A apre(e)nsão de conceitos da Geografia nas
práticas cotidianas: grafitos de banheiro, território e identidade
territorial
Vivianne
dos Santos Cavalcanti
Resumen
La ciência geográfica se caracteriza por haber sido sistematizada en
los años a partir de conocimientos
prévios ya adoptadas por la sociedad. La racionalidad da la
ciência moderna, sin embargo, se puso rígido y se volvió de que El conocimiento
fuera de las prácticas cotidianas, lo que hizo La geografia uma ciência llena de
conceptos que se cerro poco o nada puede ser aprovechada em la vida cotidiana de
las personas. Así que las lecciones de la geografia llegó a caracterizarse como
sordo, que sólo reproduce los conceptos a priori. A continuación, busca
en este
trabajo una
aproximación al aprendizaje
de conceptosen la geografía (territorio e
identidad) con las prácticas
cotidianas de
las personas, eneste
caso específicamente con el
graffiti baño.
Resumo
A
ciência geográfica caracteriza-se por ter sido sistematizada ao longo dos anos a
partir dos conhecimentos prévios já tidos pelas sociedades. A racionalidade da
ciência moderna, no entanto, enrijeceu esse conhecimento e acabou afastando-o
das práticas cotidianas, o que tornou a Geografia uma ciência repleta de
conceitos fechados que pouco ou nada podem ser apreendidos no dia-dia dos
indivíduos. Assim as aulas de Geografia passaram a ser caracterizadas como sendo
maçantes, onde só se reproduz conceitos dados a priori. Busca-se então, através
do presente trabalho uma aproximação de conceitos trabalhados na Geografia
(território e identidade) com práticas cotidianas dos indivíduos, neste caso
especificamente com os grafitos de banheiro.
Abstract
The geographical science is characterized by having been systematized
over the years from previous knowledge already taken by societies. The
rationality of modern science, however, stiffened and turned that knowledge away
from the daily practices, which made geography a science filled with concepts that closed little or nothing can be seized in
the daily lives for individuals. So the lessons of geography came be to characterized as dull, which
only reproduces concepts given a priori. It then searches through this work an approach to learning concepts in geography(territory and identity) with the everyday practices of individuals, in this case specifically with restroom graffiti.
Introdução
A racionalidade da Ciência Moderna levou a
Geografia a se constituir como sendo uma disciplina repleta de conceitos
elaborados a priori, sendo esses repassados aos alunos sem que haja nenhuma
articulação com as práticas vivenciadas em seu dia-a-dia (FERRAZ,
2004).
Juntamente com a racionalidade da Ciência e a colocação dos objetos
de estudo dentro de modelos fechados, houve com o passar dos anos uma
desvalorização das práticas cotidianas dentro das ciências humanas e neste caso
especialmente da Geografia. No entanto, a Geografia originou-se das práticas dos
indivíduos com o ambiente vivido (Santos, 2007) e seu relacionamento com o
cotidiano e a vivência dos mesmos mostra-se imprescindível. Como nos diz Ferraz (2008):
“um saber dito geográfico (...) não pode se restringir a modelos e metodologias
que não abordem a dinâmica das relações cotidianas estabelecidas pelos
indivíduos na construção de seus referenciais espaciais e paisagísticos [...]”
(p.11).
Com isso então coloca-se que a Geografia quando se utiliza destes
modelos materializados em definições prontas e acabadas sobre o que é
determinado fenômeno, apresenta-se como uma disciplina decorativa, tornando-se
muitas vezes maçante, não despertando o prazer do aluno em aprender (SOUZA,
2009).
É justamente neste sentido que o presente trabalho traz a tona á
necessidade, quando da transmissão de conhecimentos sobre a ciência geográfica,
que haja uma associação com as práticas cotidianas dos educandos. É importante
salientar que aqui o cotidiano é entendido como sendo um elemento que além de
expressar, materializa temporal e espacialmente a realidade vivida e também
experimentada e produzida pelos homens individualmente e em suas relações com a
sociedade (FERRAZ, 2004).
Por isso as ações realizadas no dia-a-dia têm muito a ver com a
ciência geográfica, já que o cotidiano se materializa no espaço e é nele que os
homens se mostram como seres humanos em suas relações entre si e com os locais
em que vivem e frequentam. Por isso, aqui é defendido, de acordo com Kaercher,
que
Mostrar que sabemos geografia não é sabermos
dados ou informações compartimentadas, mas sim, relacionarmos as informações ao
mundo cotidiano de nossos alunos (...). Se ajudarmos nossos alunos a perceberem
que a geografia trabalha com as materializações das práticas sociais, estaremos
colocando-a no seu cotidiano (KAERCHER, 2002, PP.
225-226).
Assim é nesse sentido que
este trabalho busca associar o ensino de Geografia com uma prática cotidiana
específica: as inscrições encontradas nos banheiros, sendo feita essa ligação
entre Geografia e grafitos de banheiro (Otta e Teixeira, 1998) através da
aplicação de alguns conceitos trabalhados em Geografia, como território e
identidade, ao espaço do banheiro e as significações criadas pelos indivíduos
por meio dos grafitos. Também através destes materiais torna-se possível a
análise das relações de poder que constituem as instituições constituídas e
constituintes da sociedade, buscando controlar e disciplinar os
indivíduos (FOUCAULT, 1977; 1987).
Esse material possui um caráter bem
rico; apesar de serem poucos os trabalhos já realizados que analisaram os
grafitos encontrados no banheiro objetivando levantar alguns aspectos dos
indivíduos e de sua relação com o meio, os resultados encontrados se mostraram
bem interessantes no que diz respeito à descoberta de características
(comportamentais, psicológicas, sexuais) dos indivíduos, assim como do contexto
social e político no qual estão inseridos (OTTA e TEIXEIRA, 1998; BARBOSA, 1984;
DAMIÃO e TEIXEIRA, 2009).
Vale destacar ainda que inscrições encontradas nos banheiros das
escolas são especialmente importantes, pois podem nos revelar as perspectivas
dos alunos em relação a si mesmos, seus relacionamentos e ao ambiente como um
todo. As escolas, por serem instituições formadoras e formadas pelas sociedades,
se apresentam permeadas por regras que regulam o comportamento dos indivíduos
(MOREIRA, 1995), sendo o banheiro muitas vezes o único local onde os alunos se
sentem livres, livres das regras comportamentais, das tarefas, e imposições em
geral.
Apesar do controle exercido pelas várias instituições sociais e
que buscam reger as funções e ações dos indivíduos (FOUCAULT, 1977), no banheiro
são realizadas muitas vezes atividades que a sociedade não considera “corretas”.
De acordo com Barbosa (1984) “ir ao banheiro é como ir viver num ‘território do
eu’, reserva de intimidade e individualidade. Ao se isolar num reservado, o
indivíduo experimenta sensações de anonimato, liberdade e segurança...” (p. 75).
Assim o banheiro,
[...] lugar solitário, secreto, interrogador,
clandestino, impuro e culposo que o homem civilizado arquitetou para a excreção
fisiológica e outras práticas higiênicas, acaba tornando-se (entre outras
funções tidas como proibidas) também veículo de expressão pessoal, suporte
físico e ambiental de uma forma literária peculiar, mural de garantida audiência
para nossas acertadas e espirituosas observações sobre nós mesmos, sobre o
mundo, sobre tudo...”. (BARBOSA, 1984, p.77).
Pelo fato dessas inscrições apresentarem todas estas
singularidades é que se propõe no presente trabalho que sejam analisadas
associadas à ciência geográfica, pois ao mesmo tempo em que podem nos revelar
aspectos sobre os indivíduos isoladamente podem nos trazer importantes
constatações sobre as sociedades, suas opiniões, impressões e constatações sobre
o ambiente em que vivem. Aliás, outros tipos de escrituras podem ser utilizados
para o levantamento de alguns aspectos da cultura humana como as que são
encontradas em muros, paredes, monumentos, árvores e até em cédulas de papel
(BARBOSA, 1984).
Este trabalho, no entanto, como já dito tratará apenas das
inscrições encontradas nos banheiros associando-as aos conceitos de território e
identidade, que são frequentemente discutidos nas aulas de
Geografia.
Desenvolvimento
A ciência geográfica é caracterizada por ser um ramo do saber que
se desenvolveu partindo de conhecimentos tidos pelo homem em sua relação com o
ambiente vivido. Dessa maneira, como bem salientou Santos (2007), a Geografia
não foi um campo do conhecimento criado por um sábio específico e nem a partir
de pesquisas feitas por um grupo de cientistas, mas sim nasceu como uma atitude
social, ou seja, partindo de conhecimentos prévios já tidos pelos homens e
reforçados a partir de seu relacionamento com o meio. Assim, ainda de acordo com
Santos (2007) a Geografia é “um tipo de conhecimento e, portanto, de um conjunto
de respostas que a sociedade constrói para compreender alguns dos aspectos de
sua relação consigo e com o mundo” (p.11).
Essa característica da Geografia de fundamentar-se nas práticas
realizadas cotidianamente pelos indivíduos perdeu muito de seu significado ao
longo do desenvolvimento da Ciência Moderna, onde modelos científicos foram
aplicados ao conhecimento, racionalizando-o e tornando o mesmo extremamente
rigoroso (FERRAZ, 2004).
Assim, ao longo de sua consolidação, a ciência foi deixando de
fora de suas investigações elementos cruciais do cotidiano do homem e que
revelavam as suas relações com seu espaço vivido/frequentado. Dessa maneira o
conhecimento científico, e nesse caso específico de relação da sociedade com o
espaço, as ciências humanas e dentro destas a Geografia, não levou em
consideração em suas pesquisas atividades que poderiam ser utilizadas para o
levantamento de alguns aspectos imprescindíveis e que dizem respeito ao homem.
Nas palavras de Ferraz (2004):
“[...] os sonhos, emoções, vícios, sentimentos,
gestos, gostos, desejos, loucuras, banalidades e detalhes do dia-a dia (...)
foram negligenciados por não serem passíveis de catalogação, manuseio,
classificação, controle, rigor e enquadramento em algum modelo científico”. (p.
177).
O cotidiano e suas práticas, apesar de considerados elementos
centrais no que diz respeito à análise das relações sócio-espaciais (Ferraz,
2004), foram então como já dito, esquecidos pelos discursos absolutalizantes e
generalizadores que constituem o saber científico fazendo assim com que alguns
elementos fundamentais e que dizem respeito ao homem e ao seu relacionamento com
o meio não fossem analisados. As práticas cotidianas dentro desses modelos
científicos então se perdem, não possuindo sentido nem importância.
As aulas de Geografia então, como reflexos dessas características
da Ciência Moderna, tornaram-se um local onde o conhecimento científico é
repassado aos alunos de forma maçante, onde conceitos já elaborados a priori são
dados e decorados, sem que nenhuma relação com o cotidiano dos alunos seja feita
(SOUZA, 2009). Trata-se de uma “Educação Bancária” como nos diz Freire (1986) e
que consiste no processo em que
“o educador faz ‘depósitos’ de conteúdos que
devem ser arquivados pelos educandos. Desta maneira a educação se torna um ato
de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o
depositante. O educador será tanto melhor educador quanto mais conseguir
‘depositar nos educandos’. Os educandos, por sua vez, serão tanto melhores
educados, quanto mais conseguirem arquivar os depósitos feitos”
(p.66).
Na contramão deste quadro, o presente trabalho propõe que nas
aulas de Geografia sejam adotadas algumas práticas discutidas por Freire (1983;
2004), onde é defendido que o diálogo em sala de aula deve ser priorizado, não
devendo haver uma imposição por parte dos professores e uma aceitação estática
dos alunos; propõe ainda que o conteúdo passado em sala de aula seja associado
às práticas e situações vivenciadas pelos alunos. Desse modo, busca-se um ensino que
valorize as idéias tidas pelos alunos e que não leve em conta somente os
conceitos estanques já elaborados previamente e que são reproduzidos no ambiente
escolar.
Propõe-se uma participação efetiva dos alunos em sala de aula com
diálogos que valorizem as idéias dos mesmos e que contribuam para que
desenvolvam uma concepção crítica da realidade. De acordo com Benincá (1978,
p.6) “a sala de aula só assumirá a sua verdadeira função pedagógica quando se
transformar num palco de debates sobre os conteúdos em foco e não apenas
narrações repetidoras”. Desse modo a memorização, que representa a chamada
“Educação Bancária” deve ser deixada de lado, devendo a aprendizagem ser feita
através do diálogo, da troca de experiências entre alunos e professores, fazendo
assim com que a aprendizado ocorra de uma maneira mais
prazerosa.
A construção do conhecimento deve ocorrer então através da
interação entre professores e alunos, onde a realidade dos mesmos seja
problematizada para que o entendimento do real e das relações e contradições que
perpassam a sociedade sejam reveladas e analisadas.
Deve-se partir então de uma “Educação Problematizadora” (Freire,
1986), que nos dizeres de Pitano (2004)
“caracteriza-se por sua vinculação contextual à realidade dos
sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, no caso, os educandos.
Partindo do próprio contexto, estes conseguem mais facilmente compreender o
sentido dos conteúdos propostos, não de forma imposta externamente pelos
educadores, mas adaptados as reais condições da comunidade. Ao mesmo tempo, conhecendo a própria situação como objeto do
conhecimento, os educandos começam a desenvolver conjuntamente sua
conscientização, que resulta da reflexão acerca de seu contexto. É uma
problematização constante, cujo objetivo maior é proporcionar às pessoas que
construam sua autonomia, sua capacidade de entender não só o entorno, o local,
mas a realidade em sua complexa totalidade, que os envolve e condiciona (p.
105)”.
Buscando então relacionar a Geografia com o
dia-a-dia dos educandos e exaltando a importância do cotidiano na elaboração de
alguns elementos formadores desta ciência, este trabalho propõe a análise e a
associação de uma prática cotidiana específica, as inscrições encontradas, com
alguns conceitos discutidos na ciência geográfica, sendo estes o conceito de
território e identidade, além também de serem utilizados para a discussão de
como a sociedade se organiza a partir de relações de
poder.
Essas inscrições encontradas nos banheiros que podem também ser
denominadas grafitos de banheiro e escritas latrinárias (Otta e Teixeira, 1998),
são visualizadas em alguns destes estabelecimentos em suas portas, paredes e até
em seus tetos. O banheiro, por ser um local considerado seguro e onde o
anonimato é garantido, é um dos locais onde mais se produzem inscrições, sendo
expressas através destas, idéias, fantasias e outras expressões dos
indivíduos.
Dessa maneira pode-se dizer que o banheiro por ser o espaço onde o
homem reproduz alguns aspectos de si e de suas interações com a sociedade, é o
território do eu, um espaço contraditório onde há ao mesmo tempo controle e
liberação (BARBOSA, 1984). O controle se manifesta aí principalmente em
banheiros localizados em espaços públicos onde é preciso muitas vezes se ter a
permissão para utilizá-los, como em banheiros que se situam em bares, onde a
chave precisa ser solicitada e retirada no balcão ou então em banheiros de
praças e rodoviárias onde funcionários que inspecionam o local e cuidam da
limpeza acabam inspecionando também seus frequentadores. Além disso, há também
sanitários pagos onde há a necessidade de se ultrapassar uma roleta para
utilizá-los.
Também em banheiros localizados em instituições de ensino, mais
notadamente em escolas até o nível médio, é preciso se ter a permissão, no caso
de professores, para usá-los. A escola como um todo, aliás, é um local permeado
por normas que regulamentam o comportamento e de certa forma o “funcionamento”
dos indivíduos. Para constatar isso “basta ler, por exemplo, os regulamentos
escolares onde encontramos todas as restrições possíveis sobre a corporeidade,
desde os tempos destinados às tarefas e às aulas, até como deverão ser o
comportamento e a posição espacial na classe” (MOREIRA, 1995, pp.
20-21).
O banheiro como já dito, apesar de se constituir em espaço de
controle é também um espaço de plena liberdade, pois aí o indivíduo pode se
manifestar livremente e de forma anônima, já que o controle que sofre é
“barrado” na porta dos gabinetes sanitários, e dentro deles só há uma pessoa, o
indivíduo, que pode mostrar aos outros o que pensa sobre si e sobre o mundo,
além de ter total liberdade para exprimir os desejos e vontades de seu corpo, de
sua sexualidade, sendo o banheiro por isso mesmo o território do corpo (BARBOSA,
1984).
Estando no banheiro o indivíduo através das escritas deixa no
espaço as suas impressões, suas marcas, carregando assim o mesmo de simbolismos
e significados ao mesmo tempo em que concretiza o seu sentimento de pertencer ao
local. Diz-se então que o sentido de pertencimento ocorre quando para o mesmo
(indivíduo) um dado local seja carregado de significações (SANTOS, 2007), não
havendo propriamente a necessidade de que o mesmo seja o espaço em que vive o
indivíduo. Ainda nos dizeres de Douglas Santos
(2007):
[...] o território só pode ser o resultado da
observação, da vivência, da sistematização de um conjunto de experiências que se
torne algo ordenado em nossa cabeça, tanto do ponto de vista da distância
relativa (e, portanto dos posicionamentos) entre os objetos que o compõe, quanto
ao significado que cada um desses objetos possui para cada um de nós. (p.6).
Dessa maneira podemos abordar o conceito de território a partir de
vários enfoques, como bem nos apontou Haesbaert (1999). Partindo das relações
humanas que se estabelecem no território, o autor aborda este conceito por meio
de três enfoques principais: o político, onde a relação Estado-poder é vista
claramente através da delimitação feita em uma determinada porção do espaço que
vive sob controle do Estado-nação; o cultural, onde predomina a dimensão
simbólico-cultural, ou seja, a valorização simbólica criada por um grupo em
relação ao espaço; o econômico, quando priorizam-se as relações econômicas dadas
em determinada porção do espaço ou então a mesma é vista como fonte de recursos,
dando-se aí a relação capital-trabalho assim como as contradições existentes
entre as classes sociais.
Aqui, a partir dos
escritos presentes no espaço do banheiro o mesmo é visto como a referência
(recorte territorial) para a construção simbólica da identidade sentida pelos
indivíduos. Os grafitos de banheiro por possuírem uma forte significação para os
indivíduos que os produzem, representam à simbologia que fundamenta a
identificação que os mesmos sentem pelo espaço do banheiro e que
consequentemente o constitui como sendo um território simbólico/ subjetivo.
Por ser feita uma abordagem do território em seu sentido
simbólico, a identidade aqui trabalhada têm um sentido cultural, pois ela diz
respeito às relações humanas praticadas no local em que as mesmas se
territorializam, sendo ao longo do tempo e através das atividades cotidianas o
sentido de pertencimento de cada indivíduo com seus semelhantes e com o espaço
fortificado (GUERRA, 1993).
Assim coloca-se a importância dessas escrituras nas discussões
acerca desses conceitos geográficos e sua relevância para o entendimento de
algumas dinâmicas que regem a sociedade côo as relações de poder e suas
transgressões feitas no espaço do banheiro.
Considerações Finais
Dessa maneira, após todas as exposições feitas, este trabalho
destaca a importância de haver um inter-relacionamento entre o ensino de
geografia e nossas práticas cotidianas, pois como já dito a própria Geografia
originou-se das experiências e conhecimentos do dia-a-dia do
homem.
A associação de conceitos da Geografia com a vivência dos
indivíduos fortalece o ensino da Geografia, pois torna o ato de aprender
Geografia mais prazeroso (Souza, 2004), não sendo uma sequência de memorizações
maçantes de conceitos estanques e previamente
definidos.
As práticas cotidianas aqui analisadas, as inscrições encontradas
no banheiro, se mostram como elementos possíveis para que se faça essa conexão
entre teoria e prática. O espaço do banheiro identificado como sendo um
território para os indivíduos que grafitam no local, ganha significado pelo fato
de que aí os mesmos se encontram livres das normas comportamentais impostas
pelas instituições constituintes da sociedade, podendo se manifestar livremente,
“ouvir” e serem “ouvidos”.
As representações feitas no banheiro se manifestam também como a
simbologia que fundamenta a identificação sentida pelos indivíduos quanto aos
valores organizadores de seus territórios cotidianos, ou seja, qualificam os
lugares e os referenciais determinantes que os permitem se localizarem e se
orientarem no mundo a partir dos ambientes por eles frequentados ou
idealizados.
Além disso, a análise destes materiais pode contribuir para que
seus resultados levem a um melhor entendimento de quem são esses indivíduos que
grafitam no banheiro e de como seus referenciais expressos, ou ocultos, nas
inscrições podem identificar outros olhares para o trabalho do ensino de
Geografia na sala de aula.
Essas e outras práticas cotidianas utilizadas nas aulas de
Geografia podem ser utilizadas para reencantar o ensino, tornando assim com isso
os alunos também protagonistas do ensino e não somente corpos estáticos que
recebem informações e mais informações, sem refletir e problematizar as
mesmas.
O professor nesse processo tem um papel fundamental que é o
demonstrar que a geografia faz parte do cotidiano do aluno, fazendo assim com
que a apreensão e compreensão da disciplina por parte dos mesmos se dêem de uma
maneira mais prazerosa e a aula se torne mais rica. O ato de ensinar exige que
nós enxerguemos que os alunos possuem experiências que devem ser levadas em
consideração sendo exploradas no processo de aprendizagem, levantando questões e
fazendo com que os mesmos possuam um olhar inquieto sobre o mundo que os rodeia.
Para que isso ocorra se faz necessária a busca por novas metodologias de ensino,
que valorizem o aluno enquanto ser pensante, que cria e levanta dúvidas sobre o
que está sendo exposto, não aceitando passivamente o que recebe como se fossem
verdades absolutas e por isso inquestionáveis (CASTROGIOVANNI (ORG.),
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