ESPAÇO URBANO, CIDADE E TRANSPORTE:
O ESTUDO DE CASO DOS FLUXOS EM TRÊS LAGOAS/MS
Juliana dos Santos Silva
Amanda Ricci de Moraes*
Leandro Otávio da Silva*
RESUMO
No
ultimo decênio a cidade de Três Lagoas, assimila uma reconfiguração territorial
em virtude da industrialização. Processo que redefiniu sua forma e função intra
e inter urbana, sendo assim seus elementos urbanos foram
alterados/refuncionalizados com a dinâmica fabril, colocando em xeque o papel
dos fluxos na organização do território. Dentro da ampla perspectiva de
disposição territorial dos fluxos, neste ensaio salienta-se a importância das
principais vias de escoamento, de mercadorias e veículos, inseridas na malha
urbana densa e tecnificada pelo movimento industrial.
Palavras chave: Cidade, Território, Transporte e Fluxos.
URBAN SPACE, CITY AND TRANSPORT: THE
CASE STUDY OF FLOWS IN TRÊS LAGOAS /
MS
ABSTRACT
In the last decade the city of
Três Lagoas, assimilates a territorial
reconfiguration due to industrialization. Process that has
redefined its form and function within and between urban and
thus their urban elements have been
changed / refuncionalized the dynamic manufacturing,
putting into question the role of flows in the
organization of the territory. Within the broad
perspective of provision of local streams, this paper
emphasizes the importance of the main outlets, goods
and vehicles, embedded in dense urban fabric and
technified the industrial movement.
Key-Words: City, Territory, Transport and Flows.
INTRODUÇÃO
Este trabalho é fruto da pesquisa intitulada “Os
fluxos e a Geografia dos Transportes no arranjo territorial em Três Lagoas-MS”,
realizada pelo Grupo PET-Geografia, durante o ano de 2010 e extendida ao ano de
2011 e inserido no macro projeto financiado pela FUNDECT/MS “Industrialização e
a dinâmica territorial de Três Lagoas, no período de 1998 a 2008” que possui em
seu cerne compreender as novas territorialidades definidas pela indústria na
cidade.
O recorte territorial analisado encontra-se na
região leste de Mato Grosso do Sul, o município de Três Lagoas (Figura 01)
altera sua base agropecuária para industrial, concebendo uma reconfiguração
territorial do tecido urbano (SILVA & LEMES,
2010a).

Figura 1: Localização de Três Lagoas em Mato Grosso do
Sul
Devido à expansão da malha urbana analisada, nos
últimos dez anos, simultaneamente ao processo de industrialização, os fluxos e
os transportes se intensificaram, desempenhando papéis e importâncias
significativas na urbe promovendo uma reconfiguração territorial intensa em
todos os aspectos.
A MALHA URBANA: FLUXOS E A RODÓPOLIS
Considerando a localização estratégica de Três
Lagoas no território brasileiro, uma vez que dispõe de fontes de energia e faz
fronteira com a região Sudeste - estado de São Paulo -, entre outros adendos, a
cidade concentra atrativos promotores de um crescimento econômico e que instiga
na malha urbana múltiplas formas e funções um “ambiente de circulação”
(VASCONCELLOS, 2001). O qual se engloba o sistema de transportes, baseado em
fixos e fluxos, que atende as necessidades da capitalização e à contrapartida
gera problemas nos setores sociais.
O desenvolvimento urbano ocorre em função de um amplo conjunto de
fatores econômicos, sociais, políticos e culturais, assim como e função das
ações concretas adotadas pelo Estado, pelo setor privado, pelos indivíduos e
pela sociedade organizada. Cada cidade tem uma história [...] (VASCONCELLOS,
1996, p. 49).
Cada
cidade se desenvolverá de acordo com seus (re)fazimentos socio-temporais. Três
Lagoas em seu processo de crescimento ligado as indústrias, constitui uma
importante correlação entre fixos e fluxos, os quais têm fundamental articulação
com os territórios do consumo/produção, uma vez que é dessa relação que se tem a
base para o “ambiente de circulação” (VASCONCELLOS, 1996). Ademais,
“o “ambiente construído” é um amplo sistema de recursos criados e
recriados pelo homem no/do território urbano, compreendendo valores de uso
encrustados no meio físico/social e que podem ser utilizados para produção,
troca, consumo e circulação (VASCONCELLOS, 2001).
Entende-se, a cidade seria um ambiente construído de estruturas
físicas destinadas a amparar o crescimento, sendo um ambiente não estático e que
estariam sujeitos processos de construção e destruição, paralelos a processos
econômicos intricados (FIRKOWSKI & SPOSITO, 2008). Eduardo Vasconcellos
(2001) aventa sobre o ambiente de circulação seria composto por: uma estrutura
de circulação (vias, calçadas), meios de circulação (veículos), os quais
formariam um sistema de circulação, e este sistema ligado as atividades, e essas
construções integrarão a cidade (ambiente construído) e este seria o ambiente de
circulação.
A estrutura de circulação é a parte do ambiente construído que
permite a circulação física de pessoas e mercadorias [...] A estrutura de
circulação é o suporte físico da circulação propriamente dita, seja a pé ou por
meio de veículos (bicicletas, automóveis, ônibus, trens) que são chamados meios
de circulação. A combinação entre a estrutura e os meios de circulação constitui
o sistema de circulação. A circulação liga fisicamente todas as atividades e
ocorre dentro do ambiente físico no qual estas atividades se processam: a
combinação entre o sistema de circulação e o ambiente construído constitui o
ambiente de circulação (VASCONCELLOS, 2001, p. 34. grifo do
autor).
E em Três Lagoas, o sistema de circulação se remodela para adequar às
exigências do capital industrial que fomenta no espaço urbano as articulações e
fragmentações pujantes na totalidade do processo de industrialização. O espaço
segundo SANTOS (1988) é a totalidade verdadeira. Ele surge da aliança entre
configuração territorial, paisagem e a sociedade.
São
de proeminência também na constituição do espaço, mais ainda no estudo da
relação capital e transporte os chamados fixos e fluxos.
[...] as obras criadas pelo homem e fixadas ao solo, os fixos, e o movimento de
pessoas, bens e idéias, os fluxos, são os aspectos mais importantes da
organização espacial (CORREA, 1993, p. 20).
A essas estruturas “fixas ao solo” e a mobilidade de indivíduos, Santos
(1988) acrescenta também a massa humana, como fixos, pois as massas seriam uma
força de produção:
Os fixos são os próprios instrumentos de trabalho e as
forças produtivas em geral, incluindo a massa dos homens [...] Os fluxos são o
movimento, a circulação e assim eles nos dão, também, a explicação dos fenômenos
da distribuição e do consumo. Desse modo, as categorias clássicas, isto é, a
produção propriamente dita, a circulação, a distribuição e o consumo, podem ser
estudados através desses dois elementos: fixos e fluxos (SANTOS, 1988, p. 77).
Fluxos se relacionam com os tipos de fixos semelhantes. Cada tipo de
fixo surge com seus atributos próprios, sendo técnicos e a nível organizacional.
Dessa relação de fixos e fluxos é que é formado o espaço/território (SANTOS,
1988).
A
constituição de vias para o trânsito, bem como toda a sua infraestrutura está
engendrada graças a um conjunto de fixos, uma vez que um conjunto de fixos sendo
eles naturais e sociais concebe um sistema de engenharia. “Este se define como
um conjunto de instrumentos de trabalho agregados à natureza [...]” (SANTOS,
1988, p. 79). O transporte – fluxos – é uma decorrência da demanda dos fixos
(sistema de engenharia), e concebe mobilidade a urbe.
Com
crescimento gerado pela industrialização podem-se notar mudanças nos fluxos do
transporte, em relação à sociedade, bem como nos papéis desempenhados, “A cidade
passou a ser o habitat dos veículos e não das pessoas” (VASCONCELLOS, 2001, p.
192). E ainda: “O espaço é, também e sempre, formado de fixos e de fluxos. Nós temos
coisas fixas, fluxos que se originam dessas coisas fixas, fluxos que chegam a
essas coisas fixas. Tudo isso, junto, é o espaço” (SANTOS, 1988, p.
77).
O trânsito seria
então como uma disputa territorial, território de circulação e que segundo
Vasconcellos (1996) seria o espaço de conflitos, cujos papéis seriam dinâmicos,
e só teriam a aumentar com a renda, as quais seriam demandas contraditórias e
seria praticamente impossível atender todas elas.
A fluidez mais
lenta em certos horários, em consenso com Vasconcellos (2001), mostraria que o
espaço urbano foi sendo gerado de forma descontrolada, o que resultou em
determinados conflitos de trânsito.
Conflitos que de acordo com Vasconcellos
(2001), se desenvolvem entre motoristas que desejam mais velocidade e pedestres
que querem mais segurança, por serem os seres mais frágeis no trânsito. Este
tipo de conflito ocorre mais em cruzamentos, esquinas. Conflito entre morador,
que deseja maior qualidade de vida, menos barulho e motorista que quer mais
velocidade, pois em momentos de maior fluxo muitos motoristas seguem por vias
alternativas, “incomodando” locais calmos.
Outros tipos de
conflitos citado por Vasconcellos (2001), que acontecem são entre lojistas, que
precisam de acessibilidade em suas lojas, como locais de carga/descarga, cliente
que precisa de acesso (estacionamentos) e motorista, mais velocidade. Por
último, o conflito entre passageiros de ônibus, que buscam ter espaços
reservados nas vias para uma melhor velocidade dos ônibus, motoristas, melhor
velocidades e neste caso entra também o conflito com caminhões e carretas. Este
tipo de conflito por ser triplo, e com possibilidade de incidência em sistemas
de circulação mal planejados, acarreta perda da fluidez, e uma maior
probabilidade de risco de acidentes.
Além de ser um território com grande movimentação de veículos, também
possui ampla concentração de pedestres, pois sendo uma um espaço que se emprega
muitas atividades, justamente por fatores econômicos, os pedestres ficam
desfavorecidos e inseguros, uma vez que “Em áreas de grande concentração de
atividades, a fluidez do tráfego de pedestres pode ser um problema”
(VASCONCELLOS, 2001, p. 143).
A cidade que tem o crescimento da sua malha urbana baseada em padrões
rodoviários, ou seja, seu crescimento orientado por vias, estradas, avenidas,
concebe-se o nome rodópolis (VASCONCELLOS, 2001). Portanto a mesma seria
substrato da relação fixos/fluxos, o qual orientaria para onde a malha urbana
deveria se expandir, uma vez que o sistema vigente visa à acumulação de
capitais, e os fixos são forças produtivas, locais de produção, e os fluxos
dariam a mobilidade para ocorrer essa produção (SANTOS,
1988).
TERRITÓRIO URBANO, EQUIDADE SOCIAL E
FLUXOS
Devido tais transformações ocorridas no último decênio em virtude da
industrialização, concomitante/indissociável, o processo de urbanização que
potencializa o refazimento das atividades eminentemente urbanas.
Simultâneo a esse refazimento da cidade despontam fatores de
crescimento industrial econômico, urbano encontrados no território, causados
pela isenção fiscal fornecido pelo Estado, este último atua também na
(re)organização espacial da cidade
(CÔRREA, 1993). Há concentração e circulação de pessoas, um aumentando do fluxo
migratório e de mercadoria no intenso fazer e (re)fazer territorial onde os
fluxos são peças chave no entendimento desses novos
arranjos.
Concatenada a expansão da malha urbana, a produção territorial é a
conjunção de fatores condicionantes de dinamicidade e fluidez do e no espaço
urbano. Neste prisma, as redes e os arranjos hodiernos constituíram-se de
sistemas interdependentes endógenos e exógenos a urbe. Entretanto, o transporte
no que tange ao ordenamento do território exerce papel elementar, tendo em vista
seu caráter ubíquo na (re)produção
territorial. Este último substrato da diacronia social, da compilação de
elementos, funções, formas e ideologias são justapostas e se interpolam
sedimentada nas disparidades sociais (SILVA & LEMES, 2010b, p.
5).
Corroborando, os fluxos passam ter uma funcionalidade ubíqua na
concentração e dispersão das atividades que se desdobram na cidade. A fim de
elucidar melhor o contexto, entende-se que isso ocorre devido aos [...] fatores
de concentração são, o tamanho das empresas, a indivisibilidade das inversões e
as “economias” e externalidades urbanas e de aglomeração necessárias para
implantá-las [...] em uns poucos pontos privilegiados do espaço (SANTOS, 2008,
p.45,).
Diante destes processos, a urbe constitui em seu amálgama fator
atrativo, estando relacionada à condição por maiores oportunidades de vida. E o
fluxos, bem como as vias de acesso e escoamento, possibilita maior circulação de
pessoas e mercadorias, visto que este “deve ser considerado como uma parte
integrante do processo de produção porque uma mercadoria pode ser considerada
sem utilidade quando ela não atinge seu lugar de consumo” (ESTALL-BUCHANAN, 1973
apud FIRSKOWSK I & SPOSITO, 2008, p. 115).
O
transporte então possibilita interrelações entre os lugares, inteirando a cidade
e/ou região, conectando os fixos, e, por conseguinte, suas produções. Ampliando
e permitindo a circulação de mercadorias. Sendo desnecessário quando não alcança
o seu objeto final.
Todavia, é no contexto da cidade é que se realizam os movimentos como
um imenso quebra-cabeças articulado, fragmentado e desproporcional (ROLNIK,
2004). O seu espaço urbano:
[...] é simultaneamente fragmentado e articulado; cada uma de suas
partes mantém relações espaciais com as demais, ainda que de intensidades muito
variável. Estas manifestam-se empiricamente através de fluxos de veículos e de
pessoas associados as operações de cargas e descargas de mercadorias (CORRÊA,
1993, p.7).
A
cidade concentra maior número de pessoas, veículos, comércio, todavia não é
proporcionalmente igual. As residências estão distantes do local de trabalho e
muitos provém das periferias “pobre”. É na cidade que se
concentram a maior parte da população, os investimentos de capital, atividades e
os conflitos sociais, e onde as diversas classes sociais vivem e se reproduzem
(CORRÊA, 1993).
Nesta
acepção e no que tange a questão dos transportes, estes também se dão
desproporcionalmente no território urbano. Nesse sentido, a vida cotidiana se
estabelece em fragmentos, ou seja, no trabalho, no transporte, na vida privada,
no lazer, dentre outras possibilidades.
As
articulações que os citadinos engendram no território urbano realizando
atividades cotidianas são efetivadas, muitas vezes, por algum meio de transporte
que permite esta prática, onde por si só, esses indivíduos constituem a cidade.
Sendo assim:
[...] a necessidade de circular está ligada ao desejo de realização
das atividades sociais, culturais, políticas e econômicas consideradas
necessárias na sociedade. Adicionalmente, a circulação está ligada aos fatores
individuais de mobilidade e acessibilidade (VASCONCELLOS, 2005,
p.23).
As
vias dão continuidade ao tecido urbano, são elas que fazem a distribuição
mobilizando economia e circulação de pessoas (SANTOS, 2008) e os transportes
movimentam esses deslocamentos.
Contudo, faz-se necessário um (re)ordenamento territorial para que
possa ser mais igualitário no que concerne aos fluxos. Que não seja alarmante o
fato de haver dois pontos distintos no mesmo território. De tal modo “[...] o
ordenamento supõe a existência de um “projeto social” que comporta os objetos
coletivos, o que implica na busca de um equilíbrio entre os imperativos
econômicos e as necessidades sociais” (FIRKOWSKI & SPÓSITO, 2008, p.
79).
Promovendo um espaço inerente e imparcial, que em meio suas pechas
planifiquem território mais equável. Pois em meios a esses nuances, o
território, muitas vezes não suporta os problemas como entroncamentos,
congestionamentos, etc. fatores, estes, que impedem a articulação dos fixos e os
fluxos na malha urbana.
Assim, de acordo com Santos (2008, p.80) “[...] os transportes fazem
com que, de um lado, as cidades percam seu isolamento e, de outro, facilitem as
trocas com a região, o conjunto do país e mesmo o estrangeiro”. Sem a integração
dos pontos não há economia e a cidade torna-se estagnada.
A FUNÇÃO DOS FLUXOS EM TRÊS LAGOAS: UMA APROXIMAÇÃO
Como
ora exposto, o fluxos variam conforme a expansão da tessitura urbana,
em Três
Lagoas devido à industrialização, o fluxo tornou-se intenso e
as vias constituem nós que impedem a circulação. Com isso, há uma alteração na
dinâmica territorial urbana com a maior concentração de veículos e pessoas e
mercadorias, e o transporte um elemento importante influenciando na fluidez e
acessibilidade na cidade.
Dados
do Departamento de Transporte (DEPTRAN) mostra que nos últimos 3 anos morreram
em decorrência de acidentes de trânsito aproximadamente 17 pessoas e 2521
ficaram feridas, vale frisar que esses dados não consideram as pessoas que
vieram a óbito após atendimento médico. Sendo o carro e a moto os meios de
transportes mais envolvidos em acidentes, pois ao longo desse período de 2011, o
número de carros envolvidos em acidentes aumentou, já o de motos teve uma leve
queda em 2009 e aumentou em 2010, como mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1: Veículos envolvidos em
acidentes de trânsito (2008 – 2010)
Fonte: Polícia Militar de Três Lagoas,
2010.
Para
coleta de dados e o posterior aperfeiçoamento dos dados obtidos no ano anterior
(2010), fez-se saídas de campo e aplicou-se um questionário para amostragem de percentual mínima de usuários (1%) de cada via, sendo a
pesquisa realizada no total de 8 vias: Av. Antonio
Trajano, Av. Capitão Olinto Mancini, Av. Clodoaldo Garcia, Av. Filinto Müller, Av.
Ranulpho Marques, Av. Rosário Congro, Rua Paranaíba e Rua Egídio Thomé levando
em consideração, intensidade do fluxo, horário de concentração, tipo de meio de
transporte utilizado.
Dos
entrevistados, 64% são naturais de Três Lagoas, o transporte mais utilizado é o
carro, seguido por moto e bicicleta, usa-se mais para o trabalho, e no período
matutino e vespertino. Quando perguntado o horário de maior fluxo nas vias, a
maioria considera o horário de almoço (11h – 12h) e no fim da tarde (17h –
18h).
Quanto à frequência de acidentes, o nível baixo foi o mais citado,
seguido por médio e alto respectivamente. A respeito do tipo de transporte
frequente nas vias, com exceção da Av. Ranulpho Marques, onde foi citado o
transporte de carga devido a sua localização com acesso às rodovias e nos eixos
de escoamento da produção industrial.
Quando comparado os dados do questionário com os dados do
Departamento de Transporte (DEPTRAN) e da Polícia Militar, percebe-se que os
veículos com maior incidência em acidentes de trânsito são os carros e as motos,
os mesmos tipos de veículos mencionados como mais utilizados e freqüentes nas
vias pelos usuários. Apenas em 2010 o carro e a moto são os automóveis mais
envolvidos em acidentes representando 77% do total de veículos (Gráfico
2).

Gráfico 02: Veículos envolvidos em
acidentes de trânsito (2010)
Fonte: Polícia Militar de Três Lagoas,
2010.
O
nível de acidentes foi considerado baixo pela maioria dos usuários, mas
calculando a média da quantidade de boletins de ocorrências no ano de 2010 das
principais vias, verifica-se que ocorreram aproximadamente 14 acidentes por
semana. Conforme o Gráfico 03, as avenidas Filinto Müller, Clodoaldo Garcia e
Capitão Olinto Mancini apresentaram os maiores índices de acidentes, pois devido
o comércio há um grande número de carros circulando nessas
vias.

Gráfico
03: Boletins de ocorrência nas principais vias (2010)
Fonte: Departamento de Transporte (DEPTRAN).
Ao
aludir-se sobre a questão do trânsito urbano, ainda na disposição das vias e os
fluxos intra-urbanos, a linha férrea atua como um elemento obstante no momento
em que impossibilita o fluxo de pessoas e mercadorias de uma porção territorial
à outra, diga-se de passagem, que a ferrovia divide a cidade em norte-sul
(entroncamento da Av. Rosário Congro com a Rua João Dantas Filgueiras). Neste
ínterim, toda a faixa territorial que é reflexo da dinâmica ferroviária, uma vez
força motriz da economia três-lagoense, enquadra-se como uma nodosidade urbana,
um entrave à fluidez intra-citadina-industrial (Figura 2 e
3).

Figura 2: Cruzamento vias (Rosário Congro) Figura 3: Av. Rosário
Congro
Fonte: SILVA, C. H. R., 2010.
Fonte: SILVA, C. H. R.,
2010.
Há
maior incidências de trânsito em 3 vias principais, na Av. Filinto Müller, Av.
Clodoaldo Garcia e Av. Capitão Olinto Mancini respectivamente. Seguindo a Rua
Egídio Thomé, Av. Antonio Trajano, Av. Rosário Congro e a Rua Paranaíba (Figura 5) tem um
número médio de acidentes. Já na Av. Ranulpho Marques Leal (Figura 4) o índice é
baixo, assim sendo a via que tem menor incidência de acidentes de trânsito em
2010 (Figura 6).
Figura 4: Av. Ranulpho Marques Leal
Figura 5: Rua
Paranaíba
Fonte: SILVA, L. O. de, 2011.
Fonte: MORAES, A. R., 2011.

Figura 6: Acidentes de
trânsito: principais vias (2010)
Ao
analisarmos o Gráfico 04, percebe-se que no decorrer dos 3 anos estudados no
período matutino a incidência de acidentes de trânsito fica crescente, enquanto
nos outros horários houve uma leve queda em 2009 e um aumento em 2010. Sendo o
horário de almoço (10h ás 14h) o que obteve o maior aumento de acidentes. Os
usuários entrevistados consideraram o horário de maior fluxo nas vias, almoço
(11h – 12h) e no fim da tarde (17h – 18h), mesmo no gráfico esse horário tenha
sido representado por um maior intervalo de tempo, percebe-se que é o período
com maior incidência de trânsito.

Gráfico 04: Incidência de acidentes no trânsito (2008 -
2010)
Fonte: Polícia Militar de
três Lagoas, 2010.
Diante dos dados analisados (2008-2010) na pesquisa é possivel
afirmar que aproximadamente 1787 acidentes em 2010 ocorreram em todas as vias de
Três Lagoas, quando analisado pela perspectiva das regiões norte e sul da
cidade, sendo 74% dos acidentes na região Norte, 25% na região Sul e 1% não foi
informado ou não foi identificado. Uma vez que no ano em questão se verifica o
àpice do movimento industrial e seus respectivos rebatimentos na malha urbana e
é valido afirmar devido a localização das principais vias serem na região Norte,
se obtém essa grande diferença de incidência de acidentes no transito (Figura
7).

Figura 7: Acidentes de trânsito: Porção norte/sul de Três Lagoas/MS
(2010)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
apreensão do conjunto de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que
configuram os territórios, e posteriormente delineiam as territorialidades é de
extrema importância na compreensão do organismo urbano. Desse modo os fluxos na
sociedade urbana industrial exercem a função de liames entre o desconecto e
estão intrinsecamente ligados à dinâmica territorial, seja fluída ou não. A circulação precisa de uma estrutura
para o suporte dos meios de condução (a pé ou por veículos), havendo uma
combinação entre – os fixos e fluxos – conectando todas as atividades ocorrem nas escalas inter e
intra-urbanas.
A
indústria (re)fez os balizamentos territoriais em Três Lagoas e os fluxos, como
anteriormente dito, conectam territórios promovendo a mobilidade/fluidez
urbana-industrial, contudo o crescimento célere da industrialização na urbe
implicou um maior tráfego nas vias e uma adaptação assincrônica das atividades
produtivas e as estruturas já estabelecidas no território em outros momentos da
evolução geo-histórica do município.
Em Três
Lagoas, a população utiliza mais o carro particular e com destino ao
trabalho – classe média - e como os distritos industriais se localizam em
regiões periféricas, longe do centro e da moradia dos trabalhadores, são nos
horários de picos que há maior circulação por meio de coletivos, e os
entroncamentos se apresentam como imensos nós urbanos, uma vez que o fluxo de
grande caminhões de carga e descarga da produção industrial utilizam as mesmas
via de escoamento rápido influenciando, portanto, na fragmentação/articulação
dos territórios na cidade e logo na incidência dos acidentes de
trânsito.
O
desafio posto é como o as políticas públicas de gestão territorial irão
direcionar os elementos urbanos de modo que a (re)produção do território e sua
fluidez sejam equitativas para a vida urbana e não grandes imbróglios inseridos
na urbe.
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