O EIXO BRASÍLIA - GOIÂNIA:
POLÍTICAS PÚBLICAS E PRODUÇÃO DO
TERRITÓRIO

Fernando Luiz Araújo
Sobrinho
Universidade de Brasília, Distrito Federal,
Brasil.
Resumo: O eixo de desenvolvimento Brasília - Goiânia compreende as duas
maiores metrópoles da Região Centro-Oeste do Brasil e os municípios de sua área
de influência. Esse eixo apresenta características naturais e socioeconômicas
bem diversas, porém a sua posição geográfica e a análise das transformações
recentes em sua estrutura urbano-regional permitem considerar essa região como
uma das mais dinâmicas nas últimas décadas no Brasil. As facilidades de
transporte, a implantação de infraestrutura, o agronegócio e o significativo
mercado consumidor, a centralização do poder, entre outros fatores, explica a
consolidação do eixo Brasília - Goiânia no cenário regional brasileiro e até
mesmo global. O eixo Brasília - Goiânia apresentou notável crescimento econômico
nos últimos anos, além do adensamento e crescimento de suas estruturas urbanas.
O eixo Brasília - Goiânia, e mais especificamente o Distrito Federal, tem
alcançado papel de destaque no cenário regional brasileiro. Deve-se destacar que
tanto Brasília quanto Goiânia são projetos de “modernização” da região e
tentativas de dinamizar o Centro-Oeste. Depreende-se da discussão feita até esse
momento que essa rede urbana regional tem papel de destaque e capacidade imensa
de expansão sobre outros sistemas urbanos. Outra constatação é a de que o Estado
é o grande responsável pelo processo de desenvolvimento da região. Na realidade,
a discussão sobre a questão regional deve levar em conta que o Estado tem papel
fundamental no cenário regional brasileiro e que mesmo depois de todo o debate
sobre a redefinição desse papel ou sobre a falência das estruturas estatais, o
Estado ainda é peça essencial na análise do desenvolvimento regional brasileiro.
O fato de sediar o Governo Federal faz com que o Distrito Federal apresente
capacidade de dinamizar a economia regional em larga escala, promovendo a
integração com outros municípios, a economia nacional e as redes do mundo
globalizado.
Abstract: The development axis Brasília Goiania includes the two largest cities in the
Midwest Region of Brazil and the municipalities in its area of
influence. This axis is natural and socioeconomic characteristics quite
different, but its geographical position and analysis of recent changes in
urban-regional structure allow us to consider this region as one of the most
dynamic in recent decades in Brazil. Transportation facilities, the deployment
of infrastructure, agribusiness and significant consumer market, the
centralization of power, among other factors, explain the consolidation of the
axis Brasilia Goiania Brazil on the regional and even global. O axis Brasília
Goiania showed remarkable economic
growth in recent years, beyond the consolidation and growth of their urban
structures. The axis Brasilia Goiania, and more specifically the Federal
District, has achieved a prominent role on the regional Brazilian. It should be
noted that both Goiania and Brasília are projects of "modernization" of the
region and attempts to streamline the Midwest. It appears from the discussion
made so far this regional urban network has an important role and enormous
capacity for expansion into other urban systems. Another finding is that the
state is largely responsible for the development process in the region. In fact,
the discussion on the regional issue must take into account that the State has a
fundamental role on the regional Brazilian and that even after all the debate on
the redefinition of this paper or on the failure of state structures, the state
remains essential piece analysis of regional development in Brazil. The fact
that host the Federal Government makes the Federal District shows ability to
boost the regional economy on a large scale, promoting integration with other
municipalities, the national economy and the globalized world
networks.
1.
O
Eixo Brasília - Goiânia: caracterização e
perspectivas
O eixo de desenvolvimento Brasília - Goiânia
compreende as duas maiores metrópoles da Região Centro-Oeste do Brasil e os
municípios de sua área de influência. Esse eixo apresenta características
naturais e socioeconômicas bem diversas, porém a sua posição geográfica e a
análise das transformações recentes em sua estrutura urbano-regional permitem
considerar essa região como uma das mais dinâmicas nas últimas décadas no
Brasil. Os primórdios da ocupação da região datam dos Séculos XVIII e XIX,
posteriormente há a implantação de dois grandes projetos nacionais,
respectivamente: a Marcha para o Oeste e a construção de Goiânia e Brasília
(Século XX).
Ambos alteraram as estruturas urbano-regionais
até então existentes. Porém, na década de 1990, a região rapidamente se
transformou em importante centro industrial, comercial e de agronegócio, e
especialmente as cidades de Brasília e Goiânia tornaram-se cabeças dessas
modernas redes de expansão econômica. A influência dessas duas metrópoles
espalha-se sobre muitos municípios nos estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia e
Tocantins, configurando importante rede no cenário regional brasileiro
contemporâneo. O Distrito Federal é importante mercado consumidor, tendo uma das
maiores rendas per capita do país.
Segundo dados do GDF (2004), o Distrito Federal é o 40º mercado consumidor da
América Latina e o 2º do Brasil, atrás apenas de São Paulo, a maior cidade do
país.
A população do eixo Brasília - Goiânia tem
crescido significativamente nos últimos anos. Esse crescimento demográfico acompanha o
aumento das necessidades de serviços urbanos, facilidades na oferta e geração de
emprego e renda, bem como a implantação de infraestrutura nas cidades da região.
A expansão urbana e o crescimento populacional são resultantes de maiores
oportunidades de emprego e renda, geradas a partir de investimentos públicos e
privados. Os governos do Distrito Federal e do Estado de Goiás têm proporcionado
uma série de incentivos à instalação de empresas, infraestrutura, serviços e
equipamentos urbanos, além de apoio ao agronegócio e às atividades comerciais.
Atualmente, a distância de viagem entre as duas metrópoles Brasília e Goiânia é
de aproximadamente 209
km e o tempo gasto nesse percurso é em
média:
·
Veículo de passeio: 2 horas e meia;
·
Ônibus comercial: 3 horas;
·
Avião comercial: tempo de vôo de cerca de 20 a 30 minutos, incluindo
decolagem e pouso.
As rodovias que interligam as duas metrópoles
apresentam tráfego intenso, que segundo dados preliminares da Prefeitura
Municipal de Alexânia (2005) gira em torno de 13 mil veículos diários em dias
normais de semana e 17 mil em períodos de férias e feriados prolongados. A
principal rodovia é a BR-060, em fase final de duplicação. Além dessa rodovia,
existem outras vias que possibilitam a comunicação, como a BR-070 por intermédio
da Belém-Brasília (altura do município goiano de Pirenópolis). Essas duas
rodovias configuram sistema rodoviário de interligação entre as duas cidades,
assegurando, dessa forma, o desenvolvimento econômico e o estímulo ao
desenvolvimento de outros municípios, como Anápolis, Alexânia e Pirenópolis. O
tráfego intenso de motoristas e passageiros demanda o surgimento de equipamentos
de apoio ao longo das rodovias, a exemplo de postos, restaurantes, lanchonetes,
hotéis, pousadas, além do crescimento da atividade comercial nos municípios
marginais às rodovias.
2. As redes de transportes
regionais
No período pré-Revolução Industrial os meios de
transporte eram movidos por animais ou pelo vento. A máquina a vapor
possibilitou tanto a expansão das ferrovias como a modernização das embarcações.
Nesse período, os navios a vapor passaram a cruzar os oceanos, diminuindo os
deslocamentos oceânicos entre o Oriente e os Estados Unidos via Europa. Em 1840,
foi estabelecida a primeira rota marítima Estados Unidos-Inglaterra com a
utilização de navio a vapor. Com a inauguração do Canal de Suez, em 1869, o
tráfego marítimo entre a Europa e a Ásia foi intensificado. Somente após a 2ª
Guerra Mundial, o automóvel e o avião ganharam destaque nos sistemas de
transporte. Na década de 1950, o automóvel passou à frente do trem como meio de
transporte mais utilizado nos deslocamentos turísticos e, nos anos 60, o avião
tomou o lugar dos navios de cruzeiros nas viagens intercontinentais. O avanço da
tecnologia do avião a jato possibilitou o encurtamento do tempo dos
deslocamentos. Na década de 1970, a velocidade média que era de
400
km/h passou para 950 km/h. Além do aumento da
velocidade, a capacidade de carga de passageiros e mercadorias aumentou. O
Boeing 747 foi a primeira aeronave a transportar mais de 400 passageiros por
vôo.
É de fundamental importância a compreensão de que
a dinâmica regional envolve deslocamentos de pessoas e nesse aspecto para que
haja o efetivo fluxo de pessoas, bens e serviços existem diferentes modais de
transporte utilizados. Palhares (2003, p. 22) destaca como os principais modos
de transportes: o aéreo, o rodoviário, o aquaviário e o ferroviário. “Cada um
apresentando vantagens e desvantagens no seu uso, e a sua escolha atrelada a
vários fatores, como preço, tempo de viagem, conforto e flexibilidade”. Além dos
diferentes modais de transportes e de seus elementos constituintes, têm-se
também a existência das redes de transportes. Palhares (2003, p. 34) define
redes de transportes como “o conjunto de ligações (rodovias, ferrovias, rotas
áreas, etc) e terminais (rodoviárias, estações ferroviárias, aeroportos, portos,
etc) de um determinado modo de transporte ou de vários modos de transporte”. A
existência de uma rede de transportes estará condicionada a diversos fatores: o
meio físico e a possibilidade de vias naturais de transporte (mares, rios,
lagos) ou a construção de túneis, pontes e viadutos que permitam a expansão da
rede rodoviária, que por ser artificial é mais abrangente do ponto de vista
geográfico. O fato é que as redes de transportes possibilitam a existência dos
fluxos e a interligação dos lugares à dinâmica econômica
global.
A implantação de diversos modos de transporte
possibilita a criação e expansão da economia de escala, interligando diversos
lugares a um centro ou vários centros. As redes de transporte podem ser
classificadas em diversas tipologias, como: linear, hub and spoke e em grade. A rede linear
obedece a um eixo de transporte linear que pode envolver diversos modais e
interligar diversos lugares por meio de um eixo. Os nomes hub (nó) e spoke (aros) decorrem desse tipo de rede
parecer-se com rodas de bicicletas, com os seus vários aros fixos num ponto
central. A rede em grade denota a existência de vários modais que interligam
diversos lugares por intermédio de diferentes vias. No caso específico deste
trabalho, verifica-se que a rede de transporte existente no eixo Brasília -
Goiânia é do tipo linear, sem desconsiderar, entretanto, o papel do aeroporto de
Brasília como receptor e distribuidor de vôos nacionais e recentemente
internacionais, caracterizando a rede hub and spoke. A principal modalidade de
transporte identificada nos municípios pesquisados é a rodoviária, reconhecendo,
todavia, que grande parte do fluxo de pessoas de fora da Região Centro-Oeste
chega à Brasília por meio do transporte aéreo. A rede ferroviária destina-se
apenas à carga, não havendo integração direta entre Brasília e Goiânia nesse
modal; a ferrovia Centro Atlântica possui dois ramais distintos que interligam
essas cidades aos portos da Região Sudeste. Quanto ao transporte aqüaviário
limita-se ao uso de embarcações em represas e lagos artificiais. Os rios da área
de estudo são de pequeno porte e não comportam embarcações de médio e grande
porte.
Recentemente, o aeroporto internacional de
Brasília passou a receber vôos internacionais de passageiros. O caráter
internacional desse equipamento era justificado pelo pouso de aeronaves
estrangeiras a serviço militar e pelo transporte do corpo diplomático e de
Chefes de Estado estrangeiros em visita ao Brasil. A
partir do mês de julho de 2007, foram estabelecidas conexões em rede
internacional por meio de cinco vôos semanais sem escala, no percurso Brasília -
Lisboa-Brasília, operados pela Empresa Transportes Aéreos Portugueses – TAP. A
Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC estabeleceu posteriormente novas rotas
partindo do aeroporto internacional de Brasília para os países da América Latina
(Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Panamá e Venezuela) e América do Norte
(Estados Unidos). Palhares (2003, p. 40) destaca que, “mesmo quando se compara a
participação porcentual dos vários modos de transportes nas últimas décadas,
percebe-se que o crescimento dos automóveis e do transporte aéreo continua
ocorrendo”.
A expansão dos fluxos de transporte na Região
Centro Oeste do Brasil dá-se através desses dois modais de transporte. O modal
rodoviário implantou-se a partir da construção, na década de 50, das rodovias
federais BR-010 Brasília - São Miguel do Guamá (conhecida popularmente como
Belém-Brasília); BR-020 Brasília - Fortaleza; BR-030 Brasília - Ubaitaba/ Bahia;
BR-040 Brasília - Belo Horizonte-Rio de Janeiro; BR-050 Brasília - São
Paulo-Santos; BR-060 Brasília - Goiânia-Campo Grande; BR-070 Brasília - Cáceres/
Mato Grosso. Isso possibilitou a interligação de Brasília e Goiânia a todas as
regiões brasileiras e a alguns países vizinhos (Bolívia, Paraguai, Argentina,
Uruguai) por meio de outras rodovias interligadas a essa rede rodoviária e dos
aeroportos de Brasília e Goiânia. Os aeroportos, como terminais de transporte,
têm importante função em termos de atração e suporte ao turismo. Cada aeroporto
detém uma infraestrutura complexa, com terminais, acessos, galpões, hangares,
eles representam o início e o término das viagens de turismo. Esses fixos têm-se
modernizado cada vez mais, principalmente no seu enfoque de terminal de
passageiros e cargas para tornarem-se verdadeiros centros de
negócios.
O Aeroporto Internacional de Brasília Presidente
Juscelino Kubistchek é o 2º em movimentação de vôos e passageiros do país e
exterior, recebendo vôos de diferentes regiões brasileiras e redistribuindo
passageiros e cargas na complexa rede aérea nacional, evidenciando o caráter de
aeroporto de conexão/ escala entre destinos. O aeroporto recebeu pesados
investimentos da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero),
a partir do ano de 2003 sendo dotado de shopping de compras, mais um terminal de
passageiros, construção da 2ª pista de pousos e decolagens para receber vôos
internacionais e nacionais de aviões de grande porte. Atualmente, o aeroporto de
Brasília tende a aumentar ainda mais os seus fluxos de passageiros e cargas a
partir da ampliação de um terceiro terminal de passageiros e cargas. Dentro do
planejamento estratégico da Infraero indica-se a construção de outro aeroporto
no Distrito Federal ou nos municípios vizinhos para aproveitar a localização
estratégica de Brasília e a expansão do transporte aéreo no Brasil e no mundo.
No Brasil, os maiores aeroportos estão sob
controle de uma única empresa estatal, a Infraero, e a regulação do setor aéreo
sob gestão da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Os aeroportos de
Brasília e Goiânia estão diretamente relacionados à Infraero, enquanto os de
Pirenópolis e Alexânia estão sob administração do governo do Estado de Goiás e
das prefeituras locais. O aeroporto
de Goiânia passa por obras de expansão a partir da construção de novo terminal
de passageiros dentro da concepção de suporte aos turistas e atração da
população local por meio de lojas, cinemas, praça de alimentação, bancos, entre
outros serviços.
A Infraero administra rede de 65 aeroportos
divididos em sete superintendências, além de 82 grupamentos e unidades de
navegação aérea localizados em todo o território brasileiro, detendo 97% da
movimentação de passageiros do país. As fontes de recursos dessa empresa são de
dois tipos: aquelas cobradas dos usuários e das empresas de transporte aéreo e
aquelas provindas de atividades comerciais, como o arrendamento de instalações
ou equipamentos, aluguel de espaços físicos nos aeroportos e concessões de
serviços privados. Apesar da existência de aeroportos nas cidades de Brasília,
Goiânia, Anápolis, Pirenópolis e Alexânia, o principal modal de transporte
turístico no eixo é o rodoviário, sendo as rodovias federais BR-060 e 070 as
principais vias de interligação dos municípios. A integração entre os meios de
transporte tem se intensificado nos últimos anos mediante diversas estratégias
comerciais e operacionais.
Em suma, o modal rodoviário é hoje o principal
meio de transporte em grande parte dos países do mundo, inclusive no Brasil. No
eixo Brasília - Goiânia esse modal é predominante. Com a construção das duas
rodovias (BR-060 e 070), os fluxos de automóveis e ônibus estruturaram toda uma
rede de apoio aos motoristas e passageiros que trafegam nessas vias. Postos de
gasolina, restaurantes, comércio: são várias as atividades que se apoiam nos
fluxos das rodovias.
3.
Cenário Demográfico e
Econômico
Entre os anos 60 e 70 do Século XX, o Brasil
passa por período de rápido crescimento populacional e de migração campo-cidade.
Consequentemente, nos anos 1980 e 1990, as taxas de crescimento populacional
declinaram em função de um conjunto de mudanças decorrentes das alterações
espaciais da distribuição populacional, da queda da taxa de fertilidade e do
gradual aumento da expectativa de vida. Esses fatores ocasionaram mudanças
significativas na distribuição da população entre o campo e a cidade, como
podemos observar na tabela 02:
Tabela 02: Brasil: Crescimento Populacional e
Distribuição: Urbano – Rural (1980 -2000)
Anos |
Total |
Urbana |
Rural |
Taxa de crescimento (%)
|
1980 |
119.002.706 |
80.436.409 |
38.566.297 |
1,93 |
1991 |
146.825.475 |
110.990.990 |
35.834.485 |
1,64 |
2000 |
169.799.170 |
137.953.959 |
31.845.211 |
- |
Fonte: Censos 1980, 1991 e 2000 – Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística.
Obs.: a taxa de crescimento (%) é a média da
respectiva década.
O cenário econômico do Brasil na década de 1990 é
caracterizado pela abertura do mercado nacional à concorrência internacional e
pela adoção de políticas de estabilização da economia. O Plano Real lançado em
1994 tinha como objetivos acabar com a hiperinflação e criar condições estáveis
para a expansão da economia, sem inflação e aumento das dívidas interna e
externa. Na segunda metade da década, fluxos significativos de capital
globalizado foram aportados em economias emergentes, como a brasileira. Diante
desse quadro, fez-se necessária a adoção de mudanças na estrutura econômica do
país, como a modernização do Estado, as privatizações e a abertura do mercado
aos investidores estrangeiros. A economia brasileira, porém, não conseguiu
manter a estabilidade da moeda, sendo necessária a sua desvalorização em 1999,
bem como a retomada do controle inflacionário. O ano 2000 apresenta novas
dificuldades ocasionadas pela crise financeira da Argentina, país vizinho e
importante parceiro do MERCOSUL, e pelo racionamento de energia. Esse contexto
leva a queda no produto interno do país, como pode ser observado na tabela
03:
Tabela 03: Brasil – Produto Interno
Bruto
Ano |
US$ bilhões |
R$
bilhões |
2000 |
602.207 |
1.101.255 |
2001 |
509.797 |
1.198.736 |
2002 |
459.379 |
1.346.027 |
2003 |
493.348 |
1.514.924 |
Fonte: Indicadores Econômicos Banco Central do
Brasil, 2004.
A adoção de rígida política fiscal e de superávit
primário fez com que a economia brasileira fosse direcionada à exportação como
forma de garantir a entrada de recursos no país. O Brasil é na atualidade um dos
maiores exportadores mundiais de grãos, carne, minérios e aço. Muitas dessas commodities tem as suas áreas de
produção localizadas no interior do país, com destaque para o Centro-Oeste,
maior produtor nacional de grãos. O crescimento econômico alcança taxas anuais
em média de 4% nos últimos anos, porém diversos fatores limitam esse processo,
tais como: a necessidade de investimentos em infraestrutura (transporte,
energia, telecomunicações, etc), o reduzido poder de compra da população de
pequenos municípios e a ineficiência do Estado, principalmente na área
social.
4. Dinâmica Territorial do Entorno do
Distrito Federal
O eixo Brasília - Goiânia situa-se na região
Centro-Oeste do Brasil, tendo área territorial de 1.606.371,51 milhões de Km2
(cerca de 18,8% da área total do país). O mapa 01 destaca a sua localização
geográfica.
Mapa 01: Localização do eixo Brasília – Goiânia

Fonte: Governo do Distrito Federal,
2004.
A região de influência do eixo compreende 65
municípios englobando os dois principais - Brasília e Goiânia. A população é de
cerca de 11.636.728,00 de habitantes (IBGE, 2000). O mapa 02 destaca os
municípios integrantes dessa região. Os critérios para definição dos municípios
integrantes do eixo Brasília-Goiânia, segundo o documento Proposal for the development of the
Brasília-Goiânia axis (2004), tomam por base as áreas de influência
diretamente delimitadas pelos governo do Distrito Federal e de Goiás e a
localização geográfica de até 100 km das cabeças de rede e das
principais vias de ligação rodoviária e ferroviária entre essas
cidades.
Mapa 02: Municípios integrantes do eixo Brasília – Goiânia no Estado
de Goiás 
Fonte: Governo do Distrito Federal, 2004.
Os municípios que integram o eixo Brasília -
Goiânia de acordo com os dados do GDF/ Governo do Estado de Goiás (2004), são
identificados no quadro 01. A quase totalidade dos municípios encontra-se no
estado de Goiás e a tabela 05 demonstra a participação da população total desses
municípios nos cenários local, regional e nacional. A tabela 06 - Produto
Interno Bruto do Eixo Brasília - Goiânia indica um PIB em torno de U$22,5
bilhões, o que corresponde a aproximadamente 80% do total do Distrito Federal e
do Estado de Goiás juntos, e a cerca de 53,68% do PIB da região Centro-Oeste e
3,73% do PIB do Brasil. A tabela 07 demonstra a renda per capita no Eixo
Brasília - Goiânia destacando a concentração de riqueza no Distrito Federal e a
desigualdade existente entre os municípios goianos integrantes do eixo. Cabe
ressaltar que a renda per capita desses municípios está abaixo da média nacional
de U$ 3.540. A análise das disparidades existentes entre o Distrito Federal e o
Estado de Goiás no que se refere aos indicadores de renda per capita e PIB
demonstra também que no Distrito Federal ainda persiste forte concentração do
setor de serviços na composição do PIB e da renda per capita, uma vez que cerca
de 93% de toda a produção de riqueza ainda está atrelada de forma direta aos
serviços públicos e à administração federal. Esse dado chama a atenção, pois o
Distrito Federal passou nos últimos anos por processo de expansão industrial e
agronegócio, mas que ainda assim não consegue reverter o peso do Estado na
economia.
Quadro 01: Eixo Brasília- Goiânia: Municípios
Integrantes no Estado de Goiás e Distrito Federal.
|
Município |
Estado |
|
Município |
Estado |
1 |
Abadia de
Goiás |
GO |
34 |
Itauçu |
GO |
2 |
Abadiânia |
GO |
35 |
Jaraguá |
GO |
3 |
Águas Lindas de
Goiás |
GO |
36 |
Jesúpolis |
GO |
4 |
Alexânia |
GO |
37 |
Leopoldo de
Bulhões |
GO |
5 |
Americano do
Brasil |
GO |
38 |
Luziânia |
GO |
6 |
Anápolis |
GO |
39 |
Mairipotaba |
GO |
7 |
Anicuns |
GO |
40 |
Nazário |
GO |
8 |
Aparecida de
Goiânia |
GO |
41 |
Nerópolis |
GO |
9 |
Araçu |
GO |
42 |
Nova Veneza |
GO |
10 |
Aragoiânia |
GO |
43 |
Novo Gama |
GO |
11 |
Avelinópolis |
GO |
44 |
Ouro Verde |
GO |
12 |
Bela Vista de
Goiás |
GO |
45 |
Padre
Bernardo |
GO |
13 |
Bonfinópolis |
GO |
46 |
Palmeira de
Goiás |
GO |
14 |
Brasília |
DF |
47 |
Petrolina de
Goiás |
GO |
15 |
Brazabrantes |
GO |
48 |
Piracanjuba |
GO |
16 |
Caldazinha |
GO |
49 |
Pirenópolis |
GO |
17 |
Campestre de
Goiás |
GO |
50 |
Planaltina de
Goiás |
GO |
18 |
Caturaí |
GO |
51 |
Professor
Jamil |
GO |
19 |
Cezarina |
GO |
52 |
Santa Bárbara de
Goiás |
GO |
20 |
Cidade
Ocidental |
GO |
53 |
Santa Rosa de
Goiás |
GO |
21 |
Cocalzinho de
Goiás |
GO |
54 |
Santo Antônio de
Goiás |
GO |
22 |
Corumbá de
Goiás |
GO |
55 |
Santo Antônio do
Descoberto |
GO |
23 |
Cromínia |
GO |
56 |
São Francisco de
Goiás |
GO |
24 |
Damolândia |
GO |
57 |
São Miguel do Passa
Quatro |
GO |
25 |
Formosa |
GO |
58 |
Senador
Canedo |
GO |
26 |
Goianápolis |
GO |
59 |
Silvânia |
GO |
27 |
Goiânia |
GO |
60 |
Taquaral de
Goiás |
GO |
28 |
Goianira |
GO |
61 |
Terezópolis de
Goiás |
GO |
29 |
Guapo |
GO |
62 |
Trindade |
GO |
30 |
Hidrolândia |
GO |
63 |
Valparaíso de
Goiás |
GO |
31 |
Inhumas |
GO |
64 |
Varjão |
GO |
32 |
Itaberaí |
GO |
65 |
Vianópolis |
GO |
33 |
Itaguarí |
GO |
|
|
|
Fonte: SEPLAN-GO e IBGE,
2004.
Tabela 05: Eixo Brasília - Goiânia: População
(2003)
Componentes do
eixo |
População do
eixo |
Percentual na população total
% |
Estado |
Centro-Oeste |
Brasil |
Municípios de
Goiás |
3.107.104
hab. |
58,55 |
24,79 |
1,76 |
Distrito
Federal |
2.189.789
hab. |
100 |
17,47 |
1,22 |
Total |
5.296.893
hab. |
70,66 |
35,98 |
3,00 |
Fonte: SEPLAN-GO e IBGE,
2004.
Tabela 06: Eixo Brasília - Goiânia: Produto
Interno Bruto (2000)
Componentes do
eixo |
PIB (U$
milhões) |
Percentual no PIB total
% |
Estado |
Centro-Oeste |
Brasil |
Municípios de
Goiás |
6.287 |
53,08 |
15,02 |
1,04 |
Distrito
Federal |
16.179 |
100 |
38,65 |
2,69 |
Total |
22.466 |
80,16 |
53,68 |
3,73 |
Fonte: SEPLAN-GO e Dados Estatísticos do Distrito
Federal/ Codeplan 2001 (ano base 2000).
Tabela 07: Eixo Brasília – Goiânia: Renda Per
Capita (2000)
Componentes do
eixo |
Renda Per Capita (U$
mil) |
Renda Per Capita
|
Estado |
Centro-Oeste |
Brasil |
Municípios de
Goiás |
2.230 |
2.368 |
3.587 |
3.540 |
Distrito
Federal |
7.888 |
7.888 |
Total |
4.613 |
3.973 |
Fonte: SEPLAN-GO e Dados Estatísticos do Distrito
Federal/ Codeplan 2001 (ano base 2000).
No Estado de Goiás, a indústria é o setor que
apresenta maior crescimento, com uma contribuição para o PIB de cerca de 26% em
1995, e de 35% em 2001. Os dois últimos governos estaduais investiram de forma
expressiva na atração de indústrias para os polos industriais do estado,
oferecendo diversos benefícios para a instalação de indústrias e empresas de
serviços diversos, tais como: cessão de terrenos, incentivos fiscais, programas
de empréstimos a juros subsidiados, entre outros. As indústrias farmacêuticas e
as diretamente relacionadas à agropecuária, bem como empresas atacadistas
destacam-se entre os principais empreendimentos instalados no estado nos últimos
anos. O setor de serviços apresenta queda na composição do PIB passando de 56%
em 1995 para 47,44% em 2001. (SEPLAN-GO; GDF,
2004).
Os principais indicadores socioeconômicos do Eixo
Brasília - Goiânia são:
·
População: 5,3 milhões de habitantes
·
Crescimento médio da população: 3,41% ao
ano
·
Produto Interno Bruto (ano 2000): R$ 41 bilhões/ U$ 22,5
bilhões
·
Renda Per Capita (ano 2000): R$8.436,00/ US$
4.613,00
·
IDH – Goiás 0,744/ Distrito Federal
0,844
As principais forças de atração de investimentos
para a região são:
·
Excelente infraestrutura rodoviária interligando as cabeças de rede
às demais regiões do Brasil;
·
Aeroporto Internacional em Brasília, além de aeroporto doméstico de
médio porte em Goiânia e a base área militar de
Anápolis;
·
Ramal ferroviário interligando a região aos principais portos do
Centro-Sul do Brasil;
·
Eficiente sistema de telecomunicações;
·
Interligação à rede de Furnas Centrais Elétricas com excelente
capacidade de suporte;
·
Ramal do gasoduto Brasil-Bolívia (gás
natural);
·
Número razoável de rodovias locais interligando pequenos, médios e
grandes municípios;
·
Disponibilidade de mão de obra qualificada decorrente da existência
de inúmeras instituições de ensino superior e técnico federal e
privado;
·
Existência de importantes centros universitários e de pesquisa:
Universidade de Brasília, Universidade Federal de Goiás, Embrapa, IBAMA,
Universidade Estadual de Goiás, Universidades Católicas e
privadas;
·
Localização privilegiada no centro do
país;
·
Centro de decisões políticas do país;
·
Estrutura do Governo Federal: consumidor de bens e
serviços;
·
Mercado consumidor com excelente nível de
renda;
·
Taxas crescentes de investimentos e crescimento
econômico;
·
Políticas de incentivos fiscais e apoio aos
investidores;
·
Diversidade produtiva: grandes áreas de produção agropecuária e
industrial;
·
Oferta de crédito para implantação de projetos (Fundo Constitucional
do Centro-Oeste).
As principais cidades do eixo apresentam as
seguintes vantagens locacionais:
Brasília
·
Centro de decisões políticas e
econômicas;
·
Sede de empresas públicas e privadas;
·
IDH comparável a países ricos;
·
Mercado consumidor de alto poder
aquisitivo;
·
Universidades e centros de pesquisa;
·
Porto seco;
·
Infraestrutura urbana com excelentes
indicadores;
·
Aeroporto internacional (o terceiro em movimento de passageiros do
país);
·
Políticas de incentivo à instalação de grandes, médias e pequenas
empresas.
Goiânia
·
Mercado consumidor com significativo poder de
compra;
·
Rede de ensino de excelente qualidade;
·
Centro médico de renome internacional
(oftalmologia);
·
Índices elevados de crescimento
econômico;
·
Centro político do Estado de Goiás.
Anápolis
·
Polo de indústria farmacêutica;
·
Porto seco;
·
Entroncamento rodoferroviário;
·
Terceiro maior distrito industrial do
Brasil;
·
Centro estratégico de empresas
atacadistas.
Considerações
Finais
Pelo fato de sediar a capital do país, o Distrito
Federal detém condição única por ter em seu território um conjunto de empresas
públicas e privadas que impulsionam a economia. O fato de ser centro de decisões
políticas e de concentrar recursos financeiros e técnicos transforma-no em polo
de desenvolvimento na Região Centro-Oeste. O Distrito Federal apresenta conjunto
de fatores que atraem investimentos nacionais e internacionais para seu
território. O Governo do Distrito Federal instituiu na década de 1990 programa
de desenvolvimento econômico por meio de polos produtivos, aproveitando ao
máximo as potencialidades da região, gerando emprego e renda e novas
espacialidades.
No período de 1999 a 2003, inúmeros incentivos e
facilidades foram oferecidos a empresas nacionais e internacionais mediante o
Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável-Pró-DF. Essa política de
desenvolvimento atraiu 4.412 empresas para o Distrito Federal. Segundo dados do
GDF (2004) foram gerados cerca de 30 mil postos de trabalho direto e 44 mil
indiretos. Em 2004, o Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável teve a
sua segunda fase lançada. O programa consiste na oferta de incentivos fiscais
para empresas que queiram abrir filiais no Distrito Federal. Esse programa é
financiado pelo Fundo de Desenvolvimento do Distrito Federal – Fundefe,
operacionalizado pelo Banco de Brasília – BRB, como pode ser compreendido na
citação abaixo: Os principais investimentos do Pró-DF são direcionados aos
seguintes setores, (GDF, 2004):
·
Polo de Moda;
·
Cidade Digital;
·
Parque Industrial de Semicondutores;
·
Polo JK de Indústrias e Empresas de
Logística;
·
Polo Exportador/ Porto Seco do Distrito
Federal;
·
Polo Atacadista.
O Polo de Moda encontra-se instalado na Região
Administrativa X (dez): Guará, sendo constituído por cerca de 150 empresas de
confecções e afins. Esse setor produtivo encontra mais de 460 empresas em todo o
Distrito Federal, colocando Brasília como importante polo de produção e
exportação de moda no Brasil. As empresas de Brasília criaram o consórcio “Flor
Brasil” com o objetivo de criar uma marca e facilitar as exportações,
principalmente para os países da União Europeia. O polo de moda do Distrito
Federal atende tanto o mercado interno quanto o internacional, sendo a produção
de roupas de banho e lingerie os
principais produtos exportados.
Brasília é hoje o terceiro maior consumidor de
produtos de informática do Brasil. Esse fato deve-se à concentração de empresas
públicas federais, as maiores consumidoras desses produtos, responsáveis por
cerca de 30% da demanda nacional. Estimativas do Fundo de Apoio à Pesquisa do
GDF (2004) revelam que o mercado de produtos de informática no Distrito Federal
movimenta cerca de US$2,5 bilhões (R$ 7,5 bilhões) ao ano. Atualmente, a maior
parte desses recursos é transferida de Brasília para outras unidades da
federação, devido ao fato de que as empresas públicas compram esses produtos e
repassam-nos para estados e municípios. O mercado consumidor local de artigos
domésticos de informática também é significativo, movimentando cerca de US$ 250
milhões ao ano. A existência de instituições públicas e privadas de ensino com a
oferta de cursos técnicos e de nível superior, bem como a pesquisa e o
desenvolvimento de tecnologias garantem a oferta de mão de obra qualificada.
Dados de 2007 indicam a existência de 32 cursos de graduação no Distrito Federal
e 22 nos municípios goianos, destacando-se Goiânia com oito cursos. No que se
refere à pós-graduação, encontram-se duas importantes instituições de ensino
superior que oferecem cursos de mestrado e doutorado: o de ciência da computação
da Universidade de Brasília – UnB e o da Universidade Federal de Goiás em
Goiânia.
O polo industrial JK é destinado à implantação de
grandes e médias indústrias. A produção dessas empresas é direcionada ao mercado
internacional. A Empresa União Química construiu planta industrial de cerca de
87.000
m2, ao custo de US$ 22 milhões, destinada à produção de
remédios para o mercado norte-americano. Outra empresa que foi implantada é a
Latasa, a qual produz 3,3 milhões de latas de alumínio por dia. A localização do
polo JK é privilegiada, ficando às margens da BR-040 (saída para as regiões
Sudeste e Sul) na Região Administrativa XIII – Santa Maria, em área fronteiriça
com os municípios goianos de Valparaíso e Cidade Ocidental. Em área dentro desse
polo encontra-se a Estação Aduaneira do Interior – EADI, o Porto Seco do
Distrito Federal, com área construída de 24.000 m2. O objetivo do Porto Seco
é facilitar o carregamento de produtos de exportação. O projeto inicial prevê a
construção de corredor de exportação entre os portos de Santos em São Paulo e Vitória no
Espírito Santo. A implantação desse
projeto reduziu a burocracia e diminui os custos de exportação, aumentando a
competitividade e o volume de produtos exportados. Os produtos exportados pelo
Porto Seco atualmente são: produtos farmacêuticos, grãos e vestuário originários
do eixo Brasília - Goiânia.
O polo atacadista do Distrito Federal é destinado
à distribuição de produtos de consumo de massa, como alimentos, autopeças e
remédios. Abrange 980 empresas de diferentes segmentos comerciais, como: pedras
preciosas, couro, material de limpeza, equipamentos óticos, alimentos, papel,
produtos químicos, café, frutas, algodão, entre outras commodities.
Os municípios goianos integrantes do eixo
Brasília - Goiânia oferecem potencialidades diferenciadas daquelas oferecidas
pelo Distrito Federal. As relações estabelecidas entre os municípios pequenos e
de médio porte com as cabeças da rede urbana (Brasília e Goiânia) são
complementares e na maioria dos casos de dependência. De uma maneira ou outra, os municípios
menores dependem dos maiores para o desenvolvimento de suas economias locais.
Estudos recentes da Secretaria de Planejamento de Goiás (2004) demonstraram que
o potencial industrial dos municípios goianos do eixo Brasília - Goiânia é
elevado, contemplando a agroindústria, o setor farmacêutico e a pecuária de
corte e leite. Identifica-se que o
crescimento econômico de Goiás é baseado no binômio indústria e exportação de commodities destinadas tanto aos
mercados nacional e internacional.
O Estado de Goiás apresenta notória vocação para
o agronegócio. Entretanto, além desse setor o estado detém investimentos
significativos no setor farmacêutico, entre outras potencialidades. Ademais, a
instalação de empresas de tecnologia no Distrito Federal também ocorre nos
municípios ao longo do eixo, principalmente naqueles próximos às cabeças de
redes e cortados pela BR-060. Deve ser ressaltado que esses municípios menores
enfrentam estágios diferentes de desenvolvimento e isso aparece claramente na
análise dos indicadores e dos diferentes setores econômicos.
Encontram-se municípios em que a economia é
diversificada e as oportunidades de emprego e renda são maiores, enquanto outros
ainda não conseguiram superar a falta de infraestrutura urbana e a pobreza
extrema, como poderá ser observado na caracterização dos municípios a posteriori. A tabela 10 mostra os polos industriais
existentes nos municípios goianos do eixo Brasília - Goiânia e destaca as
principais características e aspectos relacionados à infraestrutura que são
fatores locacionais de atração.
Como já foi mencionado, o Estado de Goiás tem em
suas origens a vocação agropecuária e detém importantes áreas produtoras de
grãos e rebanhos. A agroindústria é opção natural para a diversificação
econômica desse estado e da Região Centro-Oeste adicionando valor as commodities, especialmente grãos, carne,
laticínios, entre outros. A agroindústria é o principal segmento de expansão da
economia goiana e cinco polos industriais do eixo Brasília - Goiânia são
destinados a esse setor.
A indústria farmacêutica tem ganhado importância
em Goiás, especialmente mediante a política de incentivos para a produção e
comercialização de medicamentos genéricos. A principal região produtora é o Polo
Farmacêutico e Químico de Anápolis, situado no Distrito Agroindustrial de
Anápolis – DAIA. O Distrito Federal também apresenta polo desse segmento. Há
também o polo tecnológico e metalúrgico de Aparecida de Goiânia, município
integrante da Região Metropolitana de Goiânia. Outros dois polos fazem parte
dessa mesma aglomeração: o de Senador Canedo e o de Goianira. O primeiro
relaciona-se à indústria do couro e o segundo à indústria calçadista. A
indústria do vestuário apresenta crescimento considerável nos últimos anos, não
apenas na capital Goiânia, mas também em vários municípios. O governo do Estado
de Goiás tem estimulado investimentos na criação de polos industriais de
vestuário no interior do estado. O primeiro deles localiza-se em Senador
Canedo.
Tabela 10: Polos Industriais do Eixo Brasília -
Goiânia: Estado de Goiás (Ano 2004)
Cidade |
Número de empresas instaladas em
2002 |
Área
(hectares) |
Características |
Infraestrutura |
Inhumas |
2 |
45,67 |
Distrito
Agroindustrial |
Rodovias pavimentadas e EIA/ RIMA
aprovado |
Luziânia |
14 |
150,00 |
Distrito
Agroindustrial |
Rodovias pavimentadas, abastecimento de
água, linhas elétricas e telefônicas, edifícios para administração,
títulos de propriedade da terra regulares e EIA/ RIMA aprovado.
|
Anápolis |
150 |
879,47 |
Distrito Agroindustrial/ Polo Farmacêutico
e Químico |
Rodovias pavimentadas, abastecimento de
água, tratamento de esgoto, linhas elétricas e telefônicas, edifícios para
administração, tratamento de água, títulos de propriedade da terra
regulares e EIA/ RIMA aprovado, correios, bancos, postos policiais e
urbanização do DI. |
Aparecida de
Goiânia |
32 |
122,00 |
Polo Tecnológico e
Metalúrgico |
Rodovias pavimentadas, abastecimento de
água, linhas elétricas e telefônicas, edifícios para administração,
títulos de propriedade da terra regulares e EIA/ RIMA aprovado, drenagem
pluvial. |
Goianira |
20 |
41,43 |
Distrito Agroindustrial/ Polo
Calçadista |
Rodovias pavimentadas, linhas elétricas,
edifícios para administração, EIA/ RIMA aprovado, drenagem
pluvial. |
Senador
Canedo |
4 |
103,64 |
Couro/ Polo
Calçadista |
Rodovias pavimentadas, linhas elétricas,
tratamento de esgoto. |
4 |
17,63 |
Polo
Vestuário |
Rodovias pavimentadas, linhas elétricas,
condomínio industrial. |
Fonte: SEPLAN – GO
2004.
A Região Centro-Oeste tem considerável potencial
turístico, especialmente em imensas áreas naturais preservadas ou pouco
alteradas pela ação antrópica. Esse recurso natural é oportunidade para o
desenvolvimento do ecoturismo, esportes radicais e geoturismo. Destaca-se também
como potencial relevante da região a existência de cidades históricas,
manifestações populares e religiosas e uma cultura rica e diversificada. Outra
possibilidade de desenvolvimento das potencialidades turísticas na região é a
promoção de sinergias entre eventos e turismo de negócios. Brasília e Goiânia
são importantes locais de eventos e convenções atendendo público de alto poder
aquisitivo. O debate sobre o processo de desenvolvimento e o papel dos
municípios na dinâmica regional tem crescido tanto no meio acadêmico quanto na
proposição de políticas públicas. Essa discussão sobre a interiorização do
desenvolvimento é centenária, e cabe ressaltar que as primeiras propostas
concretas nesse sentido desenvolveram-se no Governo Vargas (anos 30) com a
“Marcha para o Oeste”. Diversas
políticas serão discutidas nesse trabalho, porém até os dias atuais a
necessidade de expandir o “eixo dinâmico” do Sudeste e Sul do país para o
interior ainda se faz necessária.
O eixo Brasília - Goiânia, e mais especificamente
o Distrito Federal, tem alcançado papel de destaque no cenário regional
brasileiro. Deve-se destacar que tanto Brasília quanto Goiânia são projetos de
“modernização” da região e tentativas de dinamizar o Centro-Oeste. Depreende-se
da discussão feita até esse momento que essa rede urbana regional tem papel de
destaque e capacidade imensa de expansão sobre outros sistemas urbanos. Outra
constatação é a de que o Estado é o grande responsável pelo processo de
desenvolvimento da região. Na realidade, a discussão sobre a questão regional
deve levar em conta que o Estado tem papel fundamental no cenário regional
brasileiro e que mesmo depois de todo o debate sobre a redefinição desse papel
ou sobre a falência das estruturas estatais, o Estado ainda é peça essencial na
análise do desenvolvimento regional brasileiro. O fato de sediar o Governo
Federal faz com que o Distrito Federal apresente capacidade de dinamizar a
economia regional em larga escala, promovendo a integração com outros
municípios, a economia nacional e as redes do mundo globalizado. Os recursos a
serem utilizados são inúmeros e as limitações não conseguem bloquear esse
processo. É importante observar que tanto o Distrito Federal quando o Estado de
Goiás aceitam investimentos de empresas do exterior e do próprio país e que a
disputa fiscal é uma realidade no Brasil. Essas duas unidades da federação
oferecem inúmeras facilidades e benefícios às empresas que se instalem em seu
território. Castells (2004, p. 15) diz que o mundo globalizado “competentemente
reflete o verdadeiro alvo das mudanças socioeconômicas que é a transformação”.
(tradução nossa)
Segundo a SEPLAN-GO e a Secretaria de Articulação
para o Desenvolvimento do Entorno (2004), a proposta de institucionalização de
eixo de desenvolvimento entre Brasília e Goiânia leva em conta as seguintes
premissas: a região tem o perfil para receber recursos provenientes de
investidores nacionais e internacionais por meio da relocação de empresas tanto
do setor agroindustrial quanto de serviços e existem políticas oficiais de
fomento que oferecem oportunidades para tanto. Há esforço por parte de diversos
segmentos dos governos estadual, distrital e federal, da iniciativa privada e de
centros de ensino superior e pesquisa no sentido de implantar, apoiar e
dinamizar políticas de desenvolvimento regional que estabelecem base capaz de redefinir um novo cenário regional. A
expansão da economia brasileira tendo ainda como eixo dinâmico o Sul/Sudeste
insere “novas regiões” no mundo globalizado. A Região Centro-Oeste absorve parte
significativa de novos investimentos e tem passado por um crescimento
significativo nas últimas décadas.O eixo Brasília - Goiânia apresenta posição
estratégica e papel importante no novo cenário regional, com o estabelecimento
de clusters compreendendo extensas
áreas de cultivo e criação de animais, distritos industriais, polos
tecnológicos, instituições de ensino e pesquisa. As cidades de Brasília, Goiânia e
Anápolis já apresentam aspectos característicos da formação de clusters
como:
·
Diversidade de atividades econômicas;
·
Existência de polos industriais;
·
Localização privilegiada no centro do
país;
·
Existência e formação de mão de obra
qualificada;
·
Produção agropecuária competitiva;
·
Existência de instituições de ensino e
pesquisa.
Esses aspectos caracterizam o eixo Brasília -
Goiânia como um sistema urbano-regional em expansão com inúmeras alternativas de
crescimento econômico e populacional, atração de investimentos e diversas
possibilidades de uso do território.
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