EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEPÇÕES TEÓRICAS E
O PAPEL DAS ONGS
ENVIRONMENTAL EDUCATION: THEORETICAL
CONCEPTIONS AND THE ROLE OF THE NGOs
María Riveliza da
Silva
UFGD
Resumo
Este trabalho é parte das reflexões que estamos
desenvolvendo em nossa dissertação de mestrado que tem por objetivo central
compreender a trajetória, objetivos e propostas de atuação voltadas à Educação
Ambiental da ONG “Ecologia e Ação” (ECOA), com sede em Campo Grande-MS no sentido de
identificar as concepções que a permeiam e as formas como estas ações de
Educação Ambiental são desenvolvidas. Neste texto em específico, buscamos
recuperar os diversos olhares sobre a questão ambiental, principalmente quanto
às concepções de Educação Ambiental e o papel das organizações
não-governamentais neste contexto. Considerando que esta pesquisa está em
desenvolvimento, apresentaremos parte das reflexões teóricas já realizadas e que
referenciam nosso entendimento sobre a questão ambiental, a Educação Ambiental e
o papel das ONGs em relação a esta questão.
Palavras-Chave: Meio Ambiente,
Educação Ambiental, ONGs, ECOA, Mato Grosso do Sul.
Abstract
This work is part of the reflections that are being developed in our
Master Degree dissertation, whose main aim is to understand the trajectory,
objectives and the proposals of performance for the Environmental Education of
the NGO called “ECOA – Ecologia e Ação” (Ecology and Action). Its headquarters
is in Campo Grande/MS. The goal is to identify the conceptions that
permeate the NGO and the ways that these actions of Environmental Education are
being developed. In this text specifically, we try to restore several of the
views about the environmental issue, mainly as for the conceptions of
Environmental Education and the role of the non-governmental organizations in
this context. Taking into consideration that this research is still being
developed, we shall present part of the theoretical reflections which have
already been carried out and which refer to our understanding of the
environmental issue, the Environmental Education as well as the role of the NGOs
as far as this matter is concerned.
Key words: Environment, Environmental Education, NGOs, ECOA,
Mato Grosso do Sul.
Introdução
Decorrente de um legítimo temor de nossa possível
extinção, bem como a reflexão sobre a conservação e direito à vida é que
inquietações emergem, face a um planeta constantemente mutante e em intensa
crise societária. Trata-se, na verdade, de uma sociedade contemporânea que se
encontra diante de uma condição estrutural que admite a caracterização de várias
crises (civilizatória, moral, política, ambiental, tecnológica, entre outras) e
que pode ser considerada como uma situação complexa – pois exprime as várias
patologias do capitalismo, desde o sentido de produção da modernidade até as
incertezas e individualismo acentuado, num momento que ao mesmo tempo em que
reuniu grandes avanços tecnológicos, promoveu também as maiores barbaridades
contra a natureza, incluindo a humanidade.
Provenientes de distintas motivações e
necessidades, quase todo sujeito – quer seja individual ou coletivo – reconhece
e se refere ao ambiente como extensão indissociável da humanidade,
mencionando-o, inclusive, como condição necessária para a conservação e
perpetuação da vida na Terra. Assim sendo, a questão ambiental representa uma
das mais importantes dimensões de atenção e análise por parte da sociedade
moderna. A exemplo, tem-se o expressivo aumento de discussões, produções
teóricas e manifestações sociais abordando a temática, isto, principalmente,
desde a década de 1970.
É,
portanto, a partir daí que a Educação Ambiental adquiriu grande destaque como
possibilidade de diminuir ou amenizar tal processo por meio de pressupostos e
ações educativas. Assim, é necessária uma visão mais crítica e profunda sobre
essa temática, refletindo sobre a complexidade do nosso atual modelo de produção
bem como pensar não somente nas conseqüências que esse modo de produção
acarreta, mas principalmente nas suas causas.
Neste sentido, entendemos ser relevante a
realização de uma pesquisa que busque uma reflexão, a partir de análise
fundamentada, visando discutir o papel das Organizações Não Governamentais
(ONGs) no desenvolvimento de ações de Educação Ambiental.
Deste modo, buscamos analisar os distintos pontos
de vista sobre a questão ambiental, sobretudo no que concerne às concepções de
Educação Ambiental neste contexto.
Levando em consideração que este trabalho em nível de mestrado
encontra-se em desenvolvimento e que neste momento estamos realizando
entrevistas com os membros da Ecologia e Ação, apresentaremos parte das
reflexões teóricas já realizadas e que fazem referência ao nosso entendimento
não somente sobre a questão ambiental, mas também à Educação Ambiental e o papel
das ONGs em relação a esta questão. Procuraremos, também, caracterizar a ONG em
estudo a partir da documentação já levantada sobre a mesma no sentido de
pontuar, a partir de suas principais ações as questões relativas à Educação
Ambiental.
Cabe destacar que a ECOA foi fundada com os seguintes objetivos: desenvolver
programas de proteção ambiental no meio urbano e rural; buscar a utilização
racional dos recursos naturais e lutar pela manutenção da qualidade de vida em
um ambiente ecologicamente planejado e equilibrado; participar e promover
eventos sobre questões ambientais; emitir pareceres técnicos, quando julgar
necessário ou quando solicitado; divulgar e registrar as ações e posicionamentos
da entidade e questionar qualquer ação que seja considerada uma agressão
ambiental.
Desde sua criação, a ECOA promove e apóia
campanhas para proteção de áreas naturais e criação de unidades de conservação.
De modo articulado em rede com entidades brasileiras e de outros países, busca
questionar e conquistar medidas e políticas de compensação para os grupos
atingidos por megaprojetos com forte impacto ambiental e social, como
hidrelétricas, hidrovias e projetos de industrialização.
A ONG visa, ainda, integrar a participação das comunidades na
formulação de políticas públicas pelo meio ambiente promovendo capacitações e a
produção de informações sobre a sustentabilidade ambiental, econômica, cultural
e social das localidades e seus povos.
A partir da investigação inicial sobre a ECOA,
verificamos que esta ONG desenvolve ações que mostram preocupação e compromisso
com as questões sociais e não meramente voltadas para uma “natureza em si” na
medida em que a maioria dos projetos envolve discussões e articulação com as
comunidades que vivem e se relacionam diretamente com esses ambientes naturais.
Neste sentido, entendemos ser relevante
investigar de maneira mais verticalizada as ações da ECOA e neste contexto as
práticas de Educação Ambiental desenvolvidas e implementadas a partir de seus
projetos e sua contribuição para a construção de alternativas ambientais
em Mato
Grosso do Sul.
Educação Ambiental e suas
concepções
Tendo em vista o intenso processo de degradação pelo qual o meio
ambiente vem passando, principalmente nos últimos trinta anos, é que a Educação
Ambiental aparece enquanto possibilidade de diminuir ou amenizar tal processo por meio de
pressupostos e ações educativas.
Nesse sentido, a Educação Ambiental, enquanto educação política
deve enfatizar o “porque fazer” ao invés do “como fazer”. Trata-se, portanto, de
entender as causas do problema e não somente destacar as conseqüências. É
necessário, deste modo, entendermos não só as relações que ocorrem no nosso
atual modo de produção que se baseia na superprodução e no superconsumo, mas
também vermos como este modo de produção busca minimizar os intrincados
fenômenos da realidade visando, por sua vez, não desfigurar a sua forma de
produção, isso, através de ações técnicas que tratam somente as suas
conseqüências e não as suas causas. Além disso, questionam-se as ações
tecnicistas que fazem recair sobre o indivíduo a responsabilidade, como se fosse
ele realmente o maior responsável pela degradação ambiental.
A Educação Ambiental trata-se, ainda, de uma
educação que não é neutra, mas sim ideológica, um ato político baseado em
valores que estimulem a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos
humanos. Ela é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com
consciência local e planetária que respeitem as relações entre si e entre o meio
no qual vivem.
Assim, a questão central é refletirmos sobre
fundamentos e conceitos de Educação Ambiental que não busquem um modelo padrão a
ser seguido por todos, pois isso se trataria não só de um reducionismo de uma
complexa realidade, mas também da negação do educar como processo dinâmico.
Ainda nessa direção, podemos colocar que certos conceitos e
categorias teórico-metodológicas passaram a ser tão comuns e repetitivas na
fundamentação dos projetos, programas e ações que acabaram perdendo seu sentido,
caracterizando-se num dano no que se compreende por Educação Ambiental, esta
enquanto política pública aprovada pela Lei nº 9.795/99, que instituiu a
Política Nacional de Educação Ambiental e que procura romper com o modelo
conservador. Assim diz Loureiro (2006):
Modelo conservador de educação que não compreende
a cultura como forma de representação e definição de valores decorrentes do modo
como a sociedade produz, se organiza, e de como interagimos no ambiente.
Aspectos estes que precisam ser levados em consideração em qualquer processo que
se pretenda educativo. (p.
26)
Uma das principais críticas feitas a este modelo conservador é que
ele se baseia numa visão mecanicista que simplifica e reduz os fenômenos
complexos da realidade não discutindo, por sua vez, as relações que ocorrem no
interior do processo produtivo, na sua forma social, mas discutindo somente seus
efeitos, o que implica em pensar em soluções pela via tecnicista sem alterar a
forma social de produção com suas regras de
mercado.
Outra questão a ser destacada é a de que muitos educadores
ambientais pautam-se em uma única visão de mundo, possuindo os mesmos objetivos
no que se refere à questão ambiental, mudando apenas o setor social em que atuam
(escolas, comunidades, unidades de conservação, meios de comunicação, empresas,
etc.), visão esta que precisa ser analisada e
superada.
Não se trata, portanto, de estabelecer um caminho único para a
“salvação” do meio ambiente, mas sim a possibilidade de construirmos, através de
uma Educação Ambiental crítica, uma sociedade que vise romper com a perpetuação
das relações de poder e interesses globais colocados, nas quais as nossas
necessidades vitais se encontram cada vez mais submissas à necessidade do lucro
imediato e nem mesmo o meio físico se encontra protegido dessas “necessidades”.
Esse é um dos pilares da Educação Ambiental que não se contenta com o senso
comum.
Assim, quando falamos em Educação Ambiental, esse
tema se amplia, uma vez que, o maior desafio da mesma é fazer com que todos
entendam a importância do meio ambiente para a preservação da própria vida
humana, através de uma educação ambiental que se pretenda coletiva, solidária,
crítica e permanente, aliadas à especificidade do momento em que vivemos. No
entanto, modificar essa sociedade que se caracteriza pela racionalidade posta
pela modernidade e que gosta dos confortos que este modo de produção proporciona
- até mesmo quando esses confortos estão inacessíveis, na maioria dos casos,
continuam sendo a nossa grande ambição - é um dos maiores desafios da Educação
Ambiental, pois:
A maioria de nós aprendeu a viver de e para o
supérfluo. Quando não o consumimos ou produzimos vemos nele o nosso grande alvo.
Entre ter e o ser, nos confundimos e, muitas das vezes, ficamos com o primeiro,
trocando nossa cidadania pelos sinais aparentes de um status que nos é impingido
como ideal. (LEROY e PACHECO, 2006, p.41)
Todo esse processo ocorre pautado nos paradigmas
da sociedade moderna que procura simplificar e reduzir a compreensão da
realidade, limitando o entendimento de meio ambiente na sua
complexidade.
Outra questão a ser considerada, é que apesar da
grande difusão que há, atualmente, sobre Educação Ambiental, a sociedade moderna
destrói hoje o meio ambiente mais do que há 30 anos atrás. Então, o que isso
pode significar? Será que os educadores de hoje não estão sensíveis para a
seriedade da questão ambiental que nos envolve atualmente? Ou será que a
Educação Ambiental não é capaz de contribuir para uma sustentabilidade
ambiental?
Apesar de bem intencionados, os educadores, ao
desenvolverem atividades reconhecidas como Educação Ambiental, apresentam, na
maioria das vezes, uma visão fragmentada, simplista e reduzida da realidade, se
apegando, por sua vez, aos paradigmas da sociedade moderna. O problema consiste,
então, no fato dessa visão simplista ser repassada não só na educação formal,
mas na informal também. Isso ocorre pelo simples fato de que, os professores, ao
não perceberem que os problemas ambientais decorrem dos conflitos entre os
interesses privados e o bem coletivo, bem como, entre a sociedade e a natureza,
não questionam as causas profundas da crise ambiental, difundindo-se nas esferas
educacionais, e particularmente nas escolas.
Assim, não podemos deixar de enxergar as
complexidades, dificuldades e crises do mundo, bem como o amplo meio ambiente à
nossa volta. A verdadeira Educação Ambiental deve ter como preocupação proteger
não só a flora, a fauna, a água e o ar, mas também os homens e as
mulheres.
Deste modo, seu
objetivo consiste em promover a compreensão dos problemas sócioambientais em
suas múltiplas dimensões: geográfica, histórica, biológica e social
contribuindo, por sua vez, para a transformação dos atuais padrões de uso e
distribuição dos recursos naturais.
Cabe destacar que, a partir de levantamento bibliográfico
realizado, notamos a complexidade da discussão teórica sobre Educação Ambiental,
a qual envolve questões que vão além de decisões técnicas e ações individuais e
comportamentais. Inclusive, para Brügger (2004) a educação ambiental
desenvolvida atualmente, na maioria das vezes, assemelha-se a um adestramento,
ou seja, uma instrução de caráter essencialmente técnico, fruto de uma visão de
mundo cientificista e unidimensional. Há, então, uma ênfase na mudança de
comportamento, mas não há mudança de valores e grande parte das ações de EA
revela, em termos de conteúdo e de forma, uma visão essencialmente instrumental
da questão ambiental e da educação.
Assim, há níveis de responsabilidade que vão muito além da esfera
pessoal e de situações particulares. Daí a importância de se atuar em esferas
coletivas, políticas e problematizadoras da
realidade.
Outra questão a ser discutida em relação a esse tipo de projeto é
o ideário de que o único responsável pela destruição do planeta é o homem, como
se todos os impactos que geramos tivessem a mesma intensidade e que se cada
indivíduo não fizer a sua parte, maior é a culpa dele. Entretanto, é necessário
entendermos que todo esse processo se dá no interior de um determinado modo de
produção, de acesso e uso desigual do patrimônio natural, o que torna imprecisa
a generalização de uma grande empresa e um único indivíduo, bem como de um
norte-americano e um africano.
É a partir daí que surge o papel da Educação Ambiental que visa fazer uma
identificação dos problemas e conflitos que afetam o ambiente no qual vivemos.
Isso tudo através de processos de ensino formal ou não-formal, bem como atuando
no cotidiano escolar e não-escolar.
Vale lembrar também que aquilo que chamamos de “problema
ambiental” nada mais é do que um problema social, proveniente do nosso atual
modelo econômico de produção que se baseia na superprodução e no superconsumo
praticados apenas por uma pequena parcela da humanidade. Neste sentido, Reigota
(1998, p. 9) afirma que: “É necessário entender que o problema está no excessivo
consumo desses recursos por uma pequena parcela da humanidade e no desperdício e
produção de artigos inúteis e nefastos à qualidade de vida.”
Assim, quando falamos em meio ambiente logo vem a noção de
“natureza”, “fauna e flora”, “vida selvagem”, “vida biológica”, portanto, o meio
ambiente surge como uma tradição naturalista, mas que pode ser sobrepujada caso
haja uma superação dessa dicotomia entre natureza e sociedade: através de uma
visão sócio-ambiental, por exemplo.
Nesse sentido Carvalho (2006) diz:
A visão sócio-ambiental pensa o meio ambiente não
como um sinônimo de natureza intocada, mas como um campo de interações entre a
cultura e a sociedade e a base física e biológica dos processos vitais (...). A
presença humana, por exemplo, aparece longe de ser percebida como intrusa ou
desagregadora (câncer do planeta), mas sim como um agente que pertence à teia de
relações da vida social, natural e cultural e interage com ela. (p.
37)
Em suma, a visão sócioambiental chama a atenção para os limites
reducionistas à dimensão física e biológica não negando, porém, a base “natural”
da natureza.
Na mesma direção, Loureiro (2006) afirma que a reflexão sobre a
problemática ambiental deve estar articulada com a contextualização social,
cultural, histórica, política, ideológica e econômica para não cair numa visão
de mundo dualista. Para ele, é impossível a EA ser praticada de modo
descontextualizado das práticas sociais, pois não é possível reverter o quadro
apenas com mudanças éticas ou comportamentais, depositando a responsabilidade no
indivíduo e eximindo a responsabilidade da estrutura social e o modo de
produção.
Inclusive, é justamente essa visão fragmentária que tende,
fortemente, a desenvolver, na nossa sociedade, ações isoladas, voltadas para o
comportamento individual, descontextualizadas da realidade socioambiental em que
o indivíduo está inserido.
Assim, a complexidade da discussão teórica sobre Educação
Ambiental envolve questões que vão além de decisões técnicas e ações individuais
e comportamentais.
Surge, portanto, a necessidade de uma Educação
Ambiental que rompa com os aspectos conservacionistas, buscando saídas para além
do desenvolvimento econômico e de mudanças comportamentais. Embora seja um ponto
importante, a questão é que não se trata apenas de garantir a preservação de
determinados animais e vegetais, mas sim de levarmos em consideração as relações
econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza.
As organizações não-governamentais no contexto da
questão ambiental
Por se declararem não pertencentes ao Estado, sem
fins lucrativos e se constituindo enquanto representação legítima da sociedade é
que, a partir da década de 60 do século XX surgem as chamadas Organizações
Não-Governamentais. Estas passaram, principalmente nos últimos anos, a ganhar
uma variedade de definições, dado seus objetivos múltiplos como cidadania,
desenvolvimento local, ambiente, ações assistenciais, entre
outros.
Determinada na Organização das Nações Unidas
(ONU) e derivada da expressão inglesa Non-governmental Organization (NOG), o
termo ONG foi empregado, pela primeira vez, na década de 1950, sendo
caracterizada como entidades que não foram fundadas por acordos
governamentais.
Representando um segmento importante da vida
coletiva é que, a partir da década de 1980, a terminação ONG teve seu boom,
se estabelecendo na principal forma organizacional na área do ambientalismo
tanto nacional quanto internacional.
As ONGs ambientalistas podem ser caracterizadas como entidades
independentes, privadas, sem ligações formais com o governo, sem fins lucrativos
e que visam atender às necessidades da população – dado seu caráter
sócio-ambiental. Isso através de uma ação direta em comunidades
específicas.
Assim diz Menescal (1996) apud Pignatti
(2005):
As ONGs podem ser atualmente definidas como
grupos de pressão sociais. Ou seja, como grupos de pressão que buscam, por um
lado, influenciar e democratizar políticas governamentais para que essas supram
de maneira mais extensa possível as necessidades da sociedade e de condições de
vida iguais e justas no mundo todo e, por outro, movimentar a sociedade em que
estão inseridas, utilizando-se de suas relações de solidariedade, na busca dessa
democratização e influência política. (p. 38)
Voltadas à promoção e realização de projetos de
desenvolvimento, as ONGs podem dizer respeito a vários segmentos como, por
exemplo, organizações sindicais, partidos, igrejas, universidades, setores
populares, entre outros. Trata-se de mecanismos que fornecem à sociedade bens
coletivos públicos – já que estão à disposição de toda a população – e bens
sociais – já que visa atender às necessidades da população e colaborar para a
construção da cidadania, através de interações sociais como o altruísmo,
confiabilidade e vínculos comunitários. Elementos estes que o Estado nem tão
pouco o mercado oferecem. Para Scherer-Warren (1998) apud Pignatti
(2005):
As ONGs são organizações formais, privadas, porém
com fins públicos, sem fins lucrativos, autogovernadas e com participação de
parte de seus membros como voluntários, objetivando realizar mediações de
caráter educacional, político, assessoria técnica, prestação de serviços e apoio
material e logístico para populações-alvo específicas ou para segmentos da
sociedade civil, tendo em vista expandir o poder de participação destas com o
objetivo último de desencadear transformações sociais ao nível micro (do
cotidiano e/ou local) ou ao nível macro (sistêmico e/ou global). (p.
38)
Quanto à sua estrutura de funcionamento interno,
observa-se alguns casos de entidades com um número limitado de membros e a
existência, até mesmo, de líderes vitalícios ou
honrados.
O principal modo de ação das ONGs ambientalistas
se dá através de duas maneiras, sendo a primeira delas a ação voluntária de seus
membros que destinam parte do seu tempo para realizarem atividades em prol das
metas almejadas pela entidade, ou; num segundo caso, através da obtenção de
recursos financeiros para a efetivação das ações propostas. Neste caso,
costuma-se haver a contratação de profissionais aperfeiçoados com as metas da
organização, profissionais estes que acabam por compor a estrutura
organizacional e política da entidade.
Em síntese, são entidades instituídas
voluntariamente, com relevante grau de independência na sua gestão e
funcionamento, e que não visam a obtenção de lucros materiais. São, ainda,
organizações voltadas para atividades vinculadas a questões sociais,
ambicionando a institucionalização, a qualificação do trabalho e a
profissionalização de seus administradores. Tratam-se, portanto, de entidades
que visam a cidadania plena, isto é, uma melhor qualidade de vida para todos,
permeando e politizando diferentes atividades neste
sentido.
Muitos ambientalistas percebem que promover o
social, muito contribui para a concretização de organismos democráticos aptos a
criarem condições para as necessárias modificações estruturais da
sociedade.
Inserir e formar novos atores sociais são
características que fazem parte, atualmente, da tradição dessas organizações e
que lhes conferem a certeza de que as atuações localizadas podem se multiplicar,
o que aumenta o seu poder de efeito.
De acordo com essa lógica, a crescente
mobilização e o compromisso individual e coletivo têm o poder de democratizar as
relações na sociedade.
Cabe destacar que as ONGs não surgem para
substituir as ações do Estado, mas sim como entidades que podem contribuir na
elaboração e execução de propostas, colaborando assim, de forma positiva nas
políticas de governo, buscando mudanças sociais
significativas.
As ONGs assumem relativa importância como grupos
de pressão, o que implica na sua forte atuação em nível político. Elas podem,
ainda, serem avaliadas em relação ao seu caráter público, pois oferecem serviços
sociais e assistencialistas, principalmente aos carentes e
marginalizados.
Neste contexto, temos a ONG “ECOA – Ecologia e
Ação” de Mato Grosso do Sul.A ECOA foi fundada em 1989 no Brasil. Sua sede é
em Campo
Grande, estado de Mato Grosso do Sul. Tem atuação local,
nacional e internacional. Do ponto de vista territorial sua prioridade é a
América do Sul. As unidades ambientais onde atua diretamente são a bacia do rio
da Prata, o Sistema Paraguai – Paraná de Áreas Úmidas, o Cerrado e o Pantanal.
As principais áreas de trabalho são: desenvolvimento integral de comunidades,
energia, infraestrutura e biocombustíveis.
Esta ONG foi fundada
com a finalidade de desenvolver programas de proteção ambiental no meio urbano e
rural; buscar a utilização racional dos recursos naturais e lutar pela
manutenção da qualidade de vida em um ambiente ecologicamente planejado e
equilibrado; participar e promover eventos sobre questões ambientais; emitir
pareceres técnicos, quando julgar necessário ou quando solicitado; divulgar e
registrar as ações e posicionamentos da entidade e questionar qualquer ação que
seja considerada uma agressão ambiental.
Desde sua criação, a ECOA promove e apóia
campanhas para proteção de áreas naturais e criação de unidades de conservação.
De modo articulado em rede com entidades brasileiras e de outros países, busca
questionar e conquistar medidas e políticas de compensação para os grupos
atingidos por megaprojetos com forte impacto ambiental e social, como
hidrelétricas, hidrovias e projetos de industrialização.
A ONG visa, ainda, integrar a participação das comunidades na
formulação de políticas públicas pelo meio ambiente promovendo capacitações e a
produção de informações sobre a sustentabilidade ambiental, econômica, cultural
e social das localidades e seus povos.
A ECOA busca promover campanhas e processos de diálogos
multisetoriais para criar espaços de reflexão, negociação e decisão frente a
questões prioritárias para a conservação ambiental e a sustentabilidade. Uma das
principais características da instituição é o permanente suporte para o
surgimento e desenvolvimento de redes, fóruns, articulações e organizações
locais no Brasil e em outros países.
Diante do exposto entende-se, a priori, que a
ECOA desenvolve ações que mostram preocupação e compromisso com as questões
sociais e não meramente voltadas para uma “natureza em si” na medida em que a
maioria dos projetos envolve discussões e articulação com as comunidades que
vivem e se relacionam diretamente com esses ambientes naturais.
Nos levantamentos iniciais que realizamos, foi
possível constatar que para a ECOA a Educação Ambiental é algo mais amplo e
complexo, que envolve saúde, meio ambiente, educação, elementos estes que são
direitos de todos, o que coloca a ONG numa perspectiva de Educação Ambiental que
entendemos mais interessante e coerente com as preocupações na dimensão
socioambiental. A partir das entrevistas e outras informações que estamos
levantando, pretendemos reunir elementos para fundamentar esta impressão (ou
hipótese) aqui apontada.
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