Modernização da Agricultura no Brasil:
Da diferenciação regional à
especialização

Luiz Fernando Mazzini Fontoura
Resumo: Este trabalho propõe uma reflexão sobre o desenvolvimento
das relações capitalistas e suas consequências nas relações sociais no campo e
na cidade, diferenciando as regiões e suas especializações. A modernização da
agricultura é um processo que eleva o número de postos de trabalho assalariado
no campo e na cidade, envolvendo uma cadeia produtiva que aproxima o meio rural
e o urbano, transformando com o passar do tempo, as relações sociais.
Entretanto, o processo de industrialização e a criação de uma sociedade urbana
provocam uma grande diferenciação regional, e se desenvolve de maneira desigual,
promovendo desigualdades em seus diferentes estágios de
transformação.
Palavras-chave: agricultura – modernização –
região
Resumen: Este
trabajo propone una reflexión sobre el desarrollo de las relaciones capitalistas
y su impacto en las relaciones sociales en el campo y en la ciudad,
diferenciando las regiones y sus especialidades. La modernización de la
agricultura es un proceso que eleva el número de trabajadores empleados en el
campo y en la ciudad, que implican una cadena que se aproxima la transformación
rural y urbana, con el tiempo, las relaciones sociales. Sin embargo, el proceso
de la industrialización y la creación de una sociedad urbana provocan una gran
diferenciación regional y desarrolla desigualmente, promoviendo la desigualdad
en sus distintas etapas de procesamiento.
Palabras-clave: agricultura – modernización -
región
Abstract: This work proposes a reflection on the
development of capitalist relations and their impact on social relations in the
field and in the city, differentiating regions and their specializations. The
modernization of agriculture is a process that raises the number of employees in
the field and in the city, involving a chain that approximates the rural and
urban, turning over time, social relations. However, the process of
industrialization and the creation of an urban society cause a large regional
differentiation, and develop unevenly, promoting inequality in their different
stages of processing.
Keyword: agriculture – modernization – region
Quando se trata do tema modernização da
agricultura, muitas vezes o fator racionalidade empresarial capitalista fica
obscurecido em virtude de uma análise da estrutura fundiária, que no caso
brasileiro é extremamente concentrada. LENIN (1980, 20) chama atenção para que
os dados relativos à superfície estão longe de explicar “a grandeza efetiva da
exploração e seu caráter capitalista”. A presença do trabalho assalariado
permite avaliar com mais qualidade a presença de tais relações, e mesmo nas
pequenas explorações agrícolas podem também
ocorrer.
Assim, a modernização da agricultura é um
processo que eleva o número de postos de trabalho assalariado no campo e na
cidade, envolvendo uma cadeia produtiva que aproxima o meio rural e o urbano,
transformando com o passar do tempo, as relações sociais. Entretanto, o processo
de industrialização e a criação de uma sociedade urbana provocam uma grande
diferenciação regional, e se desenvolve de maneira desigual, promovendo
desigualdades em seus diferentes estágios de
transformação.
Este trabalho propõe uma reflexão sobre o
desenvolvimento das relações capitalistas e suas consequências nas relações
sociais no campo e na cidade, diferenciando as regiões e suas
especializações.
A modernidade
A sociedade moderna se move em torno de ideias
centrais tais como a mobilidade, a descontinuidade, o cientificismo, o
esteticismo e a predominância da representação sobre o real, segundo LEFEBVRE
(1969,4). A primeira traz a ideia de que tudo está em movimento e
em mutação.
Daí a mobilidade técnica, quando os avanços que se davam em um
espaço de décadas, passam a ser medidos quase que diariamente, levando à
inevitável especialização. A mobilidade também é social, pois muda a posição
recíproca entre as pessoas, independente do juízo de valor que se faça, são
mudanças, morais e ideológicas importantes. A base da mobilidade é a
descontinuidade, contrária a antiga ideia de que tudo era um continuum,
admitindo-se desde já, que a natureza procede aos saltos. A descontinuidade
também assinala a passagem do procedimento sintético para o analítico, de
dividir, fracionar em
partes. Outro traço da modernidade é o cientificismo, da
ciência identificada como o verdadeiro, a verdade é única e incontrovertível, a
fetichização da ciência. O esteticismo, outra marca, tenta fazer o casamento da
arte com a indústria, do moderno desenho industrial à arte da publicidade. É o
fechamento entre a mobilidade, a descontinuidade e o cientificismo. Ou seja,
todos os recantos da vida cotidiana são alcançados. Por fim, completando o que
até aqui foi tratado, cria-se a cultura da representação, ou seja, confunde-se o
personagem com o ator, este com o produto, a representação pelo
real.
Já para a sociologia alemã do final do século XIX
e do começo do século XX, do qual deriva o sentido atual do termo, “a
modernidade contrapõem-se à ordem tradicional, implicando a progressiva
racionalização e diferenciação econômica e administrativa do mundo social”
(TEIXEIRA COELHO, 1995, 20), que vão resultar na formação do Estado moderno
capitalista-industrial.
Também para BOBBIO (1992,768) “Entende-se por
Modernização aquele conjunto de mudanças operadas nas esferas política,
econômica e social que têm caracterizado os dois últimos séculos”. O autor vai
mais adiante relacionando o processo global à chamada “europeização” ou
“ocidentalização”, como um termo mais abrangente. A Modernização, por isso, é
mais que um processo de “difusão de instituições, valores e técnicas européias,
mas um processo aberto e contínuo de interação entre várias instituições,
culturas e técnicas, surgindo com isto, diferenciadas formas políticas, sociais
e econômicas”. Já a modernização econômica é o resultado de uma economia mais
racional e eficiente, racionalidade esta, que é a “correspondência dos meios
usados em relação aos fins que se pretendem atingir”, presente em Max Weber. Isto
conduz a uma sociedade mais industrializada, o que eleva indicadores como
produto interno bruto, renda per capita, número de assalariados entre outros,
como por exemplo, àqueles que se referem à qualificação para o
trabalho.
A sociedade industrial desenvolveu e desenvolve, através do conhecimento
científico, uma capacidade maior de intervenção e artificialização sobre a
Natureza, marcada pela racionalidade, que passam efetivamente a fazer parte da
cultura ocidental que se expande para o mundo. A ciência, como coloca LADRIÈRE
(1979,25): “pode ser considerada como a soma atual dos conhecimentos
científicos, como uma atividade de pesquisa ou ainda um método de aquisição do
saber. O aspecto sob o qual ela se manifesta de modo mais surpreendente, em
nossos dias, é seu caráter cada vez mais organizado socialmente”.
A tecnologia por seu turno, na sociedade contemporânea, mantém uma
relação estreita com a ciência, e juntas vão assumindo uma influência decisiva
em tudo o que constitui a vida moderna. Portanto, a influência de ambas sobre as
transformações no campo comportamental e da cultura, não pode mais ser
ignoradas.
A modernização na atividade agrícola representa um domínio da ciência e
da tecnologia sobre a natureza, ou seja, sobre como produzir e o que produzir,
bem como sobre o aumento desta produção, ou a produtividade. Mas não é apenas a
elevação da base técnica e seus índices em que se resume o fenômeno da
modernização no campo. Primeiro, que representa uma transformação nas relações
sociais de produção, tanto no sentido dado por Marx, das relações travadas entre
os homens independentes da sua vontade, correspondente ao estágio de
desenvolvimento das forças produtivas (BOTTOMORE,1988,157); ou o sentido dado
por WEBER (1992,419) que corresponde a probabilidade de uma forma de
comportamento social, ou de um agir social, numa forma impecável. Segundo, que
no campo, estas relações que representam aquilo que até agora estamos definindo
como moderno ocorre como resultado da expansão de tais relações da cidade para o
campo.
A modernização tal como estamos nos referindo, parte dos centros urbanos
para o campo, mudando a racionalidade dos atores do campo, que muitas vezes não
é acompanhada pelos moradores das sedes (cidades) mais próximas.
Com a mundialização do capital, como preferem alguns (franceses
principalmente), ou a globalização, como preferem outros (norte-americanos), a
artificialização e a fronteira da produção mudam a relação entre as cidades e a
cidade e o campo. O novo e o velho (redefinido, maquiado) se misturam definindo
uma forma de consumo simbólica para estratos de consumidores urbanos
diferenciados e definidos.
O avanço para o campo e a nova relação
cidade-campo
O desenvolvimento do capitalismo no campo foi tema de grande e intensiva
discussão. ABRAMOVAY (1992) se propõe a discutir o que chamou de paradigmas do
capitalismo agrário. A partir de uma questão fundamental, ou seja, em todos os
países onde o capitalismo se desenvolveu a empresa familiar rural foi o núcleo
básico para a modernização do campo, o autor retoma as teorias de Lênin, Kautsky
e Chayanov.
Em Lênin o enfoque principal era a diferenciação social do campesinato, o
que possibilitava a separação entre camponeses ricos e pobres, e com isto, uma
base na sociedade rural em que poderia se desenvolver o capitalismo na Rússia,
sobre a heterogeneidade social do mundo rural.
O argumento em Kautsky leva em consideração o
estreitamento das relações entre a indústria e a agricultura, baseado na
impossibilidade de o pequeno estabelecimento agrícola incorporar técnicas que só
os grandes teriam condições. Aliás, entendia que “quanto mais o capitalismo
progredisse na agricultura, mais se acentuaria a diferença qualitativa entre a
técnica da grande e da pequena exploração” (KAUTSKY, 1980,112). Mais adiante
(1980,168), revela que a natureza do solo, os progressos da introdução do vapor
ou eletricidade como forças motrizes, as estradas de ferro, devem alargar a
incorporação de novas técnicas. Entretanto, o contrário, deve estreitá-la. Em
muitas situações, a terra cultivada de maneira intensiva em pequenas
explorações, pode ser mais vantajosa para o capital, considerando uma série de
situações em que a grande exploração capitalista pode não se viabilizar
economicamente. Mas uma produção vantajosa se viabiliza com a obtenção de meios
de produção baratos através do crédito, que é oferecido ao grande proprietário
para a utilização de máquinas agrícolas, e que economizam trabalho. Mas nem
sempre estas condições estão à disposição do capitalista, além das condições
ambientais, a falta de mão de obra (falta de braços, como se refere Kautsky),
também é um fator limitador que ocorre com mais freqüência no campo do que na
cidade.
Alexander Chayanov, segundo Abramovay, considera
que o campesinato existe por responder a uma necessidade social. Para esta
categoria não bastaria entender-la a partir de categorias atuais, que não
correspondem a sua maneira de vida. A unidade de produção camponesa “é uma
máquina produtiva”, pois visa seu abastecimento interno, não correspondendo
diretamente aos estímulos do mercado. O volume da atividade familiar depende da
composição da família, número de braços, faixa etária dos membros, formando um
resultado do produto do trabalho que pertence à família, como uma renda única,
indivisível. Chayanov propõe também o conceito de “auto-exploração”, uma vez que
o limite da intensidade do trabalho é imposto pela necessidade da família. Estas
decisões são tomadas internamente ao grupo familiar.
Outro fator salientado por Wanderley (1998, 31) é
ausência da mais-valia como motor do processo produtivo, o que resulta em uma
especificidade desta forma de produção. Por isto as pessoas envolvidas no
processo de produção realizam um balanço entre o trabalho e o consumo, ou seja,
o esforço exigido nas tarefas e grau de necessidades de satisfação da família.
Isto resulta em sua diferenciação social e permite um ingresso diferenciado nas
relações sociais capitalistas, porque o campesinato não troca valor trabalho,
mas trabalho pelo preenchimento das necessidades internas do grupo familiar. Com
isto o grupo pode absorver progressos técnicos, mas desde que isto não
comprometa a estrutura familiar, e resulte em melhorias nas condições de
trabalho.
Sintetizando, podemos concluir dos clássicos que
escreveram sobre o campesinato, de que existe uma diferenciação social no meio
rural, que tem um grande potencial produtor de alimentos, e que pode se integrar
a diferentes formas sócio-econômicas sem perder sua característica principal, a
prioridade ao auto-abastecimento. Isto significa que não vai se tornar uma
empresa capitalista, mas pode manter com ela relações de
troca.
Quando da mecanização da agricultura e seus
investimentos, o resultado do produto do trabalho era fruto de uma racionalidade
que tinha por meio a produção e a finalidade o lucro, passando pelo processo do
trabalho. Entretanto, como já fazia referência Kautski, nem toda atividade
agrícola é passível desta forma de produção, desde a distância dos centros
consumidores ou beneficiadores, bem como da disponibilidade de mão de obra para
o trabalho assalariado.
Assim, que entre a empresa rural capitalista
(racionalidade empresarial) e o campesinato, ficou uma lacuna que foi preenchida
pela integração do campesinato com o capital, ou seja, uma especialização entre
o excedente do trabalho familiar, ofertado para o capital para a produção
especializada, além da produção para o abastecimento interno. Onde foi viável
esta forma de associação a produção se especializou e criou-se uma região
agrícola, caracterizado pela presença do campesinato e da empresa
capitalista.
No caso brasileiro esta associação foi pensada ao
final dos anos 1950 e início dos anos 1960.
O projeto da sociedade brasileira no
pós-Guerra
A reflexão e o debate sobre a questão agrária e a
industrialização podem ser encontrados em 1960, mas é no momento anterior ao
golpe militar de 1964, quando o debate sobre a Reforma Agrária ganha uma
importância maior, onde um número grande de debatedores entra em cena. DELGADO (2001,
p.158) aponta que o debate político ocorreu em torno de três centros do
pensamento de esquerda: no Partido Comunista Brasileiro, nos setores
progressistas da Igreja católica e na Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL). Fora dos setores do pensamento à esquerda, economistas como Delfin
Netto e Roberto Campos entraram neste tema, mas pelo viés da industrialização,
ou o papel da agricultura no processo de industrialização em uma nova relação
campo-cidade. No pensamento de esquerda girava a questão da improdutividade do
latifúndio, tanto pelo lado da produção de alimentos e do abastecimento das
cidades que cresciam em um ritmo acelerado, como pelo lado da relação de
trabalho no campo, ou seja, pelas péssimas condições de trabalho e salário da
população rural. Neste debate destacam-se os nomes de Caio Prado Jr. e Ignácio
Rangel.
Em Caio Prado Jr. encontramos o problema do monopólio da terra por poucos obriga a
sujeição às precárias condições de trabalho, reforçado, mais tarde, pela
legislação trabalhista diferenciada para o trabalhador rural e urbano. Também
relata que no Brasil, como em outros países, os proprietários agropecuários
decidem a sua produção levando em conta a rentabilidade do negócio, e não
fatores como a produção de alimentos ou mesmo a rotação de lavouras. Outra
questão pertinente por Prado Jr. (2007, p.32-3) é relativa à concentração da
terra no Brasil, onde descreve que não é exato se pensar que a Reforma Agrária
deve se pautar pelo aperfeiçoamento e elevação do nível tecnológico da
exploração agrária, mas, sim, “pela elevação dos padrões de vida da população
rural, sua integração nas condições humanas de vida” (2007, p. 88). Outros
contemporâneos de debate pautavam pela questão técnica e níveis de
produtividade.
Inácio Rangel (2000) relaciona o equilíbrio entre
a capacidade de produção de alimentos do meio rural, a sua oferta regular, e o
crescimento da população urbana em pleno processo de crescimento industrial.
Disto resulta duas soluções para Rangel: a) a primeira seria uma mudança na
estrutura agrária, de maneira a criar condições para a expansão das atividades
secundárias e terciárias, aumentando o número de famílias camponesas, bem como a
oferta agrícola, e elevando o nível de vida dos mesmos; b) a segunda proposta
seria o incremento do comércio exterior que proporcionaria uma procura maior da
mão de obra urbana, com o objetivo de absorver o excedente da produção agrícola
e da população rural.
Neste modelo proposto por Rangel está contemplada
a elevação da produtividade do latifúndio, pelo melhoramento técnico e o
trabalho sazonal, sem prejuízo ao pequeno trabalhador. Desaconselhava qualquer mudança radical
na estrutura agrária pelo comprometimento dos fundos públicos na compra da
terra. A compra de propriedades privadas elevaria a procura e o preço,
alimentando ainda mais a inflação. Escreveu Rangel (2000, p. 65) que “no Brasil
contemporâneo, o problema da terra é, essencialmente, uma questão de preço:
questão econômica e não jurídica.” Assim, a intervenção do Estado como comprador
viria de encontro à tendência natural de desvalorização da terra, valorizando
seu preço. Dispondo de suas próprias terras ou induzindo o proprietário a
fazê-lo, o Estado cumpriria devidamente seu papel nesta
questão.
O fortalecimento do “lado moderno da agricultura”, onde já existe uma
base capitalista ou em sua realização, poderia incorporar-se à economia pela
preparação das condições de uma moderna técnica agronômica, tanto na lavoura
como na pecuária, estimulando a indústria nacional na sua transição dos efeitos
do fim do período da industrialização substituidora de
importações.
Passado o período da Grande Guerra, o processo de
industrialização no Brasil entra em outra fase, o da substituição de
importações, em busca de uma nacionalização da produção industrial. O
crescimento da população urbana alertava para o problema de um abastecimento
insuficiente.
A tese da CEPAL construída no Chile e
generalizada para toda a América Latina, aplicada no Brasil por Celso Furtado,
destacava o problema da oferta de alimentos quando pressionados pelo consumo
urbano, e apontava para um sério problema estrutural brasileiro: a
inelasticidade da oferta de alimentos, ou seja, a invariabilidade da oferta em
função da procura e preço pelo comércio. A este respeito, Francisco de Oliveira
(1987, p.24), destaca que no processo de acumulação industrial brasileiro, houve
a possibilidade de lucros extraordinários, construindo um exército de reserva
urbano, mas regulado pela aplicação do salário mínimo, que redistribuía a
riqueza produzida bem como impedia a barganha na relação capital-trabalho,
mediada pelo Estado, permitindo, em muitas situações, ganhos ampliados pelo
setor industrial.
Quanto à inelasticidade da oferta, Oliveira responde a tese dizendo que
se trata do modelo dual, atrasado e moderno, que pauta as discussões dos
intelectuais cepalinos. De fato, a produção familiar de alimentos não respondia
aos estímulos imediatos do mercado, pois ficava regulada pela oferta e procura,
sem nenhuma segurança de retorno de investimento, como chama a atenção Martins
(1975, p.33). A produção de alimentos ficava, sim, regulada pelos fatores
naturais e a capacidade de trabalho da composição familiar, em um modelo
chayonovista, da relação necessidade de produção familiar e o limite da
capacidade física de produção, gerando, portanto, excedentes para o mercado.
Nunca é demais ressaltar o excedente é o resultado das unidades de
produção de base familiar que fornecem “excedentes alimentícios cujo preço era
determinado pelo custo da reprodução da força de trabalho rural” (Oliveira,
1987, p.24) para os produtos generalizados de consumo interno. Martins (1975,
p.12) ressalta que estes excedentes alimentícios são resultados dos fatores
excedentes utilizados no momento da produção, ou seja, trabalho e terra, a mais
daquele necessário para a produção de alimentos para consumo interno na unidade
de produção familiar. Este baixo custo, ou custo não remunerado do trabalho e
uso da terra familiar, é que permitiu a da mão de obra urbana uma alimentação
com um gasto menor do seu salário mínimo, permitindo uma apropriação de uma
fatia maior da mais valia pelo setor secundário.
Entra no debate sobre a questão agrária no momento que antecedeu o golpe
militar Antônio Delfin Netto, um representante de uma das correntes do
pensamento da economia da Universidade de São Paulo (USP), e refuta a tese
cepalina, e com base na tese secundária de Rangel, colocando a questão agrária
em função do desenvolvimento econômico, passando ao largo das questões trazidas
por Caio Prado Jr. e da doutrina da Igreja católica. Para Delgado (2001, p.
161), o argumento do grupo uspiano seria a de que a agricultura teria um
importante papel no desenvolvimento econômico: a) com a liberação da mão de obra
para o setor industrial; b) com a criação de mercado para utilização dos
produtos industriais; c) com a expansão das exportações e aumento das divisas.
Estas funções atribuídas para a agricultura estão claramente representadas no
Estatuto da Terra, aprovado no regime militar (FONTOURA, 2004).
Também o pensamento católico manifestou-se através de seu episcopado nos
anos 1950-60 (DELGADO, 2001, p. 160), denunciando a situação de injustiça e
exclusão social da realidade agrária brasileira. Com menos aporte teórico, a
contribuição das Cartas Pastorais foi mais no sentido do princípio da função
social da terra, que juntamente com a organização da luta política e do
sindicalismo rural brasileiro, influenciou na conceituação do direito a
propriedade da terra. Estas manifestações foram incorporadas no Estatuto da
Terra e na Constituinte de 1988, superando o direito de propriedade manifestada
na Lei de Terras de 1850, que considerava a terra uma mercadoria como outra
qualquer. Ainda que houvesse falta de aplicabilidade do referido Estatuto
durante o período do regime militar, no documento estava presente a pertinência
da desapropriação do latifúndio por exploração ou dimensão, com base na função
social da terra. Esta premissa foi retomada na luta pela Reforma Agrária no
período da abertura democrática dos anos 1980.
Analisando o período do pós-Guerra, BIELSCHOWSKY
(2000, p.270), considera que as teses liberais que influenciaram o período do
governo Dutra, entendiam que o Brasil deveria investir na sua vocação agrária de
produção de alimentos e de matéria prima, atribuindo os altos índices de
inflação do período aos subsídios aplicados no setor industrial, que respondia
com uma baixa produtividade e padrões tecnológicos. Neste momento havia o debate
que dividia os economistas liberais, como Eugênio Gudin, e os
desenvolvimentistas, como Roberto Simonsen. Os primeiros se destacavam
declarando que não eram contra a industrialização, mas que frente ao fraco
desempenho da indústria nacional e seu desastroso protecionismo, melhor seria
estimular a produtividade agrícola no sentido do aumento da capacidade de
exportação, setor em que o Brasil teria capacidade de produzir vantajosamente.
Os demais desenvolvimentistas, também liberais, afirmavam que seria uma condição
prévia e indispensável ao desenvolvimento das indústrias uma lavoura próspera de
norte ao sul do país, elevando o padrão de vida da população rural,
Bielschowsky destaca ainda que no período
analisado do pós-Guerra tanto os pensadores de esquerda, quanto os liberais,
concordavam de que a agricultura e a indústria apresentavam resultados precários
e baixa qualidade naquilo que produziam, excluindo-se dos mercados e garantindo
mercado interno através de medidas protecionistas, onerosas ao Estado. A citação
de Nelson Werneck Sodré é bastante elucidativa (BIELSCHOWSKY, 2000, p.274), que
entende que são justas as manifestações contra a indústria nacional, mas que o
refrão do país essencialmente agrícola é também responsável pelo atraso de
quatro séculos de trabalho rural quase único. Uma boa parte do debate da
esquerda da época entendia que através da elevação do padrão de vida rural e do
desenvolvimento das relações assalariadas, a sociedade latifundiária, às vezes
entendida como feudal ou semifeudal, seria superada, além de produzir mais
alimentos necessários ao crescimento populacional urbano, tanto vegetativo como
acrescido pelo êxodo rural.
O problema criado é consequência de uma nova relação campo-cidade,
resultado das políticas getulistas de estímulo à indústria e de protecionismo ao
trabalhador urbano, estimulando os movimentos migratórios no sentido do campo
para a cidade. Entre os anos 1920 e 1930, Getulio Vargas foi incentivador da
mecanização da lavoura de arroz e trigo no Rio Grande do Sul, pensando
justamente na independência nacional na produção de alimentos para consumo do
trabalhador urbano. Com o “cobertor curto” na saída da Grande Guerra, a
discussão sobre o planejamento do estado brasileiro era o de estimular a
agricultura ou a indústria. Segundo BIELSCHOWSKY (2000, p. 280), na recém
instalada Fundação Getúlio Vargas, de cunho liberal e desenvolvimentista, a
diretriz do planejamento era conciliar o desenvolvimento das indústrias de base
e as atividades agrícolas, pois havia um entendimento de que para o sucesso da
industrialização, este caminho era essencial para o desenvolvimento de um
mercado interno. Ou seja, era comum o entendimento de que a industrialização não
poderia prescindir de um amplo mercado rural. Deveria proceder a uma série de
planejamentos regionais e levar em conta as características regionais no plano
da agricultura, transporte, energia, mineração e
siderurgia.
O debate seguinte se deu entre os engenheiros
nacionalistas e os internacionalistas, quanto à participação estatal e do
capital estrangeiro nos empreendimentos de infraestrutura e indústrias de base.
De qualquer forma, começou a partir de 1930, e se reforçou a partir do
pós-Guerra, uma divisão do trabalho regionalizado e com diferente articulação,
tanto do ponto de vista da relação campo-cidade, como da relação entre as
regiões, como explica OLIVEIRA (1984, p.55):
“Uma conclusão de ordem geral que se pode deduzir do exame anterior
da participação das regiões na renda de cada setor de atividade e a de que o
processo em causa é o da substituição de uma economia nacional formada por
várias economias regionais para uma economia nacional localizada em diversas
partes do território nacional. Isto não é uma mudança de ordem semântica, mas
significa precisamente que o crescimento industrial da região Sudeste que esta
formando ou reformando a distribuição espacial das atividades econômicas no
território do país.” (Grifo do autor)
Esta mudança na distribuição espacial se deve à concentração da indústria
de base e da infraestrutura energética no sudeste, somada a concentração
populacional que para lá se encaminhava. Como o debate propunha papéis
complementares para a atividade agrícola e a industrial, sua distribuição
espacial se tornava imperiosa. Quanto à divisão do trabalho, OLIVEIRA (1984,
p.56) escreve que:
“O crescimento industrial da região Sudeste, baseado numa série de
fatores de sobra conhecidos – e que não vale à pena renumerar – e, vai mudar o
quadro radicalmente; neste sentido, ele redefine a divisão do trabalho em
primeiro lugar ao nível do próprio espaço, e, em segundo, redefine a divisão
social do trabalho em termos do espaço nacional mais amplo: tem-se a partir
daqui a criação de economia nacional regionalmente localizada. A divisão social
do trabalho ao nível de cada região, isoladamente considerada, será função do
tipo e natureza das ligações que ela mantiver com a região líder;
particularmente a estrutura industrial seguramente já não guardara
correspondência com variáveis do tipo de tamanho da população e nível de renda
per capita, isto e, a divisão social do trabalho não e reflexo de um mercado
regional ou vice-versa.”
Assim, cada região “dependente” vai responder à região central segundo o
seu grau de avanço tecnológico, incluindo os seus recursos
humanos.
Entretanto, a simples planificação para as regiões não basta para
efetivá-las como produtoras. A baixa densidade populacional do interior
brasileiro preocupava os estrategistas nacionais. Segundo FREITAS, Golbery do
Couto e Silva entendia que havia três zonas ecumênicas no Brasil ao final da
década de 1950: a principal em torno do triângulo formado por Rio de Janeiro –
São Paulo – Belo Horizonte e dotada de um bom sistema de comunicações
rodoferroviárias, formando o centro mais dinâmico e de maior concentração
populacional; o Nordeste e o Sul como ecúmenos secundários. O primeiro formado
pelos núcleos Recife – Fortaleza e o segundo pelos estados do Paraná – Santa
Catarina – Rio Grande do Sul. Havia precariedade e escassez de comunicações nos
outros espaços, o que levava Golbery a pensar o Brasil como um grande
arquipélago. Para FREITAS (2004, p.43):
“O primeiro destes objetivos será vitalizar os istmos insulares,
consolidando, paralelamente, a partir do centro até o noroeste do continente, o
alargamento da fronteira civilizacional, evitando assim que esta se transforme
em fronteira seca. Numa outra vertente, importa garantir a inviolabilidade da
extensa fronteira interior, realizando a obstrução das possíveis vias de
entrada”.
O sentido de vitalizar é o de criar condições para a concentração
populacional e que elevasse o nível de vida da população rural, de preferência,
integrada ao consumo de produtos oriundos da indústria nacional, ou
nacionalizada, integrando os interesses comerciais do campo e os da cidade. O
segundo ponto, no tocante à inviolabilidade da fronteira, existia o temor da
ocupação militar estrangeira das bacias do Prata e da Amazônica, o que daria ao
ocupante a condição de domínio da hinterlândia continental sul-americana, que
resultaria em seu domínio continental. Golbery era favorável que o Brasil
realizasse isto. Com o domínio continental e um equilíbrio na relação território
– população – recursos, leia-se espaço vital, restaria ao Brasil crescer como
era o seu destino natural. Para o Brasil só há uma escolha: “engrandecer ou
perecer”, dizia o general.
A ideia era “inundar de civilização” a ilha amazônica, coordenando postos
avançados de colonização a partir do centro-oeste e da progressão leste-oeste.
Já em 1952, Golbery avaliava a possibilidade de se criarem colônias de
exploração agrícola, pastoril ou mineira, na forma de frentes pioneiras. A
efetiva ocupação do centro-oeste brasileiro garantiria uma forte influência na
região do Prata, como nos países vizinhos do Paraguai e Bolívia. O estrategista
considerava a porção sul do território nacional, desde a fronteira com o Uruguai
até o estado do Mato Grosso, como zona de vulnerabilidade máxima a possíveis
ações adversas de caráter regionais, tanto estrangeiras como internas. A ideia
da integração do Planalto Central brasileiro era recorrente na época, tanto que
Juscelino Kubitschek foi pressionado a construir a nova capital
Brasília.
Como podemos observar, tanto pelo lado da ocupação das terras pelo
processo forçado de colonização e Reforma Agrária, como pelo lado da estratégia
nacional, os discursos tinham em comum a necessidade de incorporação das terras
interioranas nacionais. Esta ocupação se dá em ritmos variados, conforme a
época. Nos anos 1950 e 60 ocorre uma expansão sem a mercantilização da terra
necessariamente. Nos anos 1970 e nas décadas seguintes, sobrepõe-se interesses
empresariais, em um movimento que difere do primeiro, tanto qualitativamente,
como quantitativamente.
Com base neste movimento migratório rumo ao sertão brasileiro, que
sobrepõe à frente pioneira e a frente de expansão, em várias áreas do Brasil,
mas especialmente na sua fronteira oeste, é que José de Souza Martins reflete
sobre a questão agrária brasileira. Para MARTINS (1975, p.
45):
“A frente pioneira exprime um movimento social
cujo resultado imediato é a incorporação de novas regiões pela economia de
mercado. Ela se apresenta como fronteira econômica. Compreendê-la como tal, no
entanto, implica em considerar que, no caso brasileiro, a fronteira econômica
não coincide, necessariamente, com a demográfica (via de regra aquela está aquém
desta). A faixa entre uma e outra, embora sendo povoada (ainda que com baixos
índices de densidade demográfica), não constitui uma frente pioneira e não
constitui basicamente porque a sua vida econômica não está estruturada
primordialmente a partir de relações de mercado”.
O autor defende a ideia de que a faixa existente entre a frente pioneira
e a frente de expansão sai produtos que assumem valor de troca na economia de
mercado, caracterizando uma economia de excedentes, e não uma economia natural
estava presente no oeste brasileiro e ao longo do rio Tocantins nos anos 1960.
“Esta faixa, com suas peculiaridades econômicas, sociais e culturais, que se
pode conceituar como frente de expansão”. Esta se integra à formação capitalista
pelas trocas de mercadorias da produção excedente, e também pela absorção do
excedente demográfico que não pode ser contido na fronteira econômica. “O que
caracteriza a frente de expansão é justamente esse uso privado das terras
devolutas, em que estas não assumem a equivalência de mercadoria. Por isto a
figura central da frente de expansão é o posseiro” (MARTINS, 1975, p. 46). O
excedente entra nas relações de troca porque, de alguma maneira, encontrou
condições e mercado para a sua realização, e não em consequência de uma elevação
do grau da divisão do trabalho. A frente de expansão surge à frente da frente
pioneira.
Na frente pioneira a terra não é ocupada, é comprada. A terra passa a ser
uma mercadoria e se impõe como um equivalente de capital, e é nestas condições
que os indivíduos passam a travar suas relações. O resultado do trabalho passa a
ficar regulado pelas relações de mercado. Uma característica imediata da frente
pioneira são as instalações dos agentes econômicos, tais como as empresas
imobiliárias, infraestrutura de circulação, energia, financeiras e comerciais.
Em consequência, Martins aponta para três tipos
de manifestações da sociedade: a) a migração para frente de expansão; b) a
migração para as cidades; c) a explosão de movimentos sociais. Finalizando,
Martins sintetiza a questão agrária como uma forma de interferência deliberada
segundo um tipo de interpretação da realidade, resultado de uma reorientação das
relações entre o homem e a natureza, e esta das modificações mais ou menos
profundas nas relações sociais.
O Estatuto da Terra de 1964 promoveu um modelo de
modernização para a agricultura brasileira que procurou conciliar as teses
liberais, e atribuíam o papel de exportadora de produtos agrícolas, bem como de
consumidora de produtos industrializados nacionais. Tendo como norte o paradigma
da Revolução Verde, que se implementava em nível mundial, e teve na soja o seu
carro chefe, mas não o único. Toda a lavoura de escala passou a se dirigir no
sentido da integração com a indústria à montante e à jusante. Os altos índices
de capitalização no campo foram subsidiados pelo Estado, que do outro lado, na
cidade, crescia com a urbanização.
Nada que extrapolasse o modelo brasileiro, ou seja, como já acontecia
antes, com o crescimento da produção no campo mantendo ou aumentando as
desigualdades sociais. A modernização é conservadora porque ela não trouxe as
relações sociais capitalistas para o campo alterando a estrutura fundiária,
transformando as relações de poder entre as classes sociais e distribuindo
renda. Os rendimentos gerados pela agricultura continuaram concentrados, como
também permaneceu o índice de Gini primeira década do século XXI, como aponta o
Censo Agropecuário do IBGE de 2006.
As figuras a seguir, demonstram o movimento da modernização da
agricultura brasileira para a ocupação das regiões Centro-Oeste e
Norte.

Fonte: GIRARDI, E. P. Atlas da Questão Agrária.
Disponível em: http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/. Acesso em: 27 mai. 2011.
Percebe-se o crescimento da população nas áreas do Centro-Oeste e da
Amazônia brasileira, áreas de menor densidade populacional no passado. Esta
mudança se deve, principalmente, em decorrência do aumento da exploração
agrícola, através do desenvolvimento da atividade pecuária bovina de corte,
seguida das lavouras de soja e arroz.

Fonte: GIRARDI, E. P. Atlas da Questão Agrária.
Disponível em: http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/. Acesso em: 27 mai. 2011
O número superior de homens em relação ao de mulheres indica o trabalho
assalariado rural, que absorve majoritariamente o trabalho
masculino.

Fonte: GIRARDI, E. P. Atlas da Questão Agrária.
Disponível em: http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/. Acesso em: 27 mai. 2011
A lavoura de soja é um exemplo de lavoura capitalista. Percebe-se a
interiorização do cultivo, a territorialização da produção da soja e a sua
frente de expansão no limite da Amazônia

Fonte: GIRARDI, E. P. Atlas da Questão Agrária.
Disponível em: http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/. Acesso em: 27 mai. 2011

Fonte: GIRARDI, E. P. Atlas da Questão Agrária.
Disponível em: http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/.
Entre os anos 1996 e 2006 percebe-se o aumento do cultivo do rebanho
bovino em direção a Amazônia, juntamente com o cultivo do arroz, visto que a
associação da criação de gado vacum e a rizicultura são vantajosas do ponto de
vista econômico e ecológico. A atividade pecuária é rentável e pode se associar
à rizicultura no momento do pousio, fortalecendo o gado e a
terra.
No período de 1980
a 1990,
a forte crise financeira mundial fez com que os Estados
diminuíssem seu tamanho e arrecadação, tirando uma parte significativa dos
subsídios destinados para a agricultura. Em consequência, nas décadas seguintes
a produção agrícola se ajustou às novas regras do mercado, segundo uma nova
orientação de consumo urbano, visto que a expressiva maioria das pessoas vivem
nas cidades, em especial as grandes. Estes consumidores, segundo seu poder
aquisitivo, dão preferência aos produtos que se relacionam com a natureza, desde
a sua produção, sua obtenção, forma de apresentação e certificação,
origem.
O Estado se desregulamenta, a sociedade se regulamenta. O primeiro
diminui as restrições à circulação dos produtos. O segundo divide o que é o
consumo de massa e o elitista, repleta de selos de qualidade. A maior divisão do
trabalho e desenvolvimento de tecnologia na produção agrícola, de pequeno ou
grande porte, traz consigo, cada vez mais, a preocupação ambiental, o que é
positivo. Entretanto, ainda passa longe o debate sobre a elevação da qualidade
da vida e do trabalho no meio rural, o que torna o debate sobre a velha questão
agrária um tema ainda atual.
As relações capitalistas, tais como as conhecemos, se desenvolvem a
partir ou associada à expansão da indústria, prolongando uma racionalidade que
tem por centro a cidade, o ambiente urbano (artificializado). É natural que
essas transformações quando chegadas no campo imprimam uma paisagem diferente,
transformando o ambiente rural tornando-o apto a reprodução das relações
capitalistas. No caso brasileiro, como em outros casos também, a presença do
Estado tem um papel decisivo para expandir os negócios urbanos sobre o rural. O
próprio paradigma da produção agrícola tem por base a mecanização e os insumos
industrializados, e também se regionalizam como forma de garantir a
operacionalização do sistema de forma completa, gerando a base deste sistema,
que é a produção e objetivação do lucro. E isto vai transformando, de forma
rápida ou mais lenta, toda a vida rural, diminuindo distância com a vida urbana.
Os produtos e os tamanhos de propriedade podem ser variados, mas a forma como se
produz é o que mais importa.
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Ponencia presentada en el XIII Encuentro Internacional
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