ESTUDO DOS TERRITÓRIOS TURÍSTICOS:
ENTRE OS ESPAÇOS PÚBLICOS E OS TERRITÓRIOS
Claudemira Azevedo Ito
Unesp -Brasil
Willian Ribeiro da Silva
UFMS- Brasil
Resumo
Este
trabalho tem por objetivo discutir as relações entre espaços públicos e
territórios turísticos. As relações estabelecidas entre os espaços públicos e o
turismo mostram-se relevantes para o estudo do turismo e para a análise dos espaços públicos
que podem ser apropriados e consumidos pelo turismo. Para a análise dos espaços
públicos utilizaremos os três níveis: a dominação política, a acumulação de
Capital e a esfera da realização da vida humana. A compreensão das
territorialidades turísticas não se explica apenas pelas relações de poder, pois
através da globalização o mundo passa a adquirir novas configurações e as
atividades econômicas, políticas e culturais passam por reestruturação. O
turismo se estrutura através da globalização, aproveitando da fluidez,
tecnologia, as características do mundo moderno, tornando o lazer, os espaços
públicos, e o tempo do ócio em valiosa mercadoria. O turismo apresenta grande
potencial para transformar os espaços e apropriá-lo, podendo levar ao
desenvolvimento local, ou criar novos espaços, onde reinam a exclusão e a
segregação. Neste sentido deve-se haver uma política e planejamento voltado ao
setor proporcionando um turismo de inclusão e desenvolvimento social e
econômico, com ênfase o dialogo entre todos da comunidade, mesmo que não estejam
vinculados diretamente ao setor de turismo.
Palavras-chave: Turismo, turistificação, espaço
público
Abstract
This work has as objective to discuss the relations between public
spaces and touristic territories. The relations established between public
spaces and tourism are relevant to the study of tourism and to analyze public
spaces that might be appropriate and consumed by tourism. To analyze the public
spaces we will use three levels: political domination, capital accumulation and
the sphere of human life achievement. The comprehension of touristic territories
doesn’t apply only to relations of power, since through globalization the world
acquires new configurations, and the economic, political and cultural activities
undergo restructuration. Tourism is structured through globalization, taking
advantage of fluidity, technology, the aspects of the modern world, turning
leisure, public spaces and spare time in valuable products. Tourism show great
potential to transform spaces and appropriate them, being able to lead to a
local development, or create new spaces, where exclusion and segregation reign.
In this sense there must be a politic and planning focused to the sector
providing a tourism of inclusion and social and economic development, stressing
the dialog among all members of the community, even if not focused directly to
tourism.
Keywords: tourism, tourism planning, public
spaces.
1.
INTRODUÇÃO
Atualmente o turismo apresenta-se como importante setor do
capitalismo, e que vem ganhando destaque quanto ao seu potencial de gerar
divisas e ampliar a acumulação do capital. O sistema capitalista sempre
apresenta novas formas para superar suas crises, pós década de noventa esta
atividade se torna uma das principais formas de acumulação e apropriação de
espaços. Neste sentido Rodrigues (1997), aponta que:
O turismo ocupa hoje papel
relevante na economia mundial, situando-se entre os três maiores produtores
geradores de riquezas, 6% do PIB global, só perdendo para a indústria de
armamentos e de petróleo (RODRIGUES, 1997, p.17).
Mas o
potencial apresentado pelo turismo ultrapassa os limites econômicos, é um grande
modificador ou transformador de espaços, a partir do apelo econômico, o turismo
transforma espaços em mercadoria, logo potencializado pelo marketing. A ligação
entre o marketing e o turismo é estreita, pois o turismo depende de propagadas
para potencializar e transformar espaços, em espaços turísticos, neste sentido o
papel fundamental do marketing é valorizar a cultura, arquitetura, os símbolos
urbanos, tornando-os símbolos turísticos que são consumidos pela sociedade
moderna.
No
mundo moderno ou pós-moderno novas configurações vêm sendo apresentadas e
intensificadas pela globalização através da fluidez, intensificação das redes
entre outros fatores que proporcionam uma expansão do turismo. Junto com as
características mencionadas e as novas relações de trabalho, no qual todo
trabalhador tem o direito á férias, cria-se a idealização de lazer e descanso
que faz parte do turismo. O novo turismo apresenta novos atributos quanto a sua
formação e pratica que estão relacionados com a sociedade moderna, pela sua
complexidade e potencialidade de transformar espaços e produzir riquezas,
lembrando que sua importância e magnitude desta atividade é recente. Ao analisar
o turismo e o imaginário que esta atividade cria, Carlos (1996)
afirma:
turismo transforma tudo o
que toca em artificial, cria um mundo fictício e mistificado de lazer, ilusório,
onde o espaço se transforma em cenário para o "espetáculo" para uma multidão
amorfa mediante a criação de uma série de atividades que conduzem a passividade,
produzindo apenas a ilusão da evasão, e, desse modo, o real é metamorfoseado,
transfigurado, para seduzir e fascinar. Aqui o sujeito se entrega às
manipulações desfrutando a própria alienação e a dos outros. (CARLOS, 1996, p.
27)
O
turismo moderno apresenta novos ideais de consumo dos espaços, que são
representados pela imaginação da sociedade, sendo potencializada pelo marketing
dos espaços turísticos, neste sentido Cruz (2003), reforça a ideia do turismo
moderno e seu consumo, mencionando que:
Ressurgem as viagens de transatlânticos, os parques temáticos e a
construção do imaginário para o consumo. Desponta a quarta geração turística: o
“Turismo de Consumir”, acompanhando o movimento das transformações tecnológicas
e da informação, os shoppings centers, que caracterizam a sociedade
mundializada. (CRUZ, 2003, p.4)
Diante de todo potencial econômico que apresenta o turismo, este
também se apresenta como grande criador de desigualdades, através da exclusão da
população local, que muitas vezes não participa do processo de planejamento e
gestão, sendo de suma importância a participação de todos os segmentos da
sociedade, sendo na realidade interesse de todos, pois a implantação e
transformação do turismo refletirão em todos, desde os comerciantes, população
local, prefeitura, entre outros setores da sociedade. O turismo quando não
planejado pode agravar a situação da população local, se não inserida nas
decisões e nas atividades, sendo que muitas das ações ou estruturações
turísticas realizam-se do global para o local, evidenciando a lógica de uma
ordem global que acaba por destruir toda possibilidade de desenvolvimento local.
Quando a lógica surge de fora para dentro, esta não apresenta uma relação com a
população local, obedecendo à lógica do capital que se apropria sem projeto
algum de inserção da população, neste sentido podemos falar que esta lógica é
avassaladora por apropriar e produzir espaços de exclusões. Os espaços de
exclusão muitas vezes estão relacionados com a troca de uma economia, pela
economia turística que não absorve toda mão de obra disponível, além que com o
incremento do turismo, o valor do solo e sua função são altamente valorizados,
tornando difícil o acesso para as classes de baixo poder aquisitivo. Sendo o
turismo também um grande aliado para levar o desenvolvimento da sociedade, em
seus diversos aspectos, social, econômico e cultural, deste que haja
planejamento e participação de toda a população e representantes. Neste caso a
lógica é inversa da apresentada, pois a lógica que exclui e cria segregação
socioespacial e econômica é uma lógica externa, a lógica pensada no
desenvolvimento local, é uma lógica desenvolvida do local para o global, sendo a
base a população local, que apresenta articulação e planejamento interno,
enfatizando o desenvolvimento local. Nesta linha de pensamento Trigo (2007)
ressalta:
Turismo é um fenômeno que
não cria apenas empregos, impostos e desenvolvimento. Se mal planejado é fator
de poluição, exclusão social, concentração de renda, aumento da prostituição,
incremento da exploração sexual infantil e comprometimento de investimentos em
projetos mal elaborados. A responsabilidade por essas questões não é exclusiva
dos governos, mas da sociedade organizada como um todo. (TRIGO, 2007,
p.15)
As
ressalvas realizadas na introdução deste artigo têm o propósito de mostrar a
complexidade da atividade turística realizada atualmente e seu poder de
produzir, transformar e consumir espaços, tornando a análise destes espaços uma
tarefa difícil, diante da gama de fatores que envolvem esta atividade. Neste
sentido o presente artigo tem o intuito de fazer uma análise dos espaços e
territórios turísticos através das abordagens metodológicas de Carlos (2001,
p.12), que enfoca os espaços públicos em três níveis de analise, e Haesbaert
(2004), que nos proporciona a compreensão dos territórios através de três
vertentes de análise. Com a base metodológica apresentada pelos autores acima
nós proporcionará uma analise integrada dos espaços turísticos e os fatores que
determinam esta atividade, além de sua gestão e
planejamento.
2.
PENSANDO EM ESPAÇOS PÚBLICOS NOS
TERRITÓRIOS TURÍSTICOS
As
duas linhas metodológicas escolhidas para realizar a análise dos espaços
turísticos estão centradas em Carlos (2001) e Haesbaert (2004), que utilizam os
conceitos de Espaços Públicos e Território respectivamente, que proporcionara
uma análise integrada dos espaços apropriado/produzidos e consumidos pelo
turismo, que refletem em diversos setores da sociedade.
2.1 O
Turismo e os Espaços Públicos
A conceituação de Carlos (2001), sobre os
espaços públicos, contribui para a compreensão do consumo destes espaços e como
o turismo se apropria deste tornando-os mercadorias, sendo que os espaços
públicos são espaços de uso comum por toda sociedade. Conforme a delimitação os
espaços públicos devem ser um bem comum onde o encontro dos diferentes se faria
presente, mas na realidade estes espaços são ocupados, tornando símbolos do
turismo, e nesta apropriação o espaço público perde o sentido ou se (re)
configura conforme as idealizações e lógica do turismo. Sendo que nesta nova
organização e (re) configuração dos espaços públicos o encontro dos diferentes
não se faz presente neste palco, mas sim a homogeneização de estilos, pessoas,
poder, entre outros elementos que compõem e predominam nos espaços públicos da
atual sociedade moderna.
Em
relação aos espaços públicos não podemos falar em morte destes, apesar de que os
sentidos reais dos espaços públicos estão sendo feridos, pois estes espaços
devem ser dotados de diferenças, liberdade, onde o encontro dos diferentes e de
toda sociedade se faz necessário para a vida dos espaços públicos, mas como
mencionado não é a morte, mas sim o ressurgimento de novas configurações que
compõem estes espaços, novas dinâmicas que lhes conferem novos símbolos,
sentidos e qualidades, pois o turismo em sua apropriação acaba por excluir
muitas vezes a população local, sendo que esta população que dinamiza a vida
destes espaços, e quando se tornam mercadoria estes espaços criam novos espaços,
os espaços da exclusão, segregação, entre outros que fazem parte das variáveis
produzidas pelo turismo mal planejado e estruturado. Quanto à “morte e vida” dos espaços
públicos Sobarzo (2004) enfatiza:
Os
espaços públicos criados nas grandes metrópoles contemporâneas negam esse ideal
e, ao contrario assumem a desigualdade e separação como valores estruturantes;
isso não significa a morte do espaço público, mas sim a transformação de um tipo
de espaço para outro. (SOBARZO, 2004, p.18)
Através das relações estabelecidas entre os espaços públicos e o
turismo, mostra-se relevante os estudos entorno desta temática abordando o
turismo, e para a análise destes espaços públicos, apropriados e consumidos pelo
turismo, utilizaremos os três níveis de analise de Carlos (2001)
sendo:
1ª Dominação Política- Poder Público/Elites na produção do espaço
público
2ª Acumulação de Capital- Implementação
de espaços públicos que contribuem a valorização de áreas e apropriação privada
desta valorização
3ª Esfera da realização da vida humana-
Materializa-se em espaços públicos que possibilitam praticas cotidianas de
lazer, consumo entre outros.
O
primeiro nível de analise está presente a dominação política, no qual enfatiza o
poder público que esta nas mãos da elite, que apresentam todas as condições para
modificar e apropriar os espaços públicos, nesta “atmosfera” que o turismo se
desenha através das relações entre o poder público e a elite, pois o turismo se
apropria dos espaços públicos que são de toda a sociedade através de concessões
adquiridas pelas prefeituras, governo do estado, chegando á instancia federal.
Podemos mencionar que o motor do turismo e encontra na esfera política, que
através das ações e investimentos do setor públicos, o turismo se apropria ,
tornando estes espaços públicos em espaços turísticos. Entre os exemplos mais
claros entre a relação do turismo e o poder público podemos citar a criação do
Ministério do Turismo, no governo Lula que viabiliza investimentos e apoio a
este setor, que prima pelo desenvolvimento econômico e social. Dada a
importância deste setor e sua dinamicidade quanto ao poder de levar
desenvolvimento local, deste a década de 60 o governo realiza políticas e
investimentos para o desenvolvimento do turismo, ficando explicito a
interdependência e a utilização de empresários do turismo da maquina pública.
Como menciona Trigo (2007):
Pela
primeira vez, em 1996,
a EMBRATUR estruturou uma política nacional de turismo;
investimentos nacionais e estrangeiros jorraram em hotéis, parques temáticos e
projetos ligados a entretenimento; a privatização das telecomunicações e de
várias rodovias provocou melhoras na infra-estrutura; houve o crescimento da
formação profissional em todos os níveis (superior médio e básico); novos cursos
como hotelaria, gastronomia e lazer somaram-se aos cursos de turismo como
formadores de profissionais qualificados; e vários estados, municípios, empresas
privadas e ONGs compreenderam a importância do turismo como fator de
desenvolvimento e inclusão social. A partir de 2003, foi criado o Ministério do
Turismo, antiga reivindicação do setor, possibilitando que os problemas da área
fossem tratados em um ministério específico. (TRIGO, 2007,
p.15)
O
segundo nível de análise esta centrado na acumulação de capital e implementação
dos espaços públicos que contribuem para a valorização de áreas e apropriação
privada desta valorização pelo turismo. Como uma atividade que esta sendo
valorizada recentemente, seguindo a lógica moderna do capital e sua ampliação.
Através da apropriação dos espaços e sua implementação, para que ganhe novas
características e sentido, o turismo insere sua lógica mercadológica
proporcionando grande valorização destes espaços, criando assim novas bolhas
especulativas sobre o atrativo e em seu entorno. Mas sempre há dois lados, o
econômico e o social, sempre um prevalece em detrimento do outro, sendo assim
através da valorização de áreas e espaços turísticos, a população com menor
poder aquisitivo sentirá o reflexo destas ações, pela especulação e inflação do
solo urbano e rural, no caso de cidades turísticas, com diversos serviços mais
caro, entre outros fatores que contribuem para criar os territórios de exclusão,
na visão de Haesbaert (2004).
No
terceiro e ultimo nível de analise proposto por Carlos (2001) enfatiza a esfera
da realização da vida humana que se materializa em espaços públicos,
possibilitando as praticas cotidianas de lazer, consumo entre outros. Ao pensar
em turismo é pensar no imaginário, tudo que o momento de lazer pode lhe
proporcionar nesta concepção os espaços criados pelo turismo ganha vida quando
consumidos. Através do consumo destes espaços passamos do imaginário/idealizado
para a materialização que se configura a partir das relações entre o turista e o
atrativo, comunidade local, a realização destas praticas fazem os espaços
públicos gerar novas configurações e vida a estes espaços.
Através da tríade de analise proposta por Carlos (2001) podemos
transpor para os espaços públicos utilizados pelo turismo, proporcionando uma
compreensão da produção do turismo e seus desdobramentos em diferentes fases e
níveis sobre os espaços e população
2.2 O
Turismo e os Territórios
Nesta
parte do artigo focalizaremos o conceito de território e sua utilização para á
analise de territórios turísticos, tendo como base as categorias de analise
proposta por Haesbaert (2004).
O
conceito de território apresenta diversas interpretações por ser utilizada entre
as diversas áreas do conhecimento, desde biologia, economia, psicologia e também
pela geografia, mas com diferentes configurações. Para a geografia o território
apresenta diversas abordagens e enfoques o que lhe torna um conceito complexo e
com diferentes concepções. Diante da complexidade e uso do conceito de
território Saquet (2010) aborda que:
O
território pode ser pensado como um texto num contexto, como lugar articulado a
lugares, por múltiplas relações, econômicas, políticas e culturais; é movimento
e unidade entre o ser e o nada, (i) materialmente. É descontraído e reproduzido,
num único processo. Há sujeitos e, concomitantemente, transformação do ser em
seu ser outro, que o contém. Um está no outro, no mesmo movimento de formação do
território. (SAQUET, 2010, p.163)
Diante da exposição de Saquet abre-se um leque quanto à importância
deste conceito e sua variação, podendo ser interpretado desde o imaginário ao
real, das relações econômicas a culturais, neste sentido mostra-se um
conceito-metodológico amplo, com diversas aplicabilidades.
Uma
grande contribuição para a compreensão do conceito de território está em
Raffestin (1993) que menciona sua formação, no qual o espaço antecede o
território, sendo que o território adquire sua qualidade através das relações de
poder estabelecidas no espaço, neste sentido o poder torna-se um elemento
essencial para a construção do território. Nas palavras de Raffestin
(1993):
É essencial compreender bem
que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço,
é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza
um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou
abstratamente [...] o ator “territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p.
143).
Quanto ao poder, se faz necessária esta abordagem para apurar a visão
quanto do conceito de território e as relações que se estabelecem entre as
diferentes instâncias, podendo ser política, social, econômica entre outras.
Transpondo para o setor turístico podemos falar na criação deste território
através das relações entre o turista e a comunidade local, guias turísticos,
agências de turismo e atrativos, assim se configurando um território turístico
através das relações de poder que se estabelece entre os mais distintos
segmentos.
A
compreensão das territorialidades turísticas não se explica apenas pelas
relações de poder, pois através da globalização o mundo passa a adquirir novas
configurações e as atividades econômicas, políticas e culturais atravessa por
reestruturação, e se diferenciado entre o “novo e o velho”. O turismo se
estrutura através da globalização, aproveitando da fluidez, tecnologia, as
características do mundo moderno, tornando o lazer, os espaços públicos, e o
tempo ócio em uma valiosa mercadoria. Mas estas relações e potencialidades do
turismo se inserem no contexto da globalização e no mundo em redes e malhas, que
através das conexões e relações criam-se e fortalece os territórios turísticos.
Em relação à formação territorial através de malhas e redes Saquet afirma
que:
entende a territorialidade
como multidimensional e inerente á vida em sociedade. O homem vive relações
sociais, a construção do território, interações e relações de poder; diferentes
atividades cotidianas, que se revelam na construção de malhas, nós e redes,
constituindo o território; manifesta-se em distintas escalas espaciais e sociais
e varia no tempo. (SAQUET, 2010, p.77)
Estas
são algumas concepções e abordagens sobre o conceito de território, que se
tornou uma importante ferramenta de analise do geógrafo, sendo que para nossa
analise utilizaremos a concepção de Haesbaert (2004).
Para
Haesbaert (2004) a análise do território se estabelece em quatro linhas
territoriais, o território econômico, que visa às relações econômicas num dado
espaço, o território político que enfatiza as relações de poder em sua dimensão
espacial, o território cultural ou simbólico- cultural que se forma através da
identidade e a carga simbólica de um território, e o território natural, que se
constitui através das relações entre a sociedade e o meio físico-natural. Com o
uso desta metodologia, as analises dos territórios turísticos tornam-se completa
e integrada, sendo que os territórios turísticos são dotados de complexidade,
passando por diversas vertentes, econômica, cultural, político e
natural.
Transpondo as categorias de território proposto por Haesbaert (2004)
para os territórios turísticos, podemos estabelecer diversas relações quanto ao
território econômico e o turismo, sendo de principio uma atividade econômica e
que esta inserida na lógica capitalista e que através das relações de capital e
trabalho formam-se os territórios turísticos, sendo hoje uma engrenagem para a
ampliação e acumulação de capital, tanto em capital móvel, quanto fixo. O
turismo quanto uma atividade econômica que vem adquirindo destaque, depende da
formação de um território político, sendo este o patrocinador desta atividade,
que através da liberação dos espaços públicos e investimentos no setor, torna
está atividade dinâmica e com maior potencialidade de ampliar o capital. Quanto
ao território simbólico/cultural este se torna a mercadoria do turismo, que
consome as materializações da cultura de um determinado território, tornando em
símbolos turísticos através da indústria do marketing. Neste sentido há uma
valorização do diferente pela sociedade moderna, que configura diversos
territórios carregados de historia, cultura em mercadorias, fortalecendo o
imaginário do turista, a sensação de prazeroso a vivencia nestes espaços. Neste
sentido Carlos menciona:
O lazer na sociedade
moderna também muda de sentido, de atividade espontânea, busca do original como
parte do cotidiano, passa a ser cooptado pelo desenvolvimento da sociedade de
consumo que tudo que toca transforma em mercadoria, tornando o homem um elemento
passivo. Tal fato significa que o lazer se torna uma nova necessidade. (CARLOS,
1996, p.25).
A
última vertente centra-se no território natural, no qual se caracteriza pela
relação entre a sociedade e o meio físico /natural. As características do meio
natural ganham novas conotações na sociedade moderna, transformando seu sentido
e seus usos, que implica em todas as vertentes territoriais acima citadas. Hoje
o meio natural não é valorizada mais “derrubada”, mas sim em “pé”, sendo
valorizada através do turismo ecológico ou de aventura, que tem perspectiva a
conservação destes territórios, havendo assim uma mudança no pensamento social,
sendo valorizado economicamente, que utilizam os diversos discursos
sócio-ambiental para reforçar o turismo ecológico e de conservação, sendo mais
uma engrenagem política, econômica que se reflete na
sociedade.
Ainda
em Haesbaert (2004), este enfatiza o hibridismo dos territórios, tornando ainda
mais complexo a analise destes, ao pensar em territórios turísticos, estes é um
grande exemplo de territórios hibrido, no qual há uma troca entre o turista e os
atrativos, população local, onde o encontro dos diferentes acaba por se fundir.
Há duas concepções sobre analise, a primeira se apresenta de forma positiva,
pois através do contato, possibilita a troca e o enriquecimento social, mas pelo
outro lado os territórios turísticos podem perder suas características,
tornando-os espaços comuns.
Através da transposição das ideias e metodologia proposto por
Haesbaert para a geografia do turismo, há uma compreensão da totalidade dos
territórios turísticos e seus desdobramentos.
Mas
nas analises dos territórios turísticos devemos realizar diversos “olhares”,
pois estes territórios dotados de complexidade apresentam mais de uma visão, a
visão do turista e a visão da comunidade local e um olhar do empresário que
ultrapassa as duas primeiras, pelo fato dos interesses muitas vezes serem
divergentes. Para esta reflexão Rodrigues (1997), no
aponta:
Na
visão de Knafou existem duas territorialidades distintas: a da população
moradora do lugar, identificada como “territorialidade sedentária”, e a dos
turistas que passam pelo local, a “territorialidade nômade”, indicando
interesses concorrentes e contraditórios que se refletem no próprio espaço
geográfico. (RODRIGUES, 1997)
2.3 Entre os Espaços
Públicos e o Território: O Turismo
Na
tentativa de uma análise que contemple os territórios turísticos, relacionamos a
metodologia de Carlos (2001) para os espaços públicos e a metodologia de análise
territorial de Haesbaert (2004) associando as duas metodologias e conceitos,
propõe-se uma base conceitual e metodológica completa para a análise dos
territórios turísticos, no qual se insere os espaços públicos, sendo esse a
engrenagem do turismo e vida deste. Nesta analise todas as variáveis estão
inter-relacionadas e dependentes, devido à complexidade da temática trabalhada.
A figura 1 detalha a relação que pode se estabelecer entre a metodologia dos
espaços públicos e dos territórios, ressaltando que todos estão relacionados
diretamente ou indiretamente.
Figura 1 - Análise Integrada de Territórios
Turísticos


3. PARA REFLETIR
Os
estudos de turismo são recentes, neste sentido as pesquisas da geografia do
turismo são um grande desafio, apresentando algumas dificuldades, principalmente
pela complexidade da atividade e a quantidade de agentes que compõem o turismo.
Nesta perspectiva o intuído deste artigo foi provocar uma reflexão sobre a
extensão do turismo e sua importância enquanto agente formador e transformador
de espaços e territórios. Para tal, foi realizada a analise que integra duas
vertentes: os espaços públicos, no qual o turismo se apropria transformando-o em
mercadoria, e a vertente territorial no qual o turismo age e transforma diversos setores e segmentos da
sociedade.
O
turismo apresenta grande potencial para transformar os espaços e apropriá-lo,
podendo levar ao desenvolvimento local, ou criar novos espaços, onde reinam a
exclusão e a segregação. Neste sentido deve-se haver uma política e planejamento
voltado ao setor proporcionando um turismo de inclusão e desenvolvimento social
e econômico, com ênfase o dialogo entre todos da comunidade, mesmo que não
estejam vinculados diretamente ao setor de turismo.
4. BIBLIOGRAFIA
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não-lugar. In: YÁZIGI, E.CARLOS, A. F. A. CRUZ, R.C.A. (orgs). Turismo:
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