OS IMPACTOS DO SETOR SUCROALCOOLEIRO NAS CIDADES HÍBRIDAS
IMPACTS OF THE SUGAR AND ALCOHOL SECTOR ON HYBRID
CITIES
Cláudia Marques Roma[2]
RESUMO
A formação socioespacial da região da Nova Alta Paulista é pautada em
pequenas e médias propriedades rurais e com uma rede urbana composta por
pequenas cidades, e, recentemente, expande-se o setor sucroalcooleiro que, ao se
territorializar, altera padrões pré-existentes e introduz transformações locais
e regionais. As transformações ocorridas na estrutura fundiária e a utilização
das terras promovem um crescimento econômico cada vez mais desigual, que gera
desequilíbrios, exclusão social e pobreza, acentuando as desigualdades
socioespaciais. A reestruturação produtiva do capital, com a expansão da
cana-de-açúcar, ao se territorializar não apenas ampliou e reorganizou a
estrutura fundiária, a produção agrícola e industrial, mas também adaptou as
cidades próximas as suas principais exigências. Nesse processo de expansão do
setor sucroalcooleiro à população agrícola já existente nas cidades híbridas
somam-se a ampliação das migrações pendulares para os municípios menores, em
decorrência da necessidade de mão-de-obra para a lavoura da cana-de-açúcar,
intensificando, principalmente nas cidades híbridas, os problemas como a falta
de oferta de moradias, a elevação no valor dos aluguéis, aumento no atendimento
na área de saúde e assistência social. Assim, nesse artigo discutiremos os
impactos gerados pelo setor sucroalcooleiro nas cidades pequenas,
principalmente, nas cidades híbridas.
PALAVRAS-CHAVE: setor sucroalcooleiro, agronegócio
globalizado, cidades híbridas, rural/urbano/agrícola.
ABSTRACT
The formation of socio-spatial Nova Alta Paulista region is guided by
small and medium-sized farms and a network composed of small urban cities, and
recently, it expands the sector sugar and alcohol finds that when territorialize alters pre-existing patterns and
introduces local and regional changes. The transformations in land tenure and
land use promotes economic growth increasingly unequal, generating imbalances,
social exclusion and poverty, stressing the socio-spatial inequalities. The
productive restructuring of capital, with the expansion of sugar cane, not just
when territorialize expanded and reorganized the structure of land, the
agricultural and industrial production, but also adapted the cities near its
main demands. In the process of expansion of this sector to the agricultural
population in cities existing hybrid add to the expansion of migration commuting
to the smaller cities, due to the need for manpower for farming of sugar cane,
stepping, mainly in the cities hybrid, problems such as lack of housing supply,
the increase in market rents, the increase in health care and social assistance.
Thus, this article will discuss the impacts generated by the sugar and alcohol
sector in small towns, especially in the cities hybrid.
KEY-WORDS: sugar and alcohol sector, global agribusiness, hybrid cities,
rural/urban/agricultural
INTRODUÇÃO
Na Nova Alta Paulista, região localizada no extremo oeste do estado
de São Paulo, conforme observamos no mapa 1, se expande o agronegócio
globalizado da cana-de-açúcar. Nesses espaços o meio natural e o meio técnico
são substituídos pelos meio-técnico-científico-informacional o que significa que
os espaços agrícolas se mecanizam e as atividades agropecuárias passam a serem
baseadas na utilização intensiva de capital, tecnologia e informação (ELIAS,
2008). A introdução da ciência, da tecnologia e da informação na agropecuária
resulta em um novo modelo técnico, econômico e social de produção agropecuária,
que é agricultura científica (SANTOS, 1996 [1993]; ELIAS,
2005).

Assim, em um contexto de reestruturação produtiva da agropecuária as
alterações no espaço e no território apresentam-se, portanto, nas relações entre
campo e cidade, transformando os pares dialéticos rural/urbano na tríade
rural/urbano/agrícola (ROMA, 2008). Ou seja, o capitalismo transforma o meio
rural que transforma o tipo de produção dos domicílios e das relações sociais,
logo, o par rural/urbano na tríade rural/urbano/agrícola.
Pensando em um contexto de imbricação entre a tríade
rural/urbano/agrícola não podemos mais, como apontado por Santos (1996 [1993]),
dividir um Brasil urbano e um Brasil rural, mas, pensar em um Brasil urbano
incluindo áreas agrícolas e um Brasil agrícola incluindo áreas rurais.
É nesse contexto que iniciamos nossos apontamentos, e a esse respeito
analisando as colocações de Santos (1996 [1993]), podemos dizer que para a
região da Nova Alta Paulista as dinâmicas concernem às características de um
Brasil agrícola que inclui áreas urbanas. As pequenas cidades dessa região,
principalmente as híbridas, dispõem de um fermento de vida local próprias a
elas, mas são as relações entre urbano/rural/agrícola que as caracterizam. Além
do mais, é através do setor sucroalcooleiro que a agricultura moderna se
expressa na região, sendo, por sua vez, responsável pela área de exportação
própria do Brasil Agrícola com áreas urbanas.
Portanto, para as cidades da Nova Alta Paulista sua unidade se dá devido
à inter-relação entre o mundo rural e o mundo urbano. Sendo o campo que comanda
a vida econômica e social do urbano, sobretudo nos níveis inferiores da
complexidade urbana.
No Brasil agrícola com áreas urbanas, no qual a agricultura científica
comanda as relações econômicas e as relações entre a tríade
rural/urbano/agrícola emergem as cidades do campo (SANTOS, 1996 [1993]) e que,
no momento atual, podem ser chamadas de cidades do agronegócio (ELIAS, 2007). As
cidades do agronegócio estão relacionadas diretamente à consecução do
agronegócio globalizado e, conforme Elias (2005, p. 4482), as demandas das
produções agrícolas e agroindustriais modernas:
(...) têm o poder de adaptar as cidades próximas às suas principais
demandas, convertendo-as no seu laboratório, uma vez que fornecem a grande
maioria dos aportes técnicos, financeiros, jurídicos, de mão-de-obra e de todos
os demais produtos e serviços necessários à sua realização.
O desenvolvimento do agronegócio globalizado representa um papel
fundamental para a expansão da urbanização e crescimento das cidades, médias,
locais e híbridas. Da mesma forma, a multiplicação e fortalecimento dessas
localidades compõem importante papel para a realização do agronegócio
globalizado e a difusão deste se dá de forma social e espacial excludente
promovendo o acirramento das desigualdades socioespaciais (ELIAS, 2007),
principalmente nas cidades híbridas e locais.
O AGRONEGÓCIO E AS CIDADES HÍBRIDAS
A agroindústria sucroalcooleira existente na região da Nova Alta Paulista
baseada na agricultura científica, intensifica a monocultura com concentração de
terra e renda. Esses fatores promovem na região o empobrecimento, através, por
exemplo, da desapropriação dos camponeses de suas terras nos indicando a
consolidação do agronegócio globalizado.
Porém, utilizando-nos de Elias (2007) elencamos alguns elementos para se
compreender a materialização das cidades do agronegócio na Nova Alta Paulista.
Entendendo que o agronegócio globalizado adapta as cidades próximas as suas
exigências, quais os pontos luminosos e/ou de exclusão que se processam nessa
região?
Abrindo um parênteses, frisamos que nosso foco de análise consiste em
pontuar os impactos do setor sucroalcooleiro nas cidades híbridas. Contudo,
apontaremos alguns indicadores existentes nas cidades locais, considerando, que
a expansão do agronegócio globalizado não se restringe somente a cidades
específicas, mas, interfere numa dinâmica de âmbito regional. E, este exercício nos permitirá uma
análise comparativa entre as dinâmicas existentes nas cidades locais e nas
cidades híbridas.
Assim, Elias (2007) apresenta três temáticas que podem reconhecer as
especificidades existentes nas cidades do agronegócio globalizado, quais sejam:
1) Formação das redes agroindustriais e as novas relações campo-cidade; 2)
Mercado de trabalho agropecuário e dinâmica populacional e; 3) Aprofundamento
das desigualdades socioespaciais.
Considerando essas temáticas a autora (2007) elenca uma série de
indicadores. Dentre esses, no
momento, podemos pontuar alguns que se apresentam na região da Nova Alta
Paulista.
No que tange os
sistemas de objetos existentes nas cidades locais: aeroportos
particulares, pista de pouso, rodovias estaduais, estradas vicinais, rodoviárias
que funcionam enquanto terminais rodoviários urbanos; agência de correios, caixa
de coleta de correspondência, centrais telefônicas, terminais telefônicos em
serviço, emissoras de rádio, provedores da internet, antenas parabólicas;
centrais de geração e transformação, urbana e rural; hotéis; espaços destinados
à realização de feiras agropecuárias, festas de peão de boiadeiro e; perímetros
irrigados, canais de irrigação, adutoras.
Para as cidades híbridas: estradas vicinais; agência de correios, centrais telefônicas,
terminais telefônicos em serviço, antenas parabólicas; centrais de geração e
transformação, urbana e rural; perímetros irrigados, canais de irrigação,
adutoras.
Nos indicadores associados à economia urbana apresentam-se para as
cidades locais: equipamento industrial de máquinas agrícolas; cursos de
graduação e cursos técnicos como gestão do agronegócio, engenharia de alimentos,
veterinária, açúcar e álcool, agronomia; empresas comerciais de máquinas de
implementos agrícolas, produtos veterinários e agrotóxicos; empresas de serviços
associados ao agronegócio como análises de solos, aviação agrícola, consultoria
agrícola, informática, empresas de gestão de recursos humanos, de transportes de
cargas, entre outras se desenvolvem no interior das usinas e/ou destilarias de
açúcar e álcool; empresas provedoras de internet; bancos públicos e privados;
caixas eletrônicos; corretoras.
Para as cidades híbridas: banco público e/ou correspondente bancário.
Destacamos que na região da Nova Alta Paulista os itens como, por
exemplo, agência de correios, emissoras de rádio, antenas parabólicas, centrais
de geração de energia, dentre outros, são objetos que existiam antes da entrada
massiva do agronegócio globalizado. O que se observa é uma maior dinâmica desses
objetos com a intensificação do setor sucroalcooleiro. Também, destacamos que a
irrigação existente nas cidades híbridas se faz pelas próprias usinas e/ou
destilarias de açúcar e álcool que ao arrendarem terras implementam-na nos
diversos espaços destinados ao cultivo da cana-de-açúcar.
Mercado de trabalho agropecuário e dinâmica
populacional para cidades locais e híbridas: referente à migração
campo-cidade o trabalho de Gil (2007) e nossos trabalhos de campo demonstram
estar havendo um fluxo migratório do campo, principalmente, para as cidades
locais mas, também, para as cidades híbridas. Esse fator, por exemplo, se
apresenta pela desapropriação dos camponeses de suas terras com a expansão do
agronegócio globalizado. Para as cidades híbridas, no que tange a migração de
mão de obra especializada - cidade maior para menor – não observamos sua
ocorrência. Esses profissionais passam a residir nas cidades locais que
apresentam uma maior diversificação de equipamentos e serviços urbanos, fator
preponderante para escolha das cidades locais por esses profissionais. Porém, a
migração de mão de obra não qualificada provinda, principalmente, do nordeste do
Brasil é intenso nas cidades híbridas. No
entanto, as estatísticas ainda não são sensíveis a esse fluxo devido o
período que tais trabalhadores permanecem nas cidades – que é aproximadamente
oito meses, correspondente, ao período de safra – sendo recenseados em suas
cidades de origem; aparecimento de novas categorias de trabalhador agrícola,
como agrícola não rural – observamos que uma parcela considerável dos
trabalhadores das cidades híbridas estão inseridos no trabalho agrícola, mas
residem nas cidades, sendo agrícolas não rural.
Aprofundamento das desigualdades socioespaciais: Nessa temática nos restringiremos às análises das cidades híbridas.
A reestruturação produtiva do capital, com a expansão da cana-de-açúcar, ao se
territorializar não apenas ampliou e reorganizou a estrutura fundiária, a
produção agrícola e industrial, mas também adaptou as cidades próximas as suas
principais exigências. Nesse processo de expansão do setor sucroalcooleiro à
população agrícola já existente nas cidades híbridas somam-se a ampliação das
migrações pendulares para os municípios menores, em decorrência da necessidade
de mão de obra para a lavoura da cana-de-açúcar, intensificando, principalmente
nas cidades híbridas, os problemas como a falta de oferta de moradias, a
elevação no valor dos aluguéis, aumento no atendimento na área de saúde e
assistência social.
Desta forma, no contexto das cidades híbridas a inserção de novos
atores sociais como, os migrantes destinados ao trabalho agrícola, modifica a
dinâmica das cidades gerando conflitos entre “os de fora” e os moradores já
existentes nas cidades.
As alterações no mercado imobiliário dessas localidades estão
relacionadas à oferta de moradias e o aumento no valor dos alugueis. Analisando
dados censitários de 1991 a 2007 constata-se que praticamente em todas as
cidades da Nova Alta Paulista houve redução no número de domicílios
não-ocupados, demonstrando que a dinâmica imobiliária dessas localidades vem
passando por transformações. Notamos que as cidades de Tupã, Dracena, Adamantina
e Osvaldo Cruz reduzem o número de domicílios não-ocupados, mas percentualmente
destacamos esse fenômeno para as cidades menores (Flora Rica, Irapuru, Monte
Castelo, Ouro Verde, Pacaembu, Pracinha, Rinópolis, Queiroz, Tupi Paulista,
Santa Mercedes e São João do Pau D’Alho).
As dinâmicas associadas ao mercado imobiliário estão fortemente
atreladas à inserção do agronegócio globalizado. Na cidade de Mariápolis, por
exemplo, houve um aumento no número de domicílios não-ocupados. Esses perfaziam
em 1991, 13,64% dos domicílios, em 2007 esse percentual passou para 22,36% dos
domicílios, ou seja, aumentou o número de imóveis disponíveis. Contudo, já em
Roma (2008) e em nossas observações nos trabalhos de campo (2010) apreendemos
que uma das principais indagações da população que já residem na cidade e dos
migrantes referem-se justamente a redução da oferta de imóveis para venda ou
locação devido ao aumento no número de migrantes[3].
As alterações nas dinâmicas imobiliárias, também podem ser observadas
analisando, principalmente, os apontamentos dos entrevistados que destacam:
“ajuda o desenvolvimento do comércio e aumenta o número de casas existentes na
cidade”; “aumento movimento na cidade e no valor dos alugueis”; “aumentou muito, muito o
preço dos alugueis”; “além de aumentar o valor dos alugueis também diminuiu o
número de casas disponíveis para alugar”; “piora muito as coisas,
principalmente, pelo valor dos alugueis”; “valorizou muito os imóveis”; “ficou
muito fácil alugar casa”; “como para os baianos o aluguel é cobrado por cabeça o
valor dos alugueis sobre muito”; “nos sorteios de casas populares eles pegam
tudo e as pessoas da cidade não pega nada”.
As pessoas que dependem do aluguel e/ou pretendem a compra de imóvel
pontuam a dificuldade de se encontrar casas na cidade, mas, principalmente, a
elevação no valor dos alugueis e dos imóveis. Por outro lado, os proprietários
de imóveis destacam a valorização dos imóveis e a facilidade de locação,
reforçando a diferenciação social existente entre os agentes sociais da cidade.
No período atual a pobreza é estrutural e globalizada (SANTOS, 2004
[2000]) e grande parte dos trabalhadores é excluída do processo produtivo
aprofundando a pobreza e as desigualdades socioespaciais. Portanto, é neste
contexto que entendemos as cidades híbridas e os impactos da expansão do setor
sucroalcooleiro nessas localidades.
Essas cidades se caracterizam pela presença massiva do circuito
inferior da economia, uma pobreza material relacionada ao desemprego e má
remuneração, baixos índices de escolaridade, insuficiência dos equipamentos e
serviços urbanos e os principais recursos administrativos são provindos dos
fundos de repasses governamentais gerando uma pobreza híbrida que se processa a
partir de uma pobreza material e política.
E, é, justamente, a pobreza híbrida que vai intensificar os impactos
gerados pelo agronegócio globalizado aprofundando as desigualdades
socioespaciais.
Dentre os problemas apontados pela população além daqueles referentes
à moradia, os que mais se destacam estão correlacionados aos serviços de saúde e
assistência social: “acaba com a cidade, os recursos vão tudo para eles”; “pega
tudo que é nosso – casa popular, leite”; “não é certo, faltam as coisas para nós
e eles tomam frente de tudo”; “eles tomam frente na saúde, nas coisas do governo
e em tudo”; “os baianos tomaram conta da cidade”; “não é bom, tinha que ter um
limite no número de baianos que poderiam ficar na cidade, pois eles pegam todo
leite do posto e brigam muito”; “não pode julgar, mas exagera o tanto de gente
que toma nossos empregos”; “utilizam muito os médicos”; “baianos utilizam todas
as vagas da creche”; “não é bom. Eles gastam mais no comércio, mas acabam com
nossos medicamentos (EX: 16 vagas de consulta no posto de saúde 10 são deles”);
“eles vem tirar o pouco que nós temos”.
Nas cidades híbridas uma parcela dos entrevistados ao serem indagados
sobre as melhorias que faltam na cidade apontam para os serviços e equipamentos
de saúde: “médicos plantonistas”; “mais médicos para o posto de saúde”;
“hospital”; “pronto socorro”; “mais remédio no posto de saúde”; “ambulância
pequena para Marília”; “melhorar atendimento no posto de saúde”; “maior número
de médicos e mais horários de atendimento”; “médico 24 horas”; “médicos de
diversas especialidades”; “bons médicos plantonistas”; “saúde em geral”; “mais
recursos na área de saúde”.
Portanto, todos esses fatores corroboram para que a presença dos
trabalhadores agrícolas provindos de outros estados brasileiros acentuem ainda
mais os problemas urbanos. Essas questões urbanas são problemas agrários, pois,
são gerados pelo modelo adotado de produção, ou seja, na contemporaneidade,
pode-se afirmar que o problema urbano é um problema agrário e
vice-versa.
No Brasil agrícola moderno diversas cidades mantêm como função
principal as demandas produtivas dos setores de difusão do capitalismo no campo,
assim, a urbanização dessas localidades se deve a expansão do agronegócio e são
responsáveis pela materialização das condições gerais de reprodução do capital
(ELIAS, 2007).
Porém, a reestruturação produtiva da agropecuária não se processa de
maneira homogênea em todos os espaços, mesmo no Estado de São Paulo, como
indicado por Elias (2006, p. 32):
Algumas áreas são mais intensamente beneficiadas pelos sistemas
técnicos e sistemas normativos inerentes a agricultura científica e ao
agronegócio. É o caso da região de Ribeirão Preto, a nordeste do Estado, um dos
principais, se não o principal, exemplos do Brasil agrícola moderno (ELIAS,
1996, 1997, 2003ab), na qual se concentram os complexos agroindustriais da
cana-de-açúcar e da laranja.
A reestruturação produtiva da agropecuária é seletiva. Enquanto algumas estruturas sociais,
territoriais e políticas permanecem intactas outras se tornam enclaves de
modernização, privilegiando determinados segmentos sociais, econômicos e
políticos (GOMES, 2009). Assim, estruturando um espaço agrícola totalmente
fragmentado (ELIAS, 2006).
Na região da Nova Alta Paulista com a introdução do agronegócio
globalizado os espaços rurais se transformam e se diferenciam fragmentando os
espaços modernizados do agronegócio sucroalcooleiro dos espaços vistos como
entraves e resquícios do “atraso” que são a pequena produção e os espaços de
reprodução da vida.
Nesse mesmo processo a rede de cidades da região baseada em cidades
pequenas também se fragmenta, ainda mais, reforçando as disparidades e
concorrências entre elas corroborando para o aumento da pobreza nas cidades com
menos complexidade funcional. As cidades locais passam a responder as
necessidades do agronegócio globalizado como os cursos técnicos, as lojas de
insumos e adubos etc., ainda que de maneira incipientes, contudo nessa mesma
rede urbana as cidades híbridas não apresentam esses elementos respondendo as
necessidades do agronegócio a partir da mão de obra destinada ao setor. Assim,
nessa rede de cidades as cidades locais seriam os espaços ditos luminosos
(SANTOS e SILVEIRA, 2001) e as cidades híbridas cada vez mais se transformam em
espaços de exclusão.
No entanto, os pontos luminosos apresentados pelas cidades locais da Nova
Alta Paulista tornam-se incipientes e efêmeros quando analisados em relação às
dinâmicas existentes na região de Ribeirão Preto (SP), que também desenvolve o
complexo da laranja (ELIAS, 2006), ou nas regiões produtoras de frutas, como os
municípios de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), no baixo curso dos rios Açu (RN) e
Jaguaribe (CE) (ELIAS, 2006), ou ainda com a difusão intensiva da soja em
Barreiras (BA), no sul dos estados do Maranhão e do Piauí (ELIAS, 2006) e na
região de Rio Verde (GO) (MENDONÇA, 2009).
Pois, os sistemas de objetos e a economia urbana mais sofisticados
como implementos e maquinários agrícola, dentre outros, não são supridos na
própria região. Desta forma, se
compararmos a Nova Alta Paulista com outras regiões do Brasil inseridas no
agronegócio globalizado, podemos observar, que mesmo apresentando alguns pontos
luminosos a Nova Alta Paulista torna-se em sua totalidade – inserida em uma
totalidade maior – local onde se desenvolvem mais intensamente os espaços de
exclusão social.
ASSIM
Numa análise comparativa entre as diferentes cidades do agronegócio
podemos dizer que as cidades da Nova Alta Paulista apresentam os impactos das
transformações ocorridas pela reestruturação produtiva do capital, mas não
desenvolvem os espaços luminosos em plenitude. Porém, se a comparação for entre
as cidades da Nova Alta Paulista, observamos que são nas cidades híbridas que os
espaços de exclusão social se apresentam de maneira mais intensa, reforçando a
pobreza já existente nessas localidades.
No entanto, as cidades do agronegócio analisadas por Elias (2006),
mesmo desenvolvendo os pontos luminosos, também são espaços agrícolas de
exclusão. Assim, podemos dizer que os espaços luminosos geram o seu outro que
são os espaços de exclusão.
Esses espaços de exclusão se acentuam ainda mais nas cidades híbridas
se comtemplarmos além dos problemas urbanos os conflitos que a presença dos
migrantes nordestinos que se deslocam de seus espaços indentitários para
trabalhar no corte da cana-de-açúcar.
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docência.
Ponencia presentada en el XIII Encuentro Internacional Humboldt.
Dourados, MS, Brasil - 26 al 30 de setiembre de
2011.
[3]
. O responsável pela unidade do IBGE na cidade de Adamantina nos
informou que essa constatação, também foi indagada pelas lideranças políticas de
Mariápolis e, nos apresentou dois elementos que levam a essa configuração. O
primeiro refere-se à coleta das informações pelos recenseadores. Por exemplo, no
terreno existem dois domicílios, o da frente é utilizado como residência
propriamente dita e o imóvel do fundo mais deteriorado serve de depósito ou até
mesmo para residência dos filhos, no entanto ao responder o recenseador o
proprietário indica o imóvel como não-ocupado. O segundo elemento sugere que os
moradores dessas localidades não querem alugar os domicílios para migrantes,
alegando que seus imóveis serão deteriorados.