*Urbanização, Dinâmica Demográfica e
Planejamento Inclusivo:
os idosos na cidade de Rio Claro-SP.
(1980- 2010)

**Odeibler Santo
Guidugli.
Resumo
Originado da transição demográfica o aumento do
número dos idosos e o envelhecimento populacional são temas relevantes no
contexto da intensa urbanização humana. Seus significados e desafios crescem
celeremente nas grandes, médias ou pequenas cidades. Lidas como responsáveis por
um amplo processo de desenvolvimento, recentemente tornaram-se, também, o foco
do declínio da qualidade de vida e do crescimento, para uma maioria, em especial
aqueles que nelas são excluídos. O estudo objetivou avaliar, em perspectiva
quantitativa, mas, especialmente, qualitativa, o envelhecimento demográfico em
uma cidade de porte médio: Rio Claro-SP, criada em 1827 e que, no censo de 2010
registrou 186.253 habitantes. A
ênfase está centrada na espacialização do envelhecimento e dos idosos como
dimensão relevante para: o planejamento urbano; as ações dos poderes locais; a
sociedade e as famílias. Fundada e desenvolvida, em seu início, no contexto do
avanço da cafeicultura, entre 1940 e 1980, registrou totais populacionais de 47
287 e 110 212 habitantes e de idosos (60 anos e +) de 2.373 para 4 350 habitantes crescendo,
relativamente, em 133.0 e 83,3%, respectivamente. Entre 1980 e 2010 estes mesmos
valores aumentaram em 69.0 e 153.0%. Neste ultimo período a totalidade do estado
cresceu em 64.87 e 201.9%, respectivamente. O estudo analisou, principalmente, o período de 1980 – 2000, centrado nas
diferenciações: da dinâmica demográfica urbana; do envelhecimento e, nas
significativas mudanças na espacialização dos idosos. Finaliza com questões
qualitativas decorrentes destes desajustes. As conclusões apontaram para a
necessidade do poder público municipal; o empresariado; as famílias; a sociedade
em geral e aqueles que já são idosos ou estão próximos, quanto à necessidade do
conhecimento, na atualidade, deste processo, simultaneamente, inovador e
desafiador para as ações futuras.
Palavras Chave – idosos espacialização demográfica, planejamento
inclusivo, qualidade de vida, Rio Claro.
Abstract:
Originated of the
demographic transition the increase of the number
of elderly and aging population are important
issues in the context of
intense urbanization. Their meanings and
challenges grow, the
swiftly in generating large, medium or
small cities. Held responsible for a wide process of development recently, have
also become the focus of the
quality of living and in special of the growth
of the ones excluded in them. The study aims to evaluate, in quantitave but
mainly in a qualitative dimension, the demographic aging in a middle-sized
city, Rio Claro founded in 1827, and that in the 2010 census recorded 186,253 inhabitants. The emphasis had focused
the spatialization of aging and of the aged as a relevant dimension for: the
urban planning; the actions of the local government the society and the families. Founded, and developed in its beginning
in the context of the advancement of the coffee planning, between 1940 and 1980,
registered population totals of 47 287 and 110 212 inhabitants and of the aged
(60 years +) from 2373 to 4350 inhabitants increasing, relatively, in 133.0 and
83.3%, respectively. Between 1980 and 2010 these same
values have increased by 69.0 and 153.0%. In the latter period, the state grew in 64.87 and
201.9% respectively. The study analyzed. dominantly the period between 1980 - 2000,
focused on the differentiations: of the urban demographic dynamics of the aging
and, in the significant changes in the spatialization of the aged. It
ends with qualitative questions deriving from these disorders. The conclusions
pointed to the necessity of the local government, the entrepreneurs, the
families, the society in general regarding the necessity of the knowledge
at present of this process simultaneously, innovative and challenging
and for the
future actions.
Keywords: aged, demographic
spatialization, Inclusive Planning quality of
living, Rio
Claro
Introdução
A intensa urbanização
da humanidade alterou profundamente as relações entre o homem e seu espaço
geográfico. Traduzidas em desafios de toda a sorte: na habitação, transporte,
trabalho, saúde, segurança, etc., vêm transformando as cidades em
espaços de conflitos de natureza variada tais como entre: o público e o
privado; o individual e o
coletivo; a natureza e as
construções humanas; o centro e as
diferentes formas de periferia; e, especialmente entre uma demografia composta
por jovens e adultos e aquela, crescentemente, dos idosos. Neste último aspecto as
contradições entre os incluídos e os excluídos é dimensão bastante
relevante.
Desta forma as ações humanas, sejam elas construtivas ou
destrutivas e a população necessitam ser vistas além de uma simples distribuição
espacial ou mesmo uma relação de densidades. Elas necessitam ser vistas em termos de
suas relações e implicações sociais, econômicas contextualizadas nas mudanças
dos perfis demográficos. Particularizando a dinâmica demográfica, por exemplo, a
tradicional avaliação da densidade (relação entre população e a área por ela
ocupada), embora ainda em uso, tem sido objeto de muitas criticas. Estas são
encontradas já no passado em: Trewartha, (1953), Zelinsky (1971); Goldstein e
Sly (1975) e, igualmente, na atualidade em: Plane e Rogerson (1994) e Gould
(2009) e outros.
Estas realidades impõem a busca de soluções práticas, as quais não
podem ser obtidas se a demografia, seja ela em escala nacional ou local, não for
adequadamente inserida. Trata-se de variável indispensável para a identificação
da dinâmica dos diferentes perfis verificados como subsídios para a escolha das
ações necessárias. Portanto, ela vai muito além da consideração apenas dos
totais. Isto porque, suas diferentes dinâmicas (quantitativas e qualitativas)
interferem, de forma diferenciada, sobre o espaço e a vida
humana.
Os perfis das áreas urbanas exibem, na atualidade, eventos
relevantes tais como: as migrações, especialmente as intra urbanas; a expansão
inadequada do espaço com os conseqüentes problemas de infra estrutura; o
desconhecimento e ineficácia do poder local e aqueles decorrentes das mudanças
na dinâmica demográfica. Neste caso a estrutura etária merece destaque em termos
da consideração dos espaços das crianças (cada vez mais raros) e aqueles dos
idosos, crescentemente ignorados e, portanto,
inexistentes.
Em sentido aplicado é indispensável contemplar o planejamento
urbano na busca de soluções para estes desafios e contradições visando melhorar
a qualidade de vida de todos. ;
Este deve ser um objetivo universal, para
todos os espaços de que se compõem a cidade e, para todos aqueles que nela residam. Para tanto é indispensável
mudar nossas reflexões sobre a dinâmica demográfica. Em particular aquela que
conduz ao envelhecimento para melhor compreensão da espacialização dos idosos e,
a partir disto, identificar suas necessidades e
demandas.
Com esta leitura, a conexão: planejamento urbano e geografia
representam um exercício, tanto do ponto de vista teórico quanto pratico, que
torna possível destacar o papel da ciência para a identificação, análise e
propostas no sentido de equacionar as necessidades da sociedade urbana. Através
dela passamos a considerar a relevância de seu papel na criação do conhecimento
que vá, além da academia. Contudo, isto só poderá ser obtido através de suas
diferentes aproximações espaciais evidenciando assim que ambos têm condições de
ajudar a melhorar a qualidade de vida humana.
A pesquisa, que se
encontra em processo, tem como objetivo principal o de analisar a espacialização
do envelhecimento (60 anos e +), como dimensão indispensável para as ações do
planejamento sócio-espacial num contexto local (geralmente ignorado nos estudos
neste nível), Uma leitura cuidadosa que se faça das feições atuais das cidades
exibe, de forma evidente, diferentes aspectos da vulnerabilidade da população
idosa em termos das várias dimensões que compõem a vida deste segmento
populacional. Dentre eles o local de moradia; a necessidade de migrar dentro da
cidade; a mobilidade intra urbana; os transportes (os três últimos analisados de
forma interessante por Gant (1997)); o atendimento a saúde; a inserção social, a
segurança e tantos outros.
Rio Claro se transforma espacialmente
Rio Claro-SP, é uma cidade de porte médio localizada no centro
leste do estado de S. Paulo cujas populações, total e idosa, tiveram no período
estudado, crescimentos de 69 e 150% enquanto o estado cresceu, em 64.8 e 201.9%,
respectivamente. Para Rio Claro é relevante destacar alguns dados demográficos,
registrados na tabela 1, os quais fornecem um perfil do município, em termos de
seu processo de envelhecimento, em um contexto comparativo mais
amplo.
Tabela 1 - Posições (ranking) decrescentes do município de Rio
Claro, em 1980, 2000 e 2010, no contexto dos municípios paulistas cujos totais
populacionais eram iguais ou superiores.
Ordem |
|
1980 |
2000 |
2010 |
1 |
Ano de criação
1845 |
|
|
|
2 |
População Total |
31ª.
posição |
36ª.
posição |
40ª.
posição |
3 |
Total de Idosos
|
20ª.
posição |
21ª.
posição |
23ª.
posição |
4 |
Índice de
Envelhecimento-IE |
3ª.
posição |
3ª. posição |
8ª.
posição |
5 |
% Idosos /Pop.
Total |
2ª.
posição |
2ª.
posição |
7ª.
posição |
Fonte – Censos
Demográficos – IBGE- 1980, 2000 e 2010
Organizado- pelo
autor.
A comparação temporal mostra as alterações nas posições quanto às
populações totais e a dos idosos sem que, entretanto, isto signifique
desaceleração do envelhecimento. Quanto aos totais constata-se que Rio Claro vem
desacelerando seu crescimento demográfico e perdendo posição no conjunto do
estado. Isto é um aspecto relevante quando se considera que as “cohortes”
demográficas entre 30 e 50 anos estão sendo ampliadas como produto da
fecundidade mais elevada em um passado relativamente recente. A mudança, mais significativa, a do
Índice de Envelhecimento (IE), decorreu da acentuação deste processo envolvendo
municípios demograficamente menores que compõem a maioria do estado. Entretanto,
seu posicionamento em face aqueles com populações superiores evidencia sua
relevância no processo envelhecimento, conforme pode ser destacado pelos valores
registrados nas fileiras 4 e 5.
Neste contexto de municípios com totais populacionais superiores
ou similares constata-se, através da figura 1, a localização do município, distante
180 km
da capital do estado, no conjunto, segundo a classe de participação. Neste
aspecto é interessante retomar a questão da redução do crescimento demográfico
de Rio Claro, que está em um importante eixo de desenvolvimento econômico, no
qual, o que ocorre é o oposto como podem ser destacados os municípios de
Americana, Limeira, São Carlos, Araraquara e outros.

Particularizando Rio Claro, a figura 2 registra a taxa de
crescimento médio geométrico anual do município e do estado, para as populações
totais e idosas envolvendo o período inter censitário de - 1940 e 2010 (estes
como os primeiros dados disponibilizados, do último censo). Nela, é perceptível
o significando do processo de envelhecimento para ambas as
áreas.

Rio Claro re espacializa seu envelhecimento e também seus
desafios.
Considerando os processos socioeconômicos que levam às mudanças na
distribuição espacial da população em uma cidade, verifica-se que eles guardam
relação: de um lado com seu crescimento vegetativo e de outro, ainda mais
relevante, com a dinâmica dos processos migratórios. Assim, no caso das
migrações, a espacialização demográfica de Rio Claro está associada aquelas de
natureza interestaduais; inter municipais, particularmente aquelas provenientes
do próprio estado e, as intra-urbanas. Estas últimas vinculadas a uma nova
agenda quanto às questões que
determinam as oportunidades
concretas sobre: onde morar? Tudo isto, como produtos dos condicionantes
quanto aos lugares de moradia fortemente afetados, historicamente, pelos
processos de valorização/desvalorização decorrentes das ações do poder publico,
e do mercado de terras. Estes são os principais indutores das formas de morar
urbana. Desde grandes edifícios em áreas mais centrais; condomínios fechados em
áreas menos centrais envolvendo aqueles pertencentes não só aos segmentos de
renda mais elevada; as favelas e os assentamentos informais na periferia. Este
conjunto de processos formata o espaço urbano.
Como produto, a figura 3 mostra o processo de construção histórica
do espaço urbano de Rio Claro. Através dele pode-se identificar alguns elementos
importantes para a compreensão da espacialização do envelhecimento
demográfico. Merecem destaques: a
ferrovia que, historicamente, dividiu a cidade em duas partes; a
importante rodovia Washington Luiz que a liga a capital do estado; outras
rodovias direcionadas a Piracicaba e Araras, as quais passaram a influenciar a
distribuição das atividades econômicas e das pessoas. Igualmente o Horto
Florestal, localizado na zona leste ou o processo de conurbação com a vizinha
cidade de Santa Gertrudes, também comparecem com elementos da produção e
reprodução do espaço urbano.

Através da analise espacial detalhada de sua demografia e
acompanhando-se as mudanças ocorridas no número, forma e distribuição espacial
dos setores censitários urbanos (197 e 264 respectivamente nos censos de 2000 e
de 2010), constata-se a contradição entre o crescimento e a distribuição
espacial da população e o crescimento do território tornado urbano. Há um
descompasso significativo o que resulta na impossibilidade de ações mais
equânimes sobre ele. Como conseqüência, temos as diferenciações e a piora da
qualidade de vida para diferentes segmentos da população e em diferentes áreas a
cidade. No caso estudado deve ser destacado o processo de espacialização, “in
situ” ou por deslocamentos, dos idosos.
Pirâmides de Idade, o caminho para o envelhecimento e a
espacialização do Índice de Envelhecimento.
As mudanças na composição da população segundo o sexo e a idade
permitem construir a imagem de síntese (pirâmides de idade) do processo,
possibilitando, em especial, que se avaliem suas velocidades de mudanças, o que
é fundamental para o processo de planejar. Está analise é que permite não apenas
a explicação do presente, mas, em especial, a identificação de componentes
prospectivos que eles contêm. São eles, elementos indispensáveis para se
preparar o planejamento urbano,
Considerando-se a relevância da espacialização intra urbana da
população idosa é importante que a avaliação não contemple apenas imagens de
síntese, mas sim particularize as diferenciações internas, o que pode ser
identificado nas dinâmicas específicas registradas nos dados dos setores
censitários. Desta forma, associadas aos componentes da construção do espaço
urbano, como já mencionado, permitem, igualmente, identificar as pessoas, seus
suportes para viver e as deficiências apresentadas.
A figura 4 mostra as
pirâmides de idade para 1970 e 2000 as quais, decorrem dos processos anteriores
que formataram as taxas de crescimento médio anual do município marcado pela
redução da fecundidade e da mortalidade (infantil e total), associadas com diferentes processos migratórios. Neste
aspecto é importante destacar o aumento da população residente, não nascida no
município.

As diferenciações, segundo a escala de aproximação espacial
apontadas, mostram as diferenciações entre os perfis das pirâmides para toda a
cidade e aquelas destacando diferentes setores demográficos urbanos.
Neste sentido a
figura 5 mostra, para o setor 11 (1970) e 23 (2000), localizados na área
central, os quais correspondem à
mesma base geográfica, imagens bastante diversas que caracterizam o forte
envelhecimento, nesta área. Estas
mudanças, embora em níveis diferenciados, são igualmente observáveis nos mais de
100 setores que constituem a base geográfica da coleta dos dados censitários.
Esta identificação e detalhamento é que possibilita melhor direcionar as ações,
tanto no setor público quanto no privado.

Segundo Serpa (2007), o espaço público assume um papel central nas
ações de renovação urbana. Desta forma, é indispensável considerar os papeis da
dinâmica demográfica; a natureza, e o alcance das ações dos governos locais e as
formas de intervenção do setor privado, como geradores de processos integrativos
para a toda a população em particular a idosa. Para este segmento a falta das
ações especificas signifca deixá-la
na exclusão e na marginalidade.
Aqui é interessante estabelecer-se uma análise comparativa entre os anos 60 e 70 do século passado,
então marcados por elevadas taxas de fecundidade, consequentemente com muitas
crianças e, também, muitas carências com o que começa a se verificar na
atualidade, marcada pelo aumento
significativo dos totais de idosos, igualmente, com crescentes e críticas
carências, embora de natureza diversa.
Os níveis críticos da espacialização da população podem ser
medidos quando temos diferentes concentrações sem a contrapartida da presença
dos adequados componentes do desenvolvimento sócio econômico capazes de
oportunizar melhores qualidade de vida. No caso da população idosa, temos
discussões complexas diante de diferentes realidades como o forte envelhecimento
nas pequenas cidades; aquele que ocorre nas grandes metrópoles e, em especial a
diversidade que ocorre em nível local. Neste estudo a ênfase está na ultima
modalidade.
Um interessante
índice utilizado para avaliar, espacialmente, o processo de envelhecimento
demográfico em diferentes escalas de espaço e, em especial, no intra urbano é o
Índice de Envelhecimento (IE). Através dele é possível estabelecer uma relação
entre “cohortes” demográficas extremas: da população com 60 anos e mais e aquela
com 0-14 anos. Embora, se possam efetuar algumas críticas aos seus pressupostos
e resultados, é uma medida indicadora do grau de renovação de uma população e
que possibilita aperfeiçoar a análise das relações entre variáveis demográficas e não
demográficas.
A figura 6 mostra, segundo o censo de 1980, as densidades
demográficas dos diferentes setores urbanos. Embora com datação diversa da
figura que se segue ele se constitui em um subsídio para a compreensão do
processo de envelhecimento registrado na figura 7.


Acompanhando-se a dinâmica do envelhecimento, a figura 7 mostra,
para muitos setores idênticos (as mudanças estabelecidas pelo IBGE como base
para a coleta dos dados revelam
certa estabilidade), a relação entre as diferentes densidades da população total
e o índice referido. A comparação entre os dois momentos exibem mudanças
significativas, devendo ser destacados: os níveis elevados dos valores do
índice, em especial nas áreas centrais mais antigas (há setores censitários com
o registro de mais de 300 idosos para cada grupo de 100 crianças e jovens); a
predominância geral dos valores mais elevados; o aumento da diferenciação entre
as direções da espacialização do envelhecimento e uma inovação: a ocorrência da
descontinuidade espacial nas áreas em envelhecimento como consequência da
descontínua expansão urbana. Nesta direção, é importante ponderar que as explicações desta dinâmica
demandam uma leitura interdisciplinar da questão e não apenas estar focada na
localização espacial dos idosos.
Análises qualitativas na direção mencionada começam a ser
elaboradas como instrumentos delineadores das ações de governo. Para a avaliação
do conjunto urbano, em termos de qualidade de vida em geral e dos idosos em
particular, utilizou-se o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social- IPVS,
elaborado com base no Censo Demográfico de 2000, pelo governo do estado e
publicado em 2008, para todos os municípios paulistas. Particularizando os
idosos ele é bastante relevante por estar fundamentado em três dimensões
importantes para a leitura da qualidade de vida deste segmento: a saúde, a
proteção social e a participação.
Trata-se de uma avaliação simultaneamente integrada e detalhada,
que permite identificar, localizar e compreender a espacialização da população
segundo os diferentes níveis de vulnerabilidade e, de forma integrada, a pobreza
A figura 8 registra os valores relativos da participação dos diferentes
segmentos populacionais em termos de vulnerabilidade: Nenhuma; Muito Baixa;
Baixa; Média, Alta e Muito Alta. Os dados mostram que apenas 2.8% da população
de Rio Claro, viviam sem nenhuma vulnerabilidade enquanto 15.3% estavam sob
vulnerabilidades alta e muito alta. Entretanto, estes percentuais de síntese,
necessitam ser considerados segundo os diferentes significados e pesos dos
componentes, o que resulta numa análise de natureza mais
qualitativa.
Fig. 8 – Espacialização do Índice Paulista de Vulnerabilidade
Social – Rio Claro-SP – 2008.

Fig. 9 - Participação relativa da população segundo os níveis de
vulnerabilidade social na área urbana de Rio Claro-SP - 2008.

Fonte- Censo Demográfico IBGE e Fundação
SEADE
A última avaliação considerada até o momento envolve o Índice
Futuridade. Elaborado e divulgado pelo governo do estado de S. Paulo em 2009,
tem por base principal os componentes do conceito de envelhecimento ativo
estabelecido pela Organização Mundial de Saúde - OMS. Composto pela avaliação
síntese de medidas de ação social e de saúde; dados demográficos relativos à
mortalidade dos idosos e a dimensão: participação ativa ordena os municípios
numa escala que varia de O a 100. Este último valor indica que as condições
oferecidas aos idosos atendem, satisfatoriamente, a todas as variáveis
consideradas. Contudo, nenhum dos municípios do estado atingiu este teto. Aquele
que registrou o valor mais elevado foi o de Santo Antonio da Alegria, com um
Índice de Futuridade de 86.2, um nível considerado muito alto, mas que possui apenas 834 habitantes. Rio Claro,
com um Índice de 41.5, foi classificado na 445ª posição, um nível considerado
médio que evidencia problemas sérios com seus idosos. Do conjunto de municípios
avaliados (645), 69% deles estavam em posição superior a de Rio Claro. Estes são
indicadores relevantes quando se considera a estabilização da população total do
município e o significativo crescimento da população idosa gerando muitos
desafios para este segmento populacional.
Considerações Finais
Nas cidades grandes e médias assistimos, de forma crescente, os
embates nos processos de construção, alterações e mesmo de destruição dos
espaços públicos e privados. Neste cenário a dinâmica demográfica converte-se,
ao mesmo tempo, em variável determinante e determinada, produzindo mudanças nas
formas pelas quais a população vai ocupando e moldando não só o espaço, mas suas
vidas. Elas podem contemplar a predominância de crianças, de jovens ou de
idosos; forte mobilidade intra urbana; processos migratórios significativos
excepcionais como aqueles produzidos pelos programas oficiais de habitação;
exclusão sócio-espacial como a dos favelados e muitos outros. A pesquisa, como
já mencionada, em processo, cuida de avaliar, de forma detalhada, questões desta
natureza no sentido da busca da compreensão desta dimensão segundo os setores
censitários. O censo de 2010, que
começa a ser divulgado possibilitará comparações, dez anos depois. Os
dados já existentes nos permitem compreender sobre como chegamos até aqui, mas
igualmente aponta para preocupações mais significativas envolvendo, quer como
totalidade quer como idosos, para onde vamos a partir
daqui.

Para refletir sobre estas alternativas futuras, dados prospectivos
para a população de Rio Claro, registraram que as estimativas da população
idosa, para o ano de 2020, será de 34 846 pessoas, ou seja, 17% do total. Esta futura
pirâmide vista de forma isolada ou comparada com aquelas dos censos de 1970 e
2000, mostra novas e significativas mudanças que não serão apenas de números,
mas sim de relações e de demandas de natureza social, econômica e espacial.
Na atualidade, um conjunto de insuficiências caracteriza a vida
dos idosos em Rio
Claro: deficiências na habitação (inexiste qualquer proposta
nesta direção); na assistência a saúde (elevada insuficiência de médicos
geriatras); na segurança pessoal e coletiva (ocorrências de violências
envolvendo os idosos têm crescido); nos transportes afetando, em especial a mobilidade como avaliou GANT (1997) em
seu estudo sobre diversas cidades inglesas; na inclusão social (existe apenas um
Centro Dia, onde os idosos permanecem entre 8:00 e 16:00 horas em diversas atividades). Contudo, ele
atende pouco mais de 50 pessoas o que é altamente insignificante face ao número
de idosos demandantes. Inúmeras outras dimensões revelam, igualmente,
insuficiências.
Em resumo, para esta modalidade de analise das diferentes formas
de exclusão da população idosa na cidade de Rio Claro, o Estatuto do Idoso (Lei
Federal No. 10741/2003), constitui-se num ordenado referencial para a análise
espacial dos direitos do idoso, permitindo uma leitura geográfica dos mesmos.
Igualmente são fundamentais para o estabelecimento de um Planejamento de
natureza integrada e participativa visando inverter as tendências
dominantes de exclusão dos idosos,
por outra de crescente inclusão.
Como estarão as
demandas, em sua maioria, já não atendidas na atualidade, neste futuro? Que
futuro teremos? Finalmente, a questão mais importante: quais serão as novas
demandas e como fazer para, minimamente,
atendê-las?
Referências
Bibliográficas
BRASIL. Congresso Nacional. Estatuto
do Idoso. Lei No. 10741 de 01 de
outubro de 2003. Brasília, 2003.
GOLDSTEIN, S; SLY, D.F. The Measurement of
Urbanization and Projection of Urban Population. International Union For The
Scientific Study of Population, Liege,Belgium,
1975.
GANT, R. Elderly People, Personal Mobility and
Local Environment. Geography, 82(3), p. 207-217,
1997.
GOULD, W.T.S. Population and development.
Routledge: N. York, 2009.
PLANE, D. A; ROGERSON, P.A. The Geographical of Population With Applications To
Planning and Business. Nova York, USA, 1994.
SERPA. A. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo, 2007.
TREWARTHA, G.T. A case for population geography,
Annals of the Association of American Geographers, v. XLIII.n.2, p.71-97, 1953.
ZELINKY, Z. Introdução a Geografia da População.
Zahar Editores S.Paulo, 1971.
*Trabalho apresentado no XIII Encuentro Internacional
Humboldt – Dourados/MS – 2011.
**Professor voluntário – Depto. de Geografia e
docente do Programa de Pós-graduação em Geografia – UNESP Rio Claro/SP.
Ponencia presentada en el XIII Encuentro
Internacional Humboldt. Dourados, MS, Brasil - 26 al 30 de setiembre de 2011.