FORMAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA DE MATO GROSSO DO
SUL E AGRONEGÓCIO CANAVIEIRO:
ELUCIDAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE ESTADO, TERRA
E TERRITÓRIO
Tayrone Roger Antunes de
Asevedo
RESUMO:
Este trabalho visa compreender a agroindustrialização canavieira no
Mato Grosso do Sul através da identificação das múltiplas escalas envolvidas no
processo de formação histórico-geográfica. As premissas de análise serão os
conflitos e emaranhamentos existentes entre Estado, terra e território.
Avaliaremos o regimento de controle e manutenção da ordem classista pelo Estado,
com ligeiras pinceladas em suas políticas territoriais, em especial as adotadas
nos domínios agrário/agrícolas que, a nosso ver, tão somente, foram excludentes
e expropriadoras, já que demarcadas pelas imposições do capital; portanto, de
maneira sucinta, demonstraremos quais pressupostos são caracterizadores dos
territórios que conformam a unidade federativa em análise, postulando questões
de ordem estrutural e conjuntural.
RESUMÉN:
Este
trabajo
tiene como objetivo comprender la
agro-industrialización de la
caña de azúcar en Mato Grosso
do Sul a través de la identificación de múltiples escalas
involucradas en el proceso de desarrollo
histórico y geográfico. Los supuestos del análisis habrá conflictos y enredos entre el Estado, la tierra y el territorio. Vamos a evaluar el regimiento de control y mantenimiento del orden de las
clases por el Estado, con
movimientos interpretativos en su
política territorial, en particular las adoptadas en el ámbito agrícola, en
nuestra evaluación, solo fueron
excluyentes y déspotas,
desde demarcada por las imposiciones
de capital; de manera sucinta, demostrar las
hipótesis que están
caracterizando los territorios que
componen la unidad federal
de análisis, planteando problemas
estructurales y
coyunturales.
INTRODUÇÃO
Ao principiarmos a discorrer sobre a formação
histórico-geográfica de Mato Grosso do Sul, uma preocupação, tênue, chamou-nos a
atenção e, por conta disso, de certo modo, acabou por reorientar-nos no
desenvolver deste texto, qual seja: como formular e demonstrar diferentes
processos, constituidores da realidade contemporânea, sem cair numa narrativa
essencialmente histórica e alijada de uma formulação crítica sobre o espaço e
territórios ao qual nos pomos a compreender?
Certamente que nas poucas palavras aqui expostas,
muito “gerais” por assim dizer, podemos vislumbrar outras formas de apreensão,
mas não abranger todos os acontecimentos, fenômenos e relações que se
estabeleceram em diferentes contextos. Postulamos, desde já, que não é de nosso
feitio apresentar todas essas características como têmporo-espacialmente
cumulativas, seqüenciais e homogêneas. Nosso intuito mais se aproxima do
interesse em trazer ao debate as geografias conformadoras da realidade
contemporânea, principalmente no que diz respeito à expansão da agroindústria
canavieira para Mato Grosso do Sul.
Entendemos que as características gerais que
levaram ao “povoamento” dessa porção do Oeste brasileiro e os processos que
culminaram com a constituição de Mato Grosso do Sul são complexos, erigidos numa
sucessão coexistencial de sujeitos sociais diferenciados, reconstruindo um
espaço e tornando-o peculiarmente antagônico e conflituoso, já que demarcado
pelo (des)encontro de povos distintos nos valores e
comportamentos.
Anteriormente à chegada de europeus, esse espaço
era de domínio de diferentes etnias indígenas; em Valverde (1972) é demonstrado
que povos pertencentes ao grupo lingüístico guarani percorriam-no, compondo
mesmo a presença humana mais marcante por essas paragens. Possuíam
características específicas e incursionavam desde os Andes até Cuzco, passando
pelo norte do atual estado de Mato Grosso ou até mesmo próximo das bacias dos
Rios Pardo e Taquari, como de
igual modo perambulavam nas divisas das bacias dos Rios Paraguai e
Paraná.
Sociedades não-classistas, baseadas na relação
harmônica entre o Ser (individual-coletivo) e o Estar (geográfico-cultural)
então se reproduziam. Diferenciando-se da sociedade de classes que cruza o
Atlântico e expande seus horizontes (às vezes os encurta) e territórios. Fazendo
com que os modos de vida preexistentes sejam reduzidos, porque subvalorizados
ante o espaço-mercadoria – a ser domado pelo homem branco, cristão e civilizado,
missionário incumbido de voltar todos os corações e mentes à cruz de um “santo”
devir. Conforme avança essa sina acumulativista-antropo(euro)cêntrica, esvai-se
outras formas de ver e ser no mundo. O que nos põe a concordar com o fato de que
a “A história não começa com o Estado,
exceto a história da dominação regulada politicamente de maneira classista”
(RIBEIRO, 2006, p. 199). Apesar de séculos de perseguição e
morte:
Seis nações conseguiram sobreviver ao domínio branco e chegar ao
terceiro milênio sobre o chão de Mato Grosso do Sul. Lutando pela terra e contra
o processo de aculturação, os povos Ofaié, Kadiwéu, Terena, Guarani, Ñandeva e
Kaiowá contam com uma população de aproximadamente 50.000 índios e fazem do
estado o segundo maior em população indígena do país (AVELINO JUNIOR, 2004, p.
85).
São sociedades que vivenciam-percebem-concebem a
natureza num metabolismo harmônico, em que o trabalho é condição primordial para
a humanização, no aprimoramento do Ser, por gerar valores-produtos de uso
buscando o bem-estar individual mediante a realização do coletivo. O Ser social
é uma extensão da natureza que dela parte, toma conhecimento de si e lhe retorna
em reconhecimento e ação teleologizada.
As frentes de povoamento não-índio são suscitadas
pelas Bandeiras e Monções, correntes do início a meados do século XVIII.
Com o descobrimento do ouro, os bandeirantes, e logo após os monçoeiros,
incitaram o povoamento e o processo de indexação dos espaços longínquos à coroa
portuguesa, elegendo-os à categoria de capitanias desmembradas de São Paulo. Com
intento de tomar/domar essa porção de um Brasil por eles inda longe do total
descobrir, foram conformando a realidade que hoje salta-nos aos olhos em
perversidade.
Aos bandeirantes caberia a função de desbravar e
conquistar o território. Assassinando, enclausurando e maltratando, abriram-se
assim as primeiras vias. Eis que descobriram o ouro, uma virada nas intenções da
coroa e um lugar fatídico ao Oeste nas geografias da acumulação. Os Monçoeiros
incursionavam cursos d’água “sertão” adentro e, além de explorar, faziam desses
canais naturais a principal via de acesso mercantil às áreas de mineração,
secundarizando neste período as rotas terrestres de escoamento do ouro,
atividade que já demonstrava sinais de declínio no final do século
XVIII.
Temos no período da mineração um relativo avanço
no urbano-povoamento, um espaço pouco articulado, mas que, todavia, com o
enfraquecimento da mineração, assiste a muitas rotas terrestres serem criadas,
pois na passagem do século XVIII ao XIX incursões comerciais e exploratórias
vindas de Minas Gerais, principalmente, cortavam o cerrado: as chamadas
“estradas boiadeiras”, pelas quais se comercializavam gado por toda a recém
criada província, formando núcleos de povoamento que punham em relevo as
fazendas pecuaristas, marcando o iniciar do caráter concentracionista e
oligárquico das terras nestas bandas do país.
Se as atividades mineradoras decaem, o mercado
regional de gado experienciava momentos de auge no Sul, e as estradas boiadeiras
de então já haviam se tornado grandes fazendas e, assim, terras concedidas e ou
tomadas foram se transformando em extensos latifúndios, germinando povoados e
uma teia de novas relações.
Logo após esse período, com a Guerra do Paraguai
(1864-1870), há uma substantiva atenuação no povoamento, rotas e cidades se
estagnam e o comércio de gado com os estados vizinhos é parcialmente cessado.
Contudo, pouco tempo depois flui com intensidade o povoamento na porção sul,
tudo devido ao contexto da guerra, conforme observou Almeida (2006), que
ressalta suas peculiaridades.
E a extração da erva-mate, que no início da
guerra dava seus primeiros passos, sofre profundas transformações após a mesma.
A Cia. Matte Laranjeira surge nesses termos, explorando os fartos campos de
erva-mate do sul ao suor de trabalhadores paraguaios e indígenas, pondo-se à
comercialização do produto na região platina. E foi arrendando e comprando
terras que essa empresa chegou a deter e explorar 1 milhão de
hectares.
O papel da Cia. Matte Laranjeira é substancial
para o entendimento das questões que envolvem a criação de Mato Grosso do Sul,
pois mesmo em se tratando de uma atividade itinerante, permitia que vias fossem
criadas para a extração, escoamento e comercialização do produto, cunhando
povoados e articulando essa porção a outros mercados
regionais.
Abreu (2001) aponta que a Companhia possuía
milícia para defender e conquistar os ervais e que possuía íntimas relações com
o Estado, pois conferiam grandes rendas a este, a ponto, inclusive, de conceder
empréstimos. Nota-se, também, que as áreas arrendadas para a exploração
pertenciam aos índios Kaiowá e Guarani e, certamente, conflitos armados ocorriam
na disputa das terras com o avanço da exploração mercantil da
erva-mate.
Logo após a guerra, o Estado nacional necessitou
expandir e fixar o domínio da fronteira e, paralelamente a isso, o mercado
nacional precisava, a todo custo, ser integrado. Ir aos mais longínquos lugares
e estabelecer as relações tipicamente exploratórias era a meta de um capitalismo
em processo de internacionalização, exigindo, também por conta disso, que os
mercados regionais brasileiros fossem embrionariamente
unificados.
Mas esse processo demorou a materializar-se. Foi
preciso a Independência política e, mais adiante, um Estado planejador montado
para que a integração começasse de fato a ser mais bem
ensaiada.
A integração através de vias rodoviária e
ferroviária consubstancia as bases dos interesses, complementando as atividades
infra-estruturais suscitadas pela Cia. Matte Laranjeira. Caso da Ferrovia
Noroeste Brasil, que interligou o estado de São Paulo ao então Mato Grosso,
cruzando inúmeros municípios. Ferrovia essa que desempenhou papel crucial na
formação do Mato Grosso do Sul, por impulsionar ideais divisionistas que se
intensificariam anos após, até conseguir cindir de fato o anterior território.
Segundo considerações de Queiroz:
O advento da ferrovia permitiu ao Sul uma ligação direta e rápida com
os grandes centros do Sudeste brasileiro, notadamente São Paulo e Rio de Janeiro
(enquanto a população cuiabana continuava a depender da difícil navegação dos
rios Cuiabá e Paraguai até Porto Esperança, ponto terminal da ferrovia). A
ferrovia estimulou, enfim, o crescimento de outra potencial concorrente da velha
Cuiabá: a cidade de Campo Grande, que logo, aliás, suplantaria a própria Corumbá
na condição de principal pólo comercial do Estado (2006, p. 156).
Nesse contexto de ocupação das fronteiras e dos
“vazios” é que surgem os projetos de colonização, promovidos pelo Estado Novo (1937-1945) de Getúlio
Vargas. Exemplos são a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND),
a atuação de empresas privadas como a Sociedade de Melhoramentos e Colonização
(SOMECO), a Cia. Viação São Paulo - Mato Grosso e a Cia. Moura Andrade – que
tinham por escopo apaziguar as intensas lutas populares travadas num Brasil que
clamava pelo acesso à terra e à distribuição de
renda.
Projetos que, no nosso entendimento, vieram
intensificar os conflitos, pois se assentavam num discurso ideológico desprovido
de compromisso real com a reforma agrária, redundando no abandono dos migrantes
e colonos, alargando as brechas ao aliciamento das terras e dando continuísmo à
concentração fundiária, ainda que existisse, em menor número, pequenas
propriedades originadas com a colonização, poucas dedicadas ao trato efetivo com
a terra. Evidências de todo um projeto econômico-político estrategicamente
articulado de integração, sementes do que se iria estabelecer definitivamente
anos mais tarde, com a criação do novo Estado. Neste caminho interpretativo,
Abreu argumenta:
O Mato Grosso do Sul era uma área compreendida como estratégica
pela sua
capacidade produtiva, especialmente para a pecuária e a agricultura comercial, e
pela incorporação de novas tecnologias e insumos: máquinas, implementos
agrícolas e tratores, agrotóxicos. Esta situação contribuiu para promover uma
reconfiguração espacial, diferenciada da existente até então, na sua porção
austral. As pequenas propriedades, resultado do loteamento da Colônia Agrícola
de Dourados (CAND) e de outros projetos de colonização privada, em boa parte,
foram vendidas, consolidando uma outra estrutura fundiária, agora baseada na
média e grande propriedades, para a instalação da agricultura moderna (2001, p.
229).
Outra contradição é que a maioria das áreas
destinadas à colonização perfazia as terras tradicionais de Kaiowá e Guarani que
desde o final da década de 1970 lutavam pela demarcação das mesmas; peleja que
já resultou na recuperação de algo em torno a 22.450 hectares (BRAND;
FERREIRA; AZAMBUJA, 2008, p. 44). Conquistas válidas, mas ainda pequenas ante as
conseqüências engendradas pelos projetos, cujo legado se faz presente nos
diversos impasses sociais, políticos e jurídicos no Mato Grosso do Sul de
hoje.
Como vimos, a arrumação meticulosamente ordenada
da existência social vai tomando corpo com o Estado Novo, pois sua formação e
estabelecimento se sustentam na coerção, quando não no abrandamento dos
conflitos, recriando as condições necessárias à reprodutibilidade legitimada
pelos aparatos legais inerentes à estrutura do poder econômico
reinante.
O que comprova que o Estado não deve ser
concebido segundo o ver que o tem como algo acima dos interesses antagônicos
manifestos na sociedade, como uma esfera de conciliação entre classes sociais,
mas, pelo contrário, deve ser concebido pelo papel que possui em assegurar a
propriedade privada dos meios de produção, como a continuidade da ordem
classista.
Os aparelhos de Estado caracterizam-se por serem
gestores, controladores dos conflitos, certamente possuem uma autonomia relativa que deve ser
considerada, pois como diz o próprio Marx: “A liberdade consiste em converter o Estado
de órgão que está por cima da sociedade num órgão completamente subordinado a
ela” (2001, p.12).
Voltemo-nos agora, especificamente, após essa
breve consideração sobre a função do Estado, para a reprodução ampliada do
capital e regulação das partes envolvidas, alguns processos que culminaram com a
criação de Mato Grosso do Sul, a saber: o
projeto divisionista, bem como sobre as ações dos governos militares, mediante
os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND’s).
O Sul de Mato Grosso já se encontrava então sob o
regime truncado das oligarquias e de seus vastos latifúndios, em uma situação de
controle econômico-político latente, como se estivesse se tornando o palco a uma
trama de pretensa superioridade, que, por sua vez, alimentará, em muito, o
projeto divisionista.
Na passagem do século XIX ao XX, os interesses
díspares entre os detentores do poder político regional acentuavam-se e a porção
sul de Mato Grosso ganhava expressão ao se articular aos mercados regionais.
Impulsionando esse processo, teremos a Cia. Matte Laranjeira, o intenso comércio
de gado e, também, a mobilidade acarretada pela Ferrovia Noroeste Brasil, que se
expande ao sul. A liberação da navegação no rio Paraguai para o estuário do
Prata, após a guerra, conferiu a Corumbá importância comercial crucial na
região, contribuindo para que a postura de domínio político das elites cuiabanas
definhasse.
Nessa disputa regional, é pretendido tecer uma
“identidade” por parte dos sulistas e
nortistas, não somente para
estabelecer e criar representações de mando e afeição pelos que aqui se
encontravam, mas, também, livrar o Oeste do estigma que o acompanhava desde
muito, o de região de bárbaros, preguiçosos, de restolho da dignidade, povos a
serem acalentados pelo manto digno dos soldados da nação, os detentores da
honra...
Dessa somatória de fatores e com o intuito de
ganhar apoio do governo central para estear esse projeto de Brasil que se
expandia e estabelecia suas fronteiras é que os representantes políticos
regionais mantêm relações próximas à União, o que nutrirá, em parte, o desfecho
das disputas, culminando com a criação de Mato Grosso do Sul logo após.
Portanto, os representantes “sulistas” mato-grossenses apoiaram a ideologia de
que a divisão favorecia o controle político-territorial da nação que se ia
desenhando.
No contexto dos governos militares,
intensifica-se a ocupação e expansão da fronteira pari passu à integração
regional-nacional. São criadas políticas de incentivo econômico e há abertura e
adesão do Brasil aos ditames de uma lógica internacional do capitalismo, que
busca então nos países dito terceiro-mundistas aumentar as taxas de
acumulação.
Fenômeno que ocorria sobremodo nos países de
capitalismo avançado, com o Welfare
State do pós-guerra, que pretendia evitar a propagação ao restante do mundo
do avanço de governos socialistas e dos de tipo nazi-fascista. Desse momento em
diante o Estado:
passa a intervir na economia, investindo em indústrias estatais,
subsidiando empresas privadas na indústria, na agricultura e no comércio,
exercendo controle sobre preços, salários e taxas de juros. Assume para si um
conjunto de encargos sociais ou serviços públicos sociais: saúde, educação,
moradia, transporte, previdência social, seguro-desemprego. Atende demandas de
cidadania política, como o sufrágio universal (CHAUÍ, 2000, p.
48).
Essa geopolítica territorial dos Estados
capitalistas-imperialistas determina formas gerenciais repressoras e
desenvolvimentistas, forjando-se órgãos internacionais específicos que formulam
normas e regras almejando a governabilidade, direta ou disfarçada, dessas
regiões do mundo. Quais foram, então, as conseqüências diretas nas políticas
adotadas nos países terceiro-mundistas, que, o sabemos,
tiveram políticas estatais diferenciadas se comparadas àquelas do “Norte” do
mundo?
Os países mais fortes do bloco capitalista adotaram duas medidas:
através do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), fizeram
empréstimos aos Estados do Terceiro Mundo para investir nos serviços sociais e
em empresas estatais; e, através dos serviços de espionagem e das forças
armadas, ofereceram “ajuda” militar para reprimir revoltas e revoluções. Com
isso, estimularam, sobretudo a partir dos anos 60, a proliferação de ditaduras
militares e regimes autoritários no Terceiro Mundo, como foi o caso do Brasil
(ibidem, p. 48).
Do que podemos depreender que a desigualdade
material do capitalismo também se reflete em desigualdades nas capacidades de
gestão e intervenção dos Estados: enquanto uns promovem bem-estar, outros
promovem repressão escancarada à populações insatisfeitas que queiram realizar
agitações.
Por conseguinte, as redefinições espaciais e
territoriais para o Mato Grosso do Sul, que se estabelecia, ficam evidentes
nessa diferencialidade dos arranjos político-econômicos existentes. No que
respeita à territorialidade desse estado, o II Plano Nacional de
Desenvolvimento teve
importância crucial ao processo de desmembramento.
Com o intuito de articular diferentes regiões e
estas a um projeto de integração econômica e de ocupação produtiva é que
programas regionais específicos foram criados. Os subprogramas visaram a
diversificação e o desenvolvimento econômico-produtivo do novo estado e seu real
estabelecimento.
Devido à ação e ao grau de transformações
territoriais efetivas no espaço sul-mato-grossense, destacamos a seguir alguns
subprogramas como os mais importantes.
O PROSUL (Programa Especial de Desenvolvimento de
Mato Grosso do Sul) além de contribuir para montar a máquina administrativa do
novo estado, suplementaria os demais programas. Ele tinha por diretriz geral o
desenvolvimento econômico como meta nuclear para se obter melhorias sociais,
urbanas e rurais; em princípio reduzindo as importações de produtos básicos à
alimentação e, também, elevando as exportações de carne e soja, com o intento de
gerar uma acumulação estadual que promovesse a agroindustrialização, elevando o
beneficiamento/processamento das matérias-primas regionais. Para tanto, era
essencial aumentar os serviços de distribuição de energia e telecomunicação por
todo o estado, promovendo a construção de malha viária e melhorando a já
existente.
O Programa Especial de Desenvolvimento da Região
da Grande Dourados (PRODEGRAN), apesar de ter a região da Grande Dourados como
locus das ações, influenciou toda a
região sul do novo estado. Por se tratar de uma região com amplo potencial
agrícola – devido à fertilidade de seu solo, proveniente da decomposição do
basalto – as ações voltaram-se no sentido de estimular a produção e
comercialização de grãos, sendo, por conta disso, realizados investimentos no
controle e prevenção de erosão, no armazenamento da produção, na infra-estrutura
logística e no desenvolvimento técnico-científico aplicado à agropecuária. As
relações com os mercados próximos, principalmente o Centro-Sul do país, já
existentes anteriormente, são alavancadas, elevando a região da Grande Dourados
ao posto de principal representante econômica de Mato Grosso do Sul.
Já o Programa Especial de Desenvolvimento do
Pantanal (PRODEPAN) tinha como área de atuação toda a região abrangida pelo
bioma do Pantanal, totalizando 26 municípios do antigo Mato Grosso e quase a
metade de toda a sua população. Os subprogramas desdobrados a partir do PRODEPAN
visaram o aproveitamento dos extensos “recursos” da região do Pantanal,
integrando-o ao desenvolvimento econômico-produtivo almejado. Para isso, foram
realizados investimentos na distribuição de energia, na infra-estrutura de
transportes, na promoção do saneamento ambiental, no desenvolvimento técnico da
pecuária local e na promoção da industrialização, beneficiando as
matérias-primas nativas.
O Programa de Desenvolvimento dos Cerrados
(POLOCENTRO) tinha por campo de atuação o Planalto Central, nas áreas de
cerrado, englobando os estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e,
posteriormente, Mato Grosso do Sul. Especificamente para o espaço de Mato Grosso
do Sul, temos as áreas-programas denominadas Campo Grande/Três Lagoas e
Bodoquena. A primeira área-programa realizava ações em toda a região nordeste,
totalizando 17 municípios. Foram realizados investimentos em infra-estrutura de
transporte, construindo e reformando estradas vicinais e interligando a região
ao sudeste e sul do país, contribuindo com a expansão da transmissão de energia,
executando melhorias no beneficiamento e armazenagem da produção agrícola
existente e pretendida e investindo na pesquisa e experimentação do setor
agropecuário. Na área-programa Bodoquena, o investimento voltava-se para o
aproveitamento das densas reservas de calcário, em estimular a produção e
comercialização de insumos agrícolas, apoiando ações estratégicas na melhoria
das vias férrea e rodoviária, com vitais estímulos para a expansão da
transmissão de energia e armazenamento da produção agrícola que se expandia
significativamente.
Apesar de objetivar ações em todo o estado, os
subprogramas investiam efetivamente em algumas regiões, pois os interesses
políticos adentravam as decisões e eram essenciais. Por esse motivo, os
desequilíbrios regionais acentuaram-se, as melhorias sociais propostas pouco se
efetivaram. Neste sentido, o planejamento estatal promovido estabeleceu uma
configuração elementar ao desenvolvimento das forças produtivas. As regiões
dotaram-se de “vocação” e construíram as paisagens do arranjo que se
estabeleceria finalmente.
Nesses termos deu-se a criação do novo estado. O
projeto divisionista notabilizou-se por condensar interesses econômicos e
políticos nítidos desde seus primeiros suspiros. As elites “sulistas” trataram
de articular o desmembramento, mesmo
que esse não fosse o cerne de várias ações. O planejamento “integrador” dos
governos militares acabou por dar os últimos nós e pontos na
construção/expansão/legitimação territorial do Estado-nação que se propugnava
desde outrora.
No concernente à estrutura fundiária, o espaço em
questão vai ganhando
novas roupagens.
O planejamento aplicado no Mato Grosso do Sul
apresentou suas primeiras características efetivas na década que sucede sua
promulgação. Após profundas transformações infra e superestruturais, este Estado
insere-se à estrutura econômica nacional como um dos principais representantes
da pecuária de corte e do cultivo de soja. Os capitalistas do setor são atraídos
pelas vantagens fiscais e creditícias oferecidas, intensificando as alterações
técnico-produtivas e gerando uma maior articulação com os mercados
regional/nacional e internacional, estendendo o Centro ao Oeste. Todavia, a
integração econômica do estado também o faz sentir os efeitos da crise. A crise
da década de 1980 será um desses momentos, quando os investimentos na
modernização agrícola são escassos, enquanto, contrariamente, os processos de
urbano-povoamento e industrialização são acelerados, trazendo novos contornos ao
espaço sul-mato-grossense.
No campo, há o continuísmo do latifúndio aliado a
várias formas de violência contra os posseiros, indígenas, meeiros, brasiguaios,
trabalhadores temporários, etc., que lutam por condições de sobrevivência
mediante a busca pela distribuição/conquista da terra e da renda, por uma
urbanização mais digna, entre outros.
Entretanto, ideologicamente, a concentração
fundiária no campo permanece obscurecida pelo discurso da produtividade. Neste
sentido, o agronegócio tratou de esconder suas bases de sustentação; na
contramão da dita produtividade erigem-se vastos latifúndios improdutivos,
incorporando, enclausurando e roubando terras indígenas, áreas de preservação
permanente (APP’s) e pequenas propriedades de alicerce familiar-camponês.
Portanto, ele captura a renda social do campo vertendo-a
as mãos de poucos capitalistas, amalgamando a relação entre propriedade
fundiária e capital, para especular, conseguir financiamentos, entre outros.
Avaliemos os dados.
Quadro 01: Distribuição das terras no Mato Grosso
do Sul – 1985
Grupos de Área Total
(ha) |
1985 |
Número de Estabelecimentos |
% |
Área Ocupada |
% |
Menos de 10 |
14.916 |
27,3 |
64.490 |
0,2 |
10
a
menos de 100 |
18.750 |
34,3 |
670.575 |
2,2 |
100
a
menos de 1000 |
14.674 |
26,9 |
5.406.315 |
17,4 |
1 000
a
menos de 10 000 |
5.758 |
10,6 |
15.444.610 |
49,6 |
10 000 e mais |
457 |
0,9 |
9.522.824 |
30,6 |
Total |
54.555 |
100 |
31.108.814 |
100 |
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1985. Org. ASEVEDO,
T.
Observa-se que, somando os dois primeiros grupos
de área – os de menos de 10 e de 10 a menos de 100 hectares –,
considerados como pertencentes ao rol das pequenas propriedades, teremos
representados 33.666 estabelecimentos, perfazendo 61,6% do número total de
estabelecimentos, todavia, com controle de apenas 2,4% da área total do Estado
ou 735.065
hectares.
O grupo de área 100 a menos de 1000 hectares – de
médios estabelecimentos – soma 14.674 estabelecimentos cadastrados, isto é,
26,9% do total de estabelecimentos do Estado, o que, em termos da área total
ocupada, representa 17,4%, ou 5.406.315
hectares.
Por fim, agrupando a área de 1 000 hectares a
menos de 10 000 com a de 10
000 a mais, consideradas como de grandes estabelecimentos,
teremos um montante de 6.215 estabelecimentos, que perfaz 11,5% do número total,
mas que abocanha, por outro lado, 78,4% da área total cadastrada no Estado de
Mato Grosso do Sul.
Concentração da propriedade da terra e detenção
do poder político-administrativo na mão de pequenas oligarquias se entrelaçam ao
nascimento de Mato Grosso do Sul; e o acesso a ambos pela maioria da sociedade é
evitado historicamente. As tentativas
de promover maior distribuição da renda social no campo através de projetos de
colonização ou políticas de cunho reformista foram incipientes e por vezes
tão-só intensificaram os conflitos.
Na relação indissociável e tencionada com essa
infra-estrutura se levanta toda uma configuração regulatória e coercitiva, um
arcabouço (i)material jurídico-político e ideológico-cultural (re)produtor da
organicidade societária preponderante, a superestrutura; são nesses termos que a
matriz produtiva de Mato Grosso do Sul, tendo as atividades pecuaristas e a
produção de grãos para exportação como baluartes, agora serão acompanhados pela
cana-de-açúcar, que dá seus primeiros passos rumo ao
Oeste.
UMA GEOGRAFIA ARQUITETADA PARA O AGRONEGÓCIO: ORIGEM E TERMOS DO
FORTALECIMENTO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA NO MATO GROSSO DO
SUL
Adentrando o universo da produção agroindustrial
da cana-de-açúcar, pretendemos incursionar pelas principais características que
produziram a sua expansão recente ao Centro-Oeste brasileiro, particularmente no
Mato Grosso do Sul. Por conta disso, discutiremos: 1) as alterações no modo de
produção capitalista em âmbito mundial; 2) a participação do Estado brasileiro;
3) as tramas do capital que se funde, se reestrutura e se amplia em chãos
brasileiros e; 4) os dilemas lançados aos trabalhadores e, por conseguinte, às
organizações populares.
Com as devidas ressalvas, podemos relacionar essa
expansão à criação de Mato Grosso do Sul. Algumas pistas já foram delineadas, ou
seja, a regulação do Estado no tocante às transformações técnico-produtivas no
campo, que promoveu diferentes geografias e, em certas circunstâncias,
proporcionou maior direcionamento e fluidez à acumulação de capital; a estrutura
político-administrativa emaranhada para atender os propósitos de grandes
proprietários de terras, como demonstrou Avelino Junior (2004, p. 54, 55) e; a
reestruturação geográfico-produtiva do setor, que agora busca nas áreas não
tradicionais maiores ganhos.
Mato Grosso do Sul redimensiona-se, presentemente
sob os ditames urbano-industriais, em meio a um pacto que entrelaça os traços de
uma modernidade tecnológica subvencionada e um amplo quadro de
exclusão/marginalização sócio-espacialmente
(re)produzida.
História que ainda não passou em definitivo.
Deixou marcas. E muitas delas se modificaram na forma (técnicas
e aspectos produtivos) para se manter no conteúdo (de expropriação da riqueza e
geração de passivos ambientais).
Comecemos pelo final da década de 1970, quando
surge a primeira destilaria no município de Pedro Gomes. Trata-se da
primeira destilaria de cana-de-açúcar da região Centro-Oeste, como aponta
Azevedo (2008) e Backes (2009). A origem da atividade no Mato Grosso do Sul
vincula-se ao contexto de expansão agroindustrial subsidiada pelo Estado,
principalmente nas atividades voltadas à produção/beneficiamento de grãos. No
Mato Grosso do Sul os investimentos são principalmente de capitais nordestinos,
fruto de toda uma reestruturação do setor que agora tem o estado de São Paulo
como principal representante. Além de capitais nordestinos, empresários
provenientes de São Paulo realizam investimentos, bem como verifica-se o
acréscimo de capitais locais, ou seja, de grandes proprietários de terras,
produtores de grãos e pecuaristas, que investem com o ímpeto de obter maiores
ganhos com atividades novas e potencialmente
lucrativas.
O setor canavieiro regional-nacional é deveras
impactado a partir do PROALCOOL,
agroindústrias canavieiras surgem em muitos Estados e municípios,
fruto de profundas alterações. A conjuntura político-econômica e social
regional/nacional e internacional demonstrou distintas características,
rebatendo diretamente na atuação do Estado no setor canavieiro. Apresentemos,
então, as fases do programa e da atividade e os relacionemos aos fatos
sumariamente antecipados.
O período de 1975
a
1979 corresponde à fase inicial do programa. Trata-se de um contexto em que o
setor encontra-se plenamente ancorado no Estado, que o planeja e subvenciona. O
crescimento é verificável, pois é confirmado o estabelecimento de
nove agroindústrias canavieiras no Mato Grosso do Sul. A produção, neste
período, volta-se principalmente
ao álcool anidro, que viria a ser adicionado à gasolina, pois a
mesma apresentava altos preços, resultado das sucessivas crises das corporações
petrolíferas em nível mundial.
Já no período de 1980 a 1986, etapa de afirmação do
programa, as agroindústrias confirmadas entram definitivamente em
funcionamento, acarretando um progressivo avanço da produção de álcool
hidratado. Temos, devido a isso, um contexto de fortes altas no preço do barril
do petróleo e medidas que substituíssem as importações do combustível fóssil
tornaram-se emergenciais. Em termos operativos, o PROALCOOL ficava sob
responsabilidade do Ministério da Indústria e Comércio sob vistoria da
Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL) e do
Conselho Nacional do Álcool (CNAL). O investimento ao programa era
elevado, existindo todo um aparato institucional com órgãos que planejavam o subvencionamento e abrangência das
relações de produção típicas ao setor em âmbito
nacional.
Em 1987, a produção agroindustrial
canavieira é verificada nos municípios de Pedro Gomes, Aparecida do Taboado,
Nova Andradina, Brasilândia, Rio Brilhante, Sidrolândia, Maracajú,
Naviraí. Havia
94.538
hectares de área plantada, empregando 10.850 trabalhadores
e com uma capacidade de produção diária de 1.620.000 litros de álcool
(KUDLAVICZ; MOTA; CAMACHO, 2007, p.11), figurando esse Estado no cenário da
produção de agrocombustíveis. Sobre essa expansão do setor no Centro-Oeste,
Backes atesta: “No Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso e Goiás não constavam produção de álcool antes do PROALCOOL. Já em
dezembro de 1985, estes estados eram responsáveis por 11,6% da capacidade
produtiva instalada de álcool no Brasil” (2009, p.
37-38).
O avanço do capital canavieiro pós-Proálcool é
evidente, mas encontra entraves
no
período de 1986
a 1995, acarretando estagnação. Posteriormente
a 1986, temos um momento de desregulamentação do setor em âmbito nacional, e o
Estado que até então se figurava como incentivador/interventor/planejador modera
suas ações e estabelece suas vinculações como um coadjuvante da peça encenada.
Os recursos são escassos, o cenário energético mundial contrapõe-se ao da fase
de afirmação, ou seja, o preço do barril de petróleo está baixo, em torno de
12 a 20
dólares, opondo-se a faixa de 30 e 40 dólares da primeira metade da década de
1980. Em Mato
Grosso do Sul, permanece as nove agroindústrias instaladas
anteriormente; e em alguns casos, a produção de derivados da cana-de-açúcar é
quase que cessada.
Nos dados apresentados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), com o Censo Agropecuário 1995/1996, podemos
averiguar sobre quais condições as atividades econômico-produtivas no campo de
Mato Grosso do Sul se realizavam. A concentração fundiária agrava-se em
comparação ao Censo Agropecuário 1985. Analisemos as informações.
Quadro 02: Distribuição das terras no Mato Grosso do Sul –
1995/96
Grupos de Área Total
(ha) |
1995/96 |
Número de Estabelecimentos |
% |
Área Ocupada |
% |
Menos de 10 |
9.170 |
18,6 |
39.681 |
0,1 |
10
a
menos de 100 |
17.753 |
36,1 |
637.163 |
2,1 |
100
a
menos de 1000 |
15.423 |
31,3 |
5.992.676 |
19,4 |
1 000
a
menos de 10 000 |
6.493 |
13,2 |
16.677.386 |
53,9 |
10 000 e mais |
409 |
0,8 |
7.595.866 |
24,5 |
Total |
49.423 |
100 |
30.942.722 |
100 |
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário de Mato Grosso do Sul, 1995/96.
Org. ASEVEDO, T.
Nota-se que, os grandes estabelecimentos – grupo
dos 1 000
hectares a menos de 10 000 e de 10 000 e mais – englobam
24.273,252
hectares, totalizando 78,4% da área total, com 14% do
total de estabelecimentos apenas. O grupo composto pelos médios estabelecimentos
– área superior a 100
hectares e inferiores a 1000 – representa 19,4% do total
(5.992.676
hectares), perfazendo 31,3% dos estabelecimentos
cadastrados. E o de pequenos estabelecimentos – menos de 10 hectares e de
10 a menos
de 100 – alcança uma área de 637.163 hectares, em termos
relativos: 54,7% do número total de estabelecimentos; e, em termos absolutos da
área ocupada: nada mais que 2,2% do cadastrado.
Podemos evidenciar, com base nos dados
apresentados, que a concentração fundiária está presente praticamente em todo o
estado de Mato Grosso do Sul, mesmo considerando-se as diversificações
regionais, que são significativas. Some-se a isso o caráter do uso da terra, que
nos grandes e médios estabelecimentos caracterizam-se por empregar poucos
trabalhadores, por vezes com uma pecuária extensiva pouco tecnificada e ou com
atividades agrícolas com incremento técnico-mecânico crescente e altamente
subsidiado pelo Estado.
Nos pequenos estabelecimentos (menos de 10 e
10 a menos
de 100), de acordo com o Censo 1985 havia 33.666 estabelecimentos, 61,6% do
total de estabelecimentos, o que representava 2,4% da área total cadastrada. Em
comparação ao Censo 1996, houve uma redução de 6.743 estabelecimentos (6,9%) em
termos de área, o que significou uma diminuição da ordem de 58.221 hectares, um
abatimento de 0,2% da área total cadastrada.
No rol dos médios estabelecimentos
(100 a
menos de 1000) também houve alterações: um aumento de 749 estabelecimentos
(acréscimo de 4,4%), que em termos de área representam 586.361 hectares;
uma elevação em 2% na área total cadastrada.
Também houve aumento do número de
estabelecimentos no grupo de grandes estabelecimentos (1 000 a menos de 10 000 e
10 000
a mais): são 687 a mais; um acréscimo de 2,5%. Em
termos de área, a alteração é para 1,8% “negativa” (a
menos).
Portanto, a tese de que a modernização no campo
promove a intensificação da precariedade da existência dos trabalhadores no
campo se confirma, pois são exatamente os pequenos estabelecimentos os que mais
sofrem com todas essas transformações; enquanto os médios e grandes
estabelecimentos tiveram alterações em duas frentes, como produtivos, os
integrados ao des-envolvimento,
exportadores e modernos, ou improdutivos, os conhecidos latifúndios ociosos. Há
que se mencionar que ambos apresentam caráter rentista e por vezes para-militar,
visto que se valem do Estado e de milícias armadas para se defenderem e se
reproduzirem.
A partir de 1995, especificamente no período entre
1995 a
2000, o Proálcool entra em uma fase
de redefinição, as condições mercadológicas para os derivados de cana-de-açúcar
estão cada vez mais favoráveis. Nesse entretempo, a produção e comercialização eram crescentes e
com relação à participação do Estado, neste contexto, políticas governamentais
que estimulassem e direcionassem o setor praticamente inexistem. As mobilizações
em torno do retorno da participação efetiva do Estado culminaram com a criação
do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool
(CIMA) em 1997. Já em 1998, um
forte impacto ao setor sucroalcooleiro foi promovido através da medida
provisória n°. 1.662, que dispunha que o Poder Executivo nacional elevasse em
22%, até o limite de 24%, a adição de álcool anidro à gasolina. Outra ação foi
repassar parte dos recursos tributários obtidos com a gasolina, diesel e
lubrificantes à produção de álcool combustível, o que já figurava o retorno do
Estado como incentivador/interventor/planejador do setor. Em Mato Grosso do Sul
essas medidas não são significantemente verificadas, as nove agroindústrias
existentes desde a década de 1980 continuam em
funcionamento.
Na década de 2000, o capital canavieiro se
cercará de certa “autonomia”, verificando-se um abatimento expressivo no que
antes concernia à tomada de decisão e ao planejamento por parte do Estado. A
partir de 2003, com a tecnologia flexfuel e as altas no preço do barril
do petróleo, novas perspectivas são apresentadas e, rapidamente, esses carros
popularizam-se e o álcool combustível passa a ter preferência pela maior
economia proporcionada.
O que vemos são modificações científico-tecnológicas adentrarem
intensamente o universo da produção agroindustrial canavieira no Brasil,
vinculando-se às transformações experienciadas pelo modo de produção capitalista
em âmbito mundial nas últimas duas décadas. Essa flexibilização da acumulação de
capital no terceiro-mundo promoveu certas peculiaridades, formas produtivas
híbridas, uma mescla entre as características fordista-taylorista e as formas
atuais toyotizadas. Tais alterações ocasionaram desigualdades e
antagonismos, uma densa divisão social e técnica do trabalho, acarretando
informalização e precarização dos trabalhadores, abatendo diretamente sobre as
organizações sindicais e populares. Evidenciamos, também, que ocorre
expressiva expansão para áreas que não tinham tradição no setor, “como Triângulo Mineiro, Centro-Sul-Sudoeste
de Goiás, Leste do Mato Grosso do Sul, Noroeste do Paraná, Oeste de São
Paulo” (THOMAZ JUNIOR, 2009, p. 152). Incidindo diretamente no processo,
várias fusões/aquisições na agroindústria da cana-de-açúcar em nível nacional,
outra reestruturação geográfico-produtiva do setor, encabeçada, de um lado, por
capitalistas nacionais que visam expandir seus negócios e, de outro, pela marcha
do capital transnacional que expande sua participação.
Com relação ao rearranjo do papel do Estado em
âmbito federal, destacam-se os Fundos Constitucionais de Financiamento, os
empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o
Plano Nacional de Agroenergia (PNA). Grande parte dos recursos obtidos para o
desenvolvimento do setor canavieiro no Mato Grosso do Sul provém do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): linhas de crédito
específicas e longo prazo de pagamento a juros baixos podem ser identificados,
mesmo com altas taxas de inadimplência e, consubstanciando-se a isso, a
consolidação dos lobbies. Ratificando
artimanhas e entrelaçamentos entre capital e Estado, como aponta Thomaz Junior
(2009).
Com relação ao Plano Nacional de Agroenergia, o
documento “Diretrizes de Política de Agroenergia 2006-2011” aclara os mecanismos e o
discurso presente no aparelho do Estado para o desenvolvimento da agroenergia
que, como demonstramos, sustenta-se na concentração de terra e renda, na
urbanização caótica, no enfraquecimento da proposta da soberania alimentar,
entre tantos outros. Na contramão do que se verificam no âmbito social e
ambiental, o documento diz que a expansão da matriz agroenergética “promoverá importante aumento de
investimentos, empregos, renda e desenvolvimento tecnológico e será uma
oportunidade para atender parte da crescente demanda mundial por combustíveis de
reduzido impacto ambiental” (BRASIL, 2005, p.
1).
Na esfera nacional temos também os Fundos
Constitucionais e, no concernente ao Mato Grosso do Sul, destacam-se os
incentivos obtidos junto ao Fundo Constitucional de Financiamento do
Centro-Oeste (FCO). Mato Grosso do Sul angaria 23% do volume
total de recursos disponibilizados, atestando a importância crucial do fundo na
reestruturação do setor e em sua expansão. Em 2009, esse Estado abocanhou 96
milhões de reais para os projetos de instalação, reforma e ampliação das áreas
cultivadas. Destaca-se, também em nível estadual, o programa MS - Empreendedor,
que oferece isenção de até 67% do ICMS por até 15 anos para as atividades
industriais que se instalarem ou se expandirem. Institucionalmente, na
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do
Comércio e do Turismo (SEPROTUR), podemos averiguar o amplo apoio à
agroindustrialização canavieira, seja pela formulação de diretrizes para o
setor, seja pela disponibilização de apoio financeiro, ou outras medidas. A
obtenção de incentivos/isenções/empréstimos para a modernização agrícola no Mato Grosso do
Sul é bem identificada por Mizusaki:
Os incentivos fiscais têm sido um desses mecanismos regulados pelo
Estado e apropriados pelo capital para promover o desenvolvimento do capitalismo
no campo. O ICMS estadual, por exemplo, que refere-se às leis n° 1.238/91 e n°
1.798/97, dá uma redução de até 67% desse imposto para indústrias que se
instalarem no Estado. Esse incentivo ainda vigora com a Lei Complementar n° 093,
de 05/11/2001. Com essa Lei, o Estado também oferece às indústrias isenção do
diferencial de alíquota incidente sobre máquinas e equipamentos adquiridos em
outros estados e países. Em 1996, tivemos também a Lei Kandir, isentando de ICMS
para exportação de produtos primários e semi-elaborados. Quando, em 1999, o
Ministério da Fazenda considerou a possibilidade de alterar a lei por pressão de
governadores, houve outra mobilização por parte de representantes dos produtores
rurais, agroindústrias e cooperativas do país para não terem que pagar mais esse
produto ao Estado (2005, p. 85).
Há que se mencionar os benefícios dados pelos
municípios, em Mato
Grosso do Sul os estímulos voltam-se à redução e/ou isenção
total de impostos, bem como oferecimento de infra-estrutura de escoamento,
transporte e armazenamento, doação de áreas especificas para instalação de
planta fabril e, em alguns casos, capacitação de mão-de-obra (AZEVEDO, 2008, p.
76).
A expansão é notória:
na ampliação da área plantada, no predomínio do arrendamento e na parceria, no
desenvolvimento científico-tecnológico do processo produtivo, etc., que, por sua
vez, rebatem incisivamente no mundo do trabalho, aprofundando a precarização dos
trabalhadores. Para não aludirmos à participação crescente de capitais
transnacionais, pois, como aponta Backes:
O estado do Mato Grosso do sul, se difere dos números apresentados
em relação ao Brasil, pois de 8,4 bilhões de reais investidos em cinco anos, 50%
é de capital estrangeiro. Já a produção de álcool que gira em torno de 1 trilhão
de litros de álcool, aproximadamente 90% da produção é realizada pelas usinas
estrangeiras (2009, p. 71).
Se o agronegócio demonstra estar em seu momento
de auge no Mato Grosso do Sul, na outra margem do processo, ações políticas expressivas com vistas à distribuição de
terras inexistem. A contradição existente no discurso que ressalta o caráter
produtivo que elimina a possibilidade de distribuição efetiva das terras
sul-mato-grossenses mostra-se classisticamente antagônico se observamos os dados
sobre área devoluta e improdutiva nas tabelas
01 e 02.
Tabela 01 -
Área Devoluta no Mato Grosso do Sul
TOTAL
CADASTRADO |
ÁREA
DEVOLUTA |
Área em
Hectares |
Explícita |
35.713.989,85 |
5.382.581,43 |
Fonte: INCRA/2003;
Oliveira, 2008.
Com um total de 5.382.581,43 hectares de
área devoluta explícita, algo em torno de 15,07% da área total cadastrada, Mato
Grosso do Sul tem uma das maiores quantidades de área devoluta do país. E
evidenciamos ainda que muitas dessas terras estão ocupadas indevidamente, sendo
necessária a regularização fundiária, pois são passíveis, perante a legislação,
de serem usadas para fins sociais junto ao Plano Nacional de Reforma Agrária
(PNRA). Vejamos a área improdutiva.
Tabela 02 - Imóveis e Área Improdutiva no Mato
Grosso do Sul
TOTAL |
IMPRODUTIVO |
Número de
Imóveis |
Área em
Hectares |
Número de
Imóveis |
Área em
Hectares |
73.714 |
36.106.026,50 |
3.547 |
8.545.942,20 |
Fonte: INCRA/2003;
Oliveira, 2008.
No caso da área improdutiva, os dados aclaram as
características da propriedade e uso da terra em Mato Grosso do Sul, ou seja, 4,8%
do número total de imóveis são improdutivos, isso corresponde a 23,6% da área
total cadastrada. Esses dados chocam de frente com o discurso da produtividade
do agronegócio e do fim do latifúndio, aqueles que apregoam a distribuição das
terras, argumentando que as mesmas são produtivas e integradas ao
desenvolvimento social, por conseguinte que o caráter latifundista improdutivo
haveria sido superado.
Como vimos, é sob essa estrutura que ocorre uma
expansão significativa da produção agroindustrial da cana-de-açúcar no Mato
Grosso do Sul. Nos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do
projeto “Mapeamento da cana via imagens de satélite de observação da Terra”
(CANASAT), podemos averiguar o crescimento da área total cultivada pelo setor e
a adesão crescente de municípios (de 16 na safra 2005/06 a 36 na safra
2009/10).
A crescente participação dos municípios denota
todas as benesses ao setor, mesmo com as discussões atuais sobre medidas legais
que limitem a área cultivada por município em voga no país e por vezes aprovada,
como o projeto de zoneamento agroambiental que atualmente é cercado por
acaloradas discussões. Certamente que essas regras podem incidir diretamente no
setor; no caso do zoneamento, cremos que o mesmo disciplinará o avanço da
produção, servindo por vezes para acender o setor, já a limitação da área
plantada por município não demonstra força política suficiente para
sustentar-se. Sobre as terras cultivadas por essa gramínea em Mato Grosso do Sul, os
dados demonstram que a área plantada vai de 159.806 hectares na safra
2005/06 para 425.539
hectares na safra 2009/10.
As estimativas apontam que até 2011 haverá uma
produção de 2,5 bilhões de litros de álcool e até 2015 estarão em funcionamento
28 agroindústrias. Um dos principais objetivos é a criação de um poliduto
através da parceria de Mato Grosso do Sul, Paraná e Petrobrás, para escoar a
produção desses Estados até o Porto Paranaguá no litoral paranaense, uma obra
logística única para o setor, que viabilizará o escoamento além-mar dos
agrocombustíveis.
Segundo palavras de Tereza Cristina Correa da
Costa Dias, que comanda os trabalhos na Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo (SEPROTUR): “As indústrias estão arrendando [áreas para
plantio], estão plantando, fazendo parcerias. Na parte industrial, está
assegurada a instalação de seis usinas neste ano, com possibilidade de efetivar
ainda mais duas, totalizando oito, do total de dez inicialmente previstos”
.
Toda a territorialidade necessária à expressiva
expansão recente da agroindústria sucroalcooleira está armada. Municípios
disputam as empresas oferecendo-lhes as mais variadas condições, negócios a
serem plenamente realizáveis com incentivos massivos, um complexo
redirecionamento urbano, agrário e regional, aprofundando a relação cidade-campo
que, agora, está traçada e truncada em redes as mais variadas, indo dos níveis
local/regional/nacional ao global.
PALAVRAS FINAIS
Neste trabalho foram expostos os principais
condicionantes das transformações territoriais que travessa o setor canavieiro,
partindo, em princípio, das relações mais tópicas para outras, trans ou
multiescalares desse peculiar agronegócio. Acreditamos ter dado os passos
iniciais rumo à compreensão das geografias, pretéritas e presentes, que
conformam as relações sociais postas à analise.
Vital, ao processo, foi a compreensão do papel do
Estado na ordem societal capitalista, com a exposição sobre a formação
histórico-geográfica de Mato Grosso do Sul, bem como na origem e reestruturação
do setor canavieiro em âmbito estadual.
Certamente que esse imponente amalgamento das
relações entre Estado, capital e terra não é inexorável, uma vez que nessa
processualidade relações sociais subalternas são geradas, outras
geograficidades.
Em Mato
Grosso do Sul, a
resistência é protagonizada nas ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST) e em Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR’s), alguns
vinculados à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Mato Grosso
do Sul (FETAGRI) e na Central Única dos Trabalhadores (CUT), além do Movimento
dos Atingidos por Barragens (MAB).
Esperamos que os estudos acumulados e aqui
realizados possam contribuir de alguma forma, não apenas no âmbito acadêmico,
mas também com o processo de suplantação das atuais condições impostas pelo
capital, incapaz de promover – não importa o que ideologicamente pregue – a
verdadeira equidade sócio-ambiental.
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Mestrando em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul, campus de Três Lagoas, sob orientação da Prof. Dr. Rosemeire Aparecida
de Almeida.
No Estado de Mato Grosso do Sul, conflitos violentos entre
indígenas e proprietários de terra não-indígenas agitam toda uma imprensa
classista, conformando uma situação particularmente revoltante. As mobilizações
contra os laudos antropológicos e as determinações jurídicas de demarcação de
terras para as comunidades indígenas são evidentes; nuances que permeiam essas
tensões contemporâneas remetem a um contexto não muito distante, que poderá ser
desvelado a seguir.
Através do decreto-lei nº. 31 de 11 de outubro de 1977,
propugnado pelo presidente Ernesto Geisel. Ficou estabelecida a criação do novo
estado, definitivamente, em 1° de janeiro
1979.
Sobre a construção das “identidades regionais” por parte dos
sulistas e nortistas no contexto divisionista, ver: Queiroz,
2006.
Sobre a atuação dos governos militares via Planos Nacionais de
Desenvolvimento (PND’s) e as vinculações com o Centro-Oeste, principalmente no
que diz respeito à formação, redefinição e divisão do espaço de Mato Grosso,
ver: Abreu, 2001.
O que já vinha de longa data, sendo apropriado indevidamente,
haja vista que a Cia. Matte Laranjeira na porção sul de Mato Grosso controlou
algo próximo a 1 milhão de hectares; ou então com o caso da construção da
Ferrovia Noroeste Brasil, que em seus sinuosos trilhos, além de integrar o mando
do Estado-militar e subsidiar o capital em infra-estrutura para suas mutáveis
formas de reprodução, conferiu terras a muitos capitalistas, conforme
apontado.
Há de se mencionar que esse modo capitalista de (re)produzir no
campo é densamente subsidiado pelo aparato institucional Estatal (FCO, Lei
Kandir, MS-Empreendedor, apoios
municipais), vertendo os fundos sociais públicos aos capitalistas, por
conseguinte, a sociedade civil paga sua própria ruína.
Criado em 14 de novembro de 1975
através do decreto n° 76.593, assinado pelo Presidente Ernesto Geisel, o
Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL) caracteriza-se pelos pomposos
investimentos públicos ao setor agroenergético. No início do programa, as
sucessivas crises internacionais das corporações petrolíferas suscitaram a
tomada de um direcionamento econômico-político claro por parte do Estado –
atendendo as pressões dos capitalistas nacionais e transnacionais do setor. O
programa tem continuidade ao longo de diferentes governos, recebendo maior ou
menor atenção de acordo com a conjuntura econômica vigente. Na última década,
contudo, uma atenção especial é dada a esse setor: a propaganda internacional
realizada pelo governo brasileiro, a implantação de corporações transnacionais
automobilísticas, agroquímicas, etc. no país, fazem com que o programa
estabeleça redes de relações e parcerias, aumentando as benesses ao setor.
Situações que tem elevado o país ao posto de principal produtor e negociador de
agroenergia no mundo. Mais sobre o Proálcool ver: Bray; Ferreira; Ruas, 2000.
Sobre a atuação do PROALCOOL e sua vinculação com a agroindústria canavieira
em Mato
Grosso do Sul, ver: Backes, 2009.
Mais sobre a temática da militarização da
questão agrária em Mato
Grosso do Sul e do Estado parceiro nessa processualidade, ver:
Avelino Junior, 2004.
Esse fundo foi criado a partir da Constituição de 1988 com a lei
7.827/89, sendo gerenciado pelo Banco do Brasil. Apesar de ter outras linhas de
crédito, notabiliza-se por realizar investimentos no Centro-Oeste com vistas ao
desenvolvimento econômico-produtivo. No campo, é caracterizado por ter seus
investimentos pautados na modernização capitalista da agricultura e pecuária.
Mais sobre o assunto, ver: Mizusaki, 2005.
O Capitulo II, Artigo 20, Parágrafo II, da Constituição da
República de 1988 declara que são bens da União, “as terras devolutas indispensáveis à defesa
das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de
comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei”. E de acordo com o
Art. 188: “A destinação de terras
públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano
nacional de reforma agrária”.
Agroindústria da cana continua em expansão,
mesmo com crise internacional – Disponível em: http://www.aparecidadotaboado.ms.gov.br/exibe.php?id=61691 (acesso em 28/06/2009)
Ponencia presentada en el XIII Encuentro Internacional
Humboldt. Dourados, MS, Brasil - 26 al 30 de setiembre de
2011.