Análise sócio-ambiental em área de fronteira:
O Pantanal (Porto Murtinho/MS - Brasil) e o Chaco (Fuerte Olimpo/ Alto Paraguay
-Paraguay)
COSTA. Lidiane
Almeida
Mestranda em Geografia – Universidade Federal da
Grande Dourados-UFGD
Membro do Grupo de pesquisa Território e Ambiente
– UFGD/FCH
CNPq; CAPES
Resumo: O Pantanal é um ecossistema
com 250 mil km²
de extensão, situado no sul de Mato
Grosso e no noroeste de Mato
Grosso do Sul, ambos Estados
do Brasil,
além de também englobar o norte
do Paraguai
e leste
da Bolívia
(onde é denominado de Chaco).
A produção e o uso desse ambiente são diferenciados nos diferentes países,
produzindo territorialidades diferenciadas em um ambiente natural único.
Baseando-se nesta realidade, este trabalho trata sobre a produção da natureza
tendo como área de pesquisa o Pantanal localizado em território brasileiro e o
Chaco localizado no território Paraguaio, com reflexões baseadas na ciência
geográfica no que se refere à produção e consumo do espaço, a partir da análise
da espacialidade relacionada com a produção de natureza.
Palavras-chaves:
Pantanal, Chaco, Meio Ambiente, Território, Fronteira.
Abstract:
The
Pantanal is an ecosystem
with 250 sq km in
length, located in southern Mato Grosso and northwestern Mato Grosso do Sul, both states of Brazil, and also encompass the northern Paraguay and eastern Bolivia (where it is called Chaco).
The production and use of this environment are different in different countries, producing differentiated territorialities a unique natural environment. Based on this fact, this paper
deals with the production of nature as the research site located in the Pantanal
of Brazil and the Paraguayan Chaco located in the territory, with reflections based on the geographical science as regards the production and consumption of space, From the
analysis of spatial-related production activities.
Keywords: Pantanal, Chaco, Environment, Territory and Frontier.
1-Introdução
Os elementos da natureza estão sendo cada vez
mais utilizados em benefício de uma pequena parcela de seres humanos e esta
realidade está se configurando em graves problemas ambientais, quadro este que
denominamos de problemática ambiental, pois se trata do uso destrutivo do
território para fins de consumo capitalista, o que nos remete a algumas
inquietações relacionadas a produção e consumo do território.
A produção e o consumo aqui mencionados estão
relacionados com as novas formas do capital produtivo, como fonte de riqueza, ou
seja, o território é produzido de acordo com as necessidades de expansão do
capital e a intensidade no seu uso está diretamente relacionada com as
necessidades econômicas nacionais ou mesmo internacionais, provocando assim, um
(re)ordenamento desses territórios. Inserido neste contexto, está o território
Pantaneiro e Chaquenho.
O Paraguai está dividido em duas regiões
naturais: a oriental e a ocidental. O “Chaco” paraguaio
localiza-se na porção ocidental do Paraguai, formando cerca de “60% do
território nacional, com 450 km de distância da capital
Assunção, com uma extensão territorial de 1(um) milhão de km²” (MUELLER, 1998,
p.16 apud TORRACA, 2006, p 48) e caracteriza-se como sendo uma das principais
regiões geográficas da América do
Sul.
De acordo com TORRACA (2006, p.46) no imaginário
paraguaio o Chaco é “um deserto sem vida, onde as plantas são cobertas de
espinhos que perfuram as roupas e os sapatos; uma região onde se alternam um
frio gélido e um calor insuportável, a seca e as inundações cheias de insetos e
cobras”. As razões que reforçam este ideário podem ser explicadas pelo fato de o
Chaco estar localizado na parte ocidental do Paraguai, região considerada pelo
governo paraguaio e também pela população “desabitada e inóspita” devido ao
clima seco e de altas temperaturas.
O ideário paraguaio sobre o Chaco, também pode
ser explicado pelo processo colonizador do lugar, pois os primeiros imigrantes
que chegaram ao Paraguai se situaram na parte Central do Chaco. Esta região é
arenosa, tem pouca água e a localização não foi integrada ao restante do pais,
por meios de transporte e comunicações, o que tornou a região de difícil
acesso.
O
fato de o Chaco ter sua localização considerada de difícil acesso, não agradou
os imigrantes, pois os mesmos imaginavam e ansiavam por um lugar de terras
férteis, onde pudessem prosperar e se transformaria em “la terra de promisión”
no entanto o lugar ficou conhecido como “Inferno Verde” (TORRACA, 2006, p.46,
grifos do autor).
Assim, fica bastante evidente que o Chaco
apresenta uma imagem negativa para a população e que vem sendo reforçada no
decorrer dos anos, inclusive pelo Estado, que com este ideário conseguiu
justificar as colonizações dos imigrantes que se estabeleciam na região.
Desse modo é perceptível notar que o problema não é especificamente a
região e sim a ausência de políticas públicas que valorizem o ambiente e a
sociedade produtora deste lugar.
A divisão geográfica realizada pelo Estado
reorganizou o Chaco em três microregiões: Departamento de Presidente Hayes,
Boquerón e Alto Paraguay.
Estas
regiões podem ser subdivididas em três partes: (1) - Costa do Paraguai no
departamento de Alto Paraná, (2) – Subárea, nos departamentos de Alto Paraguai,
Boquerón e Presidente Hayes, (3) - Bajo Chaco, sub-região localizada na
confluência dos rios Paraguai e Pilcomayo
É importante destacar que há contrastes acentuados entre as três
regiões do Chaco, pois o clima “é influenciado por um centro de alta pressão sobre o
Atlântico, onde prevalecem ventos do sul e do norte, os do norte são
considerados quentes e os dos sul frio.” (TORRACA, 2006 p.
48)
De
acordo com Torraca, 2006 as precipitações ocorrem geralmente no verão entre os
meses de outubro e fevereiro, já o inverno é muito seco. A água é muito escassa.
Para a extração através de poços é necessário realizar uma perfuração de 6m e,
na maioria dos casos, a água é salobra.
Este é um grande problema para os moradores e por
isso é muito comum encontrarmos cisternas nas casas da região, dessa forma os
habitantes conseguem manter seu abastecimento de água, aproveitando-se do
período de chuva. (TORRACA, 2006, p.48)
Esta realidade também é perceptível em nossa área
de pesquisa, na cidade de Fuerte Olimpo no Chaco, localizada no departamento do
Alto Paraguai, na região de fronteira com o Brasil, especificamente na Subárea
das regiões chaquenhas.
2- Caracterização do Ambiente Fronteiriço- Pantanal
(Porto Murtinho-MS) e Chaco ( Fuerte Olimpo-PY). Algumas considerações teóricas
geográficas:
De acordo com MOURA, 1975 no período de colonização
do Paraguai, começou a desenvolver-se ao abrigo das muralhas, no local onde hoje
está localizada a cidade de Fuerte Olimpo, uma povoação, uma vez que ali se
estabeleceu um Porto franco para o comércio com o Império
Brasileiro.
No início da Guerra da Tríplice Aliança (1864–1870)
constituiu-se em uma importante base para a ofensiva à então província de Mato
Grosso. Em 1866 ainda se revestia de importância estratégica, mas foi capturado
pelas forças brasileiras ao final do conflito.
Atualmente em ruínas, podem ser observados os restos
de suas muralhas, do alto das quais se descortina uma vista abrangente do curso
superior do rio Paraguai.
A extensa literatura existente em documentos
apresentados na primeira Conferencia Mundial sobre Preservação e Desenvolvimento
Sustentável do Pantanal paraguaio (Chaco), descreve este local como uma imensa
planície pantanosa, um pantano aluvial que se inunda anualmente entre janeiro e
junho.
El canal natural por el que se escurren las aguas de este inmenso
pantano es el Rio Paraguay, por lo que tanto la naciente como la alta cuenca Del
Rio Paraguay aparecen indisolublemente ligados a la eco-región del Gran
Pantanal. (OVELAR, 2005, p.133)
É interesante
mencionar que neste sentido se observam trocas bastante evidentes entre o
comportamento de água do rio Paraguai, ao norte e ao sul da zona denominada de
“los cerritos”, que compreende, entre outros, o morro de Tres Irmãos, onde está
localizada a cidade de Fuerte Olimpo. Em efeito, estas águas têm velocidades
muito mais lentas e o seu fluxo começa a diminuir entre os meses de outubro e
novembro.
O clima
é tropical, com máxima de
45 ° C no verão e mínima de 9 ° C no
inverno. A média é de 25
° C. Apresenta longos períodos de
seca, seguidos de chuvas torrenciais e suas terras são férteis para a agricultura e
propícias para a pecuária.
(PARAGUAY, 2010. La Dirección General de Estadística, Encuestas y Censos
(DGEEC).
Dados do censo nacional de economia do Paraguay, realizado em 2010,
revelam que a principal atividade da região é a pecuária, realizada principalmente
com as raças de gado de corte
que têm contribuições genéticas
do zebu (por
exemplo, Brahman, Brangus,
etc).
O município fundado em 25
de setembro de 1792 conta com uma população de 4.498 pessoas, entre as quais
2.585 são homens e 2.413 são mulheres. Isto se deve ao fato de que o município
faz parte do departamento do Alto Paraguai.
Este departamento tem uma superfície de 82.349 km² e contava no ano de 1992 com uma
população de 11.816 pessoas., com uma densidade demográfica de 0,14 habitantes
por km². De acordo com OVELAR,
2005 a “taxa de crescimento anual
fue alta durante os anos de 1972-1982, quando a população passou de 5,366 a
9.021 habitantes”. (p.139).
Posteriormente, entre 1982 e 1992 o crescimento anual teve um
decréscimo, chegando a 2.7 % em vez de 5,3% em comparação ao período anterior.
Isto indica que a região do Chaco neste período, deixou de receber contingentes
significativos de imigração.
Fuerte Olimpo es una ciudad muy pequeña es una capital departamental
enton tiene una infra-estructura institucional muy pequeña ainda, mas a mejor
forma de llegar mas rápido é de avião, tienes muchos aviões que passan la
frontera sin problema, sin controle
sin nada. Brasileños que vienen (fazendeiros) que tienen terras no
Paraguay.
Com o passar dos anos a população tendeu a se concentrar nas zonas
ribeirinhas do rio Paraguai. Este local também é habitato por pequenos povoados
que vão desde o povoado chamado de Puerto Caballo até a estancia ou fazenda P.
Sanabria. No ano de 1992 se registrou 4.048 habitantesna zona do Pantanal paraguaio (chaco), o
que representa cerca de 34% da população total do Departamento do Alto Paraguai. Na tabela a seguir é
possível observar a taxa de crescimento da população chaquenha de Fuerte olimpo
entre os anos de 1992 a 1997.
Fuerte Olimpo foi a cidade
chaquenha do departamento do Alto Paraguai que mais aumentou sua população,
sendo que no ano de 2002 a cidade já registrava cerca de 6.900 habitantes. No
ano de 1997 a população total de departamento era de 4.605 habitantes, assim
Fuerte Olimpo representa uma taxa de crescimento superior ao seu
departamento.
De
acordo com Ovelar, 2005 o fato é que nos últimos anos vários grupos de
brasileiros se instalaram na região. Os mesmos compram lotes de terras
destinados a pecuária, contribuindo assim, com o índice
demográfico.
A
região do Chaco paraguaio apresenta altas porcentagens de necessidades básicas
insatisfeitas. “69% da população sofre com falta de saneamento básico”(OVELAR,
2005, p.140).
Nesta localidade também habita vários indivíduos
de nacionalidade indígena em sua grande maioria “chamacoco” e alguns restos de
“mbayá”, localizados em vários assentamentos ribeirinhos, com uma maior
concentração em Puerto Esperanza. Tradicionalmente as estratégias de
subsistência desses indígenas estão muito ligadas aos elementos da natureza
encontrados no Chaco. Entre os
elementos naturais que estes povos utilizam para sobreviver OVELAR, 2005
descreve:
[...] recoleccíón de vainas de algarrobo pero, en mucho mayor medida
El palmeito, lãs frutas u El corazón de varias especies de palma (mbocayá),
yataì- guasú palmitos del caranda y las bases de las hojas del caraguatá. A las
actividades recolectoras se suman la pesca y cierta prática de la agricultura
con cultivos de míz, poroto, zapallo, mandioca y mani, aunque los chamacocos
solo tardíamente dejaron de ser casi exculsivamente recolectores y cazadores.
(p.140).
Segundo informações da secretaria do Meio
Ambiente (SEAM) em fevereiro de 1989 o INDI
transferiu 21.300 hectares para os “chamacocos”, na área próxima a cidade de
Bahia negra.
Estas terras estavam correndo o risco de serem invadidas por
criadores de gados. Em geral, se pude afirmar que as comunidades indígenas dessa
área se encontram em estado de alta vulnerabilidade por causa do alto indíce de
violência que se instalou naquele local e também por limitações produtivas das
terras que possúem e carência ao acesso de recursos
públicos.
A população nativa paraguaia desta localidade são descendentes de antigos
peãos de empresas que exploravam o quebracho para a obtenção de tanino. Esta
atividade foi muito importante para a economia do local entre os anos de 1950 e
1960.
Posteriormente foi diminuindo a rentabilidade econômica porque se
encerraram as empresas de
exploração de tanino encerraram suas atividades no local no final dos anos 80.
Segundo o pesquisador paraguaio Mario Ovelar, o encerramento da citada atividade
deixou núcleos de populações sem emprego e sem indenizações. Atualmente estas
pessoas vivem em condições precárias, sobrevivendo graças a pesca e a pequena
exploração agrícola.
Há registros históricos que o final do século XX também
desenvolveram na região atividades ligadas a agricultura
, como por exemplo o plantio de soja. Esta atividade trouxe junto
com a exploração de tanino grandes prejuízos ao meio ambiente, contribuindo também para o alto indíce de
desmatamento das florestas
Atulamente o rio Paraguai e seus
afluentes são ricos em peixes, mas
estão ameaçados de extinção, haja vista que o número de peixes vem decrescendo a
cada ano, devido a pesca desenfreada praticada no local.
Animais silvestres de distintas expécies também encontram-se ameaçados de
extinção. (PARAGUAY,
2010. Compendio Estadístico Ambiental del Paraguay,
(2000-2009).
De acordo com
censo paraguaio, publicado em 2010,
o muncípio, vem despontando para o turismo de aventuras, haja vista que
conta com inúmeras belezas naturais e lugares históricos da Guerra do Chaco
(1933-1935) De acordo com o DGEEC o município conta com fluxos de turistas
procedentes principalmente da América do Norte e Europa.
Em trabalho
de campo realizado em outubro de 2010, podemos constatar que o transporte fluvial através do rio Paraguai é o mais utilizado para quem deseja chegar até a
cidade. Há no local um navio
carqueiro que transporta cargas e passageiros
semanalmente até o municipio. O deslocamento até a cidade
chaquenha também pode ser efetuado por barcos pequenos e lanchas
particulares.
Ouvir
Ler foneticamente
Dicionário
Em contraste com o Chaco, no Brasil, está o
Pantanal, o mesmo se encontra inserido na região Centro-oeste, no interior da
Bacia do Alto Paraguai (BAP), que tem como bacia maior a bacia do
Prata.
De acordo com Moretti (2002) a historia da produção do Pantanal
conta com a participação de diferentes agentes sociais, muitas vezes a história
contada refere-se aos colonizadores e aos agentes dominantes atuais.
A paisagem atual do Pantanal é fruto de um
processo histórico humano que produziram o lugar, no final do século XX inicio
do século XXI, apresentando relevante importância mundial, por proporcionar
elementos naturais inexistentes em outras
localidades.
Sua importância enquanto ecossistema não se
delimita apenas ao fato de abrigar inúmeras espécies de animais e aves, mas pelo
fato de suas terras possuírem grandes potencialidades, pois apesar de pobres,
recebem grande quantidade de matéria orgânica dos inúmeros rios que o
atravessam, dentre os quais destacamos: Rio Miranda, Rio Negro, Taguari, São
Lorenço, Piguiri, Correntes e Cuiabá.
A origem do Pantanal é resultado da separação do
oceano há milhões de anos, formando o que se pode chamar de mar interior.
Atraído pela existência de pedras e metais preciosos (que eram usados por
indígenas, que já povoavam a região, como adornos), entre eles o
ouro.
O português Aleixo Garcia foi o primeiro não
índio a visitar o território em 1524 e alcançou o rio Paraguai através do rio
Miranda, atingindo a região onde hoje está a cidade de Corumbá. Com base em
Lucato Moretti (1999)
O ambiente pantaneiro foi ocupado por
remanescentes de antigos quilombos e comunidades camponesas que se formaram a
partir de sesmarias doadas em finais do século XVIII e XIX, no entanto, a
ocupação por grandes fazendas de criação extensiva de gado ocuparam maior
destaque neste ambiente.
Pesquisas realizadas pela Embrapa Informática
Agropecuária em parceria com a Divisão de Sensoriamento Remoto do INPE em 2006
revelam que a área que compreende a BAP no Brasil é de 361.666 km² e do Pantanal
de 138.183 km², ocupando 38,21% da bacia. De acordo com o estudo, o Pantanal é
considerado a maior planície contínua de alagamento de águas interiores, sendo
que existem neste ecossistema diferentes condições de inundações, relevo, solos
e vegetação que permitem subdividir essa área em 11 distintas sub-regiões. De
acordo com SILVA e ABDON, 2006 citamos:
1.
Sub-região de Cáceres
2.
Sub-região de Poconé
3.
Sub-região do Melgaço
4.
Sub-região do Paraguai
5.
Sub-região do Paiaguas
6.
Sub-região de Nhecolãndia
7.
Sub-região de Aquidauana
8.
Sub-região de Abrobral
9.
Sub-região de Miranda
10. Sub-região de Nabilieque
11. Sub-região de Porto Murtinho
Ainda segundo Silva e Abdon das terras da
planície pantaneira, 48.865 km², encontram-se no estado de mato Grosso (MT) e
89.318 km² (64,64%) encontram-se no estado de Mato Grosso do sul (MS). Esta área
úmida ocupa áreas parciais de 16 municípios, sendo estes municípios no MT (Barão
do Melgaço, Cáceres, Itiquira, Lambari D´Oeste, Nossa Senhora do Livramento,
Poconé e Santo Antônio do Leverger) e nove no MS ( Aquidauana, Bodoquena,
Corumbá, Coxim, Ladário, Miranda, Sonora, Porto Murtinho, Rio Verde de Mato
Grosso).
A cidade de Porto Murtinho, localizada na subdivisão do Pantanal de Porto
Murtinho, faz parte de nossa área de pesquisa, haja vista que a mesma faz
fronteira com a cidade chaquenha de Fuerte Olimpo, ambas limitadas pelo rio
Paraguai.
Ao delimitar suas fronteiras, e a extensão de seu território, as nações
constroem em sua população um papel de identificação com o espaço.
Toda nação, necessita impor
limites para exercer sua soberania sobre os territórios, Martin (1994, p.47),
discorre sobre a noção de limite e fronteiras:
Hoje o “limite” é reconhecido como linha e não
pode portanto, ser habitada, ao contrário da “fronteira” que, ocupando uma
faixa, constitui uma zona, muitas vezes bastante povoada onde os habitantes de
Estados vizinhos podem desenvolver intenso intercâmbio, em particular sobre a
forma de contrabando. (grifos do autor)
A compreensão de que a fronteira se difere de
limite, pelo fato de a mesma ser povoada, e não apenas uma demarcação política
entre dois países, nos instiga a pensar que a fronteira se constitui como um
lugar de encontro de culturas e colisões de povos diversos, atribuindo visões
também diversas de mundos.
O Pantanal de Porto Murtinho possui uma área de
“3.839 km² ou 2,78 % da planície
pantaneira. Localiza-se ao sul do Pantanal. Agrega área parcial somente do
município de Porto Murtinho”.
(SILVA e ABDON, 2006. Divisão de Sensoriamento Remoto -
INPE).
Delimita-se a oeste pelo rio Paraguai, ao sul
pelo rio Apa, ao leste pelo planalto adjacente (Serra da Bodoquena) e ao norte
pelo rio Aquidaba.entre os rios que delimitam esta sub-região: “Paraguai, Apa e
Aquidaban, os rios Branco, Tereré, Tarumã, Amonguijá e o Coreego Progresso são
os principais cursos dágua do interior desta sub-região” ( SILVA e ABDON, 2006. Embrapa Informática
Agropecuária e divisão de Sensoriamento Remoto –
INPE).
O município de Porto Murtinho surgiu no ciclo da
erva- mate, responsável pelo devassamento da maior parte da região sul do estado
de mato Grosso do Sul. Dados do IBGE, na coleção
de monografias municipais, nº 406, demonstram que Porto Murtinho tem como
principal atrativo o rio Paraguai com pesca abundante. (Dados de 2010 da polícia
Ambiental de Porto Murtinho revelam que devido a pesca em excesso, atualmente o
número de peixes tem diminuído consideravelmente no rio
Paraguai).
Além do rio Paraguai outros elementos naturais
são atrativos turísticos como a Colônia Cachoeira, a 90 quilômetros da sede
municipal, local de grande beleza natural, o Morro Pão de Açúcar, assim
denominado pela semelhança ao existente no Rio de Janeiro, muito freqüentado
pelos alpinistas, a Festa da Emancipação do Município no dia 13 de junho, com
várias solenidades cívicas e por ultimo a festa da Virgem de Caacupé, realizada
sobre a influência da colônia paraguaia (atualmente existe o Festival
internacional de Porto Murtinho, idealizado pelo poder público local e que tem
como principal atrativo festividades relacionadas com o rio
Paraguai).
Assim, entendemos que os elementos da natureza,
fazem parte de uma lógica capitalista de mercado, pois estes se transformam em
mercadoria para atender aos interesses de uma pequena parcela da população. Os
seres humanos se apropriam dos elementos da natureza e os transformam em
mercadorias, utilizando-as como valor de troca.
No Pantanal de Porto Murtinho, o processo que
transforma o espaço em mercadoria, pode ser notado em trabalho de campo
realizado em outubro de 2010, quando na oportunidade entrevistamos a secretária
municipal de turismo do município de Porto
Murtinho-MS.
[...] agente tem participado, uma das nossas
ações do plano turístico é estar divulgando o município, participando de feiras,
aqui em Campo Grande, dentro do estado, agente participa sim, leva o material,
os empresários para fazerem negócios, trazer os turistas para cá.
A Secretaria Municipal de Turismo de Porto
Murtinho-MS, busca através de parcerias divulgar através da mídia o município,
para que o mesmo se torne referência no que se refere ao eco-turismo, ou seja, o
turismo voltado ao meio ambiente.
A nossa parceria maior é com a Secretaria de
Naturaleza a Senatur , (Secretaria Nacional de Turismo do Paraguai) [...] a Liz
Tramer que é a ministra, então ela que faz os contatos com o departamento,
aquele departamento de Concepción, o de Amambai [...] e então eu acho que agente tem aqui por
ser próximo, do Alto Paraguai o contato e tudo, os deputados, os vereadores, só
que agente procura estar agindo direto com a parceria do turismo, no meu caso,
nesses dois projetos foi direto com a Secretaria Nacional de
Turismo.
Como a cidade está localizada no Pantanal de
Nabileque e tem como principal atributo o rio Paraguai, o município se tornou
uma referência nacional do turismo de pesca. No entanto, esta atividade se
tornou uma ameaça ao ambiente e também a vida cotidiana dos moradores do local,
que se sentem incomodados com a presença do
turista.
[...] então a menção turismo aqui, ainda não é a
menção conservacionista, o turismo de primeiro mundo, o turismo aqui é o turismo
da desgraça. Então vamos para Porto Murtinho, lá agente pesca, regassa tudo,
ninguém fala nada, deixa lixo na margem do rio. Isso o turista lá de São Paulo
ele pensa [...] então aqui como agente não tem emprego suficiente para a
população, agente fica desesperado para que o turista venha [...] daí ele chega
aqui, ele acha que é o dono da casa, entra na contramão com a camioneta Ranger
[...] eu me sinto incomodado.
Os problemas que ocorrem no Pantanal de Porto
Murtinho não fogem a regra da sociedade brasileira, mas apresentam algumas
características locais que devem ser considerados “como fruto das mesmas
relações que provocam a problemática ambiental, ou seja, a privatização do
espaço”. (MORETTI, 2002, p.3).
As alterações no ambiente pantaneiro estão associadas a mudanças
na forma da sociedade relacionar-se com os elementos da natureza, ocorre um
distanciamento do ritmo social e cultural produzido pela relação com o natural
enquanto fonte de riqueza e de bem estar para a população local.
Para Moretti, 2002, o Pantanal
participa do mercado global, e segmentos desta sociedade globalizada é que
usufrui deste ambiente através, por exemplo, da exploração do peixe, das águas,
do solo, da paisagem.
Deste modo, percebemos que o território pantaneiro, é produzido de acordo com as
necessidades humanas criadas no mundo moderno e produzidas no principio da pilhagem ambiental e na miséria
social.
Portanto, estas necessidades humanas se dão, conforme o momento
histórico vivenciado. Conforme afirma SANTOS, 1996 (p. 64, 88), quando diz que “a produção do espaço é resultado da
ação dos homens agindo sobre o próprio espaço, através dos objetos, naturais e
artificiais [...] não há produção que não seja produção do espaço, não há
produção do espaço que se dê sem o trabalho. Viver, para o homem, é produzir
espaço”. Além de produto social, o espaço é também um produto histórico, e
dependendo do momento histórico, os homens o produzem de modo específico,
diferenciado de acordo com o estágio de desenvolvimento das forças
produtivas.
Sendo assim, “a produção do espaço pantaneiro
pode ser compreendida como uma conseqüência das relações entre processos
econômicos, políticos, culturais, sociais, que apresentam uma manifestação
espacial”, (MOLINA, 2011, p.4) e também como a complexa articulação entre um
sistema de objetos e um sistema de ações que se geografizam e se materializam no
espaço, que está em constante movimento de transformação e assim intrinsecamente
ligado à idéia de processo, social e histórico.
3- Pantanal Brasileiro e Chaco Paraguaio:
Condições sócio-ambientais
Segundo Ovelar (2005) existe no Paraguai
legislação especifica no que se refere ao uso e proteção ambiental, dos quais
podemos citar especialmente: O título II da Constituição Nacional, a Lei 350/94
que ratifica o convênio Ramsar sobre proteção de umidades, a lei 294/93 de
Evolução de Impactos Ambientais, a lei 352/94 de Áreas Silvestres Protegidas e a
lei 716/96 sobre Delitos sobre o Meio Ambiente.
A Controladoria Geral da República do Paraguai
fez uma investigação especial sobre a situação das terras do Departamento do
Alto Paraguai e constatou várias irregularidades, entre as quais
citamos:
1-
A zona de reserva do Parque nacional Rio Negro constitui a principal
área silvestre protegida situada no que os paraguaios denominam de Gran Pantanal
Paraguayo (Chaco) e da qual de maneira irregular se tornaram áreas particulares
cerca de 26.333
hectares de reserva
ecológica.
2-
Segundo as leis paraguaias, somente se pode realizar quedas de
arvores e outras vegetações com documentos prévios de impactos ambientais, assim
como plano de manejo de uso do solo.
No Chaco como em outras áreas do Paraguai, ocorre
uma grande concentração de imigrantes brasileiros que compram terras a preços
muito baixos constituindo-se em grandes propriedades rurais, cuja atividade
econômica é a criação de gado.
O Serviço Florestal Nacional do Paraguai realizou
inspeções no ano de 1994
a agosto de 1995 e detectou 14 infrações contra o meio
ambiente, sendo que 11 foram cometidas por brasileiros. Dados recentes da
Secretaria do Meio Ambiente de Assunção revelam que o problema continua e as
estatísticas estão aumentando.
Sobre esta realidade, o especialista ambiental
paraguaio Ovelar, nos revela que:
El informe señala “ La destrucción Del medio
ambiente será difícil de recuperar ya que utilizan tractores con cadenas para el
desmonte y luego le meten fuego liquidando totalmente la microflora, la
microfauna y hábitat de miles de animales silvestres” (OVELAR, 2005,
p.148)
Nota-se que os brasileiros utilizam tratores e
outros tipos de maquinários que facilitam o desmatamento, além de colocarem fogo
nas vegetações, acabando por ocasionar a fuga e morte de vários animais
silvestres.
Informações da Direção de Ordenamento Ambiental e
Comissão Nacional de Defesa dos Recursos Naturais revelam que estas atividades
estão modificando o ambiente e provocando alterações no solo,
El uso actual de la tierra está identificando con un sistema único de
producción cimentado en la tala y quema de bosques para la producción
ganadera…Estas actividades están produciendo modificaciones Del hábitat y
alteración de la cubierta del suelo…la utilización poco racional de los recursos
naturales marca una degradación galopante del ecosistema por largo tiempo.
(PARAGUAY apud OVELAR, 2005, p.148)
Desde o ano de 1975 aumentou demasiadamente estas
práticas de transformação da natureza em meio de produção, e sua origem advém do
processo de colonização das terras do Pantanal Paraguaio (Chaco). Segundo dados
de trabalhos de campo realizado por pesquisadores da Secretaria Nacional do Meio
Ambiente do Paraguai, o processo de divisão e ocupação das terras em torno do
rio Paraguai, tem ocasionado ao longo dos anos impactos ecológicos neste
ambiente.
Conforme Ovelar (2005) após a guerra com a
Bolívia, denominada de Guerra do Chaco (1932-1935) iniciou-se a venda de terras
a partir da zona da cidade de Bahia
Negra, departamento do Alto Paraguai, localizada nas margens do rio Paraguai,
para capitais estrangeiros, com valores muito abaixo do mercado. Os
proprietários começaram a destinar estas terras à extração de “quebracho
colorado”, uma espécie de madeira muito dura que produz uma resina utilizada
para a produção de tanino. Vale ressaltar que a maioria do capital estrangeiro
era argentino e brasileiro.
Entre os anos de 1965 e 1975 o governo vendeu
grandes áreas de terras compreendidas ao sul de Bahia Negra até Fuerte Olimpo,
cujos hectares variavam entre 10.000 a 40.000 e todas localizadas as margens do
rio Paraguai.
No mencionado local existe uma colônia nacional
denominada Colonia Borbón, cuja planta urbana é a capital departamental de
Fuerte Olimpo, sendo que a “superfície desta colônia é de 54.510 hectares com
lotes urbanos, 40 hectares de lotes agrícolas e lotes para pequenos criadores de
gados de 200 hectares.”. (OVELAR,
2005, p.144).
As leis paraguaias permitem que colonos
paraguaios vendam suas terras, após 10 anos de as terem adquiridas. Por este
motivo, as grandes maiorias das terras estão hoje, nas mãos de brasileiros que
as compraram dos Paraguai. Este fato também pode ser explicado pela facilidade
encontrada estrangeiros em fixar moradia no país, pois inexiste uma legislação
específica para imigrantes:
La única legislación son algunas medidas
administrativas han sido criadas las de documentar a todos a ley de calcetería
somos todos hermanos así que reconocimos a todos en papel y limpios mira pero
después no hay una en especial en absoluto.
No tempo presente observa-se que na margem
esquerda do rio Paraguai (Pantanal Brasileiro) a maior parte das terras estão
desmatadas, para serem convertidas em pastagens de gados. Por este motivo os
empresários brasileiros buscam terras na outra margem do rio, no Chaco,
aproveitando-se das facilidades acima mencionadas.
A degradação ambiental do Pantanal inicia-se no
Brasil e atravessa a fronteira, sendo os brasileiros os grandes consumidores dos
recursos naturais existente neste ambiente.
Os brasileiros son los atores mas dinámicos,
paraguayos es un actor tranquilo que queda en su casa (por la modificación)
entonces mas no chaco tienen que analizar mucho bien por la desforestación para
instalación de estancia la producción ganadera […]
Ovelar, 2005 relata que uma das reclamações das
organizações de conservação do meio ambiente contra os grandes criadores de
gados brasileiros é justamente a criação de pastagens artificiais, onde é
utilizada a queda de árvores e das vegetações existentes com topadoras,
arrasando grandes extensões de terras para logo queimá-las, destruindo a fauna e
flora do lugar. Estudos de impactos ambientais não são realizados, sendo que
atualmente existe uma lei que obriga a apresentação de um projeto de manejo de
bosque e estudos de impactos ambientais, mas que, lamentavelmente não é cumprida
e o documento não são exigidos pelas autoridades.
Por conseqüência, os brasileiros não costumam
cumprir a legislação paraguaia e para isso costumam pagar “propinas” para as
autoridades. Esta realidade pode ser explicada pela insuficiente condição
econômica e social de todo o território paraguaio.
Los
brasileños quieren hacer aquí... Tienen más dinero... Puede darse el
lujo, por lo que un hombre
de familia (responsable de medio
ambiente) tiene que tomar el dinero.
La policía aquí (Policía Nacional) gana muy poco,
y este dinero va
a marcar la diferencia. Casi no hay trabajo aquí, así que no conseguir lo que quieren, pero es necesario tomar…
As condições sociais no Departamento do Alto
Paraguaio, onde está localizado nossa área de pesquisa são precárias. A
principal atividade econômica é a criação de gado, porém como já mencionamos
anteriormente, os grandes proprietários são os brasileiros e os paraguaios são
empregados.
O salário pago para os paraguaios são muito
baixos, assim, na tentativa de melhorar a renda, muitos paraguaios também criam
pequenos animais no fundo de suas residências, como galinha, porco, bode, etc.
No entanto, há no local grande incidência de roubos desses animais, havendo
assim, grande zelo por parte dos donos que costumam deixar os animais amarrados
para evitar tais roubos.
A
população do Pantanal Paraguaio (Chaco) apresenta altas porcentagens de
necessidades básicas insatisfeitas, sendo que “82,2% dos habitantes carecem de
infra-estrutura sanitária adequada e cerca de 43% não tem acesso a educação
primária e 32% estão abaixo da capacidade de subsistência.” (OVELAR, 2005,
p.140. Tradução nossa, 2011).
Em pesquisa de campo realizada em outubro de
2010, na cidade chaquenha de Fuerte Olimpo, capital departamental do Alto
Paraguai, observamos moradores que ainda carecem de energia elétrica e água
potável.
El
agua llega una
vez a la semana, así que
tenemos reservas de agua,
para dar todos los días. Pero no dijo que
no, ahora el agua llega a
toda las personas, sólo sigue
teniendo... La luz entra en
la final de la tarde, pero ya que es la mitad
de la etapa. Hemos mejorado mucho
aquí.... no tenía nada antes acá…
É
possível observar que a água é um recurso natural regulado e isto se deve aos
vários problemas econômicos do país e especificamente do departamento do Alto
Paraguai, região considerada inóspita e desabitada, onde os recursos públicos
demoram a chegar.
No Pantanal de Porto Murtinho, as questões
ambientais também padecem com a falta de recursos públicos. A polícia ambiental
realiza os trabalhos de fiscalização em conjunto com o IBAMA e o
IMASUL. A mencionada polícia estabeleceu
convênio com estes dois órgãos no intuito de fazer cumprir as leis federais e
estaduais na área de fronteira, haja vista que o espaço a ser
fiscalizado é bastante extenso, conforme podemos observar na fala do Tenente da
Polícia ambiental de Porto Murtinho, quando o mesmo observava o mapa do
Pantanal.
Nós temos o Rio Paraguai, sobe aqui de Porto
Murtinho até Planalto Branco são 100 quilômetros, daqui até lá são mais 60
quilômetros [...] então são 160 quilômetros de área de fronteira, mais esse mais
esse pedaço aqui que da mais uns 80 quase 100 quilômetros também.
O
efetivo da PMA de Porto Murtinho-MS é de 10 homens, sendo que para fiscalizar
250 km² de área de fronteira, seria necessário no mínimo cerca de 50
homens;
Não trabalhamos só nos rios, cuidamos da fauna,
da flora então nossa fiscalização vai desde cuidar a pesca irregular até as
queimadas, desmatamentos. Temos também as barreiras nas vias de acesso que vai
até Jardim, O que nos ajuda bastante é a nossa parceria com o exercito, sempre
estamos fazendo operações juntos, inclusive essa operação Cadeado que encerrou a
dois dias ai, foi feito bloqueio na estrada, então essa parceria com o exercito
é muito importante.
Observamos que além das parcerias antes citadas,
a PMA também buscou apoio junto ao exército brasileiro. Este agora tem poder de
policia para atuar nas operações em área de fronteira e tem gerado pontos
positivos para as operações, tendo em vista que os problemas de infra-estrutura
são enormes.
Então o nosso deslocamento depende dessas nossas
parcerias que nos levam de viatura até o local onde podemos fazer a fiscalização
fluvial sem problemas, temos um motor com barco de 100 metros e uma lancha
Marajó com motor 90 que agente zela bastante porque sabe o quanto é difícil.
Aqui por exemplo está muito assoreado então essa nossa embarcação grande não
passa aqui, então não da para navegar aqui no Rio Apa com ela.
Os problemas vão além da falta de infra-estrutura
de base, pois há no local um alto índice de consumo dos elementos da natureza,
que estão se tornando escassos mesmo com fiscalização efetiva, como é o caso dos
peixes do rio Paraguai.
São onze espécies preservadas, nosso maior peixe
aqui é o Jaú, então ele não pode pegar com menos de 95 cm, menor que isso é
apreendido, os peixes grandes comem mais alevinos que os pequenos, então você
pegando os maiores eles já contribuíram para o rio e vai consumir menos
alevinos. Para você ter uma idéia em 2008 antes eram só essas 7 espécies aqui e
em 2008 já aumentou mais 7 ou 8 espécies aqui.
Os turistas são obrigados a respeitar a lei que estabelece cotas para
a pesca no rio Paraguai. A cota estabelecida é de 10 quilos de pescado
mais um exemplar de qualquer peso, e mais cinco piranhas.
Deste modo, entendemos que quando os elementos da
natureza se tornam um bem escasso, reafirmam a lógica capitalista de uma
sociedade que tudo mercantiliza, portanto, um bem só tem valor se é escasso.
Assim, os elementos da natureza estão cada vez mais sendo utilizados a favor
desse sistema, configurando-se em graves problemas
ambientes.
Logo, o princípio da escassez, assim como a
propriedade privada dos recursos naturais é quem comanda a sociedade capitalista
e suas teorias liberais, como afirma Porto-Gonçalves, geógrafo brasileiro, que
estuda as questões ambientais.
O mesmo considera que “o desafio ambiental
coloca-nos diante da necessidade de forjar novas teorias que tomem como base a
riqueza e não a escassez” (GONÇALVES, 2004, p.66), nos remetendo a pensar que a
natureza tornada propriedade privada, será objeto de compra e venda, portanto
mercantilizada, como já assinalamos anteriormente.
Considerações Finais
A idéia aqui proposta leva-nos refletir que o
controle do território coloca-se como fundamental para garantir o suprimento da
demanda por recursos naturais. Assim sendo, “as fronteiras, os limites
territoriais, se impõem como fundamentais para entender as relações sociais de
poder” (GONÇALVES, 2004, p.66), implicando em uma relação de estranhamento e
pertencimento, no que se refere ao modo como os seres humanos se relacionam
entre si e também como dominam e exploram através do espaço os recursos
naturais.
O fundamento da sociedade capitalista com a
natureza se baseia na dicotomia entre o homem e a natureza, cumprindo o papel
fundamental do capitalismo que é a generalização da propriedade privada, sendo
esta mesma lógica aplicada aos recursos naturais, estabelecendo relações de
poder.
Há, portanto, uma questão política e uma
geopolítica implicada no cerne do desafio ambiental, por meio do território,
explicada paradoxalmente por meio do desenvolvimento tecnológico, ou seja,
desenvolvimento das relações sociais e de poder por meio da
tecnologia.
Entendemos que o estabelecimento do controle
sobre os recursos naturais, não se dão da mesma forma em todos os lugares, assim
sendo, é a tecnologia e a ação humana que redefine constantemente quais os
recursos a serem utilizados.
Desse modo, o desenvolvimento tecnológico aumenta
a dependência por recursos naturais, e não o contrário. As garantias de que os
recursos naturais estarão sempre em controle, depende da ação do Estado, da
política, da capacidade efetiva de exercer o poder configurado através de leis,
limites e fronteiras.
Assim, são várias as estratégias do exercício do
poder, das quais estão sempre postas, para garantir o controle dos territórios,
para que “o exercício seja, além de legal, legítimo”. (GONÇALVES, 2004,
p.72).
A problemática ambiental do Pantanal Brasileiro e
do Chaco permite pensar que o desafio ambiental da atualidade, é fruto de uma
configuração espacial e territorial, provenientes de questões geopolíticas.
Portanto, a questão ambiental está no centro do debate geopolítico, na medida em
que o homem produz suas territorialidades quando se relaciona com a natureza e
com ele próprio, sem se dar conta que ele mesmo faz parte dessa
natureza.
Bibliografia
Ab' Saber, A. N. O Pantanal
Mato-Grossense e a teoria dos refúgios. Revista Brasileira de Geografia, v.
50, (número especial 1-2), p 9-57, 1988.
ABDON e SILVA. Fisionomias da vegetação nas sub-regiões do
Pantanal brasileiro/Myrian de Moura Abdon, João dos Santos Vila da Silva.
São José dos Campos. INPE; Campinas: Embrapa Informática Agropecuária, 2006. 1
CD ROM.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
IBGE
BANDUCCI JUNIOR, A.. A natureza do pantaneiro: relações sociais e
representação de mundo no Pantanal da Nhecolândia. 1. ed. Campo Grande:
Editora da UFMS, 2007
___________ . Catadores de
iscas e o turismo da pesca no Pantanal Mato-Grossense. 1. ed. Campo Grande: UFMS, 2006. v. 1. 253 p.
CARVALHO, Leonardo Arquimimo de. Introdução ao estudo das Relações
Internacionais. Porto Alegre: Síntese, 2003.
GONÇALVES, C. W. P. Os (des) caminhos do meio ambiente. São
Paulo. Contexto, 1989.
__________________. Geografia e Meio Ambiente no
Brasil. In: Formação Sócio - espacial e questão ambiental no Brasil. São
Paulo: Editora Hucitec, 2002.
_________________. Os porquês da desordem mundial. Mestres
explicam a globalização. Organizador Emir Sader. Rio de Janeiro: Recorde,
2004.
HAESBAERT, Jean – Paul. Des-territorialização e identidade: a rede
“gaúcha” no Nordeste. Niterói: EdUFF, 1997.
__________ O mito da desterritorialização. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
HISSA, Cássio E. V. A mobilidade das fronteiras: inserções
da Geografia na crise da modernidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006, p. 19-111
e 159-198.
MORETTI, E. C. A atividade turística e a
sustentabilidade ambiental, In:
Pantanal, Paraíso Visível e
Real oculto. O Espaço Local e o global, IGCE, curso de pós-graduação em
geografia, UNESP- Rio Claro, tese de Doutorado,
2002.
LEFF, Henrique. Epistemologia ambiental. São Paulo:
Cortez, 2001.
LUCATO MORETTI, S.A. A atividade turística e
transformações territoriais no município de Jardim-MS. Dourados/UFMS,
Departamento de Ciências Humanas, 2002. (Dissertação de
Mestrado).
______________________. As transformações recentes em uma comunidade
tradicional do Pantanal Mato- Grossense – Colônia São Domingos, Anais II
Simpósio sobre Recursos Naturais e sócio-econômicos do Pantanal, Embrapa –
UFMS, 1999.
MARTIN, Andre Roberto. Fronteiras e Nações. 2ª Ed. São Paulo:
Contexto, 1994.p 96
MARTINS, José de Souza. Fronteira: a degradação do outro nos
confins do humano. São Paulo: Hucitec, 1997, p. 09-77 e
145-2003.
MENDONÇA, Francisco. Território e Paisagem: uma articulação
moderna e conflituosa. In: Território e fronteiras-(re)arranjos e
perspectivas. Nilson Cesar Fraga ( org). Florianólplis: Insular,
2011.
MOLINA. Fabio Silveira. A produção do espaço pelo e
para o turismo: O caso da praia de Jericoacoara, Ceará, Brasil. Universidade
de São Paulo- USP, 2009. 16 p. disp. em:
http://egal2009.easyplanners.info/area08/8124_Molina_Fabio_Silveira.pdf.Acesso
em 23/06/2011 as 16:30 hs.
MOURA, Carlos Francisco. O Forte de Coimbra: sentinela avançada da fronteira.
Cuiabá (MT): Edições UFMT, 1975. 128 p. il.
PARAGUAY. La Dirección General de Estadística, Encuestas y
Censos (DGEEC). 2010.
RAFFESTIN, Claude. A ordem e a desordem ou os paradoxos da
fronteira. In: OLIVEIRA, Tito C. M. de (org.). Território sem limites –
estudos sobre fronteiras. Campo Grande: Ed. UFMS, 2005,
p.09-15.
_______________. Por uma geografia do poder. São Paulo:
Ática, 1993.
SANTOS, M. “Metamorfoses do espaço habitado” São
Paulo: Editora Hucitec, 1996.
___________. Por uma Geografia Nova. São Paulo:
Editora Hucitec, 1980.
TISSERA, Ramón de lãs Mercedes. Chaco: historia general. Com prólogo de:
Félix Luna, Juan Antonio Bisceglia; Osvaldo Pérez Chávez – 1ª Ed, - Resitencia:
Libreria de La Paz, 2008.
TORRACA, M.M.E. Imigração e Colonização Menonita no processo
de legitimação do Chaco Paraguaio (1921-1935). Dourados /UFGD. Departamento
de Ciências Humanas, curso de pós- graduação em História, dissertação de
Mestrado, 2006.
OVELAR, Mario Bernalt. Karakú Del Chaco Sudamericano. Territorio
Humano Del Milenio. Assunción – Paraguay: Editorial Ocidente,
2005.
OLIVEN, Ruben G. Territórios, fronteiras e identidades. In:
SCHULER, Fernando; BARCELLOS, Marília de A. (orgs.). Fronteiras: arte e pensamento na época do multiculturalismo. Porto
Alegre: Sulina, 2006, p. 157-166.
VÁZQUEZ, Fabrício. Territorio e Población. Nuevas dinámicas
regionales en el Paraguay. Asociación Paraguaya de estudios de población.
Vol 3. Asunción, Paraguay, 2006.
Fontes virtuais:
http://www.cedep.ifch.ufrgs.br/ acesso em 09/05/2011
as 11:48 hs
http://www.riosvivos.org.br/Noticia/EDITORIAL++desmatamento+no+Pantanal/15809.editorial de 28 de junho de 2010. Acesso em 2106/20111 as 16
hs.
(VIVIANA MARTINS, 29 anos, moradora do Chaco. Em
entrevista concedida a esta autora no dia
06/out/2010.
Lidia Antonio
Tiaparro, 35 anos, moradora do Chaco. Entrevista concedida a esta autora
em 06 de outubro de 2010.
O IMASUL
é o Instituto de Meio
Ambiente de Mato Grosso do Sul, órgão responsável pelo licenciamento
ambiental das atividades potencialmente poluidoras no
estado, e sua conseqüente fiscalização.
Ponencia presentada en el XIII Encuentro Internacional Humboldt.
Dourados, MS, Brasil - 26 al 30 de setiembre de 2011.