ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS
RUAS DE DOURADOS/MS:
OS LUGARES DOS FAZERES E
VIVERES
SOME CONSIDERATIONS ON THE STREETS OF
GOLD / MS:
the places of doings and
livings
Elaine Cristina Musculini
Resumo
O primeiro pensamento que temos
quando visamos analisar a rua, é de que ela é apenas um caminho onde passamos.
Talvez se pensarmos um pouco mais, podemos percebê-la como o lugar onde estão as
construções ou o lugar do encontro, do movimento. O intuito inicial da pesquisa
é compreender a rua como o lugar da apropriação do espaço para o acontecimento
da vida, das práticas sociais, dos fazeres e viveres dos sujeitos que dela se
utilizam. A partir dessa experiência múltipla, podemos apreender esses lugares
com seus diversos significados, que foram construídos (e reconstruídos), muitas
vezes dando novos significados, outras vezes reformulando, outras vezes mantendo
o status da rua.
Palavras-chave
1)
Ruas; 2) Dourados; 3) Espaço; 4)
Lugar.
Abstract
The
first thought we have when we aim to analyze the street is that she is just one
way we go. Maybe if we think a little more, we can perceive it as the place
where are the buildings or the meeting place of the movement. The initial
purpose of the research is to understand the street as the place of the
appropriation of space for the life event, social practices, and live the doings
of the individuals who make use of it. From that experience multiple, we can get
these places with their various meanings, which were built (and rebuilt), often
giving new meanings, sometimes reshaping, sometimes keeping the status of the
street.
Keywords
1)
Streets; 2) Dourados; 3) Space; 4) Place.
Introdução
O intuito da pesquisa, em
desenvolvimento junto ao programa de pós-graduação em Geografia da UFGD, é
contextualizar a formação socioespacial da cidade de Dourados-MS, tomando como
referencial para compreensão o arranjo das ruas e do centro urbano. Sabemos que
a produção desse espaço, bem como sua configuração reflete a forma como a
sociedade se relaciona. O traçado das ruas, os padrões das construções têm
significados diversos, seja para definir uma atividade, uma identidade ou, até
mesmo, poder. O centro urbano da cidade de Dourados guarda inúmeros
significados, de um tempo ido, e também do momento atual. As múltiplas facetas
das formas, dos fixos e dos fluxos inseridos em cada rua fazem da cidade um
verdadeiro mosaico. Embora a rua seja carregada de significados – onde se
circulam viveres, fazeres, sentidos, percepções, para a formação de identidades,
tanto individuais quanto coletivas – ainda não foi tomada como objeto de estudo
em Dourados.
Por essa razão, estamos propondo
esta pesquisa, que está em seu início, e portanto, ainda em fase de colhimento
de dados, aplicação de questionários, observações e entrevistas, dentre outros
procedimentos comuns ao processo de
pesquisa.
Num primeiro momento do trabalho
de pesquisa, optamos por conhecer/compreender as trajetórias e dinâmicas das
ruas da cidade. Partimos para a busca de fontes que nos mostrassem/esclarecessem
os atuais contornos, os enredos e formas das ruas e de todos os seus apensos –
edifícios, comércios, serviços, etc.
A princípio também delimitamos
um espaço, para que possamos esmiuçar os detalhes do centro urbano, a área mais
“antiga” da cidade, e que, de certa forma, poderia nos mostrar mais do que são
as ruas e como são formadas as suas particularidades. Optamos por pesquisar o
espaço compreendido entre as ruas Floriano Peixoto a Toshinobu Katayama no
sentido leste-oeste e as ruas Ponta Porã a Cuiabá no sentido norte-sul, conforme
esquema abaixo:

Org. MUSCULINI, E.C., 2011.
Elaboração: MORENO, B. B., 2011.
Para um início focado nas transformações pelas quais passaram as ruas de
Dourados, procuramos fotos que pudessem evidenciar a “evolução”, a construção e
reconstrução dos lugares no espaço acima mencionado. Em virtude de muitos outros
trabalhos, sejam dissertações, teses ou mesmo livros de pesquisadores locais,
encontramos muitos registros de imagens que evidenciam as transformações (e
também as permanências). Este foi o primeiro passo, e, a partir dele, passamos a
fotografar vários pontos do local proposto para a pesquisa. Cremos que estes
registros de imagens possam nos guiar para percepções mais apuradas desse
espaço, traçando paralelos, reconhecendo o passado e apontando o novo. Abaixo,
demonstramos um trecho da avenida principal da cidade de Dourados – Avenida
Marcelino Pires – em três momentos, década de 60, década de 70 e nos dias
atuais:

Avenida Marcelino Pires, esquina
com a Rua João Rosa Góes na década de 60. Foto: Acervo do Centro de Documentação
Regional da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande
Dourados.

Mesmo trecho na década de 70. Foto:
Disponível em http://www.opalass.com.br/conheca-o-opala/reportagens-legais/foto-historica-dourados-ms-1976.

Mesmo trecho, em data de 09/04/2011. Foto: Elaine Cristina
Musculini.
Inicialmente, também procuramos
saber acerca dos aspectos da formação da cidade de Dourados. Buscamos
informações sobre os primórdios do povoado, a organização, ainda prévia do
núcleo urbano, os primeiros momentos do município e daí a ampliação constante do
cenário urbano, conforme passamos a
elucidar.
A formação do centro urbano de
Dourados: uma trajetória no tempo
A nossa tendência é pensar a
formação de um núcleo urbano e sua evolução a partir de dinâmicas sequenciais no
desenrolar da história da cidade. Mas reavendo os acontecimentos, podemos
pontuar consideráveis fatores para compreendermos as trajetórias do urbano e de
suas construções e consequentes reconstruções. Necessário se faz traçar uma
linha do tempo, bem como todos os feitos, todas as transformações ocorridas
nesse lapso temporal, uma vez que a cidade não surgiu de um passe de mágica, ela
foi elaborada, pensada, construída
gradativamente.
Para pensar o processo de
urbanização de Dourados precisamos considerar que a cidade seguiu a dinâmica
regional, que com suas transformações, modificaram, consequentemente, a cidade.
De acordo com Silva (2000), a
análise da evolução urbana de Dourados revela quatro etapas distintas. Sendo a
primeira, no início do século XX indo até 1940, num período de consolidação do
núcleo urbano no aspecto de centro de abastecimento local, um entreposto
resultante da interação das duas principais atividades econômicas regionais: o
extrativismo da erva-mate e a pecuária extensiva.
Após este primeiro momento, há
outro que vai do início da década de 40 a 1970, definido por intervenções e
projetos públicos e privados de colonização no Mato Grosso do Sul, que criam uma
readequação das atividades econômicas na região de Dourados. Ainda de acordo com
Silva:
Por um lado, essas intervenções contribuíram para
a desarticulação do extrativismo ervateiro e sua substituição por uma
policultura de pequenos produtores familiares, que passou a conviver com a
pecuária tradicional, herdada do período anterior. Por outro lado, tais
intervenções desencadearam um intenso processo de especulação imobiliária, com
importantes repercussões na nova escala que assumiu o processo de urbanização de
Dourados e na redefinição do papel da cidade, que assumiu a função de centro de
beneficiamento rudimentar e de comercialização da produção agrícola regional (p.
78, 2000).
A respeito de tal momento,
Gressler e Swensson apontam:
A colonização no Estado de Mato Grosso do Sul
consistiu na distribuição ou venda de terras localizadas, em sua maior parte, na
Zona da Mata, por intermédio do governo federal, estadual, municipal, ou grupos
particulares.
Foi um período caracterizado pela intensa derrubada das
matas, até então preservadas pela Cia. Mate Laranjeira; pela vinda de apreciáveis contingentes
populacionais, onde se destacam os nordestinos, paulistas, paranaenses e
mineiros, os quais tiveram como objetivo principal o cultivo de novos cafezais.
Caracteriza-se, também, pela erradicação destes mesmos cafezais, substituídos
por outros cultivos comerciais (p. 81,
1988).
A partir de 1970 inicia-se o
terceiro período com o advento das lavouras de soja e trigo aliadas à tecnologia
que se instaurava no setor agropecuário. Somam-se a isso, as intervenções
federias no espaço regional se intensificavam. Tais ações propiciaram grandes
alterações no espaço urbano e rural, tanto da região quanto da cidade. O êxodo
rural, originado em boa parte pela inserção de novas tecnologias no campo, fez
com que houvesse uma dinamização no processo de urbanização de Dourados. Nas
palavras de Silva,
os efeitos desses novos fluxos de dinamização da
economia regional concentraram-se sobretudo em Dourados, que, em decorrência,
assumiu o papel de principal pólo urbano e capital regional do cone sul do
Estado. A convergência dos processos anteriormente mencionados – a dinamização
da economia regional, a urbanização acelerada e a crescente dependência do
crescimento urbano dos investimentos federais – sinaliza a incorporação de
Dourados ao que no capítulo anterior denominamos de padrão desenvolvimentista de
urbanização (p. 85, 2000).
Já a partir de 1990, inicia-se o
quarto período, marcado, principalmente, pelo fim do modelo de urbanização
fortemente dependente do financiamento federal e com a emergência de um novo
padrão urbano em Dourados. Já nos anos 80, isto é, na fase anterior a década de
90, verifica-se uma elevada expansão da urbanização da cidade, criando novas
realidades, emergindo novas espacialidades, e ainda de acordo com Silva, passado
o poder público local a assumir maiores fatias de responsabilidade na gestão do
espaço urbano.
Ainda sobre o assunto, Gressler
e Swensson apontam:
O setor urbano de Dourados também não ficou
alheio às mutações ocorridas na área rural e evoluiu rapidamente. A população
urbana que era de 25.977 habitantes em 1970, passa para 83.256 em 1980. O
elevado crescimento populacional, por sua vez, desencadeou uma verdadeira “onda”
de novas construções, cujas conseqüências imediatas formam a ampliação
desmesurada do perímetro urbano (...) (p. 106,
1988).
A partir de breves conversas com
alguns moradores mais antigos da cidade, comerciantes, dentre outros sujeitos,
percebemos que o discurso é comum: os anos 80, para a cidade de Dourados, foi o
período de maior “crescimento”. A respeito do assunto, relata um lojista do
centro urbano, desde meados dessa década na
cidade:
Cheguei aqui em Dourados em 1984, tinha a
intenção de ficar rico aqui, porque todo mundo dizia que era o melhor lugar para
se ganhar dinheiro (...). Quando cheguei, a cidade já estava tomando corpo, com
cara de cidade grande, a avenida já era avenida. (...). Aí eu vi umas fotos da
cidade de alguns anos anteriores e nem acreditava, parecia outro lugar, parecia
um vilarejo. E era coisa de 5 ou 6 anos atrás, muito
estranho.
Temos então, como breve e
superficial conclusão acerca da trajetória de Dourados no tempo, que a cidade
recebeu intenso contingente populacional, oriundo, principalmente, da expansão
das fronteiras agrícolas, que gradativamente foram ocupando novos espaços,
perfazendo seus territórios. Isso desencadeou rápidas e profundas mudanças
estruturais, que conseguiremos visualizar a partir de uma pesquisa mais
detalhada. Percebemos, porém, através de nossos prévios estudos sobre a cidade
de Dourados, que a população urbana cresceu rapidamente, em contraponto à
população rural que decresceu.
Pensando as ruas de
Dourados
Quando pensamos na rua, a
primeira coisa que nos ocorre é que ela é apenas um caminho, uma via por onde
podemos passar. Se nos forçarem a pensar um pouco mais, talvez consigamos
apreendê-la como o lugar onde estão nossas casas, nossos locais de trabalho,
isto é, os prédios, as construções. E também, consigamos vislumbrar a rua como o
lugar do encontro, do movimento. E nesse momento já estamos pensando a rua com
alguns de seus diversos significados, que foram construídos (e reconstruídos)
pelos sujeitos, a partir de suas práticas, de seu
cotidiano.
Tal análise pode ser um tanto
complexa, afinal, a rua possui vários significados e símbolos que muitas vezes
são ofuscados, ou não conseguimos apreender por estarmos imageticamente guiados,
seja por leis, seja por costumes, por normas implícitas e explícitas, que nos
fazem trilhar o nosso momento na rua, imaginando ser ela apenas um local de
passagem, obscurecendo as variadas facetas que ela guarda em si.
Partindo dessa análise mais
detalhada, podemos então passar a traduzir o que a rua tem a nos dizer, a nos
mostrar, seja com seu simbolismo, seja com suas imagens, com suas paisagens, no
anseio de compreender as significações por trás do conjunto de edificações, no
fluxo de pessoas, nas configurações de calçadas, dentre outros. De acordo com
Carlos, a paisagem urbana e a cidade nos
abrem perspectiva de entendermos o urbano, a sociedade e a dimensão social e
histórica do espaço urbano (p. 23,
2007).
Foi possível constatar alguns
fatos no centro urbano de Dourados, a partir de algumas observações feitas:
pessoas que fazem o trajeto casa-trabalho diariamente; vendedores ambulantes;
outros vendedores que instalam seus “carrinhos” de raízes ou outros produtos em
determinados pontos; a feira; a praça; o trânsito; enfim, os sujeitos que
“fazem” o lugar.
Além das observações feitas,
tivemos também conversas com algumas pessoas, no intuito, a princípio, de sentir
as percepções das pessoas acerca do lugar, ou seja, como o homem percebe o
mundo. De acordo com Carlos (2007), é através do seu corpo, de seus sentidos que
o homem constrói e se apropria do espaço e do mundo. Nas palavras da autora, o lugar é a porção do espaço apropriável
para a vida (p. 17, 2007).
Indagamo-nos, em decorrência
dessas observações, quais seriam as transformações que os sujeitos perfazem no
espaço com suas ações. Como o cotidiano das pessoas modifica o
lugar.
Como a pesquisa ainda está em
construção, nos atemos até então a conhecer o centro urbano de Dourados, no
perímetro pré-estabelecido, fazendo uma trajetória da cidade no tempo, tentando
compreender as transformações e também as permanências. Conforme aponta
Carlos:
Os percursos realizados pelos habitantes ligam o
lugar de domicílio aos lugares de lazer, de comunicação, mas o importante é que
essas mediações espaciais são ordenadas segundo as propriedades do tempo vivido.
Um mesmo trajeto convoca o privado e o público, o individual e o coletivo, o
necessário e o gratuito. Enfim, o ato de caminhar é intermediário e parece banal
– é uma prática preciosa porque pouco ocultada pelas representações abstratas;
ela deixa ver como a vida do habitante é petrificada de sensações muito
imediatas e de ações interrompidas (p. 23,
2007).
Essas percepções acerca das
ruas, do urbano, da cidade, não são atuais porém, em pesquisa em edições antigas
de jornais, foi possível constatar que os sujeitos já observavam os ambientes,
os lugares da vida. Conforme pode ser constatado abaixo, em recorte da primeira
edição do Jornal O Progresso da cidade de
Dourados:

São notórias algumas
modificações no centro urbano de Dourados. E é claro que para analisar todas
seriam necessários muitos anos de pesquisa, porque cada uma possui suas
peculiaridades, seus porquês. Destacamos, porém, algumas que aparecem mais
concretamente. Algumas segmentações comerciais instauram-se em determinados
pontos: lojas de um padrão social mais elevado e em outros pontos, lojas mais
populares; concentração de clínicas médicas, laboratórios de análise clínicas,
consultórios, no entorno de dois hospitais existentes no perímetro pesquisado
(Hospital do Coração e Hospital Santa Rita).
Além do espaço físico,
procuramos estabelecer percepções que pudessem nos demonstrar os outros
significados das ruas, construídos a partir da vivência, do cotidiano. Isto é,
os territórios, as territorialidades produzidas, o movimento, revelam os
múltiplos significados, e como as pessoas reagem, vivem, se fazem nessas
configurações. Salienta-se também, a constante modificação nas e das ruas, seja
pelo transcurso do dia (alternância dia-noite), como também de lapsos temporais
maiores. A rua, portanto, está sempre num processo de transformação, de
ressignificação.
Após algumas constatações,
percebemos também certa ressignificação dos lugares, a substituição do velho
pelo novo, inúmeras reformas em prédios comerciais no intuito de torná-los
“modernos” conforme os ditames de uma tendência comum nas cidades maiores: a
busca pelo novo, pelo diferente.
A rua enseja percebermos os
novos objetos formados por novas dinâmicas, e que modificam as relações entre os
homens, e dos homens com a cidade. A tecnologia, as inovações, como por exemplo,
carros, celulares, mp3, ipod, dentre outros materiais que podemos considerar “a
cara do urbano”, nos fazem discutir a formação de novos significados na cidade.
A partir disso, pensar a rua não só compreendê-la como o lugar de passagem, mas
como o lugar das vivências, dos fazeres, das
atividades.
Ainda de acordo com
Carlos:
O desenvolvimento das forças produtivas produz
mudanças constantes e com essas a modificação do espaço urbano. Essas mudanças
são hoje cada vez mais rápidas e profundas, gerando novas formas de configuração
espacial, novo ritmo de vida, novo relacionamento entre as pessoas, novos
valores (p. 29, 2009).
A dinâmica da rua nos faz pensar
também na dialética de dois movimentos: um de revelação da diferença e o outro
de regulação do cotidiano. O primeiro movimento pode ser explicado pelos
variados motivos que levam as pessoas às ruas, seja pelo trabalho (camelôs,
ambulantes), seja pela passagem (estudantes indo para a escola, pessoas indo
para o trabalho), dentre outras formas. O segundo movimento, que diz respeito ao
cotidiano, manifesta-se pelo fator da subordinação ao mundo das mercadorias,
ditado pelo capitalismo. Percebemos na cidade de Dourados todo aquele aparato
que transforma a cidade em fetiche, em luzes chamativas, em imagens instigantes.
Percebemos a mudança no ritmo da vida, que passa a ser ditado pelos mandos das
relações sociais, que por sua vez é permeado por relações mercadológicas
(compra, venda, troca, especulação).
Essa lógica que pauta a vida
moderna faz com que pensemos a rua apenas como o lugar da passagem, e o tempo,
ou melhor, a falta dele, faz com que passemos por ela sem percebê-la. A rua está
ligada à maneira como a vida se realiza, no sentido não só de produção, mas
também de reprodução das relações sociais. Essa reprodução acontece por conta da
apropriação do espaço, a partir de nossas vivências, de nossos
fazeres.
É por meio do uso, que o lugar
agrega sentido. O viver, o fazer, o perceber através dos nossos sentidos, do
nosso corpo, pois é através deles que realmente vivenciamos o espaço. A rua é
ainda, espaço público, e muitas vezes é apenas caracterizada no seu conceito
jurídico, em que o espaço é submetido a uma regulação específica, que garanta a
acessibilidade a todos e fixe as condições de utilização e de instalação de
atividades.
Podemos perceber também, a
partir da rua, a multiplicidade de territórios existentes, cada qual com suas
especificidades, ditando regras, ditando comportamentos. Estes territórios,
formados a partir das ruas, são constituídos pela apropriação das pessoas, com
seus ritmos, tanto do trabalho, quanto de ideias ou de mudanças, revelando o
fazer e o viver, não só no espaço, como também no tempo. Hoje podemos perceber
como as formas urbanas (e aqui se inclui a rua) se modificam rapidamente,
obedecendo ao discurso do progresso, do desenvolvimento, do crescimento. O
espaço passa a ser visto então como um amontoamento de
tempos.
Em busca de uma
conclusão
A pesquisa ainda encontra-se em fase de andamento, ou seja, nossos
trabalhos acerca das ruas de Dourados precisam trilhar um longo caminho para
quiçá chegarmos a uma conclusão, se é que conseguiremos obtê-la, haja vista as
constantes transformações nas e das ruas.
Até o presente momento do
trabalho, deparamo-nos com diversos sujeitos, diversas (re)significações dos
lugares, diferentes relações com os espaços, dentre outros aspectos que nos
proporcionam perceber questões variadas sobre as ruas da cidade de Dourados.
Seja a partir de breves conversas com as pessoas, seja após algumas observações,
entrevistas, podemos perceber que existe uma gama de pontos ainda a serem
desenvolvidos, há uma “riqueza” de detalhes que contribuirá para um resultado
positivo do projeto que se apresenta.
Por ser vista como “espaço de liberdade”,
a rua deveria ser vivida, experimentada e conhecida, porém, ela ainda é um
objeto de estudo pouco explorado. Porém, tentar compreender a rua pode vir
a constituir-se como importante forma de análise da vida urbana atual. Por ser
espaço público, comum, de acesso irrestrito (não há quem não possa transitar por
ela), e onde também se convivem as diversidades, o coletivo, os embates e os
negócios, é o espaço onde tudo acontece, onde tudo é vivido e feito. É o lugar
da apropriação, da produção e da reprodução de usos, de vínculos, de táticas, de
práticas, de relações, de dinâmicas sociais, de
transformações.
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