AS FEIRAS AGROECOLÓGICAS:
PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA PRODUÇÃO CAMPONESA NO AGRESTE
PARAIBANO
THE FAIRS AGROECOLOGY: PROSPECTS AND
CHALLENGES INPEASANT PRODUCTION AGRESTE
PARAIBANO
LAS
FERIAS AGROECOLOGÍA:
PERSPECTIVAS Y RETOS DE
PRODUCCIÓN CAMPESINA EM AGRESTE PARAIBANO
Cleityane Sabino Freire
RESUMO
O trabalho pretende
analisar a produção camponesa e as feiras agroecológicas do Agreste Paraibano, tomando a geografia como instrumento
analítico, dessa forma, a investigação parte de aspectos relativos à produção e
comercialização, sendo uma região caracterizada pela força de uma policultura
diversificada complementada pela criação extensiva de gado, pela presença das
relações de trabalho pré-capitalistas. O objetivo é analisar estes mercados diferenciados da agricultura camponesa
enquanto novas territorialidades e resistências. As feiras agroecológicas
estudadas compreendem os municípios
de: Lagoa Seca, Alagoa Nova, Esperança, Remígio, Solânea, Campina Grande e
Massaranduba.
Palavras -Chaves: Feiras agroecológicas, produção,
comercialização
ABSTRACT
The work is to examine peasant
production and the agro-ecological fairs Agreste,
taking geography as an analytical tool, thus part of the
research aspects of the production and marketing,
being a region characterized by the strength
of a diverse polyculture complemented by
extensive cattle, the presence of labor
relations pre-capitalist. The goal is to analyze
these different markets of peasant agriculture as new
territoriality and resistance.
Fairs agroecological studied include the cities of:
Laguna Seca, Alagoa Nova, Hope, Remigio, Solanea,
Campina Grande and Massaranduba.
Key
Words: Trade agroecological, production, marketing
RESUMEN
El
trabajo es examinar la producción campesina y el Agreste
ferias agroecológicas, teniendo la geografía como un instrumento
de análisis, por tanto, parte de los aspectos de investigación
de la producción y comercialización, al ser una región caracterizada
por la fuerza de un policultivo diverso su
amplio ganado, la presencia de las relaciones laborales pre
capitalistas. El objetivoes analizar los diferentes
mercados de la agricultura campesina como nueva territorialidad y
la resistencia. Ferias agroecológicas estudiadas incluyen las
ciudades de: Laguna Seca, Nueva Alagoa, Esperanza, Remigio,
Solan, Campina Grande y
Massaranduba.
Palabras clave: Comercio agroecológicas,
producción, comercialización
Introdução
A sociedade brasileira apresenta fortes
disparidades produtivas no tocante à produção agrícola. Destacam-se por um lado
as atividades agrícolas voltadas para a exportação, e por outro a produção
agrícola camponesa marcada pela pouca disponibilidade de terras, pela
mão-de-obra não assalariada, pela subordinação ao modelo de desenvolvimento do
capitalismo agrário brasileiro.
Segundo Oliveira (2007) outra característica das
relações de produção no campo sob o modo capitalista de produção decorre do fato
de que a força de trabalho familiar tem um papel muito significativo e vem
aumentando numericamente de modo expressivo. No Brasil representa mais de 80% da
força de trabalho empregada na agricultura, isto é, da produção baseada no
trabalho familiar.
Na região ocorreram
vários ciclos econômicos como do fumo, do café, do sisal e também da
cana-de-açúcar. Desde o início de povoamento da região, a agricultura familiar
desempenhou um papel importante, pois esteve sempre voltada à produção de
alimentos diversos (fruticultura, milho e feijão, mandioca, horticultura,
criação animal, etc.) para atendimento às necessidades das populações locais. Ou
seja, o Litoral se especializou na produção da cana de açúcar para o mercado
externo, o Sertão na criação de gado e o Agreste/Borborema na produção de
alimentos, portanto a agricultura familiar estava à margem do modelo de
desenvolvimento nas duas primeiras regiões citadas.(SISTEMA DE INFORMACOES
TERRITORIAIS, 2010)
Assim sendo, o território configurou-se como um espaço de
policultivo familiar, dando vazão às necessidades tanto do Sertão, como do
Litoral Também cumpria a função de ser a fuga das famílias, tanto do Sertão, em
épocas de seca, como do Litoral, em épocas de crise das monoculturas. Fugindo de
um lugar, como de outro, as famílias se fixavam no Agreste por ter melhores
condições (recursos naturais,
terra, água, clima, etc) de passarem as crises.
As feiras agroecológicas no Agreste
Paraibano são em sua maioria organizadas pelos próprios agricultores familiares,
em parceria com os Sindicados dos Trabalhadores Rurais dos municípios estudados,
exceto as feiras de Campina Grande, Esperança e Alagoa Nova que fazem parte do
projeto Feiras agroecológicas da Paraíba que
teve inicio em 2002 quando foi
iniciada a comercialização de produtos agrícolas agroecológicos.
Essa produção toma como princípios a preservação ambiental e o
desenvolvimento local sustentável, além de procurar eliminar a figura do
atravessador e estabelecer novas relações entre o campo e a cidade, entre
produtor e consumidor.
A pesquisa cujo foco é dado a produção camponesa e a sua a capacidade de compatibilizar a
produção para o consumo da própria família e também para o mercado, de gerar
trabalho e renda, de assumir a proteção ambiental, de manutenção da diversidade
cultural e da biodiversidade, além de ser caracterizada por fixar o homem no
campo (STEDILE, 2005). Atribui-se como objetivo geral analisar as feiras
agroecológicas enquanto formas alternativas de comercialização e resistência da
agricultura camponesa, por tratar-se de uma região historicamente voltada para
produção de alimentos, relatando, portanto quem são os sujeitos que (re)
desenham essas territorialidades e seus desafios.
As diretrizes delimitadas como objetivos
específicos da pesquisa partem, de analisar quem são os sujeitos, de onde vem,
sua formação política/ideológica, os incentivadores/mediadores e, sobretudo a
produção e a renda no que tange a viabilidade
produtiva.
Na agroecologia, entender a construção de um
conjunto de práticas produtivas e um conjunto de práticas de comercialização da
produção, que se baseiam em princípios como a sustentabilidade ecológica, a
produtividade, a equidade, a saúde ambiental, a justiça social, a viabilidade
econômica, baseada na agricultura familiar e camponesa e na interação entre
produtores e consumidores.
Entender, portanto, a construção dessas novas
territorialidades pautadas na agroecologia, onde as feiras agroecológicas,
seriam as expressões nítidas que o campesinato (re) cria formas de sua
reprodução. O que Marx (1983) já sinalizava ao tratar a relação dos camponeses
com a terra e com o artesanato rural lhes permitia um rol de possibilidades de
transformação da natureza em produtos destinados, primeiramente, ao consumo da
unidade familiar de produção.
Na hipótese da necessidade de algo mais que não
podia ser produzido nessa unidade familiar, pela troca ou mesmo pela venda, os
camponeses obtinham o bem desejado junto a outros camponeses ou mesmo nas vilas,
que estipulavam um sistema de trocas nas feiras, mas que preservava nestas
negociações o caráter social de trabalhar para sanar as necessidades de consumo
e de vida.
A produção camponesa e a Agroecologia no Agreste da
Paraiba
No Brasil quando se pensava em agricultura até meados da década de
1980, logo se vinha à mente a idéia de que esta atividade era realizada em
grandes propriedades e sendo produzida em larga escala, para atender os mercados
interno e externo, isto muito se deve a estrutura fundiário brasileira. As
terras brasileiras foram apropriadas pelos colonizadores europeus, desde o
século XVI, em uma base patriarcal, hereditária, foram tomadas e apossadas pelo
sistema colonial europeu, que foi implantado no Brasil a partir da região
Nordeste (MOREIRA e TARGINO, 1997).
A apropriação fundiária do Estado da Paraíba
ainda é um dos principais problemas sociais, econômicos, culturais e políticos,
enfrentado pela maioria dos paraibanos. É uma das marcas da exclusão social
remanescente desse sistema. Existem milhares de trabalhadores rurais sem terra
ao lado de milhares de pequenos proprietários com terra insuficiente para uma
produção economicamente viável (MARIANO NETO, 2006). A partir da década de 1990
a agricultura camponesa começa a ganhar importância, visto que, a agricultura
baseada no grande aporte tecnológico e no uso de grande extensão de terra
ameaçava o emprego agrícola (SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, 2006).
Neste período entra em cena, após quase duas
décadas do início do processo “modernizante” na agricultura, a agroecologia, o
campo se volta à articular-se numa perspectiva de construir e lutar por
alternativas ao modelo de desenvolvimento rural hegemônico. No Brasil, a
agroecologia como ciência começa a ser disseminada no início da década de 1970,
fornecendo conceitos e métodos de suporte da ecologia, mais com uma nova
abordagem, a sua aplicação na atividade agrícola. As discussões que permeiam a
agroecologia, e as bases científicas que se dispõem a conceituar a ciência se
revelam num leque múltiplo de teorias, e esse novo perfil surge a partir da
década de 1960, numa crescente tomada de consciência crítica.
A modernização propugnada se exacerba e no
cenário agrícola surgem novas tendências que vão (re) configurar as
perversidades do modelo histórico de desenvolvimento, que exclui e marginaliza
os recursos naturais e, sobretudo reflete na agricultura (CAPORAL E COSTABEBER,
2006).
Assim têm-se os sistemas agrícolas sob uma
perspectiva oposta à adotada convencionalmente pelas ciências agrárias. Onde a
agroecologia tem como traço característico á ênfase nas interações positivas que
as diferentes espécies integrantes do sistema agrícola (cultivadas ou não) podem
ser intencionalmente estimuladas a manter entre si. Geralmente a ciência é vista
como uma abordagem agrícola que incorpora cuidados especiais relativos ao
ambiente, assim como aos problemas sociais, enfocando não somente a produção,
mas, também a sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção (ALTIERI,
2002)
As experiências em agricultura agroecológica, nas
perspectivas da agricultura camponesa, que estão sendo fomentadas no
Agreste/Brejo da Serra da Borborema paraibana geram uma nova realidade
socioeconômica e socioambiental. Isso levará o território rural da área a
significativas transformações da paisagem e da realidade local (MARIANO NETO,
2006).
Esse arranjo territorial contempla cinco
microrregiões geográficas que estão inseridas na Mesorregião do Agreste
Paraibano que são: Microrregião do Curimataú Ocidental, Microrregião do
Curimataú Oriental, Microrregião de Esperança, Microrregião Brejo Paraibano e da
Microrregião de Campina Grande.
As abordagens territoriais com ênfase nas feiras
agroecológicas, compreende sete
municípios: Alagoa Nova (Microrregião do Brejo Paraibano), Campina Grande
(Microrregião de Campina Grande), Esperança (Microrregião de Esperança), Lagoa
Seca (Microrregião de Campina Grande), Massaranduba (Microrregião de Campina
Grande), Remígio (Microrregião de Curimataú Ocidental), e Solânea (Microrregião
do Curimataú Oriental) ver mapa.

A Mesorregião do Agreste Paraibano limita-se ao
Norte com o Rio Grande do Norte, ao Sul com o Pernambuco, a leste com a
Mesorregião da Mata Paraibana e a Oeste com a Mesorregião da Borborema. Abrange
uma área de 13.078,30 km2, correspondendo a 23,1% do Território do
estado da Paraíba (GOVERNO DA PARAIBA, 2003). Apresentam condições climáticas típicas
de zona de transição, sendo segundo Koppen, do tipo AS’ quente e úmido com
chuvas de outono/inverno, o município que mais chove é Alagoa Nova com médias
anuais de 1.285 mm já os municípios do Curimataú como: Solânea e Remígio as
chuvas são bem mais escassas (SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL,
2006).
Foram
identificados cinco canais e seis subsistemas de comercialização para os
produtos advindos da agricultura familiar onde os últimos são: Empresas
Paraibanas de Abastecimento e Serviços Agrícolas (EMPASA), atravessadores,
feiras livres, venda direta, compras governamentais e as feiras agroecológicas.
No subsistema compra governamental se destaca o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA). O programa adquire
alimentos, com dispensa de licitação, de agricultores familiares os destinam as
pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricionais atendidas por
programas sociais locais.
As feiras livres são alternativas de
fortalecimento da agricultura familiar, com a venda direta os agricultores podem
agregar valor aos seus produtos e obter preços melhores e assim aumentar suas
rendas (TEDESCO, 1999). E as feiras agroecológicas são os mercados
diferenciados, que seguem um padrão instituído pelos atores sociais envolvidos.
Só aqueles agricultores que foram influenciados pelos enfoques agroecológicos e
que seguem explicitamente as regras estabelecidas pelos grupos podem entrar e
desfrutar desse território das feiras (MARIANO NETO, 2006). Segundo Barreiro
(2008), as feiras agroecológicas se apresentam como uma estratégia de fortalecer
a comercialização agroecológica local e regional, socializando as atividades
agroecológicas desenvolvidas na
localidade, fazendo com que o público rural e urbano conheça os desafios e
vantagens da proposta agroecológica.
Os caminhos da pesquisa: Entrando nas
feiras
O viés metodológico se estruturou em etapas,
elegendo os sujeitos e as áreas de estudo, dessa forma foram pensadas as estratégias de abordagens e
métodos de pesquisa que nesse sentido é entendido como o conjunto de técnicas
mobilizadas com o propósito de viabilizar a apreensão cientifica da
realidade.
Nessa fase de “entender os sujeitos” as visitas,
os diálogos foram as chaves para se
pensar os pontos de partida da pesquisa, dessa forma, elaborou-se questionários
a serem aplicados com os agricultores e partindo da observação empírica
tentou-se compreender essas relações estabelecidas nas feiras
agroecológicas, as formas de
resistências e os desafios impostos a realidade.
Com os questionários estruturados, fonte
secundaria da pesquisa e/ou bases para os trabalhos de interpretação cientifica
dos dados, elaborou-se os gráficos. Os questionários foram lançados aos agricultores com o objetivo de levantar informação
relativas a produção, comercialização, dificuldades para participação na feira,
renda per capita entre outros desafios por eles enfrentados no tocante a
produção e equidade alimentar de forma a fazer uma caracterização mais geral dos
pontos comuns estabelecidos.
O cabedal dessas informações fruto dessas investigações minunciou a
analise geográfica das feiras agroecológicas. Dessa forma, atribui-se as
visitas as feiras agroecológicas, o campo de reflexão. Em uma ordem sistematizada fiz-se os trabalhos de
campo que iniciaram na feira de
Campina Grande que fica localizada no centro da cidade, na estação velha, Rua
Benjamim Constatino (ver imagem 01), a segunda visita foi à feira agroecológicas de Remígio que fica localizada na Avenida Prefeito Joaquim Cavalcante de
Morais.
A feira agroecológica da
cidade de Solânea - PB, situada no centro da cidade na Rua Getúlio Vargas,
acontece no interior das instalações da Organização Não Governamental de
Integração da Família (ONGIFA). A Feira agroecológica de Esperança acontece junto a feira livre local que
fica localizada na rua lateral do
estádio do América Futebol Clube, centro da cidade.
A feira agroecológica em Massaranduba ocorre de fronte ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), no centro da
cidade na rua lateral da prefeitura municipal. A feira agroecológica de Alagoa
Nova se realiza aos sábados no centro da cidade junto à feira livre do município
ao lado da Prefeitura municipal. A feira agroecológica do município de Lagoa Seca- PB, que se localiza
no centro da cidade na Rua da Lotérica Bom Jesus.
Entendendo os resultados: Traçando as perspectivas e os
desafios
Com o levantamento dos
dados, observou-se a expressiva participação dos homens no processo de comercialização nas
feiras, onde estes representam 73% e a participação das mulheres 27% do total de
entrevistados. Quanto à origem dos estabelecimentos rurais dos produtores
agroecológicas 77% são provenientes de comunidades rurais, 20% de assentamento
rural e 3% de outra origem (ver gráfico 01). Dos 20% dos estabelecimentos
provenientes de assentamentos rurais, 66% são de produtores da feira do
município de Remígio e os outros 34% restante se distribuem em 17% para
produtores da feira de Solânea e 17% para à de Massaranduba.
A Paraíba foi o segundo Estado brasileiro em
número de desapropriações para fins de Reforma Agrária no ano de 1996 (BAMAT,
1998), mesmo na década passada o Estado vinha sendo um dos que mais assentou
agricultores sendo que estes têm participação reduzida nas feiras do Território
da Borborema, fato que não ocorre no litoral onde, Santos (2007) relata que a
feira agroecológica da UFPB/CAMPUS I, é constituída somente de assentados da
reforma agrária.

Gráfico 01 – Origem dos Agricultores
Familiares – Localidades
Fonte: Cleityane S. Freire
(2011)
Os resultados quanto à participação dos feirantes
em oficinas ou cursos de formação, 67% já participaram e 33% ainda se encontram
ausentes nesses espaços de formação, este dado reflete a participação dos
Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e as ONG’S estarem diretamente ligados a
luta de inserção das feiras agroecológicas pela região. O que demonstrou que
entre os produtores de afirmativa positiva referente a participação em cursos
e/ou oficinas de formação indagou-se sobre quem os ministrou, e se esses cursos
eram realmente o que eles precisavam.
Observou-se que as Organizações Não
Governamentais ministraram sozinhas 50% das oficinas/cursos em parceria com
outras organizações como os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STRs) e
Associações, fazem parte de 80% das oficinas/cursos realizados para os
produtores das feiras pesquisadas, em seguida tem os STRs com participação em
15% e a EMATER com 5%.
Mariano Neto (2006) destacou que a ação dos
mediadores (Pólo Sindical da Borborema, da AS-PTA, ASA, PATAC, CIRAD, CARITAS,
UFCG, UTOPIA, MPA, MST, CPT, MAE) na constituição de um território de enfoques
agroecológicos é central, desdobrando-se para a construção, entre os
agricultores familiares envolvidos nos projetos propostos pelos mediadores, de
novas identidades sociais e culturais assumidas em suas práticas cotidianas.
Fica evidente a importância das ONGs e outros movimentos sociais na formação
agroecológica.
As feiras sejam elas livres ou agroecológicas são
espaços de comercialização, socialização entre consumidores e feirantes. Nestes
espaços há o contato direto entre os produtores de diferentes localidades, dessa
forma, 53% qualificam a união do grupo dos produtores das feiras como ótimo
e 47% o relacionamento com os
companheiro é bom. Considerando a realização de várias atividades conjuntas
entre os participantes da feira e tentando saber o que leva este grupo a
ser tão unido perguntou-se aos seus
integrantes qual a atividade que mais os une. Os entrevistados responderam em
63% que a atividade que os une é a própria feira e 37% são as assembléias
realizadas mensalmente para discutir e avaliar o funcionamento das feiras (ver
gráfico 02
Gráfico 02 – Atividade fortalecedora das relações
sociais
Fonte: Cleityane S. Freire,
(2011)
Analisando quando a produção tem-se que a
distribuição dos produtos hortifrutis pode ser realizada diretamente ao
consumidor - através da compra direta no pólo agrícola, por meio de feiras de
produtores, quitandas/sacolões ou supermercados e por agentes facilitadores da
comercialização - intermediários atacadistas e/ou varejistas, chamados
vulgarmente de atravessadores ou empresários.
A agricultura camponesa seja convencional ou
ecológica tem como particularidade a produção para o consumo próprio vendendo
apenas o excedente, partindo desse pressuposto, nosso trabalho levantou quais os
meios de comercialização dos produtores agroecológicos, além das feiras
agroecológicas e obtive-se que 45% comercializam apenas nas feiras
agroecológicas; 30% Feiras agroecológicas e Feiras livres; 10% em Feiras
agroecológicas + outros; 3% Feiras agroecológicas + Feiras livres + EMPASA; 3%
Feiras agroecológicas + Supermercados; 3% Feiras agroecológicas + Feiras livres
+ Outros; 3% Feiras agroecológicas + Atravessador e por fim 3% Feiras
agroecológicas + Feiras livres + Atravessador + Porta em porta + Outros (ver
gráfico 03).
Para 45% dos produtores as feiras agroecológicas
é o único meio de comercialização. Segundo GAMARRA-ROJAS et al (2006) afirmam
que as feiras agroecológicas, para muitas famílias, é a principal fonte de renda
na semana, permitindo o agricultor comprar o que ele não produz e que é de
necessidade, além de investir na sua propriedade. De acordo com 9% dos
produtores que utilizam outros meios de comercialização, afirmaram que esse
outro, é o Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal.
Gráfico 03 – Comercialização
Fonte: Josivaldo da Silva,
2009
Nota-se uma grande diversificação de produtos nas
feiras agroecológicas, onde listou-se mais de 40 tipos, entre frutas, legumes,
verduras, plantas medicinais, produtos de origem animal, artesanato e comidas
típicas. Segundo os produtores, os produtos mais procurados pelos consumidores,
são as frutas da época, batata doce, feijão verde, macaxeira, alface, coentro,
banana (fruta presente durante o ano todo), ovos, tomate, cenoura, galinha e
pepino.
Outra importante informação refere-se a renda
bruta (RB) média por feira, onde 40% dos feirantes apresenta uma renda bruta
entre R$ 101 a R$ 150. Para 30% dos produtores a renda se encontra até R$ 100,
em seguida temos que 20% e 10% possuem um apurado por feira de R$ 151 a R$ 200 e
R$ 201 a R$ 300, respectivamente (ver gráfico 04). Como as feiras ocorrem
semanalmente e considerando que o mês seja composto de 4 semanas pode-se obter a
informação da renda bruta mensal, onde tem-se a maioria de 40% dos produtores
apresentando uma RB variando de R$ 404,00 a R$ 800,00 e a minoria de 10% com RB
mensal entre R$ 804,00 a R$ 1200,00 reais.
Gráfico 04 – Renda média

Fonte: Josivaldo da silva,
2009
No Nordeste as feiras livres dos camponeses,
sejam elas de produtores convencional ou em sistema agroecológico tem grande
importância no tocante a oferta de alimentos a população e como fonte de rendas
para os produtores/feirantes.Teve-se que a produção descontínua representa 47% da opinião dos produtores sendo a
maior dificuldade, seguida do transporte com 33% e estradas/acesso a propriedade
e a distância com 17% e 3% respectivamente.
Um fator importante que deve ser ressaltado na
comercialização dos produtos agroecológicos no Agreste da Borborema é o fato dos
produtores colocarem em prática a chamada ‘certificação coletiva ou
participativa’. Onde esta consiste em um trabalho conjunto dos agricultores com
o sindicato local, apoiados pela entidade ASPTA, que organiza visitas dos
consumidores aos sítios e roçados, proporcionando maior contato com o ambiente
de produção. Para o produtor é oportuno que o consumidor saiba, tanto quanto
ele, da qualidade e segurança do produto que está adquirindo (CARVALHO e
MALAGODI, 2007). Prática esta que proporciona ao consumidor entender todo o
processo de produção dos alimentos consumidos por eles, fato este que promovem
base a este para classificarem os alimentos agroecológicos quanto a sua
qualidade.
Dessa forma, e segundo os
dados obtidos, pode-se inferir que as feiras agroecologicas no Agreste, são
novas territorialidades da produção camponesa, e nessa perspectiva, é oportuno
refletir segundo Claude Raffestin (1993) onde o homem vive relações sociais,
constroem territórios, interações e
relações de poder, diferentes atividades cotidianas que se revelam na construção
de malhas, nós e redes, construindo um território. Esses territórios que
constroem territorialidades, o que para Saquet (2010) é
multidimensional e inerente a vida em sociedade.
Dessa forma, o caráter
relacional, onde as relações de poder, redes, e dominação dos recursos naturais
indicam relações entre os sujeitos analisados e entre o lugar de vida. Assim,
pensar as feiras agroecológicas enquanto produto da coletividade na qual os sujeitos mantêm relações
entre si.
Pode-se diagnosticar que a
produção camponesa na região constroem
novas territorialidades, ao entende-las como resistências camponesas em
seu caráter ideológico –cultural, ao passo que,quando estes camponeses
tomam para si a proposta de
produzir ecologicamente correto, buscam na agroecologia suas bases cientificas para a transição, e a partir disso tentam tornar rentável sua produção e
fonte de sobrevivência diante do mercado.
O camponês tem provado ser
extremamente resilientes e criativos em situação de crise e não há uma forma
simplista para como descrever isso (SHANIN, 2008) as feiras agroecológicas no Agreste paraibano pode ser entendida como novos arranjos
territoriais, ou seja, novas territorialidades são construídas, como valorização
das condições e recursos potenciais no processo de desenvolvimento, sendo uma
territorialidade ativa, segundo Damatteis (1999) que se produz através da
organização política e do planejamento.
Dessa maneira a abordagem
da pesquisa visa entender os
sujeitos, pautadas nos desafios da transição agroecológica enquanto construção
dessas territorialidades, esta que
é um fenômeno social, que envolve indivíduos que fazem parte de
grupos que interagem entre si, mediados pelo território, mediações que mudam no
tempo e no espaço (SAQUET, 2010).
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