O
TRANSPORTE AÉREO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO BRASILEIRO
COELHO, Andutsa
RESUMO: Este artigo é uma análise
da dinâmica do transporte aéreo no Brasil. A partir da teoria da Formação
Sócio-Espacial de Milton Santos, abrange aspectos históricos, políticos, sociais
e econômicos. Aborda questões da
história do país como momentos importantes da indústria aérea, a exemplo do
projeto “Dê Asas à juventude”
idealizado por Assis de Chateaubriand e o Ministro Salgado Filho, apoiado pelo
presidente Getúlio Vargas. Destaca-se o período de estrita regulação, as
influências de políticas liberalizantes da década de 1990 à consolidação da
Agência Reguladora de Aviação Civil (ANAC). A realização do estudo permitiu
expor estratégias de mercado das empresas que visam seus lucros em detrimento ao
bem-estar dos passageiros e a utilização do espaço aeroportuário.
Palavras-chave: Transporte aéreo, Brasil,
Formação Sócio-espacial.
ABSTRACT:
This article is an analysis of the dynamics of air transport tin
Brazil. From the theory “Formação Sócio-Espacial” of
Milton Santos, covering historical, political, social and economic issues. Boarding questions of history as important moments in the airline
industry, like the project "Dê Asas à Juventude" idealized by Assis
Chateaubriand and the Minister Salgado Filho, supported by President Getulio
Vargas. Noteworthy is the period of strict regulation, the effects of
liberalizing policies of the 1990s the consolidation of the Regulatory Agency of
Civil Aviation (ANAC). The completion of the study allowed for market strategies of companies seeking profits over the
welfare of passengers and airport space
utilization.Ler foneticamente
Dicionário
INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é analisar o espaço aéreo brasileiro à luz
da teoria da formação sócio-espacial e verificar a dinâmica social e econômica
do setor estudado. O setor de transporte aéreo é um dos mais importantes da
economia nacional, pois apresenta participação significativa em vários setores
do país. Para compreender a estrutura e o sentido do transporte aéreo brasileiro
é necessário partir da classificação de Rangel (2005), que divide a economia em
dois setores: O setor I, ou infraestrutura, produção de bens e serviços de
produção; e o setor II que produz bens e serviços de consumo.
O interesse em estudar o sistema de transporte aéreo do Brasil,
vai muito além de sua extensão. Está contido em uma dinâmica de desenvolvimento
econômico e social. Ao longo da história do país é possível analisar que o
processo industrial e o progresso, que proporcionou a migração do campo para a
cidade, no qual houve a distribuição da população, as condições de trabalho e
produção, distribuição da riqueza social e seu modo de apropriação, a quantidade
e qualidade do capital necessário ao processo produtivo e a técnica da produção.
“O processo de desenvolvimento é alcançado quando uma ampla divisão social do
trabalho e o suprimento de mão-de-obra para as novas indústrias passam a ser em
função do aumento da produtividade do trabalho”. (Rangel, 2005, p. 223).
Mais do que isso, a necessidade de intercâmbio com outros países
no quarto Kondratiev que convergiu para a expansão industrial e o crescimento
econômico do Brasil, impulsionou transporte aéreo e este passou a ser um meio de
transporte muito requisitado, tornando-se um importante setor da economia que
culminou com o surgimento de inúmeras empresas de capital nacional e estrangeiro
e cada vez mais tem estreitado as vias de comunicação entre as regiões.
Conforme Anderson (1979), o papel do transporte aéreo brasileiro
pode ser examinado no contexto do “milagre econômico” brasileiro, um dos mais
bem sucedidos esforços nacionais do período pós-guerra. O país passou por
inúmeras transformações desde 1927, ano do voo inaugural da primeira de empresa
aviação civil. De um mercado incipiente da década de 1920, no qual a
constituição de empresas aéreas era livre e a regulação praticamente inexistente
emergiu empresas como a Cruzeiro do Sul, a Varig e a Transbrasil.
O período caracterizado como a Segunda Revolução Industrial para
os transportes pode ser expresso na fase A do 4º Kondratiev. Segundo Palhares e
Espírito Santo Jr. (2001), desde o final da década de 1940, com o efetivo
amadurecimento e crescimento da indústria de transporte aéreo, o trânsito
mundial de pessoas e cargas via aéreo experimentou um notável crescimento. O
aumento do volume destas movimentações tem sido impulsionado pelos contínuos
processos de estreitamento das relações comerciais entre os países, de forma
mais notável por intermédio da internacionalização da produção de bens e
serviços. O país passou, ao longo de décadas, a ter um setor com empresas de
porte e com marco regulatório definido, contando em 2005 com a criação da
Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
É indiscutível que para o bom funcionamento o transporte aéreo
necessita de estruturas terrestres sólidas. Conforme Moura (1992), a conquista
do ar tem por fundamento a conquista de uma bem aparelhada estrutura terrestre
de navegação, o que compreende não apenas o sistema aeroportuário, mas também as
instalações e serviços de infraestrutura aeronáutica. O transporte aéreo, como
elemento essencial no intercâmbio de passageiros e locomoção de mercadorias,
configura-se vinculado estritamente ao processo de criação, organização
administrativa, exploração comercial e gerenciamento de aeroportos. Os
aeroportos não são apenas uma das principais infraestruturas provedoras de
acesso entre cidades. Além de ser a principal porta do turismo, um negócio que
vem cada vez mais impactando a economia, também se destaca a importância dos
aeroportos na geração de emprego e renda de forma direta ou indireta.
A
INTEGRAÇÃO NACIONAL E A AVIAÇÃO NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
A teoria da Formação Sócio-Espacial, proposta por SANTOS (1977),
enfatiza que a sociedade deve ser pensada na perspectiva histórica, econômica,
social e espacial. É uma linha de pensamento que permite reflexões abrangentes
de determinações variadas na medida em que associa além daqueles elementos
humanos se somam ainda os da natureza. Expressa a unidade e a totalidade das
diversas esferas sejam elas econômica política, social e cultural da vida de
sociedade e dessa forma converge a unidade da continuidade ou não do
desenvolvimento histórico.
O espaço reproduz a totalidade social, pois as transformações são
determinadas por necessidades sociais, econômicas e políticas as quais são
interdependentes. O espaço reproduz-se no interior da totalidade na medida em
que evolui em função do modo de produção e de seus momentos sucessivos. O espaço
também influencia na evolução de outras estruturas e por isso é indispensável
enfatizar que se torna um componente fundamental da totalidade social. Por isso
que a categoria da Formação Sócio-Espacial transgride o conceito de expressão
econômica da história e abrange a totalidade da vida social.
Nessa perspectiva é
que se devem contextualizar alguns aspectos fundamentais que marcaram a história
política, social econômica do transporte aéreo no país. Entre as décadas de 1930
e 1940, a campanha dos Associados promovida pelo jornalista Assis de
Chateaubriand proporcionou uma nova configuração no transporte aéreo
brasileiro. Ao longo de dez anos a
campanha conquistou uma quantidade significativa de aeronaves “entre dois mil e
três mil aparelhos” (MORAIS, 1946, p. 392). Intitulada “Dê Asas à juventude”,
inspirada em uma conversa do jornalista com o ministro da aeronáutica, Salgado
Filho, consistia no batismo de aviões que haviam sido doados por representantes
do pacto político do poder da época. O objetivo era o treinamento de pilotos em
aeroclubes que se multiplicavam por centenas de cidades no interior do Brasil.
O plano executado baseava-se em troca de interesses políticos e
econômicos. A ideia inicial foi solicitar a banqueiros, comerciantes,
industriais e cafeicultores a doação de um avião de treinamento. Aos Associados
cabia cobrir de elogios o doador e os aviões seriam batizados com um nome
ilustre. Cada batismo seria uma cerimônia pública, champanhe, banda de músicas e
discursos. “O rico que se recusasse a contribuir entrava para a temida lista
negra dos inimigos de Chateaubriand”. (MORAIS, 1946, p. 394).
Tal qual o otimismo de Salgado Filho e Chateaubriand o plano
obteve o retorno esperado. No dia 22 de março de 1941 no aeroporto da Ponta do
Calabouço foi realizada a solenidade do primeiro avião. Um Piper Cub foi doado por Samuel Ribeiro
para o aeroclube de Pelotas, Rio Grande do Sul. A cobertura da cerimônia ocorreu
de acordo com o combinado e, no entanto, no dia seguinte apareceu o segundo
avião. Othon Linch Bezerra de Melo doou um monomotor que se chamou Duque de
Caxias, destinado ao aeroclube de Caxias, também no Rio Grande do Sul. Seguido
de intensas comemorações, o terceiro avião foi doado pelo industrial Manuel
Ferreira Guimarães, presidente de Associação Comercial do Rio de Janeiro, enviou
a Chateaubriand um cheque para pagar a fatura do avião Tiradentes para o
aeroporto de São José do Rio Preto, São Paulo. Outras aeronaves que seguiram
batizadas foram Júlio Mesquita, o Capitão O’Reilly, o Guia Lopes e o Antônio
Mostardeiro Filho.
A cerimônia de entrega das aeronaves acontecia de forma
padronizada: com os portões do Calabouço abertos ao público e aos convidados, o
doador fazia um discurso. Depois falava um representante da família do
homenageado com o nome do avião. Em seguida era a vez do ministro Salgado Filho
e depois o padrinho ou a madrinha jogava champanhe na hélice do avião e os
garçons engravatados serviam a bebida em taças aos presentes. A campanha de
aviação obteve muito destaque no país, exemplo disso é que até 1944 havia no
Brasil seiscentos aviões, enquanto na Inglaterra havia quinhentos aviões de
treinamento para pilotos civis.
Chateaubriand enxergava os aviões de forma filosófica, não apenas
um meio de transporte e por isso afirmava:
um libertador que arrebata-nos das miseráveis
contingências terrenas para fazer-nos viver o que é eterno. Sua velocidade
parece-nos indicar uma contradição com a paisagem repousante e tranqüila que nos
envolve. “Dentro de um volívolo desses, capturamos nosso próprio eu, e na sua
companhia saímos em um estirão voluptuoso pelo universo afora, tal a beatitude
em que nos dissolve um vôo pelo espaço”. (MORAIS, 1946, p. 392).
É importante destacar que o plano de Chateaubriand foi ao encontro
do desejo de integração nascente no Brasil e a conquista do interior território
nacional. O Brasil da década de 1930 procurava orientar-se no novo cenário
político econômico que surgiu. Com uma nova configuração e a ascendente
industrialização fazia-se necessário, para avançar para o interior, vias de
meios e transporte que favorecessem a ligação das regiões brasileiras.
O Brasil da década de 1930 apresentou dificuldades econômicas em
conseqüência da crise desencadeada em 1929 com o crack da Bolsa de Nova Iorque, mas essa
conjuntura foi relativamente favorável por causa do obstáculo às importações.
“Não havia disponibilidade em divisas para adquirir no exterior as manufaturas
necessárias à satisfação da demanda interna, apesar da retração desta última por
efeito da crise”. (PRADO JR., 1978, p. 74). O país passava por mudanças com o
fim da Velha República, a crise mundial, a eclosão de revoltas militares, a
exemplo da Coluna Prestes e o visível aumento da população urbana.
O período em questão
corresponde a fase B do terceiro Kondratiev, o qual, segundo Rangel (2005),
impôs uma forma nova e superior de substituição de importações, isto é, a
industrialização. Esse também foi um período característico no que tange
articulações políticas, pois a classe dos capitalistas industriais, dissidência
progressista da classe dos comerciantes negociou com os latifundiários. Surgida
da segunda dualidade, um novo pacto para que fosse exercida a hegemonia política
e assim foi favorecida a industrialização do país. O resultado acabado dessa
aliança foi a figura de Getúlio Vargas, um estancieiro aclamado pais
industrialização líder da Revolução de 1930.
TEMPOS
DE EXPANSÃO DA AVIAÇÃO
Com o fim da Primeira Guerra, o transporte aéreo ganhou mais
intensidade no mundo inteiro. Muitas rotas domésticas foram espalhadas na Europa
e nos Estados Unidos. De acordo com Anderson (1979), foi facilitado devido ao
desenvolvimento da tecnologia aeronáutica e as facilidades de fabricação de
aeronaves ocorridas durante a guerra- processo semelhante aconteceu depois da
Segunda Guerra.
Na América Latina, uma das primeiras empresas que se destacou
começou na Colômbia em 1920 e no Brasil a primeira começou no ano de 1927. Ambas
eram organizações alemãs, o que era comum até 1927 quando a companhia francesa
Compagnie Générale d’ Enterprises
Aéronautiques começou a operar.
Com o advento da Segunda Guerra surge uma nova configuração
aeronáutica: restritos pelos aliados nas suas atividades aeronáutica na Europa,
a Alemanha patrocinou operações locais organizadas como companhias nacionais na
América Latina, o que assegurou um tratamento mais simpático dos países latinos.
A companhia de propriedade alemã incorporada no Brasil, a Sindicato Condor
tornou-se a base de operações alemã em todo o continente latino americano. A
Condor iniciou uma linha do Rio de Janeiro a Porto Alegre em 1927, com uma
extensa de 160 milhas para o Rio Grande, que foi transferida para uma companhia
recém organizada, a VARIG.
Em termo de organização política no Brasil foi criado em 22 de abril de
1932, pelo governo Getúlio Vargas o Departamento de Aviação Civil (DAC),
subordinado ao Ministério da Aviação e Obras públicas. A preocupação
governamental com a aviação civil surgiu alguns anos antes, em 1920 quando havia
sido criada a Inspetoria Federal da Viação Marítima e Fluvial, com atribuições
referentes à navegação e indústria aeronáutica em épocas de expansão. A década
de 1930 foi abundante em movimentos sociais e políticos que defendiam a
unificação do poder aéreo e a criação de uma Força Aérea independente. Por isso
em 20 de janeiro de 1941, também pelo presidente Vargas, foi criado o Ministério
da Aeronáutica, “incorporando todo o acervo material e humano das extintas
Aviação Naval e Aviação Militar, bem como o Departamento de Aviação Civil.”
(MALAGUTTI, 2001, p. 3).
Em 1927 já havia sido autorizada a exploração de duas empresas
estrangeiras, a realizarem cabotagem: a alemã CONDOR SYNDIKAT e a francesa
AÉROPOSTALE, visando unicamente o atendimento ao usuário e a integração do
território. Em 10 de junho do mesmo ano a VARIG obteve concessão para
operar. No ano seguinte a SINDICATO CONDOR (esta resultante da
nacionalização da CONDORSYNDIKAT) passou operar com equipamentos da empresa
alemã nacionalizada. No final dos anos 1930, o nome da empresa foi alterado para
Serviços Aéreos Condor e em 1943 passou a se chamar Serviços Aéreos Cruzeiro do
Sul, “durante a Segunda Guerra Mundial, em decorrência de restrições
governamentais ao seu nome resultante da empresa alemã”. (MALAGUTTI, 2001, p.
4).
Em 1930, surgiu a Panair do Brasil, subsidiária da Pan Americana, operada
por pilotos norte-americanos até 1938. Após a Revolução de 1932, em São Paulo
foi fundada por um grupo de 72 empresários a VASP, a qual passou operar a parir
de 31 de março de 1934.
A ascensão aérea no Brasil ocorreu verdadeiramente entre o final dos anos
de 1940 e o começo da década de 1960. A quantidade de aeronaves
utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial gerou a elevação da oferta e
proporcionou o aumento da frota da brasileira. Nesse período foram criadas
empresas importantes, como afirma Malagutti (2001): a NAB – Navegação Aérea
Brasileira em 1939; Aerovias Brasil em 1942; LAP – Linhas Aéreas Paulistas em
1943; VASD – Viação Aérea Santos Dumont em 1944; LAB – Linhas Aéreas Brasileira
em 1945; Viação Aérea Gaúcha e a Real Transporte Aéreos em 1976; a TABA –
Transportes Aéreos Bandeirantes, a Transportes Aéreos Nacional e o Lóide Aéreo
Nacional em 1947; a Paraense Transportes Aéreos em 1952 e a Transbrasil em 1954.
Porém ocorreu um desequilíbrio no mercado, o excesso de oferta que se
estabeleceu em relação à demanda então existente, culminou por tornar
antieconômicos os vôos por elas realizados. O mercado da época, com dimensões
reduzidas, não foi suficiente para manter uma estrutura com um número expressivo
e as empresas enfraqueceram, algumas faliram e outras foram absorvidas por
outras ou se fundiram.
Na década de 1960,
a aviação brasileira passava por uma intensa crise
econômica causada por fatores:
Baixa rentabilidade do transporte aéreo provocada
pela concorrência excessiva, a necessidade de novos investimentos para renovação
da frota, visando á substituição das aeronaves do pós-guerra, cuja manutenção
tornava-se difícil e cuja baixa disponibilidade prejudicava a regularidade dos
serviços; as alterações na política econômica do país, que retirou das empresas
aérea o benefício do uso do dólar preferencial para as importações, etc.
(MALAGUTTI, 2001, p. 5).
Para superar a crise as empresas e o governo juntaram-se para
estudar mudanças políticas que se adaptassem a nova realidade e fosse dada
continuidade dos serviços de transporte téreo mesmo que o número de empresas
fosse reduzido e o governo tivesse que exercer controle rígido sobre elas. Ao
longo da década de 1960 foram três reuniões denominadas Conferências Nacionais
de Aviação Comercial (CONAC), respectivamente em 1961, 1963 e 1968. As
conclusões chegadas nessas conferências conduziram a uma política de estímulos à
associação de empresas com o objetivo de reduzir a exploração do transporte
internacional e nacional. É o início do regime de competição controlada com a
intervenção pesada do Governo nas decisões administrativas, escolha de linhas,
reequipamento da frota e o estabelecimento do preço das passagens. Essa foi a
segunda fase da evolução da política governamental para setor que se estendeu
até a década de 1980 quando começaram operar aviões turbo-hélices e jatos da
aviação civil brasileira.
A
ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO AÉREO
No início da década de 1970, havia apenas quatro empresas aéreas em
operação no Brasil. A elevação da receita obtida com o “Milagre Econômico” antes
de 1973 foi compensada pelo primeiro choque do petróleo. Segundo Lopes (2005),
estudos de demanda realizados pela DAC concluíram que havia espaço para somente
três empresas, assim foi incentivada a fusão a VASP com a Cruzeiro que estava
com dificuldade financeiras, mas as negociações não foram efetivadas. Desse modo
a Cruzeiro anunciou a venda do seu controle acionário para a VARIG, e assim
passava a ter mais 50% do mercado nacional e os monopólios das linhas
internacionais.
A partir de 1975, foram introduzidas aeronaves mais modernas, e de maior
porte, as empresas foram obrigadas a mudar as linhas, optando por operar apenas
em cidades de expressão econômica mais significativa. As cidades de interior,
com aeroportos precariamente equipados que serviam apenas aviões de pequeno
porte passaram a não dispor mais do serviço. Assim é que, “de um total de 335
cidades servidas por linhas aéreas em 1958, somente 92 continuavam a dispor do
serviço em 1975”. (MALAGUTTI, 2001, p. 5). Por esse
motivo o Ministério da Aeronáutica decidiu criar a modalidade em empresa aérea
regional, para que as cidades do interior também pudessem ser
atendidas.
A queda do muro de Berlim no final dos anos 1980, com o aprofundamento da
crise mundial iniciada em 1973, inaugurou uma nova fase econômica pelo mundo. O
pensamento liberal predominou e de modo geral e os governos reduziram o seu
controle sobre as economias de seus países para a condução de forças de mercado
livres. Mesmo com a IV Conferência Nacional de Aviação Comercial (IVCONAC) de
1986 em que não despertou alterações política mudanças foram introduzidas pelo
contexto liberalizante que estava presente. O Governo passou a abandonar o
regime de indexação da economia e da fixação de
preços.
Em sintonia com a nova política econômica, o Ministério da Aeronáutica,
em 1989 por meio da DAC optou por uma política de flexibilização tarifária. Com
base nessa política foi abandonado o regime de fixação de preços das passagens
aéreas, foi estabelecida uma faixa de variação em torno do valor fixado pela
DAC, correspondente à tarifa básica. “As empresas tiveram permissão a conceder
descontos de até 50% sobre um preço de referência ou elevar em 32%”. (LOPES,
2005, p. 15).
Em novembro de 1991 foi realizado a V CONAC, em busca de uma definição
clara de uma política articulada as tendências liberalizantes em diversos países
do mundo. Com os resultados da conferência o Ministério da Aeronáutica
estabeleceu diretrizes para orientar a ação do órgão regulador, o DAC, para que
gradualmente fosse reduzida de regulação existente. As medidas de flexibilização
determinadas pela DAC “trouxeram mais liberdade para as companhias aéreas
fixarem suas tarifas e explorarem novas rotas, também facilitou a entrada de
novas empresas no mercado, comparada a situação existente até o fim da década de
80”
(GUETERRES, 2002, p. 21).
Como conseqüência dessa nova política foi implementado o sistema de
liberação monitorada das tarifas aéreas domésticas, o mercado foi aberto para
novas empresas, tanto para transporte regular quanto de transporte não -
regular, regionais e cargueiras. Também foi aceito pelo V CONAC a introdução de
bandas tarifárias, importante para o processo de flexibilização da
regulamentação do transporte aéreo, em função disso a procura por investimentos
no setor cresceu significativamente.
Entre 1995 e 2005, observa-se o aumento significativo do número de
empresas em operação e do número de localidade que passaram a ser servidas pelo
transporte aéreo regular. Medidas de flexibilização foram adotadas em 1997 e
1998 através de portarias importantes. Entre 1999 e 2001 o DAC continuou com
mudanças no mercado para reduzir o controle sobre a questão tarifária. Vigoraria
uma nova classificação para linhas aéreas regulares domésticas de passageiros,
com fins de tarifação: (a) linhas liberadas – submetidas ao regime de liberdade
tarifária; (b) linhas controladas – submetida ao regime de liberdade tarifária
controlada. O Brasil teve dois pontos importantes, como afirma Lopes (2005): a
facilidade de entrada de novas empresas regulares e o fortalecimento das
empresas regionais. O mercado não passou a ser muito competitivo em decorrência
dos grupos de empresas que se formariam. Para atender interesses comuns, a
VARIG, a Rio Sul, a Cruzeiro e a Nordeste se agruparam. Outro bloco é
constituído pela TAM, Brasil Central, Helisul, Itapemirim-Regional e TAM
Meridionais. A Transbrasil manteve-se como subsidiária da Interbrasil.
O
DESENVOLVIMENTO E ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS AÉREAS
Em 2001 foi o ano em que se iniciou a operação da Gol linha
aéreas, a primeira empresa regular com passagens de preços significativamente
reduzidos, até 40% mais baixas do que as empresas tradicionais. Essa política
deve-se a fatores como a padronização da frota, o que reduz os investimentos na
manutenção de peças e equipamentos, terceirização de serviços de venda de
passagem e apoio de pista, simplificação de serviços de bordo. Nesse sentido, a
demanda elevou-se e a infraestrutura para o setor tornou-se insuficiente o que
culminou com a criação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) em 2005 e uma
nova regulamentação foi divulgada juntamente com reestruturações de ordem
política e econômicas.
O desenvolvimento do transporte aéreo aconteceu
em um período de significativas mudanças do poder internacional. Antes do final
da Segunda Guerra, a aviação brasileira encontrou formas de inserção da nova
ordem nascente. Segundo Fay (2002), após receberem apoio dos estados, as
empresas do transporte aéreo encontraram uma forma jurídica para respeitar os
direitos de soberania e paralelamente, regular e proteger o setor da competição
em excesso.
Na época em que o transporte aéreo foi implantado, a situação
internacional convergia para uma disputa entre potências para a implantação de
uma nova ordem mundial. A Segunda
Guerra proporcionou uma nova visão sobre o uso do avião, pois levaram ao redor
do mundo a bandeira de seus Estados nacionais e aprimoraram as relações
culturais e comerciais com as outras nações. “O avião, ao reduzir as distâncias
entre os continentes, acelerou a circulação de riquezas e promoveu maior
intercâmbio de ideias e culturas”. (FAY, 2002, p. 124). A aviação passou a ser
vista pelo seu potencial estratégico na defesa, observação e ataque, além disso,
passou a representar um risco e uma necessidade para os países: defender a
soberania do seu espaço aéreo e garantir a segurança dos passageiros. Apoiados
pelas nações foram criados regulamentos que possibilitaram o desenvolvimento das
companhias.
Hoje em dia existe uma realidade diferente de algumas décadas
atrás na indústria aérea o que proporciona cada vez mais autonomia para o setor,
como qualquer conjunto de empresas que compõe a nossa economia. Algo que deve
ser preservado é a função do Estado em manter o controle e vigiar as empresas
para que seja mantido o comprometimento com os interesses da nação. “Cabe ao
Estado a função de manter o controle e a vigilância por motivos de interesses
nacionais em termos de segurança e coordenação, bem como de verificações de
ordem técnica e potencialidades comerciais.” (MOURA, 1992, p.51).
No
atual patamar de organização da indústria aérea brasileira é possível constatar
que a presença do Estado traz muitos benefícios, pois as empresas apresentam uma
disposição competitiva dentro dos limites e da fiscalização da agência
reguladora. Abaixo estão descritos alguns exemplos.
Os programas de fidelidade foram criados para incentivar os
consumidores a se mantiverem fiéis à mesma companhia. Sem esses programas, a
escolha da empresa para transportar o passageiro em um determinado trajeto
estaria baseada em fatores como preço, serviço ou disponibilidade. O princípio é
fornecer algumas vantagens que permita o cliente escolher a companhia, mesmo que
exista um concorrente com tarifas mais vantajosas ou com serviço mais
sofisticado.
Os programas desenvolvidos podem favorecer duas esferas: clientes
ou agente de viagens. Para os clientes os programas concedem um bônus, em forma
de pontos ou milhas. Os bônus podem ser trocados por diversos benefícios.
Alguns passageiros, sobretudo os que viajam a negócios, não pagam
pelas passagens. Mesmo quando uma passagem é paga pela empresa, os benefícios do
programa convergem para o viajante.
Como os programas de fidelidade premiam passageiros frequentes,
existem maneiras parecidas que premia agentes de viagens pela maior venda de
bilhetes uma determinada empresa aérea. Os funcionários de agências de viagens
aumentam suas comissões à medida que alcançam metas ambiciosas de vendas para
companhias que patrocinam o programa.
É muito comum a companhia aérea realizar parcerias com Bancos ou
entidades fornecedoras de cartões de credito. É um mecanismo que acumula pontos
nas compras à prazo e possibilita a troca desses pontos na redução parcial ou
total da tarifa do transporte aéreo.
Reservas Computadorizadas (SRC)
Trata-se de uma inovação estadunidense que se espalhou pelo mundo.
O sistema liga as empresas aéreas, às agências de viagens por meio da internet. Torna-se possível às agências
e os próprios usuários pesquisarem voos disponíveis para um determinado destino,
as tarifas mais vantajosas, horários de voos e escalas.
Essa estratégia de vendas chegou ao Brasil juntos com as empresas
baixo custo/baixo preço. A Gol Linhas Aéreas pioneira deste modelo no país
introduziu o sistema de reservas para manter o padrão para reduzir as tarifas na
medida em que representa uma grande economia.
O code-share é um
acordo de cooperação por meio do qual há disponibilização recíproca de assentos
entre duas ou mais empresas aéreas. “É uma prática comercial e operacional
comumente utilizada por grandes empresas aéreas pelo mundo afora, e se refere ao
fato de que um voo operado por uma companhia aérea será comercializado com se
fosse um voo de uma ou mais empresas.” (Oliveira, 2009, p. 186). Reserva-se um determinado número de
assentos em um avião para que a aliada utilize, em troca da disponibilidade de
assentos do avião da aliada.
Para Palhares (2002), existem impactos negativos e positivos das
alianças sobre os consumidores. Os positivos decorrem de uma maior extensão da
quilometragem das rotas à disposição dos consumidores, de ganho de escala da
operação das empresas, maiores opções de conexões sem precisar novos check-in’s,
e de maior capacidade de enfrentar requisitos tecnológicos. Os impactos
negativos estão no fato de que as alianças nacionais e internacionais podem
inibir os efeitos da concorrência impostos pela desregulamentação. Isso porque,
as empresas podem monopolizar o mercado e controlarem os preços praticados.
Um exemplo disso é evidenciado no Code-share Varig-TAM em 2003, mencionado
na seção 3.1.2. O acordo foi criado em um momento de dificuldade financeira para
as duas empresas, advindas da entrada da GOL e da crise que se seguiu ao 11 de
setembro de 2001. A parceria
proporcionou ganhos, ambas as companhias reduziram seus custos operacionais.
Apesar de pouca duração do acordo, Oliveira (2009), afirma que no momento
posterior o cenário foi de fortes processos competitivos e guerra de preços que
estimularam fortemente a demanda.
O surgimento das Low Cost Carriers (LCCs), “Voos de Custo
Baixo” ou também chamados Low Cost, Low Fare, “Custo Baixo, Preço Baixo”,
inaugurou uma nova dinâmica no mercado antes monopolizado pelas Full Service
Carriers (FSCs) “Vôos com Serviço Completo”. As LCCs apareceram com a
desregulamentação do setor de transporte aéreo, como já foi visto na
anteriormente, a década de 1970, nos Estados Unido se traduz como um dos
acontecimentos mais marcantes do transporte aéreo mundial nas últimas décadas.
“Com expressivas taxas de crescimento e preços consideravelmente mais baixos que
então vigentes, as companhias aéreas baseadas nesse modelo de negócio acabaram
por popularizar consideravelmente o transporte aéreo como meio de transporte em
diversos países ou blocos de países”. (OLIVEIRA, 2009, p. 63).
A empresa pioneira no sistema “Low Cost, Low Fare”, foi a
norte-americana Southwest Airline. As características do paradigma
representado pelo modelo de negócio dessa empresa são as seguintes, elencadas
por Oliveira (2009): vôos com rotas densas, com etapas curtas e configuração de
rede ponto-a-ponto sem transferências ou conexões, com ênfase no uso intensivo
de aeronave; estratégia agressiva de precificação; pioneirismo na ênfase no
e-ticketing (bilhetes emitidos eletronicamente), ênfase nas vendas pelo
website próprio, sem recurso a agentes de viagem ou sites de
terceiros; radical simplificação do serviço de bordo, sem perder a
atenciosidade; padronização da frota de aeronaves, em geral configuradas como
única classe; e uso de aeroportos secundários menos congestionados. Este
conceito rapidamente expandiu-se por outras regiões, atingindo o mercado
brasileiro.
No Brasil esse sistema chegou com a GOL, em um período que marcou
a aviação nacional. Com uma estrutura de custos reduzidos e serviços de bordo e
atendimento de passageiros mais simples do que as empresas que estavam no
mercado até o então, os brasileiros contaram com tarifas menores e houve a
expansão da demanda.
Outro motivo para o conquista de maior espaço da GOL, foi que o
DAC concedeu slots (pedidos de
aterrisagem/decolagem) em rotas de
maior movimento, competindo com as demais empresas, mas com custos reduzidos. A
GOL aproveitou a oferta abundante de funcionários experientes provenientes a
VASP e Transbrasil. A GOL não apresentava dívidas, como a VASP e a Transbrasil
que entraram em falência e possuíam elevadas dívidas com a INFRAERO, com taxas
aeroportuárias, com a PETROBRÁS e INSS, o que também foi um fator positivo para
reduzir o preço das passagens.
Existem dois modelos de empresas aéreas para fins de preços das
passagens. Há aquelas que investem em um bom atendimento, logística eficiente e
excelente serviço de bordo e outras que estão interessadas em conter o preço das
tarifas. De acordo com Rodrigues (2007), uma empresa que se enquadra na primeira
descrição é a TAM. A companhia oferece, para cada itinerário de viagem, cinco
tarifas diferentes ( promo, light, flex,
Max e top). Cada tarifa possui suas vantagens, sempre de acordo com o
montante pago. Quanto maior a tarifa escolhida, maiores as vantagens. Estas vão
desde maior reembolso, em caso de desistência, à maior mobilidade para mudança
de horário e data.
Já a GOL oferece tarifas reduzidas, com poucas vantagens para os
clientes. Os preços das tarifas também variam entre os períodos de alta e baixa
estação e quanto a antecedência da aquisição. Quanto maior o período entre a
compra e a viagem, maior o preço. Ainda há casos de promoções repentinas, como
passagens que custam R$ 50,00 a ida e a volta por R$ 1,00.
O hub-and-spoke
é sistema de tráfego
de linhas aéreas concentra chegadas e saídas de aviões em uma base
principal, oferecendo vôos com conexão aos passageiros. É muito rentável para
as companhias, porém inconveniente para os passageiros. Quando as
empresas aéreas escolhem uma determinada cidade para ser o centro da
distribuição dos seus vôos, obriga os passageiros mudarem de avião no
aeroporto selecionado como “hub” no caminho de seus destinos
finais.
Na figura 1, observa-se a estratégia ponto a ponto, nessas rotas
as ligações ocorrem somente entre dois pontos, não há integração entre os demais
pontos. A figura 2 representa a estratégia hub-and-spoke, todos os pontos estão
integrados por um ponto central, no caso da figura, o
G.

Figura 1: Ligação Ponto a
ponto
Figura 2: Ligações Hub-and-Spoke
Fonte: Soutelino, 2006.
Fonte: Soutelino, 2006.
O hub-and-spoke, segundo a classificação de Freitas e
Lessa (2000), é um dos principais desenhos da malha de uma companhia aérea. A
concepção dessa estratégia é muito vantajosa para uma empresa aérea na medida em
que esta consegue operar serviços com mais freqüências entre os aeroportos. A
única vantagem apresentada aos passageiros é o acesso a um sistema de tráfego
com partidas diversas e ampla freqüência para diversos destinos.
Este sistema é fundamental para as empresas que tem o intuito de
diminuir os custos que os vôos com rotas diretas geravam. “O objetivo é diminuir
os custo operacionais das firmas.” (SILVA, 2008, p. 16). Cada assento do avião
representa uma parte do custo total do vôo. Cada um deles ocupado faz a firma
diminuir o preço do assento, no qual a firma só consegue pagar seus custos, mas
a partir dele começa a auferir lucros. Assim, reunir várias pessoas de
diferentes localidades em um mesmo voo faz com que as aeronaves fiquem com menos
capacidade ociosa e conseqüentemente diminui o preço da passagem. “Esse sistema
permite aumentar a freqüência de voos, além de atender aeroportos cujo volume de
tráfego para qualquer outra cidade seria insuficiente para justificar o serviço
ponto-a-ponto.” (SALGADO; GUIMARÃES, 2003, p. 4).
Na análise da organização do espaço faz-se
necessário verificar todos os elementos que envolvem sua dinâmica: a história, a
cultura, o meio natural, a economia, a tecnologia entre outros. De acordo com
Mamigonian (2005), a organização do espaço no capitalismo depende das revoluções
industriais, das revoluções nos transportes, mas, sobretudo de reestruturações
econômicas e espaciais que ocorrem em períodos depressivos.
Nesses aspectos também podem ser observadas
convergências no setor aéreo brasileiro. A sua dinâmica está em sintonia com a
história política, social e econômica do país. A diversidade natural do
território brasileiro foi um constante desafio a ser superado pelos
protagonistas a cada período, assim como as divergências políticas e o jogo de
interesses, além disso, os contrastes econômicos nas diferentes regiões
repercutiram na atual caracterização do alcance do transporte aéreo no país. A
análise da organização do espaço aéreo brasileiro contempla a localização dos
principais aeroportos, o comércio, as escolas de pilotos e tripulantes, a
produção de equipamentos a estrutura dos estabelecimentos e a relação com
viagens internacionais que serão verificadas neste capítulo.
A ORGANIZAÇÃO DOS AEROPORTOS
A presença de um aeroporto é de fundamental
importância para uma região. Não apenas para a cidade em que está localizado,
mas para todo o entorno, pois permite a integração com as localidades mais
afastadas e traz desenvolvimento e progresso urbano para toda região atendida
pelo aeroporto.
Burle (2003), considera o aeroporto como uma
ferramenta de grande porte que eleva o número de turistas atraídos para uma
determinada região, tanto a lazer quanto a negócios. Outra possibilidade de
criação de comércio com outras regiões e países, além disso, atrai investimentos
para a região. Essa realidade gera uma movimentação significativa na economia
local, com o aumento na rede hoteleira, de bares e restaurantes, o que ocasiona
a formação de empregos diretos e, sobretudo, indiretos.
Com relação ao sistema aeroportuário brasileiro,
a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) administra 67
principais aeroportos brasileiros, 69 grupamentos de navegação aérea e 51
unidades técnicas de aeronavegação, além de 34 terminais de logística de carga.
Estes aeroportos concentram aproximadamente 97% do movimento do transporte aéreo
regular.
A Infraero precisa ser uma estatal, pois
apresenta papel fundamentar no sistema aeroportuário brasileiro, investe em
aeroportos deficitários e de menor movimento de Interior, o que dificilmente
seria realizado por uma empresa privada. Essa postura é fundamental, tendo em
vista que os aeroportos do Interior têm uma relevância estratégica para o
desenvolvimento regional e a integração nacional.
Diante da significativa quantidade de aeroportos espalhados pelo
país é indispensável realizar uma análise da dinâmica desses importantes
instrumentos na modernidade. A
figura 3 apresenta a malha aeroportuária brasileira no período entre 1998 e
2008. É representado o mapa do Brasil e a localização dos aeroportos que tiveram
movimentação com voos regulares no período.


Figura 3: Operações aeroportuárias
1998-2008
Fonte: Oliveira e Silva, 2008.
Para a análise, Oliveira e Silva (2008) padronizaram a classificação dos
aeroportos, com as definições “hub grande”, “hub médio” e “hub pequeno” adotada
pela Federal Aviation Administration
(FAA) dos Estados Unidos. Segundo essa classificação para um aeroporto ser
considerado “hub grande”, ele deve movimentar mais de 1% dos embarques e
desembarques de passageiros de um país. Os aeroportos “hubs médios” são aqueles
que movimentam entre 0,25% e 1% do total de passageiros e os “hubs pequenos” são
aqueles que movimentam entre 0,05% e 0,25%. Abaixo dos 0,25% de participação da
movimentação de passageiros no total do sistema aéreo, o aeroporto é considerado
“não-hub”.
É possível perceber, por meio da figura 3, a queda de cobertura aérea no
país no período entre os anos de 1998 e 2008. De fato, houve encerramento de
operações em todas as regiões do Brasil, e ainda em número superior ao número de
operações iniciadas.
Muito importante, sobretudo para o contexto de inserção nacional são os
aeroportos regionais. Estes apresentam tráfego predominantemente doméstico e
regular, cujo papel econômico é fundamental para a movimentação de pessoas, bens
e serviços interna e externamente à região onde estão localizados. Existem
aeroportos que são considerados centrais na medida em que favorecem a ligação
aérea entre as regiões. No Brasil, segundo a classificação de Palhares e
Espírito Santo Jr. (2001) esses aeroportos inseridos nessa categoria são: Santos
Dumont – RJ, Congonhas- SP e Pampulha- MG, Brasília, Salvador, Porto Alegre,
Recife e Belém.
Essa centralização induz a uma estratégia das empresas aéreas na
atualidade, o hub-and- spoke. Esse
sistema de tráfego de linhas aéreas concentra chegadas e saídas de aviões em uma
base principal, oferecendo vôos com conexão aos passageiros. É muito rentável
para as companhias, porém inconveniente para os passageiros. Quando as empresas
aéreas escolhem uma determinada cidade para ser o centro da distribuição dos
seus vôos, obriga os passageiros mudarem de avião no aeroporto selecionado como
“hub” no caminho de seus destinos
finais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Pode-se constatar que o
transporte aéreo no Brasil sempre foi fundamental para promover a integração das
diversas regiões. Ao longo da história observamos momentos de conquistas e
importantes ciclos de desenvolvimento nas vertentes sociais e econômicas.
O interesse pela expansão do transporte aéreo
para facilitar o acesso da diferentes partes do espaço brasileiro, a necessidade
de organização do território nacional e a redução de barreiras naturais para
conquistas sociais e econômicas foram sempre motivos indiscutíveis para a
conquista da aviação no país.
Nos primórdios do desenvolvimento industrial e
econômico do Brasil a aviação surge como uma aliada para a o desenvolvimento do
país e possibilidade de acesso às regiões do Brasil. Os trinta anos de estrita
regulação e reduzido número de empresas foi uma característica marcante do
setor. A fase liberalizante, sobretudo nos anos 1990 e posteriormente a inserção
de estratégias competitivas foram aspectos indispensáveis para criar mecanismos
e enfatizar a presença do Estado na organização dessa indústria.
Pode-se, então, analisar que a aviação brasileira evoluiu muito e
está cada vez mais presente na vida dos brasileiros. A dinâmica espacial
apresentada atualmente, fruto do trabalho de vários trabalhadores que
acreditaram no transporte por via aérea. Problemas ainda existem como em
qualquer modal de transporte existe, mas a forte presença do Estado- criação da
ANAC- para guiar essa indústria já é o começo de transformações positivas daqui
para frente.
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