ter se constituído a partir de etnias
distintas, tal religião se estrutura através de agrupamentos denominados nações,
que são específicas de cada grupo étnico. Na comunidade de Manzo o candomblé é
iniciado ao final dos anos de 1970 quando a matriarca da família migra para tal
religião. As práticas candomblecistas em Manzo pertencem à nação angola, sendo o
banto o grupo étnico-linguístico utilizado para determinadas comunicações entre
os candomblecistas da referida comunidade. A organização socioespacial do
terreiro também se dá a partir da nação a qual se está vinculado, sendo
marcantes alguns aspectos como, por exemplo, a existência de uma bandeira branca
que representa o deus Tempo no candomblé da nação angola.
Em Manzo, assim como em outras casas de
candomblé, muitas são as festas e as motivações para que elas sejam realizadas.
Algumas possuem caráter permanente e estão fixadas no calendário da comunidade,
mas, outras se dão em situações particulares e de acordo com as demandas de cada
membro da casa. A festa conforma, assim, uma manifestação de relevante
significado para os candomblecistas, na medida em que ela marca importantes
momentos em suas vidas. Considero, a partir das observações realizadas em Manzo,
que a festa no candomblé pode ser pensada como um momento de recriação
identitária e de busca por uma realidade em que o oprimido pode, potencialmente,
reverter sua condição de excluído e marginalizado. É a possibilidade, portanto,
dos povos negros contarem sua própria história e afastarem-se da condição de
subalternos. A festa, desta maneira, pode permitir ao negro reconstituir os
vínculos com o seu território perdido e reestruturar seu sistema cultural e
religioso, o requalificando e o ressignificando.
Esta ponencia será
expuesta en el XV Encuentro Internacional Humboldt a desarrollarse entre los
días 09 y 13 de setiembre próximos en la Ciudad de México,
México.